segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Ciro Gomes reafirma candidatura e chama de ‘rito suicida’ a escolha entre Lula ou Bolsonaro

Em pronunciamento, presidenciável do PDT leu ‘manifesto à Nação’; ele repetiu críticas ao candidato do PT e ao presidente da República e disse ser vítima de uma ‘gigantesca e virulenta campanha’ para tirá-lo da disputa

O presidenciável Ciro Gomes (PDT) descartou retirar sua candidatura; ao seu lado esquerdo, o candidato do PDT ao governo de São Paulo, Elvis Cezar.

O candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) convocou a imprensa e fez um pronunciamento para deixar claro que seguirá na disputa pelo Palácio do Planalto, repetindo críticas sobre a atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele leu um “manifesto à Nação” nesta segunda-feira, 26, protestando contra ambos rivais, que lideram as pesquisas de intenção de voto, e estariam tentando “eliminar a diversidade do embate democrático” e “transformá-lo, de forma artificial e prematura, em um embate de duas forças que utilizam falsos argumentos morais para se tornarem hegemônicos”.

Ciro chamou de “rito suicida” o encaminhamento para um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Segundo o pedetista, as “máquinas poderosas do lulismo e do bolsonarismo” são responsáveis por “ludibriar” a opinião pública e concentrar os eleitores nessas duas opções. O candidato tem negado qualquer intenção de recuar da disputa há semanas, embora seja cada vez mais pressionado para isso.

“Nada deterá a minha disposição de seguir em frente e empunhar a bandeira do Projeto Nacional de Desenvolvimento”, disse o pedetista. “Minha candidatura está de pé para defender o Brasil em qualquer circunstância, e meu nome continua posto como firme e legítima opção para livrar o País de um presente covarde e de um futuro amedrontador”. Esse posicionamento, segundo ele, é “definitivo”. - Ciro Gomes.

O ex-ministro disse ser vítima de uma “gigantesca campanha nacional e internacional” para a retirada de sua candidatura. Na reta final da campanha, apoiadores de Lula pressionam para que ele retire seu nome das urnas em prol de eleger o candidato do PT no primeiro turno. Recentemente, ex-integrantes do PDT e ex-cabos eleitorais do presidenciável se somaram ao apelo do chamado “voto útil”. Na semana passada, mais de 50 políticos e intelectuais da esquerda em países da América Latina escreveram uma carta aberta a Ciro Gomes pedindo que ele desista da corrida presidencial.

O “manifesto” do presidenciável marca sua posição no momento em que sua postura vinha sendo apontada como supostamente pró-Bolsonaro. No debate Estadão do último sábado, 24, um cochicho do pedetista para o presidente foi usado nas redes como um sinal de suposta afinidade entre ambos. Na live desta segunda-feira, Ciro direcionou críticas tanto a Bolsonaro, quanto a Lula. Ele os classificou como “corruptos farsantes e demagogos que tentam ludibriar a fé popular com suas falsas promessas”. “Bolsonaro não existiria se não fosse a grave crise econômica e moral dos governos petistas, e Lula não sobreviveria em sua ameaçadora decadência se não fossem os desatinos criminosos de Bolsonaro”, afirmou.

Davi Medeiros para O Estado de S. Paulo, em 26.09.22 às 11h35. 

Fundo eleitoral bilionário e orçamento secreto minam movimentos de renovação do Congresso

Repasse privilegia políticos que já têm mandato; especialistas indicam que expectativa de mudanças será menor

Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados

A adoção do orçamento secreto – revelado pelo Estadão –, a aprovação com apoio geral do Congresso do fundo eleitoral bilionário e o cenário de polarização consolidada têm sido desfavoráveis aos movimentos de renovação política. As emendas (impositivas, individuais e de bancadas, além das de relator) viraram cobiça e propósito dos partidos políticos, o que dificulta o surgimento de novos quadros. A montanha de dinheiro público e a forma com que os recursos são distribuídos na eleição atravancam mudanças, apontam especialistas.

Organizações como RenovaBR, Agora e Livres, além da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) – organização apartidária em defesa da democracia e sustentabilidade política –, dizem ter dificuldades de competir com esses meios que favorecem a manutenção dos atuais integrantes no Congresso. Neste ano, o índice de tentativa de reeleição na Câmara é de 87%, um recorde. De um total de 513 deputados federais, 448 tentam seguir na Casa responsável pela representação do povo brasileiro.

Especialistas apontam que expectativa de renovação da Câmara seja ainda menor esse ano, devido a Fundo Eleitoral e Orçamento Secreto

Especialistas apontam que expectativa de renovação da Câmara seja ainda menor esse ano, devido a Fundo Eleitoral e Orçamento Secreto Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Conforme mostrou a Coluna do Estadão, neste domingo, 25, com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), candidatos a deputado federal que disputam a reeleição ganharam quase dez vezes mais recursos eleitorais nesta campanha do que os concorrentes que tentam ingressar na Câmara. O levantamento mostra que os candidatos com mandato receberam, em média, R$ 1,8 milhão até o momento, enquanto os demais tiveram receita, em média, de R$ 195 mil.

Segundo o TSE, são 10.629 candidatos à Câmara tem todo o País – dos quais 2,867 disputam uma vaga para deputado federal pela primeira vez, segundo dados compilados pelo RenovaBR. Eduardo Mufarej, do movimento, reclamou da disputa “desigual” no País. Neste domingo, ele alertou sobre a importância do voto consciente para o Poder Legislativo.

“Está muito clara a relevância do Congresso Nacional nos próximos anos, e, para isso, realizarmos boas escolhas é absolutamente fundamental. Dentro de uma escolha desigual, com orçamento secreto e fundo eleitoral, mas, ao mesmo tempo, contrapondo essa desigualdade com muita dedicação e muito empenho, conto com vocês. Realizem seu papel de cidadãos e façam boas escolhas”, afirmou em vídeo publicado nas redes sociais.

Até agora, do fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões, R$ 4,5 bilhões foram repassados aos candidatos, sobretudo os que já estão no poder. Dados organizados pela plataforma 72 Horas mostram que ao menos 35% dos postulantes não receberam nenhuma fatia desse valor.

Recursos têm sido repassados a candidaturas fantasmas, para justificar cota feminina

O cenário é ainda mais concentrado no caso do fundo partidário, cujos valores podem ser usados para bancar impulsionamento de conteúdos na internet, compra de passagens aéreas, advogados e contadores para as campanhas. Desse total, apenas 10,5% dos postulantes foram beneficiados com R$ 362,4 milhões já distribuídos pelos partidos. O valor total do fundo partidário deve chegar a R$ 1 bilhão até o final do ano.

Esses recursos também privilegiam candidatos à reeleição. Políticos que já possuem mandato receberam proporcionalmente cinco vezes mais recursos públicos do fundo partidário do que os novatos quando considerados todos os cargos em disputa.

Dentro de uma escolha desigual, com orçamento secreto e fundo eleitoral, mas, ao mesmo tempo, contrapondo essa desigualdade com muita dedicação e muito empenho, conto com vocês. Realizem seu papel de cidadãos e façam boas escolhas

Eduardo Mufarej, RenovaBR

Esses candidatos não apenas recebem mais dinheiro, como recebem primeiro. O pico de distribuição dos recursos enviados a postulantes que tentam reeleição aconteceu em 19 de agosto, enquanto os novatos esperaram uma semana a mais para a maior fatia dos valores cair na conta, mostra a plataforma.

Candidatos à reeleição também ganham com o fortalecimento dos redutos eleitorais com o uso de emendas parlamentares. De 2019 a 2022, são mais de R$ 117 bilhões empenhados – das quais mais de R$ 52 bilhões correspondem às emendas de relator – o chamado “orçamento secreto”, distribuído no governo Jair Bolsonaro (PL) para garantir o apoio da base no Congresso sem ampla transparência. No caso do Senado, dois terços dos candidatos à reeleição foram padrinhos com esse tipo de repasse.

O fundão (eleitoral) não tem democratizado a política, mas tem concentrado o poder, colocando vastas quantidades de dinheiro na mão daqueles que comandam hoje os partidos políticos, como também desequilibrando a competição. 

Magno Karl, cientista político e diretor executivo do Livres

Historicamente, mais da metade dos deputados federais se reelege. Nas últimas três eleições, o índice de renovação na Câmara oscilou entre 43,5% (2014) e 47,3% (2018), sendo 46,4% em 2010.

Neste ano, a expectativa é que esse percentual seja maior, ou seja, mais deputados renovarão seus mandatos, segundo o cientista político e diretor executivo do Livres, Magno Karl, por fatores econômicos e políticos. “O fundão (eleitoral) não tem democratizado a política, mas tem concentrado o poder, colocando vastas quantidades de dinheiro na mão daqueles que comandam hoje os partidos políticos, como também desequilibrando a competição”, afirmou.

Além disso, o discurso dos políticos que estão no poder hoje é voltado para “segurança”, “estabilidade” e “ponderação”. Para Karl, além de haver uma renovação nos representantes do povo, é preciso mudar a forma de se fazer política. “A mudança por si só não traz resultado. A gente precisa qualificar a renovação política não só removendo políticos que não têm muito a oferecer ao País, mas também com conteúdo programático relevante”, disse.

As cláusulas de barreira e de desempenho e a origem dos recursos atrelada ao número de assentos (na Câmara) faz com que, agora, os partidos tenham de fazer deputados. Como fazem isso? Lançam nomes já conhecidos que atuam como puxadores de votos e que já foram mandatários.

Leandro Machado, cientista político e cofundador do Agora

Para o cientista político Leandro Machado, cofundador do movimento Agora, a má distribuição de recursos pelos partidos leva a uma Casa com ainda mais nomes conhecidos na política. “As cláusulas de barreira e de desempenho e a origem dos recursos atrelada ao número de assentos (na Câmara) faz com que, agora, os partidos tenham de fazer deputados. Como fazem isso? Lançam nomes já conhecidos que atuam como puxadores de votos e que já foram mandatários”, afirmou.

Machado também entende que a forma com que as legendas distribuem os valores contribui para a manutenção do poder dos caciques partidários e a existência de candidaturas laranjas. “Isso está expresso em como o financiamento é destinado, como é distribuído, como as contas são prestadas. Se (as cotas para mulheres) fossem 40% dos assentos (no Congresso), e não 40% das candidaturas, o jogo mudava de figura.”

Diversidade

Dados organizados pela plataforma 72 Horas também mostram que a distribuição dos recursos derruba a possibilidade de renovação da diversidade no Congresso. “Quando o tema é renovação, descobrimos que candidaturas do eixo diversidade, que são mulheres, negros e indígenas, esperam mais tempo pelo recurso. Além de receber menos proporcionalmente, eles também recebem depois. Isso é crucial”, afirmou Fernanda Costa, uma das organizadoras da plataforma.

Na prática, os partidos não só não distribuem os valores de maneira equânime, como também levam mais tempo para bancar as candidaturas. “O dinheiro público não promove diversidade”, disse Fernanda.

Legislativo

O apresentador Luciano Huck, um dos principais incentivadores desses movimentos de renovação, fez um alerta na TV Globo, em seu programa dominical, o Domingão com Huck, para as eleições proporcionais, destacando a importância do voto nos candidatos ao Legislativo.

“Agora, dia 2, na próxima semana, 156 milhões de brasileiros vão às urnas escolher seus representantes. Neste período de campanha, a gente costuma falar muito sobre os candidatos a presidente e a governador. Mas hoje eu gostaria de encerrar o Domingão falando da importância do seu voto na eleição para os membros do Legislativo – dessa vez, deputados e senadores”, afirmou o apresentador, que já teve a candidatura para o Palácio do Planalto aventada.

Huck destacou que a maioria dos brasileiros deixa para definir o voto para o Legislativo na última semana. Como mostrou o Estadão, esse tipo de candidatura são as que representam a maior incidência da alienação (abstenção passiva e ativa) dos eleitores nas urnas. “Então, ao longo dos próximos dias, pesquise sobre os candidatos a deputados e senadores, mas pesquise mesmo. Busque candidatos que tenham o sarrafo da ética na altura certa, que defendam e atuem nas pautas que possam contribuir para que a gente possa construir um País mais justo, mais eficiente, mais inclusivo e mais sustentável, disse.

Pauta ambiental

Um levantamento recente da Raps em parceria com a Uma Concertação pela Amazônia mostrou que, dos 91 deputados federais da Amazônia Legal, 46 votaram na direção contrária do desenvolvimento sustentável. “Sem articulação política e diálogo, inclusive com as forças mais à direita do Congresso, não há possibilidade de barrar retrocessos graves, que colocam o Brasil em uma agenda de atraso. É preciso mostrar, por exemplo, que a agenda do clima não é uma agenda ideológica, da esquerda ou da direita. Ela é a agenda do século 21″, disse a diretora executiva da Raps, Mônica Sodré.

Por isso, a organização disse acreditar que, em 2023, haverá dificuldades de fazer passar pautas ligadas ao ambiente no Congresso, independentemente de quem seja o vencedor na corrida pelo Planalto.

Gustavo Queiroz e Marcela Villar para O Estado de Paulo, em 26.09.22.Publicado originalmente às 16h00. Atualização: às 16h26

Zelensky promete proteger soldados russos que se rendam

O Presidente ucraniano disse, no seu habitual discurso diário, feito este domingo,  que iria oferecer proteção aos soldados russos que decidirem render-se.

Na Rússia, mais de 2 mil pessoas foram detidas, na sequência de protestos contra a “mobilização parcial” de cidadãos russos, anunciada por Vladimir Putin, para reforçar o contingente militar na Ucrânia. Os dados são avançados pela organização independente OVD info.

A par dos protestos, a fuga continua a ser um caminho para muitos, que escolhem outros países para continuarem as suas vidas. A Mongólia, por exemplo, já recebeu centenas de pessoas nos últimos dias.

O chefe de um posto de controlo da cidade de Altanbulag, na Mongólia, disse à agência de notícias France-Presse que, desde quarta-feira, já tinham entrado no país mais de 3 mil russos, na sua maioria homens.

Não se submetam à mobilização criminosa, disse Volodymyr Zelensky Presidente da Ucrânia

"Quero enfatizar uma vez mais: há uma saída. Não se submetam à mobilização criminosa. Fujam ou rendam-se ao cativeiro ucraniano na primeira oportunidade. Peço a todos os nossos amigos, no campo da informação, que apoiem a difusão deste apelo. Quanto mais cidadãos russos tentarem proteger as suas próprias vidas, mais depressa esta guerra criminosa da Rússia contra o povo da Ucrânia terminará", referiu o chefe de Estado ucraniano.

As autoridades militares ucranianas afirmaram, no domingo, que as forças russas usaram drones de fabrico iraniano, no sul do país. Em resposta, Kiev já disse que vai reduzir significativamente a sua presença diplomática no Irão.

Publicado originalmente por EuroNews, m 26.09.22

Agitação crescente sobre mobilização de recrutas na Rússia leva a tiroteio em centro de alistamento

Um jovem atira no militar do local, que está em estado crítico. Pelo menos 17 pontos de recrutamento foram atacados com coquetéis molotov nos últimos dias

Vários reservistas recrutados no assentamento siberiano de Bolsherechye se despediram de seus parentes no domingo.(Foto: Alexey Malgavko) 

Um tiro à queima-roupa em um centro de recrutamento em Ust-Ilimsk, no extremo leste da Rússia, levou a tensão no país a outro nível desde que o presidente, Vladimir Putin, decretou a mobilização de civis para o front na Ucrânia . Um jovem abriu fogo na segunda-feira contra o oficial militar do local em meio a uma onda de ataques contra esses pontos de alistamento , alguns dos quais foram queimados nos dias de hoje. Ao mesmo tempo, os protestos estão se tornando mais frequentes em cidades provinciais longe da cosmopolita Moscou, onde foram vistas imagens de policiais sendo arrastados para ônibus de recrutamento por manifestantes.

“Estou envergonhado que isso esteja acontecendo em um momento em que deveríamos estar unidos. Não devemos lutar contra nós mesmos, mas contra ameaças reais”, disse em suas redes sociais o governador da região de Irkutsk, onde ocorreu o tiroteio. "O comissário militar Alexander Vladimirovich Eliseyev está em ressuscitação, sua condição é crítica e os médicos temem por sua vida", acrescentou.

Depois de atirar no soldado, o assaltante, identificado como Ruslán Zinin, alertou o restante das pessoas presentes na sala para que fugissem e puxou novamente o gatilho de sua pistola. De acordo com várias testemunhas oculares contadas ao jornal Baza , o agressor, um desempregado de 25 anos, tinha sido convocado esta segunda-feira para ser recrutado, e antes de abrir fogo disse: “Agora vamos todos para casa”.

A mobilização massiva decretada por Putin - que planeja adicionar cerca de 300 mil pessoas ao exército - sete meses após o início de sua guerra causou pânico e ansiedade na sociedade russa. Fontes do Serviço Federal de Segurança (FSB) disseram ao jornal independente Meduza que cerca de 260 mil homens deixaram o país desde quarta -feira , quando o presidente russo anunciou a mudança.

A onda de ataques contra pontos de recrutamento se intensificou nos últimos dias. Em sete meses, desde o início da chamada "operação militar especial" na Ucrânia até o anúncio de Putin, 37 centros queimaram em todo o país. Nos últimos dias, pelo menos mais 17 incêndios foram registrados, segundo o jornal Mediazona , declarado agente estrangeiro pelas autoridades.

Um tiroteio deixa o chefe de um centro de recrutamento siberiano ferido

Um atirador abre fogo em um escritório de recrutamento militar em Ust-Ilimsk, região de Irkutsk, Rússia. (Foto: Reuter)

Coquetéis Molotov

Um dos últimos incidentes ocorreu na cidade de Uriupinsk, na região de Volgogrado. Um homem jogou vários coquetéis molotov em um ponto de recrutamento na manhã de segunda-feira. O evento foi atribuído a Mijaíl Filátov, um homem de 35 anos e pai de uma menina que transmitiu um vídeo no YouTube onde dizia: "É assim que acendo meu protesto". Pouco depois, ele foi preso.

De acordo com os serviços de emergência, os danos foram pequenos e os documentos do local não foram destruídos. Este ataque junta-se a vários outros ocorridos nas últimas horas, a maioria por bombas incendiárias, embora o fogo tenha destruído apenas algumas salas nos centros afetados. Na região de Kirovsk, vizinha da Finlândia, um indivíduo quebrou uma janela e derramou combustível dentro, enquanto nas províncias de Kaliningrado e Mordóvia jogaram garrafas impregnadas com gasolina e fogo. Enquanto isso, em Ryazan, um homem tentou se incendiar em uma zona de ônibus como protesto contra a guerra. O homem começou a gritar que não queria ir para o front, segundo a imprensa local daquela cidade do Volga. A polícia interveio rapidamente e seus ferimentos não são graves.

Todo mundo conhece pessoas que foram mobilizadas ou estão tentando fugir do país . "Fui para o Cazaquistão ontem à noite com meu irmão e um amigo, não sei quando eles voltarão", disse um jovem moscovita a este jornal na segunda-feira. "A notificação veio para funcionar, não sabemos o que fazer", disse outra pessoa sobre o primo no domingo, em uma das frases mais repetidas nos dias de hoje.

Muitos temem que as fronteiras sejam fechadas quando os referendos de pseudo-anexação em território russo na Ucrânia terminarem na terça-feira . No entanto, alguns homens já foram impedidos de passar. A organização de advogados de Ágora divulgou no Telegram várias notificações das forças de fronteira em que "por ordem do comissariado militar", vários homens foram proibidos de sair dos limites do Cáucaso.

Recrutas russos dentro de um centro de alistamento militar em Bataysk, região de Rostov-on-

A mídia russa perguntou ao porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, sobre o fechamento das fronteiras, que há algumas semanas negou categoricamente que uma mobilização ocorreria. "No momento, nenhuma decisão foi tomada", respondeu ele desta vez.

O representante do Kremlin também reconheceu que a mobilização não se ajustou ao anúncio do presidente russo, embora tenha culpado as autoridades locais por isso. “Há situações em que o decreto (de mobilização) foi violado. Esses casos estão sendo eliminados”, disse Peskov. Putin anunciou que seriam convocados reservistas com experiência militar anterior, o que não aconteceu, o que provocou inúmeros protestos nas províncias.

“Os governadores estão trabalhando ativamente para corrigir essa situação, e nossos jornalistas e organizações públicas estão fazendo um trabalho muito necessário [para denunciá-lo]”, acrescentou Peskov, na tentativa de acalmar as coisas. O portal OVD-Info , especializado na cobertura da repressão a manifestantes, registrou mais de 2.300 prisões entre 21 e 25 de setembro, a maioria fora da capital. E os protestos continuam, principalmente nas regiões com mais correntes de ar, como Cáucaso e Sibéria.

Javier Custa, de Moscou  para  o EL PAÍS, em 26.09.22

Lava Jato atingiu partidos de forma proporcional, mas PT foi foco de Moro, aponta estudo

Contrariando o senso comum, que costuma associar os escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato principalmente ao PT, um estudo da Universidade de São Paulo (USP) indica que as investigações e processos da operação atingiram de forma proporcional os grandes partidos do país.

Principal rosto da Lava Jato, Sergio Moro foi considerado parcial contra Lula pelo STF

A pesquisa analisou a filiação partidária de todas as pessoas processadas na primeira instância judicial e das que sofreram investigações no Supremo Tribunal Federal (STF). A conclusão foi que o partido mais atingido foi o MDB, maior sigla do país em quantidade de filiados, seguido do PT, segunda maior sigla (confira os números ao longo da reportagem).

Na sequência, aparecem PSDB e PP, respectivamente o terceiro e o quarto maiores partidos em número de filiados.

As conclusões da pesquisa estão em um artigo recém-publicado em versão "pré-print" no portal Scielo Brasil, com o título "Neutralidade e viés judicial: Filiação partidária e os réus da Operação Lava Jato". Um artigo "pré-print" ainda não foi submetido à revisão de outros acadêmicos.

Ao identificar uma distribuição proporcional dos réus nos grandes partidos, os autores consideram que a Lava Jato revelou uma "estrutura de corrupção disseminada em compras públicas, especialmente em obras de engenharia pesada". Avaliação que, segundo os pesquisadores, é reforçada pelo fato de a operação ter atingido executivos de praticamente todas as grandes construtoras.

Outra conclusão da pesquisa é que a variada filiação partidária dos réus indica não ter havido perseguição a uma outra agremiação política no âmbito geral da Lava Jato.

"A pesquisa procurou responder uma pergunta comum: a Lava Jato é um complô das elites contra a ascensão do PT e uma reforma estrutural (implementada pelo partido) ou não? E, aparentemente, não é, porque a gente identifica todos os partidos (entre os alvos da operação) e o PT só aparece em segundo lugar", disse à BBC News Brasil uma das autoras do estudo, Maria Paula Bertran, professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP.

No entanto, ao analisar a distribuição dos processos, o levantamento identificou um concentração aumentada de casos contra petistas na jurisdição de Curitiba (números ao final da reportagem), vara judicial que foi comandada por Sergio Moro do início da Lava Jato, em 2014, até o final de 2018, quando o então juiz deixou a magistratura para se tornar ministro da Justiça e Segurança Pública no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Ele ocupou o cargo de janeiro de 2019 a abril de 2020, quando pediu demissão acusando Bolsonaro de tentar interferir na Polícia Federal, o que o presidente nega. Hoje, Moro está filiado ao União Brasil e é candidato ao Senado pelo Paraná.

O réu petista mais famoso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje candidato novamente ao Palácio do Planalto, enfrentou quatro processos na vara de Curitiba, e chegou a ser condenado em dois deles. Em 2021, todos foram anulados pelo STF por dois motivos: a maioria dos ministros entendeu que os processos não deveriam ter tramitado na Justiça do Paraná e que Moro atuou com parcialidade contra o petista.

Lula durante entrevista concedida à BBC News Brasil em 2019, quando estava preso na Superintendência da PF em Curitiba (Ricardo Stuckert / Divulgação)

O artigo com a pesquisa da USP lembra que, em 2019, uma série de reportagens do portal The Intercept Brasil conhecida como Vaza Jato revelou supostos diálogos privados da força-tarefa da operação, inclusive conversas entre o procurador Deltan Dallagnol e Sergio Moro, que indicavam uma espécie de conluio entre Ministério Público e o juiz nos processos contra Lula e outros acusados.

Dallagnol, que chefiou a força-tarefa em Curitiba, hoje é candidato a deputado federal pelo Podemos do Paraná.

Na avaliação dos pesquisadores, a concentração de casos contra o PT em Curitiba identificada pelo levantamento pode indicar uma possível parcialidade da Lava Jato naquela jurisdição em relação a outros petistas, além do ex-presidente.

Após as conclusões desse estudo, os autores pretendem continuar a pesquisa sobre a neutralidade ou a existência de algum viés na Lava Jato investigando outros aspectos, como a velocidade de tramitação dos processos e a determinação das penas.

"Será que ações contra filiados do PT, por exemplo, tramitaram mais rápido? Será que entre o oferecimento da denúncia e a existência de uma sentença de primeiro grau é possível identificar um viés para alguns partidos políticos? A gente ainda não tem dados para responder isso. É um próximo desafio", disse Bertran à reportagem.

O que dizem os números?

O levantamento da USP identificou um total de 1.503 réus em processos da Lava Jato iniciados na primeira instância judicial, sendo 923 o número total de pessoas processadas, já que alguns dos investigados se tornaram réus em mais de um processo. Desse universo, os pesquisadores conseguiram confirmar que ao menos 169 (18%) tinham filiação partidária, ao analisar os registros do Tribunal Superior Eleitoral.

Esses processos transcorreram em varas de Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo — as três subseções judiciárias que concentraram os casos da operação que tramitaram originalmente na primeira instância da Justiça Federal.

A pessoa se torna ré quando o Ministério Público apresenta uma denúncia e o juiz decide que há elementos suficientes para iniciar um processo. Ao final desse processo, o magistrado avalia se há provas suficientes para condenar o acusado ou se ele deve ser absolvido.

Dos 1.503 réus da Lava Jato na primeira instância, a pesquisa identificou 311 com alguma filiação partidária — esse número leva em conta todos os casos em que uma mesma pessoa se tornou ré, como Lula e o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB), que enfrentaram múltiplos processos na Lava Jato.

Ou seja, o levantamento apontou que integrantes de partidos políticos foram processados ao menos 311 vezes em varas de primeira instância a partir de denúncias da Lava Jato.

Desse total, filiados ao MDB aparecem como réus 117 vezes (37,6% dos casos com filiação), com destaque para o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral, que enfrentou 23 processos.

O PT aparece como segundo partido mais atingido, já que petistas foram processados pela Lava Jato em primeira instância 54 vezes (17,3%), sendo alguns deles enfrentaram múltiplos processos, como Lula e o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto.

A terceira sigla mais atingida foi o PSDB, com 31 réus (10%), seguida do PP, com 26 (8,4%).

Vazamento de mensagens atribuídas a Dallagnol levantou suspeitas sobre a legalidade da condução de investigações pelo Ministério Público Federal no Paraná (Reuters / Rodolfo Buhrer)

A quantidade de réus identificada na pesquisa segue o tamanho dos partidos no país. Considerando todas as pessoas filiadas no Brasil em 2018 (16,8 milhões), o MDB aparecia como a maior legenda, com 2,392 milhões de integrantes, o que representa 14,2% do total.

Já o PT tinha naquele ano 1,591 milhão de filiados (9,5%), sendo a segunda maior sigla, seguido de PSDB, com 1,459 milhão (8,7%), e PP, com 1,44 milhão (8,6%).

Os principais alvos no STF

A pesquisa também analisou a filiação das autoridades com foro privilegiado que foram alvo da Lava Jato no STF. Como apenas um dos inquéritos abertos no Supremo deu origem a uma ação penal, os autores do estudo optaram por analisar a filiação partidárias de todos que foram objeto de investigação, em vez de considerar apenas os réus, como fez nos casos que tramitaram em primeira instância.

Segundo esse levantamento, inquéritos abertos no STF atingiram 111 vezes pessoas com filiação partidária, sendo as quatro legendas mais atingidas o MDB (26), o PT (22), o PSDB (17) e o PP (9).

Esses números também contabilizam todas as vezes que uma mesma pessoa foi alvo de investigação.

Segundo o levantamento, apenas 25 inquéritos continuam em andamento no Supremo, outros 28 foram arquivados, enquanto o restante foi redistribuído para outras instâncias judiciais, conforme os investigados perderam direito a foro especial.

O estudo também não identificou um tratamento diferenciado no andamento dessas investigações, a depender do partido de filiação dos suspeitos.

"Os andamentos/remessas dos inquéritos mantêm razoável homogeneidade entre si, a despeito de o pequeno tamanho da amostra não autorizar maiores afirmações. Como regra, metade dos inquéritos foi remetida a outras jurisdições, um quarto se mantém no STF e um quarto foi arquivado pelo STF, ao menos nos três partidos com sujeitos mais recorrentes: MDB, PT e PSDB", diz o artigo.

PT no foco de Curitiba

Dos 54 processos da Lava Jato contra petistas em primeira instância, 45 foram abertos na Justiça de Curitiba, mostra o levantamento da USP. Ou seja, a antiga vara de Moro concentrou 83% dos processos contra filiados ao PT. Outras quatro denúncias foram oferecidas e aceitas contra petistas no Rio de Janeiro, e cinco em São Paulo.

"Essa distribuição não se repete, proporcionalmente, para nenhum partido político, em nenhuma outra Subseção Judiciária. Os filiados ao MDB foram denunciados eminentemente no Rio de Janeiro, por exemplo. Ainda assim, o número de denúncias contra os filiados do MDB no Rio de Janeiro (80, de um total de 117), corresponde a apenas 57% do total", ressalta o artigo.

Segundo o estudo, profissionais que atuaram na Operação Lava Jato entrevistados para a pesquisa argumentaram que teria havido uma "especialização informal" das varas de primeira instância, em que Curitiba teria priorizado os réus envolvidos "com a Petrobras", mas não necessariamente os filiados ao PT.

Já São Paulo teria concentrado os casos contra tucanos (o Estado é governado pelo PSDB há mais de duas décadas), e o Rio de Janeiro teria focado em casos contra filiados ao MDB, partido que governou o Estado entre 2006 e 2018 com Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

Ex-governador Sérgio Cabral foi condenado a penas que, somadas, ultrapassam 180 anos de prisão

Os números levantados na pesquisa, porém, não confirmam completamente esse argumento: a Justiça Federal em São Paulo abriu processou contra dezoito réus com filiação partidária, dos quais apenas cinco eram filiados ao PSDB (menos de um terço do total).

Já o predomínio dos processos contra filiados do MDB na Justiça do Rio de Janeiro, avaliam os pesquisadores, está relacionado a dois aspectos: o protagonismo do partido naquele Estado e o fato de os crimes investigados terem ocorrido em território fluminense.

"No Rio de Janeiro, a Operação Lava Jato ganhou contornos regionais, processando inúmeros casos de corrupção local (como a organização social Pró-Saúde, responsável pela administração de hospitais, ou a Átrio Rio, empresa de limpeza urbana e serviços de vigilância, por exemplo)", nota o artigo.

O cenário, porém, é diferente da situação do PT em Curitiba, ressaltam os pesquisadores.

O artigo nota que o PT é apenas o quarto partido com mais filiados no Paraná, não tendo destaque especial no Estado. Além disso, ressaltam os autores, os supostos crimes investigados nos processos contra petistas não ocorreram no Estado do Paraná, contrariando a "lógica da competência territorial", segundo a qual os réus são julgados no Estado em que os crimes teriam sido cometidos.

Por que casos foram julgados em Curitiba?

Inicialmente, os casos da Lava Jato estavam concentrados na vara do então juiz Sergio Moro. Isso ocorreu porque a operação, que teve sua primeira fase em março de 2014, começou a partir de desdobramentos de investigações contra organizações criminosas que atuavam no Paraná, envolvendo doleiros, como Alberto Youssef, e o ex-deputado federal do PP José Janene.

Com o avançar das investigações e as informações obtidas em acordos de delação dos primeiros investigados, a operação passou a apurar crimes em outras regiões do país, nem sempre relacionados à Petrobras. A Lava Jato, porém, argumentou que havia uma conexão entre esses crimes e que todos deveriam ser investigados pela operação e julgados por Moro.

Desde o início, as defesas de vários investigados contestaram essa decisão e pediram que os casos fossem redistribuídos para outras varas de outros Estados. Alguns casos foram direcionados para Rio de Janeiro e São Paulo. No entanto, o STF determinou que todos os casos que envolvessem a Petrobras deveriam ser mantidos com Moro.

Por isso, os processos contra Lula, por exemplo, foram mantidos em Curitiba, já que o ex-presidente era acusado de ter sido beneficiado com recursos desviados da Petrobras para empreiteiras por meio do recebimento de um tríplex na cidade do Guarujá (SP) e de obras em um sítio que ele frequentava na cidade de Atibaia (SP), o que o petista nega.

"O protagonismo dos filiados ao PT na Subseção Judiciária de Curitiba exige a construção de hipóteses mais complexas. A lógica da competência territorial exigiria que os crimes julgados em Curitiba tivessem sido consumados em Curitiba. O próprio Lula, porém, não tinha nenhuma ligação especial com a localidade. O argumento geral era o de atração de competência a partir do processamento de Alberto Youssef, réu acusado, entre outros crimes, de mascarar a origem dos recursos oriundos do pagamento de propina. Todavia, a regra geral no processo penal é a da competência territorial", diz trecho do artigo da USP.

Apenas em março de 2021, o ministro do STF Edson Fachin acolheu o argumento da defesa de que os casos não deveriam ter sido julgados em Curitiba. Ele entendeu que não havia elementos concretos na acusação comprovando que o petista teria interferido diretamente em contratos da Petrobras para favorecer empreiteiras em troca do tríplex ou das obras no sítio. Sua decisão depois foi confirmada pela Segunda Turma do STF.

Logo depois, o Supremo também declarou que Moro agiu com parcialidade nos processos contra Lula, o que reforçou a anulação dos processos contra o ex-presidente. O Supremo decidiu, então, que os quatro processos que tramitaram em Curitiba deveriam ser refeitos do zero na Justiça Federal de Brasília. No entanto, os casos acabaram arquivados, porque os crimes dos quais Lula era acusado prescreveram (terminou o prazo para julgamento).

"Nesse sentido, as alegações de parcialidade enunciadas contra Lula possam, talvez, ser ampliadas para um comportamento parcial em relação a todos os réus com filiação partidária ao PT e que foram processados na Subseção Judiciária de Curitiba. Os filiados ao PT não foram alvo privilegiado da Operação Lava Jato como um todo. Todavia, os filiados ao PT foram denunciados predominantemente em Curitiba", conclui o artigo.

Os autores ressaltam, porém, que a Lava Jato não teria conseguido manter processos contra o PT em Curitiba se não houvesse uma autorização do STF, que inicialmente determinou que todos os casos relacionados à Petrobras fossem mantidos com Moro.

O artigo diz ainda que Moro não pode ser responsabilizado isoladamente pela prisão de Lula, já que o petista só foi preso em 2018 porque havia sido condenado também pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e porque o STF autorizou naquele ano o cumprimento da pena após condenação em segunda instância.

O petista foi solto no final de 2019, após 580 dias preso, quando o Supremo reviu sua decisão e passou a proibir o cumprimento da pena antes do trânsito em julgado (fim dos recursos disponíveis no processo).

Mariana Schreiber - @marischreiber, da BBC News Brasil em Brasília, em 23.09.22 /  Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62990375

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Militares, descansar!

‘A norma em qualquer democracia é que militar obedece a eleitos, bate continência, protege fronteiras e defende a Constituição’


Urnas eletrônicas armazenadas para serem distribuídas às zonas eleitorais. Foto: Alex Silva/Estadão

O que pensam os militares e como não lhes desagradar? Na ditadura, o enigma nos atormentava durante a lenta transição democrática. Tínhamos um olho nas urnas e outro nos quartéis. O Ministério da Defesa foi criado e entregue a um civil.

A norma em qualquer democracia é que militar obedece a eleitos, bate continência, protege fronteiras e defende a Constituição. Trump não conseguiu dar o golpe e anular as eleições americanas porque militares seguiram o rumo hierárquico de defender o Congresso. Está em Four Hours at the Capitol (HBO Max), documentário com a minutagem da tentativa de golpe durante a invasão do Capitólio.

Pode ocorrer por aqui? Conhecendo o humor da turba bolsonarista... O impeachment da Dilma desorganizou as instituições. Apelou-se a uma força adormecida, os militares.

Apareceu a ala de generais de pijama comprometidos com a linha-dura, tortura, intolerância contra indígenas, machismo, racismo, representada na figura bisonha do general Heleno, indisciplinado herdeiro do general Sylvio Frota, aquele dos atentados à bomba para boicotar a abertura democrática introduzida pelo general Geisel, desenhada pelo general Golbery, comandada pelo general Figueiredo, garantida pelo general Pires Gonçalves.

O ministro Barroso, por livre e espontânea vontade, instituiu via Portaria TSE n.º 578/2021 a Comissão de Transparência e convocou militares para participar. A tigrada sorriu de orelha a orelha. Falta hoje um líder com a coragem de Ulysses Guimarães e Brizola para peitá-la.

A intervenção nas eleições de 2022 é escandalosa. Se o ministro Edson Fachin inicialmente disse não se metam, o ministro Alexandre de Moraes abriu o zíper do TSE. A proposta nem estava mais na pauta do tribunal, mas ele aceitou a exigência dos militares no teste de biometria.

Eu não tenho impressão digital. Minha pele é lisa, como a de muitos. Tenho licença especial sem digital com uma carteira de motorista sem biometria, autorizada pelo DSV. No meu prédio, instalaram controle por biometria e se descobriu que 30% dos moradores não têm impressão digital. Desinstalaram.

Sessenta e quatro urnas serão auditadas por aliados armados do atual presidente, indicados por ele. Processo confiável? Barroso afirmou depois que as Forças Armadas “estão sendo orientadas para atacar o processo” eleitoral brasileiro e “tentar desacreditá-lo”, num universo de 557 mil urnas que contêm um vice general na chapa do capitão.

E se um militar, a mando do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, comandado por Bolsonaro, vier a público afirmar que encontrou incongruência numa das urnas? Pela amostragem, uma urna examinada representaria o espectro de 2.437.500 de eleitores. Tanto general nessa estória... Vai dar rolo.

Marcelo Rubens Paiva, o autor deste artigo, é escritor, dramaturgo e autor de 'Feliz Ano Velho', entre outros. Publicado originalmente n'O Estado de S. Paulo, em 23.09.22.

EUA têm alertado secretamente a Rússia sobre consequências no caso do uso de uma arma nuclear

Tentativa da Casa Branca de cultivar o que é conhecido como ‘ambiguidade estratégica’ ocorre enquanto Putin continua aumentando sua retórica sobre o possível uso de armas atômica 

Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin (E), e dos EUA, Joe Biden, durante cúpula EUA-Rússia em Genebra, Suíça, em 16 de junho de 2021  Foto: Saul Loeb/Pool via Reuters - 16/06/2021

 Os Estados Unidos vêm há vários meses enviando comunicações privadas a Moscou alertando a liderança da Rússia sobre as graves consequências que se seguiriam ao uso de uma arma nuclear, segundo autoridades americanas citadas pelo jornal The Washington Post. As mensagens, segundo as fontes, ressaltam o que o presidente Joe Biden e seus assessores articularam publicamente.

O governo Biden decidiu manter os alertas sobre as consequências de um ataque nuclear deliberadamente vagos, para que o Kremlin se preocupe com a forma como Washington poderia responder, disseram as autoridades, falando sob condição de anonimato para descrever deliberações delicadas.

A tentativa da Casa Branca de cultivar o que é conhecido no mundo da dissuasão nuclear como “ambiguidade estratégica” ocorre enquanto a Rússia continua aumentando sua retórica sobre o possível uso de armas nucleares em meio a uma mobilização doméstica destinada a estancar as perdas militares russas no leste da Ucrânia.

O Departamento de Estado esteve envolvido nas comunicações privadas com Moscou, mas as autoridades não disseram quem entregou as mensagens ou o alcance de seu conteúdo. Não ficou claro se os EUA enviaram novas mensagens privadas depois que o presidente russo, Vladimir Putin, emitiu sua última ameaça nuclear velada durante um discurso anunciando uma mobilização parcial na quarta-feira. Um alto funcionário dos EUA disse, porém, que a comunicação vem acontecendo de forma consistente nos últimos meses.

Dmitri Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, escreveu na quinta-feira em um post no Telegram que o território no leste da Ucrânia seria “integrado à Rússia” após a conclusão dos “referendos” que começarão a ser votados nesta sexta-feira e prometeu fortalecer a segurança dessas áreas.

Para defender essa terra anexada, disse Medvedev, a Rússia pode usar não apenas suas forças recém-mobilizadas, mas também “qualquer arma russa, incluindo armas nucleares estratégicas e aquelas que usam novos princípios”, uma referência às armas hipersônicas. “A Rússia escolheu seu caminho”, acrescentou Medvedev. “Não há caminho de volta.”

O comentário veio um dia depois de Putin sugerir que a Rússia anexaria terras ocupadas no sul e leste da Ucrânia e incorporaria as regiões formalmente ao que Moscou considera seu território. Ele disse que não estava blefando quando prometeu usar todos os meios à disposição da Rússia para defender a integridade territorial do país – uma referência velada ao arsenal nuclear do país.

Para Entender

Vehicles drive past advertising boards, including panels displaying pro-Russian slogans, in a street in the course of Russia-Ukraine conflict in Luhansk, Ukraine September 20, 2022. REUTERS/Alexander Ermochenko

O que está por trás dos referendos em províncias da Ucrânia ocupadas pela Rússia

Votações podem preparar terreno para a anexação das áreas em uma forte escalada da guerra de quase sete meses

Autoridades do governo Biden enfatizaram que esta não é a primeira vez que a liderança russa ameaçou usar armas nucleares desde o início da guerra, em 24 de fevereiro, e disseram que não há indicação de que a Rússia esteja movendo suas armas nucleares em preparação para um ataque iminente.

Ainda assim, as recentes declarações da liderança russa são mais específicas do que comentários anteriores e ocorrem em um momento em que a Rússia está cambaleando no campo de batalha por conta de uma contraofensiva ucraniana apoiada pelos EUA.

Enquanto as declarações anteriores do Kremlin pareciam ter como objetivo alertar os EUA e seus aliados sobre ir longe demais na ajuda à Ucrânia, os comentários mais recentes de Putin sugeriram que a Rússia está considerando usar uma arma nuclear no campo de batalha para congelar ganhos e forçar Kiev e seus apoiadores à submissão, disse Daryl Kimball, diretor executivo da Associação de Controle de Armas, um grupo de defesa da não proliferação em Washington.

“O que todos precisam reconhecer é que este é um dos episódios mais graves, se não o mais grave, em que armas nucleares podem ser usadas em décadas”, disse Kimball. “As consequências até mesmo de uma chamada ‘guerra nuclear limitada’ seriam absolutamente catastróficas.”

Durante anos, os especialistas nucleares dos EUA se preocuparam que a Rússia pudesse usar armas nucleares táticas menores, às vezes chamadas de “armas nucleares de campo de batalha”, para encerrar uma guerra convencional favoravelmente em seus termos – uma estratégia às vezes descrita como “escalar para diminuir”.

Na quinta-feira, Vadim Skibitski, vice-chefe da inteligência militar ucraniana, disse à ITV News do Reino Unido que é possível que a Rússia use armas nucleares contra a Ucrânia “para interromper nossa atividade ofensiva e destruir nosso estado”. “Esta é uma ameaça para outros países”, disse Skibitski. “A explosão de uma arma nuclear tática terá impacto não apenas na Ucrânia, mas na região do Mar Negro.”

Os ucranianos tentaram sinalizar que mesmo um ataque nuclear russo não os forçaria à capitulação – e de fato poderia ter o efeito oposto. “Ameaçar com armas nucleares… aos ucranianos?”, escreveu Mikhailo Podoliak, conselheiro do presidente ucraniano Volodmir Zelenski, no Twitter. “Putin ainda não entendeu com quem está lidando.”

Em entrevista ao programa “60 Minutes” da CBS News que foi ao ar no domingo, Biden foi questionado sobre o que ele diria a Putin se o líder russo estiver considerando usar armas nucleares no conflito contra a Ucrânia. “Não. Não. Não”, disse Biden. “Você mudará a face da guerra como nada antes desde a 2ª Guerra.”

Crise

Biden se recusou a detalhar como os EUA responderiam, dizendo apenas que a reação seria “consequencial” e dependeria “da extensão do que eles (russos) fizerem”.

O governo Biden enfrentaria uma crise se a Rússia usasse uma pequena arma nuclear na Ucrânia, que os EUA não estão obrigados a defender por nenhum tratado. Qualquer resposta militar direta dos EUA contra a Rússia arriscaria a possibilidade de uma guerra mais ampla entre superpotências com armas nucleares – evitá-la tornou a prioridade ‘número 1′ do governo Biden em todas as suas políticas para a Ucrânia.

Matthew Kroenig, professor de governo da Universidade de Georgetown e diretor do Centro Scowcroft para Estratégia e Segurança do Conselho Atlântico, argumentou que a melhor opção para o governo, se confrontado com um ataque nuclear russo limitado na Ucrânia, pode ser apoiar a Ucrânia e realizar um ataque convencional limitado às forças ou bases russas que lançaram o ataque.

“Se foram as forças russas na Ucrânia que lançaram o ataque nuclear, os EUA poderiam atacar diretamente essas forças”, disse Kroenig. “Seria calibrado para enviar uma mensagem de que esta não é uma grande guerra, este é um ataque limitado. Se você é Putin, o que você faz em resposta? Eu não acho que você diga imediatamente vamos lançar todas as armas nucleares nos Estados Unidos.”

Putin anuncia ‘mobilização parcial’ de russos em idade de combate

Medida foi tomada no país pela última vez na 2ª Guerra, quatro regiões controladas por Moscou na Ucrânia anunciaram referendos para integração a Rússia

Mas mesmo um ataque convencional limitado dos militares dos EUA contra a Rússia seria visto como imprudente por muitos em Washington, que argumentariam contra o risco de uma guerra em grande escala com uma Rússia com armas nucleares.

James M. Acton, codiretor do programa de política nuclear do Carnegie Endowment for International Peace, disse que não faz sentido neste momento descartar as respostas dos EUA porque há uma ampla gama de ações russas possíveis – de um teste nuclear subterrâneo que não faz mal a ninguém até uma explosão em grande escala que mata dezenas de milhares de civis - e não há sinais de que Putin esteja perto de cruzar o limiar.

“Se ele estivesse realmente pensando muito seriamente em usar armas nucleares muito em breve, ele quase certamente gostaria que soubéssemos disso”, disse Acton. “Ele prefere ameaçar o uso nuclear e nos obrigar a fazer concessões do que realmente ter de seguir o caminho do uso nuclear.”

Autoridades dos EUA intensificaram os esforços na Assembleia-Geral da ONU nesta semana para impedir a Rússia de considerar seriamente o que seria o primeiro uso de uma arma nuclear em um conflito desde os bombardeios atômicos do Japão pelos Estados Unidos em 1945.

O USS Ronald Reagan, um porta-aviões movido a energia nuclear da classe Nimitz da Marinha dos EUA, chega a um porto na cidade costeira de Busan, no sudeste da Coreia do Sul Foto: Jeon Heon-Kyun/EFE - 23/09/2022

O secretário de Estado Antony Blinken, falando em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira, disse que as “ameaças nucleares imprudentes da Rússia devem parar imediatamente”.

“Esta semana, o presidente Putin disse que a Rússia não hesitaria em usar, e cito, ‘todos os sistemas de armas disponíveis’ em resposta a uma ameaça à sua integridade territorial – uma ameaça que é ainda mais ameaçadora dada a intenção dos russos de anexar grandes áreas da Ucrânia nos próximos dias”, disse Blinken. “Quando isso estiver completo, podemos esperar que o presidente Putin reivindique qualquer esforço ucraniano para libertar esta terra como um ataque ao chamado território russo”.

Blinken observou que a Rússia em janeiro se juntou a outros membros permanentes do Conselho de Segurança na assinatura de uma declaração conjunta dizendo que “a guerra nuclear nunca pode ser vencida e nunca deve ser travada”.

Paul Sonne e John Hudson originalmente para o Washington Post (USA). Reproduzido no Brasil pelo O Estado de S. Paulo, em 23.09.22.

Missão da ONU conclui que crimes de guerra foram cometidos na Ucrânia

As Nações Unidas revelam sinais de tortura, execuções sumárias e casos de violência sexual em pessoas entre quatro e 82 anos, em áreas ocupadas por tropas russas

Exumação de um corpo em uma cova encontrada em Izium, no nordeste da Ucrânia, nesta sexta-feira. (Sergey Bobok - AFP)

A missão de apuração da ONU na Ucrânia concluiu esta sexta-feira, depois de visitar aquele país em junho, que crimes de guerra foram cometidos em áreas ocupadas por tropas russas durante a invasão . Isso foi confirmado por Erik Mose, presidente do grupo, em seu comparecimento perante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra (Suíça). "Ficamos chocados com o grande número de execuções perpetradas nas áreas que visitamos", disse este especialista, que explicou que a missão está investigando esse tipo de assassinato em 16 cidades ucranianas nos primeiros meses da ofensiva russa, apesar de ter recebido relatórios de crimes desse tipo em muitos outros lugares do país invadidos.

Muitos dos executados eram pessoas detidas anteriormente cujos corpos foram encontrados com as mãos amarradas nas costas, ferimentos na cabeça e cortes no pescoço, segundo Mose. Tudo isso representa indícios de que foram execuções sumárias, acrescentou o especialista. Mose também denunciou a violência sexual e de gênero dos soldados de Vladimir Putin contra vítimas "entre as idades de quatro e 82 anos" e que, em alguns casos, os parentes das vítimas foram forçados a ver como foram maltratados ou torturados.

Esta missão da ONU, também composta pelo colombiano Pablo de Greiff e pela bósnia Jasminka Dzumhur, documentou casos em que crianças foram “estupradas, torturadas e detidas ilegalmente”. Há casos em que alguns deles acabaram sendo mortos pelos soldados russos. Várias testemunhas disseram à missão das Nações Unidas que foram espancadas, eletrocutadas e despidas à força durante as detenções ilegais em que foram transferidas da Ucrânia para o território russo.

Mose também destacou o uso repetido de artefatos explosivos em áreas civis, que afetaram escolas, residências, hospitais e outras infraestruturas. Esses ataques mataram cerca de 6.000 civis em sete meses de conflito, de acordo com o escritório de Direitos Humanos da ONU. "Uma parte dos ataques que investigamos foi lançada sem distinção entre civis e combatentes", disse Mose.

Estas conclusões são as primeiras a serem tornadas públicas desde a criação da missão em março passado. É responsável por investigar os atos perpetrados apenas nos primeiros dois meses da ofensiva russa nas áreas ao redor de Kiev, Chernihiv, Kharkov e Sumi. “ A recente descoberta de mais valas comuns ilustra a gravidade da situação”, alertou Mose, que esclareceu que a missão que preside também recolheu dois incidentes de maus tratos a soldados russos por parte das forças ucranianas, um tipo de crime no qual a ONU vai continuar a prestar atenção, ele assegurou.

Dois corpos de civis, um deles com as mãos amarradas nas costas, em uma rua de Bucha, uma cidade nos arredores de Kyiv, em abril. (Sergei Supinsky / AFP)

Agência EFE, de Genebra para o EL PAÍS, em 23.09.22 

Irregularidades marcam o início dos pseudo referendos de Putin para anexar territórios ocupados da Ucrânia

Kyiv denuncia que as votações, sem reconhecimento oficial e organizadas às escondidas da comunidade internacional, são realizadas com a presença de homens armados que coagem a população

Um membro do serviço da autoproclamada República Popular de Lugansk caminha com um rifle depois de votar no referendo para se juntar à Rússia na sexta-feira. (Alexander Ermochenko / Reuters)

A partir desta sexta-feira, véspera do aniversário de sete meses da invasão, até a próxima terça-feira, as autoridades pró-russas de ocupação realizam consultas sobre a anexação à Rússia em quatro regiões da Ucrânia. Nenhum deles está totalmente sob seu controle e os combates acontecem em todos eles. O primeiro dia se passou entre as denúncias das autoridades de Kiev sobre a imposição do voto à população, mesmo com a presença de homens armados junto com as pessoas que carregavam as urnas e que foram às casas, aos locais de trabalho ou aos hospitais alegando os votos.

O governo do presidente Volodímir Zelenski divulgou um vídeo em que uma mulher com um megafone na mão caminha pela rua se aproximando de diferentes casas para pedir aos moradores que participem. O governador ucraniano da região de Lugansk, Sergei Gaidai, um dos territórios onde as consultas são realizadas, denunciou que aqueles que não abrem a porta de sua casa ou pretendem dizer não à união com a Rússia são ameaçados.

Não há observadores que assegurem o bom andamento de um processo que a comunidade internacional considera ilegal e ao qual nenhum órgão concede reconhecimento oficial. A intenção do Kremlin é estabelecer suas posições nesses territórios, como fez em 2014 na península da Crimeia.. Poucos duvidam que os plebiscitos de Donetsk, Lugansk —duas províncias quase inteiramente ocupadas—, Zaporizhia e Kherson —parcialmente controladas— produzirão um resultado favorável aos interesses dos organizadores. O objetivo de Moscou ao buscar a anexação desses territórios é ter a possibilidade de aumentar a resposta militar de seu Exército em caso de agressão: no momento em que a Rússia considerar que essas regiões fazem parte de seu território, considerar-se-ia no direito de responder com todas as a dureza diante de possíveis ataques de forças leais a Kyiv.

Esses referendos ocorrem em um momento delicado para o presidente russo, Vladimir Putin, que teve que se mexer diante das derrotas que acumulou no campo de batalha nas últimas duas semanas. O presidente anunciou uma polêmica mobilização da população para enfrentar o conflito , que levou milhares de jovens a fugir do país para evitar a guerra . O avanço das tropas ucranianas forçou a retirada rápida de dezenas de milhares de soldados russos implantados há meses no nordeste da Ucrânia. A troca de prisioneiros ucranianos e russos realizada na quinta-feira também não foi bem recebida em Moscou.

Votação de Menores

Para aumentar a participação nos pseudo-referendos das regiões ucranianas, os organizadores estão permitindo que cidadãos menores, com idades entre 13 e 17 anos, acompanhados por seus pais ou responsáveis, votem, revelaram as autoridades de Kyiv nesta quinta-feira por meio de informações de os serviços secretos. Além disso, acrescenta a mesma fonte, está previsto trazer famílias da região de Donetsk que vivem na Rússia.

"Você apóia a incorporação da república na Federação Russa com os direitos de uma entidade da Federação Russa?", aparece escrito em russo na cédula dos centros de votação habilitados em Donetsk e Lugansk, segundo a agência Eph. Em Zaporizhia e Kherson pode-se ler em ucraniano e russo: "Você é a favor da região deixar a Ucrânia, criar um estado soberano e ingressar na Federação Russa?"

Marina, uma ex-professora de 56 anos da região de Kherson, diz que não tem intenção de votar no que ela chama de “uma performance teatral terrível”. “Suponho que eles vão acabar nos obrigando a nos posicionarmos, isso é, basicamente, para isso; é claro que o resultado é fraudado”, diz a mulher por meio de um aplicativo de mensagens, que decidiu ficar apesar da ocupação russa para cuidar de seus pais muito idosos. Em Melitopol, uma mulher que, por medo de ser identificada, pediu para não se identificar, explica que funcionários ligados às autoridades impostas pelo Kremlin estão indo às casas com as cédulas para que os cidadãos votem ali mesmo, na presença deles. "Dizem que é por segurança", diz a mulher , relata María Sahuquillo.Na verdade, as escolas só vão abrir no último dia de consultas, terça-feira, 27 de setembro, acrescenta a Efe. A partir desta sexta-feira, as autoridades vão recolher as cédulas nas casas devido à guerra que está a ser travada no país.

O governador de Lugansk denunciou que muitos cidadãos estão sendo obrigados a votar, conforme publicado em seu perfil na rede social Telegram. Gaidai, a autoridade legítima daquela região ucraniana quase inteiramente controlada por Moscou, acrescenta ainda que os russos prepararam equipamentos de vídeo para "filmar histórias de propaganda" sobre a votação.

“Em uma empresa em Bilovodsk, o chefe anunciou a todos os funcionários que a presença era obrigatória. Os que não participarem na votação serão automaticamente despedidos e as listas dos que não comparecerem serão entregues aos serviços de segurança da República Popular de Lugansk [como se autodenomina a autoridade pró-Rússia]”, adverte Gaidai. Num segundo caso, em Starobilsk, continua este governador ucraniano, “as autoridades de ocupação proibiram a população local de deixar a cidade entre 23 e 27 de setembro [datas entre as quais se estende a consulta]. De acordo com as informações disponíveis, os ocupantes estão formando grupos armados para patrulhar as casas e obrigar a população a participar do chamado referendo”, explica Gaidai.

Um militar vota em Lugansk, um território no leste da Ucrânia controlado pela Rússia.

Gaidai assegura que as comissões eleitorais são acompanhadas por homens armados que recolhem os votos casa a casa e aproveitam ainda para verificar se há homens em idade de combate na casa para os mobilizar para a guerra. "Eles estão procurando bucha de canhão", diz o governador dependente do governo de Kyiv.

Antes de um único boletim de voto ser introduzido nas urnas, a comunidade internacional já anunciou que o resultado daqueles referendos considerados ilegais não será reconhecido. Isto foi afirmado pelas Nações Unidas, NATO, União Europeia ou Estados Unidos. Além disso, as autoridades de Kyiv dizem que não pretendem alterar seu objetivo de manter a contra-ofensiva implantada no nordeste do país que lhes permitiu recuperar a região de Kharkov e que melhorou suas posições no campo de batalha para desocupar posições russas em Donetsk. e Luhansk.

As consultas são realizadas em um território que representa aproximadamente 15% dos 600.000 quilômetros quadrados da Ucrânia. É lá, nessas quatro regiões do leste e do sul do país vizinho, que a Rússia está agora concentrando seus esforços.

Em 21 de fevereiro, Putin assinou um decreto para, segundo ele, dar status oficial às duas autoproclamadas repúblicas populares independentes de Donetsk e Lugansk . Ao mesmo tempo, anunciou o envio de tropas de “manutenção da paz” para aqueles territórios. Esse foi o prólogo da invasão que ele ordenou logo depois e que começou na madrugada do dia 24.

Antes da agressão que começou naquele dia, a zona industrial de Donbas, que é ocupada pelas duas províncias de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, já havia sido palco de uma guerra entre milicianos pró-russos apoiados por Moscou e o Exército ucraniano desde 2014. . O fato de as tropas leais a Kiev terem conquistado mais de 8.000 quilômetros quadrados em Kharkov desde o início de setembro permite que se posicionem nos portões do cobiçado Donbas. É lá que os militares ucranianos esperam continuar abrindo uma brecha nos dias de hoje; e onde Putin espera reformar sua presença militar com as últimas medidas anunciadas.

Luís de Vega, enviado especial à Ucrania, trabalhou como jornalista e fotógrafo em mais de 30 países por 25 anos. Chegou à seção Internacional do EL PAÍS depois de reportar por um ano e meio em Madri e arredores. Antes disso, trabalhou por 22 anos no jornal Abc, oito dos quais foi correspondente no norte da África. Foi duas vezes finalista do Prêmio Cirilo Rodríguez. Publicado originalmente em 23.09.22.

A ameaça nuclear de Putin: bravata ou real possibilidade?

Presidente russo voltou a ameaçar utilizar armas atômicas. Mas é provável que um ataque nuclear de fato aconteça? A Otan e o Ocidente estariam preparados?

O discurso é abertamente uma retórica de guerra: "Gostaria de lembrar àqueles que fazem afirmações sobre a Rússia que o nosso país também dispõe de vários meios de destruição e que, em alguns casos, eles são mais modernos do que os dos países da Otan. Se a integridade territorial russa for ameaçada, utilizaremos todos os meios disponíveis para proteger a Rússia e o nosso povo."

Foi isso que o chefe do Kremlin, Vladimir Putin, comunicou à população russa – e mundial – nesta quarta-feira (21/09). O líder russo acusa o Ocidente de chantagem nuclear. E não deixa dúvidas sobre a sua posição: "Isso não é um blefe. E aqueles que tentam nos chantagear com armas nucleares devem saber que a direção dos ventos pode mudar e apontar para eles."

Em seu discurso, Putin não apenas ameaçou o Ocidente por meio do uso de armas nucleares, como também anunciou a mobilização parcial de 300 mil reservistas.

"Desde o início da guerra, temos ouvido repetidamente ameaças do tipo, que podem ser interpretadas como uma ameaça de uso de armas nucleares", aponta o coronel da reserva da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) e especialista em política de segurança Wolfgang Richter, em entrevista à DW.

"A ideia por trás disso é possivelmente [enviar] um recado aos Estados ocidentais: se vocês [o Ocidente] interferirem na guerra ou mesmo atacarem o território russo, um ataque nuclear torna-se mais provável", acrescenta.

Em entrevista à BBC, a ex-secretária-geral adjunta da Otan Rose Gottemoeller não descarta a possibilidade de que a Rússia possa, de fato, utilizar armas nucleares: "Receio que, agora, eles possam atacar de maneira imprevisível. E de uma forma que poderia envolver até mesmo o uso de armas de destruição em massa", advertiu.

Richter, por outro lado, não vê a situação de maneira tão dramática e aponta para a doutrina nuclear russa, que prevê o uso efetivo de armas nucleares em apenas dois casos: "Primeiramente, se a própria Rússia for atacada por armas nucleares ou de destruição em massa. Em segundo lugar, se a existência e a sobrevivência do Estado russo estiverem em jogo". No entanto, caso áreas invadidas forem anexadas pela Rússia e posteriormente declaradas como parte do território russo, tais cenários previstos na doutrina não teriam força na legislação internacional, argumenta o especialista.

Rússia tem o maior arsenal nuclear do mundo

Com 6.375 ogivas, a Rússia tem o maior arsenal nuclear do mundo. Dos integrantes da Otan, os Estados Unidos têm o maior poderio, com cerca de 5.800 ogivas. Estima-se que a França possua 290, e o Reino Unido, por volta de 215. Os números exatos não estão disponíveis, já que os países mantêm diversas informações sobre seus programas nucleares sob sigilo.

Ainda que se fale sobre uma "proteção nuclear" dos EUA, um ataque nuclear contra a Europa não poderia ser evitado, militarmente falando. A proteção, neste caso, baseia-se mais na suposição de que um rival militar não se atreveria a atacar porque teria de contar com um contra-ataque.

Uma resposta militar para um suposto ataque russo poderia ser organizada e executada pelas potências nucleares da Otan: EUA, França e Reino Unido. Todas as três têm armas estratégicas que poderiam ser lançadas a partir de submarinos nucleares, por exemplo, o que permitiria um contra-ataque em qualquer cenário possível.

Quem decide sobre o uso de armas nucleares?

O primeiro a decidir e depois autorizar o uso de armas nucleares americanas estocadas na Alemanha, Itália, Bélgica e Holanda é o presidente dos Estados Unidos. Depois, o país onde os armamentos estão alocados precisa concordar com o lançamento a partir de seus próprios caças. Antes, porém, é provável que ocorram consultas com outros membros da Otan no Conselho do Atlântico Norte, o principal órgão de decisões políticas da organização.

Sobre o uso de armas nucleares da França, a decisão cabe exclusivamente ao presidente francês. No Reino Unido, quem decide é o primeiro-ministro.

Os três países, EUA, França e Reino Unido, compõem, portanto, três centros distintos de tomadas de decisões, o que pode ser considerado um elemento de dissuasão, a fim de dificultar aos adversários um cálculo preciso de como a Otan reagiria em caso de ataque.

A imagem mostra um caça Tornado da Força Aérea Alemã no solo, a partir da parte dianteira da aeronave. As janelas estão abertas, e dois pilotos acenam, com os braços erguidos.A imagem mostra um caça Tornado da Força Aérea Alemã no solo, a partir da parte dianteira da aeronave. As janelas estão abertas, e dois pilotos acenam, com os braços erguidos.

Caças Tornado seriam utilizados em caso de lançamento de armamento nuclear a partir da AlemanhaFoto: Rainer Jensen/dpa/picture-alliance

Como a Alemanha participa da dissuasão?

A Alemanha participa das ações de dissuasão nuclear na Europa com caças Tornado da Força Aérea alemã, estacionados na base de Büchel, no estado da Renânia-Palatinado, no sudoeste do país. Em uma situação de emergência, portanto, aeronaves com militares alemães voariam com armas nucleares americanas rumo ao alvo. Pelo menos uma vez por ano, pilotos da Bundeswehr fazem simulações para lançar bombas nucleares em objetos que imitam o alvo real.

Além da Alemanha, a Holanda, a Bélgica e a Itália também participam dos exercícios de dissuasão da Otan na Europa. Entre 100 e 150 bombas certificadas para essas aeronaves estão atualmente armazenadas no continente, segundo relatórios.

Intimidação russa não é recente

Desde a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, o presidente russo tem repetidamente feito ameaças quanto ao uso de armas nucleares. Provavelmente, isso envolveria a utilização das chamadas armas nucleares táticas, que têm um poder explosivo relativamente baixo. Elas poderiam ser usadas com um efeito bem baixo, de modo a provocar um ataque nuclear com cerca de um quinquagésimo do poder de destruição da bomba que devastou Hiroshima, no Japão.

Richter, no entanto, duvida que um ataque nuclear possa realmente acontecer: "Se a Rússia quebrar o tabu nuclear que existe desde 1945, o país também ficaria isolado e ostracizado em todo o mundo. Putin perderia todos os seus aliados, inclusive a China. Isso teria consequências incalculáveis para a sobrevivência política, econômica e social da Rússia."

O especialista em política de segurança considera, portanto, uma guerra nuclear entre Rússia e Otan bastante improvável: "A Rússia não poderia vencer, pois isso levaria a uma destruição mútua. Acredito que esse tanto de racionalidade ainda exista no Kremlin."

Talvez Putin também se lembre da declaração categórica proferida pelo presidente dos EUA, Joe Biden, há alguns dias. Em entrevista à rede CBS, Biden advertiu Putin veementemente contra o uso de armas nucleares ou químicas: "Não faça isso. Mudaria a face da guerra como nada mais o fez desde a Segunda Guerra Mundial."

Volker Witting | Andreas Noll para a Deutsche Welle Brasil. Publicado originalmente em 21.09.22

"Temos que deter Putin", diz militar brasileiro na Ucrânia

O tenente da reserva brasileiro Sandro Silva comanda um pelotão internacional que integra as forças ucranianas. Em entrevista à DW, ele explica as razões que o levaram a pegar em armas contra os russos.

Ele diz que a experiência de combate mais difícil que teve foi em Severodonetsk. Tem um amigo hospitalizado há meses em Kiev depois de ter sido ferido por morteiros, viu colegas caírem em confrontos, e mesmo assim Sandro Silva, de 37 anos, tem certeza de que está fazendo a coisa certa.

Atravessou o mundo, deixou a família e os amigos no Brasil e ingressou nas Forças Armadas ucranianas como comandante de um pelotão da legião estrangeira - integrado por dezenas de latino-americanos - que luta contra os russos em todo o front de batalha.

Tenente da reserva do Exército brasileiro, Silva pratica artes marciais mistas e é um aventureiro inveterado. "Eu viajei e trabalhei em diferentes países por 12 anos, e pude conhecer muitos ucranianos e russos. Também aprendi sobre política, história e o que leva um louco a fazer coisas que faz um líder como Vladimir Putin", diz o oficial, em entrevista à DW de algum lugar da Ucrânia que prefere não revelar, "por razões de segurança".

DW: Por que um brasileiro atravessa o mundo para lutar na Ucrânia?

Sandro Silva: Sou militar, sei o que aconteceu no passado com os nazistas e entendo o que o passado nos diz sobre o futuro. Eu simplesmente não posso ficar de braços cruzados sem fazer nada. Um dia, eu estava vendo o que estava acontecendo na Ucrânia e pensei: "Eu tenho capacidade, tenho o preparo militar, falo inglês, não estou de acordo com o que a Rússia está fazendo, pessoas com quem me importo muito vivem na Ucrânia", e ficaria com o coração partido por não ter feito nada.

Como foi o processo de recrutamento?

Os ucranianos buscam pessoas para funções específicas, e eu fui selecionado por um dos comandantes de pelotão do Departamento Principal de Inteligência (GUR, na sigla ucraniana). Para terminar de responder à outra pergunta, o que me levou a vir foi a sensação de fazer algo grande, para ajudar a Ucrânia a combater a agressão.O que sua família e seus amigos dizem?

O que sua família e seus amigos dizem?

Minha família me apoia, minha esposa me apoia, mas ao mesmo tempo ela constantemente me pede para eu voltar logo para casa. Os amigos também apoiam, mas não todos. Alguns não entendem a importância dessa luta ou entendem apenas uma pequena parte de tudo o que está acontecendo aqui.

A propaganda russa diz que os voluntários só vão à Ucrânia pelo dinheiro.

A propaganda russa é puro lixo. Sim, há um salário, mas o país está em guerra, e por lei você não pode tirar dinheiro da Ucrânia, não pode transferi-lo. Além disso, é pouco dinheiro, você usa para comprar alguma comida ou roupa, não é que você vem e se garante para o resto da vida. De fato, quando [o presidente Volodimir] Zelenski recrutou voluntários, não havia dinheiro, e chegaram 20 mil pessoas para ajudar. O dinheiro chegou depois, quando os soldados começaram a ser registrados no Exército e passaram a receber um salário. Mas ninguém vem, fica dois meses e volta milionário para casa.

O senhor sente que mudou desde que veio para a Ucrânia?

Muito. Há dias ou noites difíceis, nos movimentamos o tempo todo, não comemos nem dormimos bem, combatemos... Todos os aspectos da guerra fazem você apreciar melhor quão importante é a vida. Às vezes você fica com medo e quer ir para casa, mas pensa nas razões pelas quais está aqui e segue em frente. Isso muda as pessoas, muda a percepção sobre a vida, o amor, aqueles que você ama.

E como é a relação entre vocês no front de batalha?

Conheci muita gente na Ucrânia, tenho muito bons amigos e sei como eles são e não merecem que Putin faça toda essa porcaria. Esse cara está destruindo famílias, e se isso não te comove, você não é humano. A guerra muda você, eu não sou o mesmo e nunca mais serei o mesmo. Apesar disso, acho que tudo isso me fez uma pessoa melhor, vejo o mundo com outros olhos.

O senhor passou por momentos difíceis?

Perdi uma mulher e dois homens em combate, não é fácil contar para as famílias o que aconteceu, sabe? Dizer a eles que eles perderam um irmão, um filho... E, bem, aqui estão todas essas famílias que perderam tudo, suas casas, suas vidas. No final, tudo isso te deixa mais sensível. De vez em quando, eu paro e começo a chorar. Antes, muitas coisas não me comoviam, mas hoje vejo vídeos e eles me deixam mal. Espero que eu consiga lidar com tudo isso.

O que seus companheiros estrangeiros dizem para o senhor? Por que eles decidiram ir lutar na Ucrânia?

Creio que cada um tenha suas próprias razões, mas quando você pergunta para eles: "Amigo, o que você está fazendo aqui?", o que sai é quase sempre o mesmo. Eles falam do orgulho, da liberdade, de lutar contra a tirania e de fazer do mundo melhor.

Quão forte psicologicamente é preciso ser para se enfrentar a experiência da guerra?

Na verdade, você não sabe o quão forte você é mentalmente até estar aqui. Tem gente que vem, vê tudo explodindo e prefere ir embora. E não se trata de ser covarde. Você simplesmente não pode saber como é isso se você nunca viveu isso. Estive dentro de prédios que são constantemente bombardeados com fogo direto de tanques, onde tudo treme e te derruba no chão, onde o telhado literalmente cai em cima de você. Você não pode treinar para isso, mas depois de passar semanas sob fogo, literalmente caminhando sob um tanque disparando, você fica mais forte. Em Severodonetsk houve dias em que, enquanto comíamos, os morteiros explodiam a cem metros da nossa posição e, bem, você não pode parar de fazer as coisas porque há uma explosão. Você está lá, a artilharia está lá e atira

Tropas ucranianas. "Conheci muita gente na Ucrânia, tenho muito bons amigos", diz brasileiroFoto: Gleb Garanich/REUTERS

Como espera que essa guerra termine?

Putin acabou de anunciar que vai convocar parte de sua reserva, então… Olha, eu estive no sul, estive em todas as frentes, e quando você olha para trás e vê que no começo Putin disse que estava procurando desnazificar a Ucrânia… puro lixo. Depois, ele disse que o país tinha que ser desmilitarizado e atacou toda a Ucrânia, inclusive perto da fronteira com a Polônia. Depois, disse que queria proteger o povo de Donetsk e Lugansk e protegê-lo da Ucrânia nazista e blá, blá, blá. Puro lixo para justificar a invasão.

E o que o senhor acha de tudo isso?

Todos sabemos que Putin quer o sul, que a intenção é tirar da Ucrânia o que a Rússia não tem, o solo fértil para plantar coisas e depois vendê-las ao mundo. Em vez de fazer acordos diplomáticos, fazer tratados comerciais, os russos preferem bombardear, conquistar e invadir, como se fazia há centenas de anos.

Eles querem acesso ao mar, querem o sul, querem saquear a Ucrânia. É por isso que ele tomou a Crimeia em 2014, porque ele quer criar a URSS novamente.

Mas como o senhor acha que isso vai acabar?

Pode ser que a Otan acabe se envolvendo, a China diga "vamos apoiar a Rússia" e pronto, entraremos na Terceira Guerra Mundial, uma guerra nuclear que não queremos enfrentar, porque ela vai destruir o planeta inteiro. Esse cara não é o mesmo Putin de 15 anos atrás, que queria negociar, que deu a volta ao mundo apertando mãos. Ele está envelhecendo, já vimos isso em pessoas como Hitler, que querem mais poder. Isso começou em 2014, e agora ele quer tomar toda a Ucrânia, e sabemos que depois ele vai tomar Belarus. Se não quisermos ver isso, temos que deter Putin agora.

Publicado originalmente por Deutsche Welle Brasil, em 23.09.22

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

União Europeia anuncia novas "medidas restritivas adicionais contra a Rússia"

A União Europeia vai "continuar a aumentar as ajudas militares" à Ucrânia e está a estudar novas sanções contra a Rússia. O anúncio foi feito pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, depois de uma reunião extraordinária de ministros da UE em Nova Iorque.

Josep Borrell  

Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia:"Serão imediatamente avançadas medidas restritivas adicionais contra a Rússia, assim que for possível, em coordenação com os nossos parceiros. [...] E quero sublinhar, em particular, um elemento importante: de acordo com a carta das Nações Unidas e o direito internacional, a Ucrânia está a exercer o direito legítimo de se defender contra a agressão da Rússia, para recuperar o controlo total do seu território, e tem o direito de libertar territórios ocupados dentro das suas fronteiras reconhecidas internacionalmente. E, por isso, nós vamos continuar a apoiar os esforços da Ucrânia, providenciando equipamento militar, enquanto for necessário."

De acordo com Borrell, as novas sanções deverão afetar setores da economia russa, como o tecnológico, além de mais indivíduos e personalidades russas.

Bruxelas condena também o apoio do Kremlin aos referendos anunciados nas zonas ocupadas sobre uma união dos territórios com a Rússia.

Publicado originalmente por Euronews, em 22.09.22