sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Missão da ONU conclui que crimes de guerra foram cometidos na Ucrânia

As Nações Unidas revelam sinais de tortura, execuções sumárias e casos de violência sexual em pessoas entre quatro e 82 anos, em áreas ocupadas por tropas russas

Exumação de um corpo em uma cova encontrada em Izium, no nordeste da Ucrânia, nesta sexta-feira. (Sergey Bobok - AFP)

A missão de apuração da ONU na Ucrânia concluiu esta sexta-feira, depois de visitar aquele país em junho, que crimes de guerra foram cometidos em áreas ocupadas por tropas russas durante a invasão . Isso foi confirmado por Erik Mose, presidente do grupo, em seu comparecimento perante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em Genebra (Suíça). "Ficamos chocados com o grande número de execuções perpetradas nas áreas que visitamos", disse este especialista, que explicou que a missão está investigando esse tipo de assassinato em 16 cidades ucranianas nos primeiros meses da ofensiva russa, apesar de ter recebido relatórios de crimes desse tipo em muitos outros lugares do país invadidos.

Muitos dos executados eram pessoas detidas anteriormente cujos corpos foram encontrados com as mãos amarradas nas costas, ferimentos na cabeça e cortes no pescoço, segundo Mose. Tudo isso representa indícios de que foram execuções sumárias, acrescentou o especialista. Mose também denunciou a violência sexual e de gênero dos soldados de Vladimir Putin contra vítimas "entre as idades de quatro e 82 anos" e que, em alguns casos, os parentes das vítimas foram forçados a ver como foram maltratados ou torturados.

Esta missão da ONU, também composta pelo colombiano Pablo de Greiff e pela bósnia Jasminka Dzumhur, documentou casos em que crianças foram “estupradas, torturadas e detidas ilegalmente”. Há casos em que alguns deles acabaram sendo mortos pelos soldados russos. Várias testemunhas disseram à missão das Nações Unidas que foram espancadas, eletrocutadas e despidas à força durante as detenções ilegais em que foram transferidas da Ucrânia para o território russo.

Mose também destacou o uso repetido de artefatos explosivos em áreas civis, que afetaram escolas, residências, hospitais e outras infraestruturas. Esses ataques mataram cerca de 6.000 civis em sete meses de conflito, de acordo com o escritório de Direitos Humanos da ONU. "Uma parte dos ataques que investigamos foi lançada sem distinção entre civis e combatentes", disse Mose.

Estas conclusões são as primeiras a serem tornadas públicas desde a criação da missão em março passado. É responsável por investigar os atos perpetrados apenas nos primeiros dois meses da ofensiva russa nas áreas ao redor de Kiev, Chernihiv, Kharkov e Sumi. “ A recente descoberta de mais valas comuns ilustra a gravidade da situação”, alertou Mose, que esclareceu que a missão que preside também recolheu dois incidentes de maus tratos a soldados russos por parte das forças ucranianas, um tipo de crime no qual a ONU vai continuar a prestar atenção, ele assegurou.

Dois corpos de civis, um deles com as mãos amarradas nas costas, em uma rua de Bucha, uma cidade nos arredores de Kyiv, em abril. (Sergei Supinsky / AFP)

Agência EFE, de Genebra para o EL PAÍS, em 23.09.22 

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