terça-feira, 28 de setembro de 2021

Senadores dos EUA pedem a Biden 'sérias consequências' caso Bolsonaro cause ruptura democrática

Em carta a secretário de Estado, presidente da Comissão de Relações Exteriores adverte para 'ataques pessoais' contra o STF.

Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, senador Bob Menendez, fala em audiência no Congresso em 14 de setembro. - Drew Angerer /AFP

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, senador Bob Menendez, e outros três senadores enviaram nesta terça-feira (28) uma carta instando o governo Biden a deixar claro para o presidente Jair Bolsonaro que qualquer ruptura democrática no Brasil "terá sérias consequências”. Na missiva enviada ao secretário de Estado, Antony Blinken, os senadores advertem que Bolsonaro vem fazendo ameaças de rompimento da ordem constitucional no Brasil e gestos de intimidação contra ministros do Supremo Tribunal federal (STF).

“Dado que o Brasil é uma das maiores democracias e economias do mundo e um dos principais aliados dos EUA na região, a deterioração da democracia brasileira tem implicações no hemisfério e além”, dizem os senadores na carta, a que a Folha teve acesso. “Instamos o senhor a deixar claro que os EUA apoiam as instituições democráticas brasileiras e que qualquer ruptura antidemocrática da atual ordem constitucional terá sérias consequências.”

Menendez é um moderado bastante respeitado em Washington e, à frente da Comissão de Relações Exteriores, tem grande influência sobre a política externa americana. Além dele, assinam a carta os senadores democratas Dick Durbin, Ben Cardin e Sherrod Brown.

Na carta ao secretário de Estado, os senadores também afirmam que Bolsonaro tem feito “ ataques pessoais” contra integrantes do STF e afirmou que estaria disposto a usar manobras fora da Constituição para impedir os ministros de exercerem suas atribuições legais. “Se o presidente Bolsonaro cumprir suas promessas e abertamente descumprir decisões do Supremo, isso irá estabeceler um precedente muito perigoso para outras tentativas de Bolsonaro de solapar o estado de direito.”

Em fevereiro, Menendez enviou uma carta a Bolsonaro cobrando que o mandatário e o então chanceler Ernesto Araújo “condenassem” e “rejeitassem categoricamente” os ataques de partidários do ex-presidente Donald Trump ao Capitólio em 6 de janeiro, afirmando que, caso isso não aconteça, haveria “prejuízo para a relação bilateral”.

A carta criticava os comentários de Bolsonaro e do chanceler sobre suposta fraude na eleição americana, dizendo que isso demonstra “apoio de seu governo a teorias da conspiração furadas e aos terroristas domésticos” que atacaram o Capitólio e ameaçam “minar a parceria entre os Estados Unidos e o Brasil”.

Em 5 agosto, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, esteve no Brasil para discutir um possível veto à participação da China na instalação da infraestrutura da tecnologia 5G no Brasil.

Durante o encontro com Bolsonaro, Sullivan manifestou a preocupação do governo americano com as ameaças do presidente à integridade eleitoral e alegações sobre supostas fraudes nas urnas, segundo informou um alto funcionário da gestão Biden.

Patrícia Campos Mello para a Folha de São Paulo, em 28.09.2021

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