quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Apoio de Tasso Jereissati a Eduardo Leite empata prévias no PSDB; veja a posição de cada diretório estadual

Governador gaúcho, que tem apoio de sete estados, acredita que influência de senador pode ajudá-lo no Nordeste. Doria tem endosso de cinco diretórios.

Tasso anuncia apoio à pré-candidatura de Eduardo Leite à Presidência pelo PSDB Foto: Divulgação

Anunciado ontem em Brasília, o apoio do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) nas prévias do PSDB ajuda a campanha do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, a ter condições de igualdade na disputa com João Doria.

O governador paulista teve uma vantagem inicial por comandar o maior estado do país, onde está a maior parte dos filiados ao PSDB, um dos quatro grupos do colégio eleitoral tucano. Por outro lado, Leite já conseguiu o apoio de sete diretórios estaduais — seu adversário tem o endosso de cinco.

Como os estados têm números diferentes de filiados e políticos eleitos, que formam os outros três grupos do colégio eleitoral, o apoio conquistado pelos dois candidatos é parecido quando se analisa o peso total dos estados na votação interna.

Os sete estados que declararam apoio a Leite (MG, RS, PR, BA, CE, AL e AP) têm peso de 33,36% nas prévias, segundo levantamento interno do PSDB. Já os cinco diretórios que fecharam com Doria (SP, PA, DF, AC e TO) correspondem a 30,89%. Os outros estados não se posicionaram. A projeção não é totalmente precisa porque há dissidências, para um lado e para outro, dentro de cada estado.

Brasil tucano

Veja como os diretórios estaduais estão divididos na corrida pelas prévias do PSDB

azul escuro, Dória - azul claro, Leite - cinza, indefinido


*Deve apoiar Arthur Virgílio, mas ainda não oficializou

Peso de cada estado dentro do colégio eleitoral do PSDB

Com a influência de Tasso no Nordeste, aliados acreditam que Leite poderia ampliar seu alcance na região. Ontem, durante o ato em que confirmou apoio a Leite, o senador cearense afirmou que se somar seus aliados somados aos de Leite rendem um apoio de 80% dos comandos nos estados.

— Não estou exagerando. Quem conhece sabe bem disso — completou.

Apesar do otimismo de Tasso, a disputa segue aberta. Doria tem apoios encaminhados no Rio Grande do Norte e no Espírito Santo.

Estados onde a cúpula local já tomou lado registram dissidências. Nos próximos dias, Doria terá um evento em Belo Horizonte numa tentativa de conseguir votos mineiros. Controlado por aliados de Aécio, o diretório de Minas apoia o gaúcho.

Já Leite vai a Santa Catarina, onde o diretório tenta adiar a decisão de fechar questão. Aliados do gaúcho fazem pressão com ajuda de caciques da política local. No entanto, o secretário de Turismo de São Paulo, Vinicius Lummertz, que também é de Santa Catarina, afirma que o diretório de Joinville está com Doria.

Nos bastidores, tucanos afirmam que a ascensão de Leite no partido se deve mais à rejeição a Doria do que ao mérito do governador do Rio Grande do Sul, que é considerado jovem para uma disputa nacional. O coordenador da campanha de prévias de Doria, Wilson Pedroso, suavizou o impacto do apoio de Tasso a Leite. “Ainda temos um período grande até a votação interna do partido e articulações são bem-vindas”.

O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de saída do PSDB, tem ajudado a viabilizar a candidatura de Leite:

— O Alckmin está nos ajudando. Isso com certeza. Ele ainda tem muita influência no partido — disse Tasso.

Ao comentar a possível saída de Alckmin do partido, Leite disse que o respeita:

— Ele tem muito a cumprir pelo seu estado.

Gustavo Schmitt e Eduardo Gonçalves, de São Paulo e Brasília para O Globo, em 29/09/2021 - 04:30 / Atualizado em 29/09/2021 - 10:38

Em encontro com Leite, FH diz que quem agregar partidos e pessoas ganha a eleição

Com apoio de Tasso, governador gaúcho trabalha para reverter apoio de ex-presidente a Doria nas prévias presidenciais do PSDB

Ex-presidente Fernando Henrique recebe o governador Eduardo Leite e o senador Tasso Jereissati em sua casa em São Paulo para tratar das prévias do PSDB Foto: Divulgação / Governo do Rio Grande do Sul

Em encontro com o governador Eduardo Leite nesta quarta-feira em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique recomendou ao gaúcho que agregue partidos em uma tentativa de unir a terceira via.

Eleições 2022:Temos juntos 80% das Executivas, diz Tasso ao anunciar apoio a Leite

A visita ao ex-presidente ocorreu um dia após o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) manifestar apoio a Leite nas prévias presidenciais do PSDB, cuja disputa vai indicar um nome do partido para concorrer ao Planalto em 2022.

— O importante nessa eleição é capacidade de agregar partidos e pessoas e dar um rumo ao Brasil. Se você fizer isso, ganha a eleição — disse Fernando Henrique num vídeo em que o ex-presidente aparece ao lado de Tasso e Leite.

Ao lado de Tasso, Leite trabalha para reverter o apoio do ex-presidente ao governador de São Paulo, João Doria, principal adversário do gaúcho nas primárias tucanas que acontecem em 21 de novembro.

Nos bastidores, a declaração do ex-presidente foi lida como um recado a Doria, que é visto no partido como alguém com mais dificuldade de compor com outros partidos e, eventualmente, até de abrir mão da cabeça de chapa.

Em entrevista ao GLOBO na semana passada, o ex-presidente reiterou seu apoio a Doria, a quem descreveu como "amigo". Mas em tom semelhante ao desta tarde, disse que o candidato ideal será aquele que conseguirá aglutinar apoios e unir o partido e complementou que este terá seu voto.

Gustavo Schmitt, de São Paulo para O Globo, em 29/09/2021 - 17:39 / Atualizado em 29/09/2021 - 18:08hs

A Lei de Segurança Nacional e a segurança do Estado Democrático de Direito

A boa-nova da ab-rogada LSN vem embalada por alvíssaras, mas suscita dúvidas.

Já que os de hoje não se incumbiram da tarefa, os historiadores do futuro terão o desafio de explicar por que, ao longo de três décadas das mais amplas liberdades democráticas da História do Brasil, permaneceu em vigor a Lei de Segurança Nacional (LSN), reformada em 1983, nos estertores da ditadura. Redemocratizado o País a partir de 1985, promulgada a Constituição em 1988, a Lei n.º 7.170 resistiu incólume ao descarte do entulho autoritário até poder ser hoje ab-rogada em razão da decisão do Congresso no dia 10/8/2021 e sancionada em 1.º/9/2021 pelo presidente da República.

Casamata da antipolítica e da criminalização da oposição, garrote vil para o que a ditadura estigmatizou como “subversão”, será agora substituída pela Lei n.º 14.197, que introduziu um título (XII) na Parte Especial do Código Penal de 1940, a definir os “crimes contra o Estado Democrático de Direito”. A boa-nova vem embalada por alvíssaras, mas suscita dúvidas, a começar pela não opção por um diploma extravagante específico, por afigurar-se a uma colcha de retalhos e, ainda, por excessiva concessão à conjuntura política.

Do ponto de vista da estrutura do nosso ordenamento jurídico, seria mais apropriado substituir o estatuto da ditadura por uma lei específica de defesa do Estado, em vez de fazê-la um título do Código Penal – a exemplo do que se passou com a de n.º 13.260/2016, conhecida como Lei Antiterrorismo. Talvez os congressistas tenham desejado, com toda razão, esconjurar de vez o fantasma da LSN. Em certa medida, porém, extingue-se o crime político e trata-se razões de Estado no catálogo geral dos delitos comuns.

Na trilha correta da defesa do Estado, a lei é certeira ao tipificar os clássicos delitos de atentado à soberania e integridade nacionais, espionagem em favor de estrangeiro, sabotagem da defesa nacional, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Exorbita, no entanto, na utilização da elementar conceitual da “grave ameaça”. Se é indiscutível em crimes de roubo praticado mediante atemorização da vítima, por exemplo, tal violência, de aspecto subjetivo, mostra-se demasiado aberto na tipificação do golpe de Estado tentado, assim desenhado no artigo 359-M: “Tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído”. Pena: reclusão, de 4 a 12 anos, além da pena correspondente à violência.

Intentar putsch com as balas de festim da “grave ameaça”, mas sem violência, hipótese enunciada pela lei, é retórica. As redes sociais e as ruas estão repletas de palavras de ordem pela deposição do atual governo. Mais efetivo seria criminalizar a incitação, por qualquer meio, do golpe de Estado. Nos degraus da História, o velho coup d’État dos franceses é sempre uma tomada violenta do poder, como ocorreu na autêntica Revolução de 1930 e na mal chamada “revolução de 1964”. Mas convém atentar para sua modalidade por antonomásia de autogolpe, aplicado pelo próprio governo, de que são exemplo o famoso de 18 de brumário de Luís Bonaparte, em 1851, na França, e, no Brasil, o Estado Novo de 1937 e a intraditadura do AI-5 de 1968. Eis o sonho do presidente.

Caso de distopia legislativa, o Congresso Nacional espelhou por demais a quadra política polarizada, e sobretudo se projetou em outras searas ao repassar ao Código Penal temas próprios de outras áreas, como a eleitoral. No influxo da conjuntura, foi claro o propósito de alcançar as chamadas fake news que infestam as redes sociais. A propósito, um parêntese: os feitos em tramitação com base na revogada LSN deverão ser extintos. Penetrando em solo eleitoral, o artigo 359-N prevê reclusão, de três a seis anos, e multa, a quem “impedir ou perturbar a eleição ou a aferição de seu resultado (...)”. Parece roman à clef que dissimulam o presidente da República e seus áulicos – tanto que, ao sancionar o novo diploma legal, sua excelência vetou o seguinte artigo 359-O, que tratava de “comunicação enganosa em massa”, de que até um de seus filhos é acusado.

Novidade a ser destacada na decisão do Congresso foi a introdução no Código Penal de outro galicismo, “crimes contra a cidadania”, a punir pelo artigo 359-S quem “impedir, mediante violência ou grave ameaça, o livre e pacífico exercício de manifestação (...)”. O presidente vetou a rubrica francesa e a criminalização desta prática a que tanto se dedicam seus acólitos.

No entanto, escapou da tesoura palaciana que ainda talha o figurino antidemocrático da antiga LSN a auspiciosa descriminante do artigo 359-T: “Não constitui crime previsto neste título a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”.

Se toda lei de defesa do Estado tende a restringir a liberdade do indivíduo, essa excludente de ilicitude contempla a segurança da democracia.

José Roberto Batochio, o autor deste artigo, é advogado criminalista. Foi Presidente nacional da OAB e Deputado Federal por São Paulo. Publicado originalmente n'O Estado de S. Paulo, em 29.09.21.


Em depoimento, dono da Havan mente sobre empréstimos recebidos do BNDES e faz alegações enganosas sobre pandemia

Luciano Hang participa da CPI da Covid do Senado nesta quarta-feira e divulgou dados enganosos

Empresário Luciano Hang em depoimento à CPI da Covid. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Dono das lojas Havan, o empresário bolsonarista Luciano Hang depõe à CPI da Covid nesta quarta-feira, 29. Ele disse que nunca pegou empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), o que é falso — foram 57 operações entre 1993 e 2014. Hang também citou dados enganosos sobre sua cidade natal, Brusque, em Santa Catarina, ao se posicionar contra a adoção de lockdowns. Veja a checagem do Estadão Verifica abaixo.

O que Hang disse: que nunca pegou um empréstimo do BNDES, “principalmente quando o PT esteve no poder”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O BNDES informa que a empresa Havan Lojas de Departamentos LTDA (CNPJ 79.379.491/0001-83) realizou 57 operações entre 1993 e 2014. O PT governou o País de 2003 a 2016, período em que foram feitos 50 empréstimos.

As operações foram celebradas na modalidade indireta e automática, sob a qual bancos parceiros credenciados ao BNDES são os responsáveis pela análise, aprovação e acompanhamento do crédito. Caso o beneficiário final não pague as parcelas, o agente financeiro o fará junto ao BNDES, negociando os valores devidos diretamente com o beneficiário final.

Segundo o banco, não há vínculo entre a Havan e o BNDES. Há um vínculo entre o BNDES e o banco intermediário, e outro entre o banco intermediário e a Havan.

O que disse Luciano Hang: que Brusque “foi uma das cidades que menos fecharam no Brasil” e teve taxa de mortalidade por covid-19 de 2.011 por milhão e taxa de letalidade de 1,1%.

O Estadão Verifica investigou o conteúdo e concluiu que: é enganoso. Hang coloca em dúvida a eficácia do isolamento social e do lockdown para conter a covid-19 por meio de dados isolados da cidade de Brusque (SC). Com essa alegação não é capaz de sustentar a tese, pois há vários fatores que podem influenciar no número de casos e mortes em uma localidade.

Estudos científicos que estimam o impacto desse tipo de medida de forma mais adequada observam, por exemplo, os períodos específicos em que aqueles locais promoveram determinadas políticas ou não. É o caso de um artigo publicado na revista Science, em fevereiro de 2021, que analisou a evolução da pandemia e as intervenções governamentais em 41 países. O estudo aponta que o fechamento de serviços não essenciais contribuiu para diminuir a velocidade de transmissão do vírus.

A reportagem checou os dados citados por Hang por meio de uma página oficial do Ministério da Saúde. A cidade de Brusque havia registrado 30.264 casos confirmados e 319 mortes por covid-19 até esta quarta-feira, 29 de setembro. Dessa forma, a taxa de mortalidade era de 237 a cada 100 mil habitantes (ou 2.370 por milhão de habitantes), e a taxa de letalidade (número de mortes em relação ao total de casos confirmados) era de 1,05%. 

A mortalidade em Brusque é menor do que a média brasileira, de 285 casos a cada 100 mil habitantes, e também que a do Estado de Santa Catarina, 269, conforme informações do Ministério da Saúde. Se fosse um país, no entanto, Brusque seria o 14º com mais mortes por habitante do planeta, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos. O Brasil aparece na 8ª posição.

O que Luciano Hang disse: que nunca foi contra a vacina.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: não é bem assim. Uma busca pela palavra “vacina” no perfil de Luciano Hang no Instagram indica que ele fez diversas publicações favoráveis à vacinação, mas também divulgou conteúdos que descredibilizam a eficácia da Coronavac.

“Você usaria um paraquedas com 50% de chances de abrir?”, escreveu Hang ao comentar sobre o índice de eficácia do imunizante em uma postagem na rede social. Ele ainda fez referências a tratamentos sem eficácia comprovada contra a covid. 

Como explica uma reportagem do Comprova, esse tipo de comparação com o índice de eficácia da Coronavac é enganoso. A imunização consiste em uma estratégia coletiva, e a vacina reduz significativamente as chances de pacientes desenvolverem formas sintomáticas de covid.

O que Luciano Hang disse: que não se vacinou pois tem um “índice de anticorpos altíssimo”.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. O Estadão Verifica já mostrou em outras checagens que a proteção das vacinas vai além da presença de anticorpos no sangue. Exames sorológicos apenas detectam a presença de anticorpos em determinado momento, mas apresentam risco de falsos negativos e não são capazes de avaliar todos os mecanismos essenciais no processo de defesa proporcionados pelas vacinas. A Anvisa divulgou nota em junho em que explicava que “não existe até o momento definição da quantidade mínima de anticorpos neutralizantes necessária para conferir proteção imunológica contra a infecção pelo SARS-CoV-2”.

Mesmo quem já foi infectado pela covid-19 deve se vacinar. O Estadão explicou neste guia que a imunidade natural ao vírus não é constante na população e não é mensurável. Quer dizer, ainda não se sabe quanto dura a proteção gerada pelo contágio.

O que Luciano Hang disse: que fez uma doação de 200 cilindros de oxigênio ao governo do Amazonas.

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é verdadeiro. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da Saúde do Estado ao Estadão Verifica por e-mail. A doação, porém, só foi anunciada depois que agências de checagem como Aos Fatos desmentiram publicações nas redes sociais sobre o assunto.

Pedro Prata, Samuel Lima e Victor Pinheiro, de Brasília e S. Paulo, para O Estado de S.Paulo, em 29.09.21, às 17h,01

Abismo da Prevent Senior se amplia com depoimento de advogada à CPI e ameaça tragar Governo Bolsonaro

Bruna Morato, representante de 12 médicos, afirma que havia um alinhamento da operadora de saúde com o ‘gabinete paralelo’ e o Ministério da Economia com o intuito de manter a economia girando

Bruna Morato, advogada representante de médicos que trabalharam na Prevent Senior, durante seu depoimento na CPI da Pandemia nesta terça-feira, 28 de setembro, em Brasília. (Roque de Sá / Agência Senado)

A advogada Bruna Morato, que diz representar 12 médicos que trabalham ou trabalharam na Prevent Senior, detalhou à CPI da Pandemia nesta terça-feira, 28 de setembro, o modus operandi da operadora de saúde na prescrição de medicamentos ineficazes contra a covid-19 para seus pacientes, que teriam sido cobaias de um experimento ilícito. Morato descreveu ainda o alinhamento da Prevent Senior com o Governo Jair Bolsonaro, mais concretamente com o Ministério da Economia, para promover a hidroxicloroquina e outros medicamentos do chamado kit-covid, ineficazes para combater a infecção pelo coronavírus. O objetivo era boicotar a quarentena e manter a economia girando. Também afirmou que os médicos que representa ficaram receosos de denunciar a Prevent Senior para os conselhos regional e federal de medicina, por causa da proximidade da operadora com as entidades. “O que estamos assistindo é um escândalo macabro com sinais tristes de eugenia, que revela o quão triste é essa página da historia brasileira”, definiu o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

A advogada relatou, sempre falando a partir da versão de seus clientes, que a Prevent Senior buscou, ainda no ano passado, se aproximar do Ministério da Saúde. Diante da resistência do então ministro Luiz Henrique Mandetta, a empresa buscou o chamado gabinete paralelo que assessorava o Governo. O grupo era composto por médicos negacionistas como o toxicologista Anthony Wong, o virologista Paolo Zanotto e a pesquisadora Nise Yamaguchi. De acordo com Morato, esse gabinete estava alinhado a interesses do Ministério da Economia, para que a pandemia não prejudicasse a economia. A intenção, explicou ela, era “conceder esperança para que as pessoas saíssem às ruas sem medo, e essa esperança tinha um nome: hidroxicloroquina”.

Morato afirmou, contudo, que em nenhum momento ouviu “falar da pessoa do ministro da Economia [Paulo Guedes], o que eles falavam era de um alinhamento ideológico”. Em momento posterior, disse ainda que não tinha informações sobre conversas ou a participação de membros do Ministério da Economia no gabinete paralelo. A pasta não se pronunciou oficialmente sobre o caso até o fechamento desta edição, mas fontes afirmam que não há registro de encontros de membros do alto escalão com autoridades da Prevent Senior.

Morato foi convocada dias depois de os senadores ouvirem, na última quinta-feira, o diretor-executivo da operadora de saúde, Pedro Benedito Batista Júnior. No centro da discussão está um dossiê que aponta irregularidades no tratamento de pacientes com covid-19. O documento mostra como a operadora, voltada para idosos, testou em seus hospitais o chamado kit-covid —composto por hidroxicloroquina e ivermectina, entre outros medicamentos ineficazes contra a covid-19— em pacientes infectados sem o aval dessas pessoas ou da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Além disso, a seguradora também teria ocultado mortes pela doença, como forma de apresentar as melhores estatísticas de recuperação.

De acordo com Morato, os médicos da Prevent Senior estavam submetidos ao lema “lealdade de obediência” da empresa. Recebiam um pacote lacrado com medicamentos do kit-covid e uma receita já pronta que deveria ser entregue a pacientes que apresentassem sintomas gripais. “Não existia autonomia com relação à retirada de itens desse kit. Quando o médico riscasse algum item da receita, o paciente ainda assim recebia o kit completo”, relatou à CPI. Ela disse que os plantonistas davam o pacote aos pacientes dizendo que, caso não entregassem, poderiam ser demitidos. Também pediam informalmente que se tomassem algo do kit, que escolhessem somente proteínas e vitaminas. Os demais, além de ineficazes, poderiam ser perigosos para idosos.

Caso não prescrevessem, os médicos sofriam constrangimentos públicos e acabavam demitidos. Questionada por senadores sobre por que os profissionais de saúde que representa não denunciaram a Prevent Senior ao Conselho Federal de Medicina (CFM) e ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), a advogada afirmou que as entidades não aceitam denúncias anônimas. Também citou uma suposta proximidade da operadora de saúde com esses organismos. Ao longo da pandemia, a CFM mostrou um alinhamento ideológico ao Governo Bolsonaro e, sob a justifica de defender a autonomia do médico, não colocou freios à prescrição de cloroquina contra a covid-19. Os senadores acabaram aprovando, então, um requerimento pra investigar com urgência os conselhos, assim como a Agência Nacional de Saúde Suplementar —que regulamenta o setor de seguros privados de saúde.

O tratamento precoce com kit-covid foi adotado também como forma de reduzir custos, acrescentou Morato, “uma vez que é mais barato disponibilizar medicamentos do que realizar internação em UTI”, explicou durante a sessão. Assim, pacientes chegavam a receber o kit em casa antes de qualquer tipo de exame ou internação. Era uma estratégia de reduzir custos, reafirmou ela, diante de senadores estarrecidos. Além disso, pacientes não sabiam que estavam assinando termos de consentimento para fazer parte de um experimento com medicamentos. De acordo com ela, os clientes deveriam assinar termos genéricos, no hospital ou por SMS, com a justificativa de que era necessário para a retirada dos medicamentos.

Antes de apresentar o dossiê à CPI, a advogada diz que procurou o setor jurídico da Prevent Senior para buscar um acordo. Os médicos pediram três atitudes para a empresa: que assumisse publicamente que o estudo com o kit-covid não foi conclusivo; que a operadora admitisse que havia um protocolo institucional de tratar com o kit-covid, já que os médicos não tinham autonomia; e, em terceiro, que a empresa assumisse suas responsabilidades diante de quaisquer ações judiciais por parte de pacientes que foram tratados.

Em julho deste ano, a Prevent Senior contava com 542.471 clientes, um aumento de quase 12% em relação a agosto do ano passado. Cerca de 4.000 pacientes internados na rede de hospitais da operadora morreram com covid-19 ao longo da pandemia, ou 22% dos 18.000 usuários que chegaram a ser hospitalizados por conta da doença nas unidades administradas pela empresa. No início da pandemia, a Prevent Senior chegou a acumular 30% das mortes por covid-19 no Brasil, concentrando muita atenção negativa naquele momento. A tentativa de reação desencadeada naqueles dias acabou devolveu a empresa aos olhos da população brasileira, e de uma forma ainda mais comprometedora.

FELIPE BETIM, de São Paulo para o EL PAÍS, em 28/09/21

Desmatamento e modelo agrícola aumentam risco de 'tempestade de poeira'

A tempestade de poeira que engoliu cidades do interior de São Paulo no último domingo (26/09) tem relação direta com a existência de grandes porções de solo seco e sem cobertura vegetal na região hoje, segundo especialistas entrevistados pela BBC News Brasil.

Imagem de satélite dos arredores de Franca, uma das cidades impactadas pela tempestade de poeira (Planet)

O fenômeno impactou várias cidade do nordeste paulista, como Franca, Ribeirão Preto e Barretos. A região tem forte presença do agronegócio e um dos menores índices de cobertura florestal original do país.

Também houve registros do fenômeno no Triângulo Mineiro, região vizinha da área atingida em São Paulo.

Coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Humberto Barbosa diz que a tempestade foi causada por uma combinação entre ventos fortes, seca intensa e solos desprotegidos.

A tempestade de poeira se formou no fim do período seco. Nesta época, diz ele, muitos agricultores deixam os solos nus para plantar no início das chuvas.

Como a região vive uma seca extraordinária e enfrenta altas temperaturas, a camada superficial do solo se ressecou e ficou vulnerável à ventania.

"A ventania gerou uma erosão eólica, que removeu não só a poeira como também o material de queimadas recentes", diz Barbosa.

Ele diz que imagens de satélite de alta resolução feitas na véspera da tempestade mostram grande quantidade de terra nua nos arredores de Franca.

O principal produto agrícola da região afetada é a cana-de-açúcar.

Nuvem de poeira no interior de São Paulo (Twitter)

"A impressão digital está lá: é muito clara a relação (da tempestade de poeira) com a degradação do solo", afirma.

Já a principal entidade que representa os produtores de cana-de-açúcar diz que a nuvem de poeira se formou por causa da seca excepcional e de incêndios acidentais em canaviais (leia mais abaixo).

Pouca vegetação nativa

Segundo o Relatório de Qualidade Ambiental 2020 - análise feita anualmente pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do governo de São Paulo -, resta pouca vegetação nativa na região impactada pela tempestade de poeira.

O relatório agrupa todos os municípios paulistas em 22 Unidades Hidrográficas de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Na unidade que engloba Ribeirão Preto, resta 13,29% de vegetação nativa; na de Franca, 10,83%; e, na Barretos, só 5,52%, o menor índice do Estado.

Em todo o Estado de São Paulo, sobra 17,5% da vegetação original. Isso faz com que o Estado, o 12º maior do país, tenha a segunda maior área agrícola entre todas as unidades da federação, só atrás de Mato Grosso.

As matas remanescentes em São Paulo se concentram nas serras do Mar e da Mantiqueira, onde o relevo acidentado dificulta a atividade agrícola.

Mapa mostra que remanescentes de vegetação nativa no Estado de São Paulo se concentram no litoral (SMA-SP)

Renovação de canaviais

Gerd Sparovek , professor titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e presidente da Fundação Florestal do Estado de São Paulo, diz à BBC News Brasil que a nuvem de poeira se deve à rara coincidência dos seguintes fatores: a ocorrência de ventos muito fortes num período em que há grandes extensões de solo seco e sem cobertura vegetal.

"Os canaviais, principal cultivo agrícola da região, vêm de dois anos consecutivos de um verão pouco chuvoso e que, neste ano, também foram afetados pelas geadas", afirma Sparovek.

Com isso, muitos canaviais se tornaram improdutivos e foram derrubados para dar lugar a uma nova plantação, diz ele.

"Na renovação dos canaviais, quase sempre, durante algum tempo, o solo fica sem cobertura e desagregado pelo preparo com gradagem (quebra de torrões para uniformizar a superfície)", afirma.

Sparovek diz que as mudanças climáticas influenciaram o fenômeno. "O que levou os canaviais a ficarem improdutivos foram as estiagens atípicas no verão e geadas atípicas no inverno", afirma.

"A frente fria e o vento também foram extremos. As mudanças climáticas, segundo o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), já alteraram os extremos climáticos em todo o planeta", completa.

Raízes ajudam a manter o solo coeso; quando removidas, erosão é facilitada (Embrapa)

Revolvimento intenso do solo

Segundo Humberto Barbosa, da Ufal, imagens de satélite mostram que, na área afetada pelo fenômeno, o solo de muitas propriedades foi revirado por máquinas agrícolas para prepará-lo para o plantio.

Essa prática, aliada ao uso intenso de fertilizantes e pesticidas na região, reduz a quantidade de matéria orgânica no solo, segundo o pesquisador.

A matéria orgânica cobre o solo e ajuda a mantê-lo coeso. Sem essa proteção, ele fica mais sujeito a se esfarelar com o vento ou a ser carregado pelas chuvas.

Terras agrícolas com solo seco nos arredores de Barretos, uma das cidades afetadas pela nuvem de poeira (Planet Labs)

Por isso, diz ele, muitos agricultores mundo afora têm abandonado técnicas que revolvam o solo e priorizado práticas menos invasivas.

Barbosa afirma que o procedimento de revolver o solo "sempre foi utilizado, mas as condições climáticas já não são as mesmas do passado".

Como a região vem enfrentando secas cada vez mais intensas, afirma ele, a movimentação do solo amplia o risco de erosão e de tempestades de areia.

O fenômeno pode causar problemas de saúde na população afetada, motivar acidentes de trânsito e contaminar rios.

Plantação de tomate feita sobre a palha da safra anterior (Embrapa)

A solução, diz ele, é investir em técnicas que mantenham a matéria orgânica no solo e evitem a erosão.

Um desses métodos é o chamado plantio direto na palha, no qual a semeadura é feita sobre restos da lavoura anterior. Assim, a terra não fica exposta.

Porém, dados do último Censo Agropecuário, de 2017, mostram que a técnica ainda é pouco empregada da região.

Em Ribeirão Preto, dos 29.675 hectares usados pela agricultura, só há plantio direto na palha em 253 hectares - 0,8% do total. Em Franca, o índice é de 5%.

Por outro lado, em regiões do país que cultivam grãos, como milho e soja, a maioria dos agricultores já adota a técnica, diz Gerd Sparovek, da Esalq-USP.

Segundo ele, há algumas dificuldades à adoção do plantio direto na cana, como o risco de pragas.

Mas Sparovek diz que há outras tecnologias que permitiriam manter o solo da região coberto, como a rotação de culturas.

"Reduzir as áreas sem cobertura é desejável e necessário não só pela erosão eólica como também pela erosão hídrica, principal problema de erosão e degradação do solo da agricultura tropical", afirma.

Agricultor trabalha em sistema agroflorestal, onde não há prática de revolver o solo (Embrapa)

Outra ação que deve ser estimulada, segundo ele, é o reflorestamento de áreas mais sensíveis à erosão - medida já determinada pelo Código Florestal, mas que ainda carece de implementação.

Porém, segundo a Única, principal associação que representa o setor de cana-de-açúcar no Brasil, os produtores já adotam práticas adequadas de conservação do solo.

Diretor técnico da entidade, Antonio de Padua Rodrigues diz que a poeira não veio de canaviais em processo de renovação, mas sim de plantações de cana que não se desenvolveram por causa da forte seca.

Outra possível fonte da poeira, segundo ele, foram áreas atingidas por incêndios acidentais onde a cana já havia sido colhida.

Ele diz que os produtores de cana mantêm o solo coberto com palha após a colheita, ainda que antes do plantio revolvam o solo e não façam o plantio direto na palha. Ele afirma, porém, que neste ano muitas áreas pegaram fogo, deixando o solo exposto.

"O setor tem os melhores especialistas, os melhores consultores em solo. Foi uma coisa acima do normal por ter sido um ano muito seco: a cana não cresceu, muita área pegou fogo, e aí você não tem a palha e tem a cinza", afirma.

Práticas agrícolas inadequadas são apontadas como uma das causas para o Dust Bowl, uma série de tempestades de areia que atingiram o sul dos Estados Unidos nos anos 1930.

Tempestade de poeira ocorrida em Oklahoma (EUA) nos anos 1930

Na virada do século 19 para o 20, boa parte da região havia sido desmatada para o avanço da agricultura. Até que uma forte seca deixou os solos vulneráveis a ventanias.

Em poucos anos, milhões de hectares de terras antes consideradas férteis se tornaram inaptas para a agricultura.

O desastre estimulou o governo dos EUA a criar uma agência para educar agricultores sobre como conservar os solos, existente até hoje.

Segundo Gerd Sparovek, nas décadas de 1960 e 1970, houve um grande esforço para alterar o preparo do solo na região, o que fez com que a erosão eólica fosse controlada.

Hoje o fenômeno deixou de ser comum na região, embora ainda ocorra em zonas áridas dos EUA, como no deserto do Arizona.

João Fellet - @joaofellet, de S. Paulo para a BBC News Brasil, em 28 setembro 2021

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Senadores dos EUA pedem a Biden 'sérias consequências' caso Bolsonaro cause ruptura democrática

Em carta a secretário de Estado, presidente da Comissão de Relações Exteriores adverte para 'ataques pessoais' contra o STF.

Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, senador Bob Menendez, fala em audiência no Congresso em 14 de setembro. - Drew Angerer /AFP

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, senador Bob Menendez, e outros três senadores enviaram nesta terça-feira (28) uma carta instando o governo Biden a deixar claro para o presidente Jair Bolsonaro que qualquer ruptura democrática no Brasil "terá sérias consequências”. Na missiva enviada ao secretário de Estado, Antony Blinken, os senadores advertem que Bolsonaro vem fazendo ameaças de rompimento da ordem constitucional no Brasil e gestos de intimidação contra ministros do Supremo Tribunal federal (STF).

“Dado que o Brasil é uma das maiores democracias e economias do mundo e um dos principais aliados dos EUA na região, a deterioração da democracia brasileira tem implicações no hemisfério e além”, dizem os senadores na carta, a que a Folha teve acesso. “Instamos o senhor a deixar claro que os EUA apoiam as instituições democráticas brasileiras e que qualquer ruptura antidemocrática da atual ordem constitucional terá sérias consequências.”

Menendez é um moderado bastante respeitado em Washington e, à frente da Comissão de Relações Exteriores, tem grande influência sobre a política externa americana. Além dele, assinam a carta os senadores democratas Dick Durbin, Ben Cardin e Sherrod Brown.

Na carta ao secretário de Estado, os senadores também afirmam que Bolsonaro tem feito “ ataques pessoais” contra integrantes do STF e afirmou que estaria disposto a usar manobras fora da Constituição para impedir os ministros de exercerem suas atribuições legais. “Se o presidente Bolsonaro cumprir suas promessas e abertamente descumprir decisões do Supremo, isso irá estabeceler um precedente muito perigoso para outras tentativas de Bolsonaro de solapar o estado de direito.”

Em fevereiro, Menendez enviou uma carta a Bolsonaro cobrando que o mandatário e o então chanceler Ernesto Araújo “condenassem” e “rejeitassem categoricamente” os ataques de partidários do ex-presidente Donald Trump ao Capitólio em 6 de janeiro, afirmando que, caso isso não aconteça, haveria “prejuízo para a relação bilateral”.

A carta criticava os comentários de Bolsonaro e do chanceler sobre suposta fraude na eleição americana, dizendo que isso demonstra “apoio de seu governo a teorias da conspiração furadas e aos terroristas domésticos” que atacaram o Capitólio e ameaçam “minar a parceria entre os Estados Unidos e o Brasil”.

Em 5 agosto, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, esteve no Brasil para discutir um possível veto à participação da China na instalação da infraestrutura da tecnologia 5G no Brasil.

Durante o encontro com Bolsonaro, Sullivan manifestou a preocupação do governo americano com as ameaças do presidente à integridade eleitoral e alegações sobre supostas fraudes nas urnas, segundo informou um alto funcionário da gestão Biden.

Patrícia Campos Mello para a Folha de São Paulo, em 28.09.2021

Advogada denuncia que Prevent Senior fez 'pacto' com o governo para validar cloroquina e frear lockdown

Bruna Morato, que representa médicos que denunciaram rede hospitalar para comissão, relata que médicos eram orientados a prescrever tratamento precoce e que profissionais não tinham autonomia na operadora

Advogada Bruna Morato, que representa 12 médicos que trabalharam na Prevent Senior, é ouvida nesta terça-feira (28) na CPI da Covid Foto: Agência Senado

Em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira, a advogada Bruna Morato afirmou que o governo federal tinha um "pacto" com a Prevent Senior para validar o tratamento com o chamado "kit covid", de medicamentos sem comprovação científica contra a doença, como cloroquina. Morato representa os médicos que trabalharam e denunciaram a operadora de saúde e afirma que existia uma estratégia para que a Prevent ajudasse a equipe que assessorava o governo, conhecida como "gabinete paralelo", a validar o chamado tratamento precoce. Segundo a advogada, o gabinete paralelo trabalhava alinhado com o Ministério da Economia para viabilizar estratégia para tentar evitar o lockdown.

De acordo com a advogada, no início da pandemia, o diretor da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, tentou se aproximar do então ministro da Saúde, Henrique Mandetta. À época, houve várias mortes na rede hospitalar em razão da Covid-19, o que levou Mandetta a criticar a empresa.Sem sucesso na aproximação, o diretor da Prevent conseguiu por "outras vias" descobrir um grupo de médicos que assessorava o governo de forma paralela, disse Bruna relatando as informações que foram repassadas pelos médicos que a contrataram:

— Por conta das constantes críticas do ministro Mandetta, a direção tinha que tomar uma atitude. Num primeiro momento, se aproximar do ministério, por meio de um médico familiar de Mandetta, mas Mandetta não deu abertura, fazendo com que procurasse outras vias. O doutor Pedro [Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent Senior] foi informado de que existia um conjunto de médicos assessorando o governo federal e alinhado com o Ministério da Economia — disse Bruna.

A informação chamou a atenção de membros da comissão, mas Bruna explicou que isso não significava envolvimento do ministro Paulo Guedes.

— Existe um interesse do Ministério da Economia para que o país não pare e, se nós entrarmos no sistema de lockdown, teremos um abalo muito grande. Existia um plano para as pessoas saírem para a rua sem medo. Eles desenvolveram uma estratégia. Qual? Através do aconselhamento de médicos. Era Anthony Wong, toxicologista, a doutora Nise Yamaguchi, especialista em imunologia, o virologista Paolo Zanotto. E a Prevent Senior iria entrar para colaborar com essas pessoas — disse a advogada.

A advogada Bruna Morato, representante dos médicos que trabalharam na Prevent Senior, disse que havia um pacto ou aliança que alinhou a empresa à divulgação do tratamento precoce

A advogada Bruna Morato, representante dos médicos que trabalharam na Prevent Senior, disse que havia um pacto ou aliança que alinhou a empresa à divulgação do tratamento precoce

Anthony Wong morreu de Covid, informação que foi omitida certidão de óbito, segundo documentos em posse da CPI. Conhecido defensor do "tratamento precoce", ineficaz contra a Covid-19, ele foi submetido às mesmas drogas cujo uso defendia em um hospital da Prevent Senior. Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto são apontados como integrantes do gabinete paralelo. Em reunião no ano passado com Bolsonaro e outros médicos, Zanotto sugeriu a criação de um "shadow cabinet", ou seja, um "gabinete das sombras" para tratar do enfrentamento à pandemia.

A advogada afirmou ainda que, após os contatos dos médicos do chamado gabinete paralelo, a empresa sentiu segurança de que não seria incomodada pelo Ministério da Saúde.

— A informação que eu tive é que uma vez realizado esse pacto ou aliança junto com a... Entre esse conjunto de assessores que depois foram denominados por esta Comissão Parlamentar como sendo o gabinete paralelo, mas que, na época, eram apenas os assessores, é que após esse contato lhe foi transferida certa segurança, então, a Prevent Senior tinha segurança que ela não sofreria fiscalização do Ministério da Saúde ou de outros órgãos vinculados ao Ministério da Saúde.

A advogada disse que o prontuário de Anthony Wong mostra que, de fato, ele foi tratado com remédios sem eficácia para a Covid-19. E rebateu a versão da Prevent Senior de que os dados foram vazados de forma ilegal por um médico. Segundo Bruna Morato, as informações sobre Wong foram entregues pela própria empresa ao ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

Ela também disse que o prontuário de Regina Hang, mãe do empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan,mostra que ela teve Covid. O atestado de óbito, porém, não tem essa informação. Regina foi tratada na Prevent Senior.

Bruna Morato afirmou que a prescrição do "kit covid" levava em conta a redução de custos para a empresa:

— Uma estratégia de redução de custos, uma vez que era mais barato fornecer medicamentos do que fazer a internação.

A advogada também disse que o termo de consentimento para aceitar o tratamento sem eficácia comprovada era genérico. De acordo com ela, os pacientes eram induzidos a assiná-lo sem ter clareza do que se tratava:

— No momento em que eles iam fazer a retirada do medicamento, era passada a seguinte informação: para retirar a medicação, precisa assinar aqui. Não tinham ciência de que o "assine aqui" era o termo de consentimento.

Bruna falou do risco de demissão caso um médico não entregasse o "kit covid" aos pacientes:

— Chegou a um ponto tão lamentável, na minha opinião, que esse kit era composto por oito itens. E aí os médicos, pelo menos a explicação que me deram, os plantonistas pegavam o kit, eles entregavam ao paciente e diziam ao paciente: olha, eu preciso te dar, porque, se eu não te entregar esse kit, eu posso ser demitido; mas eu te oriento: se você for tomar alguma coisa daqui, tome só as proteínas ou só as vitaminas.

Outro problema, segundo ela, era a prescrição desses remédios para pacientes que tinham comorbidades, ou seja, outras doenças. O plano atende muitos idosos e seus clientes têm uma faixa etária alta.

— Os pacientes que utilizavam esses kits eram pacientes que já tinham muitas vezes comorbidades associadas, já faziam uso do que me ensinaram se chamar polifarmácia. Então, o conjunto de medicamentos, apesar de ser ineficaz, para aquela população se tornava letal, potencialmente letal — disse a advogada.

Investigação sobre omissões do CFM

A CPI aprovou um requerimento do senador Rogério Carvalho (PT-SE) para que seja soliciada ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal uma invetigação sobre possíveis omissões do Conselho Federal de Medicina (CFM), do Conselho Regional de Medicina (CRM) de São Paulo e da Agência Nacional de Saúe Suplementar (ANS) na apuração de irregularidades envolvendo a Prevent Senior.

Bruna Morato disse que, segundo os relatos de seus clientes, médicos infectados pelo coronavírus eram obrigados a trabalhar.

A CPI aprovou outro requerimento para a Prevent Senior apresentar em 24 horas os termos de consentimento assinados pelos pacientes para aceitar o tratamento precoce com remédios sem eficácia. No depoimento que prestou na semana passada, Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent Senior, disse que havia autorização assinada em todos os casos.

Em seu depoimento na semana passada, Pedro Benedito Batista Júnior, diretor da Prevent Senior, afirmou que profissionais já desligados da empresa adulteraram planilha interna para dar a ideia de fraude. Nesta terça, Bruna rechaçou essa versão, dizendo que nunca houve alteração de dados. Ela também afirmou que não era leal à empresa sofria sanções, como a redução de plantões.

Dossiê de 10 mil páginas

Logo na fala inicial, a advogada disse que representa 12 médicos e afirmou que, a pedido dos clientes, procurou a Prevent Senior para um acordo, que incluía três pontos, nenhum deles envolvendo compensações financeiras. Se o acordo tivesse prosperado, a empresa teria que admitir publicamente que o estudo feito sobre o uso de medicamentos como a cloroquina não foi conclusivo. A empresa também deveria assumir que não dava autonomia aos médicos, orientando-os a prescrever o "kit covid", que vinha lacrado. Por fim, a Prevent Senior dever ficar responsável por arcar com ações decorrentes de medidas adotadas por seus médicos, que tinham medo de ter que bancar seus custos.

Ela disse ter um dossiê de 10 mil páginas e que começou a atender médicos da Prevent Senior em 2014.

— Em 2020, os relatos se transformaram em relatos pavorosos. E, num primeiro momento, eu acredito que as histórias pareciam um tanto quanto confusas e assustadoras, para não dizer perturbadoras — disse Bruna Morato.

Ela ainda ironizou a forma como a Prevent Senior vem se portando:

— Gostaria de agradecer a própria Prevent Senior. Ela vem me atacando, e sendo um tanto quanto rude quanto as sua colocações. Eu agradeço a Prevent Senior, porque seria muito difícil explicar aqui a ideologia da empresa. Mas fica muito claro, quando a gente analisa os ataques infundados que vem fazendo à minha pessoa, demonstrar a constante política de opressão.

Bruna afirmou que, no começo, houve a orientação para as equipes não trabalharem "paramentadas" , porque isso poderia assustar os pacientes. Assim, nem todos os médicos usaram máscaras no início da pandemia, mas essa medida foi reconsiderada depois de algumas semanas.

Invasão de escritório

Documento da Policia Civil traz imagens de individuos estranhos circulando no prédio na hora que o sistema de monitoramento parou Foto: Reprodução

Bruna Morato relatou a invasão do seu escritório, de onde levaram um tablet e um computador invasão do seu escritório, de onde levaram um tablet e um computador, mas disse não poder afirmar haver relação com a Prevent Senior.

— Entraram com equipamento eletrônico muito moderno para o que foram fazer depois, duplicaram o IP de todas as câmeras, deixaram o sistema de vigilância vulnerável por quatro dias. Não suficiente, eles cortaram o cano de um banheiro de um escritório vizinho, inundando do terceiro ao oitavo andar, fazendo com que fosse necessário a entrada de pessoas no prédio para os reparos — disse ela, acrescentando: — Não posso afirmar qualquer relação com a empresa, mas aconteceu e desde então me sinto ameaçada.

Empresário convocado

A CPI aprovou a convocação do empresário Otávio Oscar Fakhoury. Segundo o requerimento de convocação, apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AO), Fakhoury "foi identificado como o maior financiador dos canais de disseminação de notícias falsas, como o Instituto Força Brasil, Terça Livre e Brasil Paralelo". Ainda de acordo com Randolfe, "esses canais estimularam o uso de tratamento precoce sem eficácia comprovada, aglomeração e diversas outras fake news sobre a pandemia".

A comissão aprovou também um requerimento para pedir o compartilhamento de informações da Operação Pés de Barro, que apura irregularidades em compras do Ministério da Saúde durante a gestão do ex-ministro Ricardo Barros (2016-2018). Atualmente, Barros é líder do governo na Câmara.

André de Souza, de Brasília, para O Globo, em 28/09/2021

Governo deixa vencer testes de covid, remédios e vacinas; estoque de R$ 80 milhões será inutilizado

Ministério da Saúde foi alertado ao menos duas vezes sobre proximidade da data de validade de 32 tipos de insumos; documentos da pasta relatam o desperdício.       

Planilha do Ministério da Saúde aponta que, para sete insumos, houve mais de uma notificação sobre o vencimento do prazo Foto: Dida Sampaio/Estadão

A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), ligada ao Ministério da Saúde, deixou vencer milhares de kits para diagnóstico da covid-19 e dezenas de medicamentos e vacinas para outras doenças. O órgão foi notificado sobre a proximidade da data de validade de 32 tipos de insumos. Mesmo assim, não agiu a tempo de distribuí-los. O resultado é que, agora, milhares de imunizantes, soros, diluentes e testes que custaram R$ 80,4 milhões não foram aproveitados a tempo e terão de ser inutilizados.

O desperdício inclui, por exemplo, mais de 18 mil kits de testes de covid, considerados fundamentais pelos especialistas para monitorar e controlar a transmissão do vírus. Também estão na lista 44 mil vacinas meningocócicas (contra meningite) e 16 mil vacinas contra a gripe.

As informações constam de documentos internos da pasta obtidos pelo Estadão. O material estava armazenado no Centro de Distribuição que o Ministério possui em Guarulhos (SP). Planilha do Ministério da Saúde aponta que, para sete desses insumos, houve mais de uma notificação sobre o vencimento do prazo. A SVS foi alertada, em abril e em junho deste ano, sobre produtos que venceriam entre 8 de julho e 31 de agosto. Eles custaram R$ 2,6 milhões aos cofres públicos.

Todos esses insumos fazem parte de uma lista de 271 itens que perderam a validade entre 2017 e 2021. Os insumos da planilha somam 1,8 milhão de unidades e custaram R$ 190,8 milhões aos cofres públicos. Quase a totalidade deles, ou 96%, foram perdidos a partir de 2019, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. O prejuízo foi de cerca de R$ 190,1 milhões a partir de 2019, ante o prejuízo de R$ 680 mil ocorrido entre 2017 e 2018.

Um ofício da coordenadora-geral substituta de Logística de Insumos Estratégicos para Saúde, Katiane Rodrigues Torres, de 22 de setembro, registrou que houve "comunicação prévia, da proximidade de vencimento desses medicamentos". Ela apontou, no entanto, a "ausência de resposta das áreas responsáveis, em tempo hábil, para a distribuição destes Insumos Estratégicos para Saúde - IES".

A coordenadora pediu que fosse apresentada justificativa sobre os vencimentos e citou ainda os custos de armazenagem, que aumentaram "consideravelmente" a execução do contrato. O requerimento foi encaminhado por ela ao diretor de Logística do Ministério da Saúde, general Ridauto Lúcio Fernandes. Ele, por sua vez, enviou a documentação à SVS com pedido para que cada item da planilha tivesse “uma justificativa própria, não podendo a manifestação ser feita de forma genérica"

Fernandes citou, no documento, uma reunião da pasta com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, secretários e a consultoria jurídica da Saúde, em 13 de setembro, na qual "foi exposta a situação dos medicamentos que encontram-se armazenados em Guarulhos e que estão com o prazo de validade vencido".

Na lista de itens que se perderam, estão kits para diagnóstico de covid, dengue, zika e chikungunya, vacinas contra gripe, pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b), tetraviral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela) e BCG, soros e diluentes.

'Longe de ser um episódio, reflete toda a conduta da política pública do governo federal há pelo menos 2 anos'

Carlos Lula, Presidente do Conass

Os testes para covid, dengue, zika e chikungunya são os itens mais caros perdidos pelo Ministério da Saúde. Por estes, a pasta pagou R$ 133 milhões. Deste total, R$ 77 milhões apenas pelos kits para detecção do novo coronavírus.

Na avaliação do presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, "perder doses de algo que é plenamente controlável" é consequência da "falta de planejamento do Ministério". "Longe de ser um episódio, reflete toda a conduta da política pública do governo federal há pelo menos 2 anos", disse ele, titular da pasta do Mranhão.

A reportagem questionou o Ministério da Saúde sobre os milhares de testes e medicamentos vencidos. A pasta, porém, não respondeu até as 10 horas desta terça-feira, 28. 

Veja 15 insumos que perderam a validade em 2021:

Vacina Meningocócica com líquida seringa preenchida - 44.250

Vacina BCG Intradérmica 10 doses - 27.055

Kit Amplificação Sars-Cov2 - 100 reações - 18.257

Vacina contra a gripe 10 doses - 16.432

Imunoglobulina anti-tetânica 250UI/ML Sol INJ 1ML: 6.308

Vacina contra a Febre Amarela 10 doses: 6.272

Vacina dupla adulto (10 doses): 3.972

Vacina papiloma vírus humano (Tipo 6, 11, 16 E 18 Recombinante) - 1 dose: 2.401

Vacina meningocócica C Conjugada - Frasco: 2.178

Diluente para vacina Tríplice Viral (MMR) 1 DOSE: 2.055

Kit Molecular Zika Dengue Chikungunya (ZDC) - 48 reações - Acessórios: 1.496

Kit Molecular Zika Dengue Chikungunya (ZDC) - 48 reações - Amplificação: 1.496

Kit Molecular Zika Dengue Chikungunya (ZDC) - 48 reações - Controle: 1.496

Vacina contra Hepatite A (Rotina Pediátrica) 1 dose: 1.440

Imunoglobulina anti-varicela Zoster - 1 dose: 1.334

Eduardo Rodrigues e Julia Affonso para  O Estado de S.Paulo, em 28/09/21

De volta ao Brasil, Moro discute candidatura em 2022

Ex-ministro se reuniu com integrantes da cúpula do Podemos; sigla tenta convencê-lo a assumir papel de candidato da ‘terceira via’ na corrida presidencial.

       O ex-ministro Sérgio Moro, hoje sócio-dretor da consultoria americana Alvarez & Marsal  Foto: REUTERS/Adriano Machado (12/5/2020)

De volta ao Brasil, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro já iniciou as conversas políticas para decidir se vai disputar a eleição presidencial de 2022. No sábado, Moro se reuniu de manhã com integrantes da cúpula do Podemos, em encontro realizado na casa do senador Oriovisto Guimarães (PR). Por enquanto, o ex-juiz quer aguardar até novembro para bater o martelo sobre o seu futuro

Além de Oriovisto, participaram da conversa de sábado a deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do Podemos, e os outros dois senadores do Paraná: Álvaro Dias e Flávio Arns. O comando do partido tenta convencer Moro a assumir o papel de candidato da chamada terceira via para se contrapor à polarização vista hoje nas pesquisas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro. O partido alega dispor de pesquisas que indicariam o bom potencial de uma candidatura presidencial de Moro. Mas o ex-juiz ainda analisa outras hipóteses.

Uma delas é a de concorrer ao Senado. Neste caso, há duas opções sendo avaliadas: disputar pelo Paraná, sua terra natal, ou por São Paulo, onde tem bastante popularidade. Para 2022, existe apenas uma vaga em jogo por Estado para o Senado. E, no caso do Paraná, Álvaro Dias deve tentar a reeleição. Assim, a disputa por São Paulo seria mais viável e poderia, inclusive, fazer parte de um pacote político mais amplo, que incluiria uma aliança nacional em torno de outra candidatura de terceira via.

A terceira opção para Moro é seguir atuando como consultor e renovar seu contrato com a Alvarez & Marsal, empresa onde atua como diretor-executivo do escritório de Washington na área de compliance. Assim, Moro tem sinalizado a apoiadores que só pretende definir seu futuro em novembro, já que, nesse período, seu contrato de consultor completará um ano. Ele decidirá se o renovará ou se vai migrar para a disputa eleitoral.

Na próxima semana, Moro deve intensificar sua agenda de conversas, viajando até Brasília. Na capital, deverá conversar também com lideranças de outros partidos, até para avaliar o potencial de uma aliança entre os interessados em construir uma candidatura de terceira via.

Marcelo de Moraes para O Estado de S.Paulo, em 28 de setembro de 2021

Tasso Jereissati anuncia desistência das prévias do PSDB e manifesta apoio a Eduardo Leite

Anúncio foi feito na tarde desta terça-feira (28), em Brasília. Além do governador do RS, seguem na disputa João Doria e Arthur Virgilio Neto.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) anunciou, na tarde desta terça-feira (28), a desistência das prévias do PSDB e apoio ao governador do RS Eduardo Leite, para a Presidência da República nas eleições do próximo ano.

"O governador do Rio Grande do Sul tem todas as qualidades que um homem público tem para nos representar neste momento. Esse cara pensa igual a mim. Temos uma afinidade também de postura ética, de compromisso com a democracia. Por essa razão, estou aqui hoje dizendo que não sou candidato nas prévias, mas isso não quer dizer que eu não estou na luta", destacou Jereissati.

Segundo o senador, a união é necessária para o momento político no Brasil. "Seria não somente uma conclusão pragmática minha, mas quase uma obrigação fazer com que nos juntássemos, déssemos as mãos e buscássemos, dentro do partido, uma união".

Tasso disse ainda que na quarta-feira (29) fará uma visita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. De acordo com ele, FHC está "no mínimo torcendo pela nossa caminhada". O ex-presidente havia declarado apoio a João Dória.

As prévias do partido estão marcadas para acontecer no dia 21 de novembro.

Além de Leite, são candidatos nas prévias o governador de São Paulo, João Doria, e o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto.

Por g1 RS, em 28/09/2021 15h31  Atualizado há 15 minutos

Um Poeta

Bonfim Tobias      


Estrela Apagada

  O amor, por vez, acaba pouco a pouco,

  Vai perdendo as cores co’a idade,

  Sussurro de carinho fica rouco,

  E do que fomos fica a saudade!

  Pouco vale o passado e a sorte

  De ter sido amado nesta vida,

  Ninguém nota, entre tantas, se a morte

  Apagou uma estrela esquecida.

  O cérebro esquece a lembrança

  De alegria, de lágrima e bonança

  E de desejos nunca confessados,

  Mas isso são as coisas da existência,

  De mentiras, verdades, incoerência,

  Vestindo-nos a másc’ra de amados!