segunda-feira, 7 de março de 2022

Kiev rejeita corredores humanitários

Moscou propõe cessar-fogo temporário nas cidades de Kiev, Kharkiv, Mariupol e Sumy para retirar moradores e levá-los à Rússia e Belarus. Ucrânia chama proposta de "imoral".

Negociações em Belarus terminam com pequeno avanço na questão dos corredores humanitários

UE prevê receber até 5 milhões de refugiados ucranianos

Moscou alerta contra entregas de armas do Ocidente para a Ucrânia

UE aceita iniciar processo de adesão de Ucrânia, Moldávia e Geórgia

ONU contabiliza 1,7 milhão de refugiados da Ucrânia

Brasil fora da lista da Rússia de países considerados "hostis"

Pelo menos 406 civis mortos na guerra na Ucrânia, afirma ONU

Macron critica "hipocrisia" da Rússia sobre corredores humanitários

Ucrânia rejeita proposta de corredores humanitários em direção à Rússia

China pede negociações, mas exalta parceria com a Rússia

Reino Unido considera liberar entrada de refugiados da Ucrânia

Representantes da Ucrânia e da Rússia devem se encontrar para negociações

Rússia anuncia cessar-fogo temporário para corredores humanitário

Militares russos estão perto de invadir Kiev, diz Ucrânia

Zelenski: sanções são insuficientes


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16:40 – Alemanha, EUA, França e Reino Unido concordam em elevar ajuda à Ucrânia

Os líderes de Alemanha, Estados Unidos, França e Reino Unido concordaram nesta segunda-feira, em uma chamada por vídeo, em manter a pressão contra a Rússia por sua "invasão não provocada e injustificada da Ucrânia", disse a Casa Branca.

Segundo comunicado, o americano Joe Biden, o francês Emmanuel Macron, o alemão Olaf Scholz e o britânico Boris Johnson "ressaltaram seu compromisso de continuar a fornecer assistência de segurança, econômica e humanitária à Ucrânia".

Os países da Otan elevaram sua presença nos países bálticos desde que a Rússia invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro, e mais tropas e equipamentos estão a caminho, afirmaram fontes ouvidas por agências de notícias.

15:26 – Negociações em Belarus terminam com pequeno avanço na questão dos corredores humanitários

A terceira rodada de negociações entre russos e ucranianos terminou nesta segunda-feira com "alguns resultados positivos" na questão dos corredores humanitários, anunciou Mykhailo Podoliak, membro da delegação ucraniana.

"Alcançamos alguns resultados positivos no que diz respeito à logística dos corredores humanitários", disse Podoliak, assessor da presidência ucraniana, no Twitter.

Antes do início do encontro, que mais uma vez ocorreu em Belarus, perto da fronteira com a Polônia, o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, disse que os negociadores discutiriam três blocos de questões: resolução da política interna, aspectos humanitários internacionais e resolução de questões militares. (Lusa)

15:07 – UE prevê receber até 5 milhões de refugiados ucranianos

Se a guerra na Ucrânia continuar, até 5 milhões de refugiados poderão fugir para a União Europeia, disse o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, nesta segunda-feira.

"Essa é uma estimativa razoável", afirmou Borrell. "Não vimos um movimento tão grande de refugiados desde o final da Segunda Guerra Mundial", completou.

A UE disponibilizará cerca de 100 milhões de euros em sua primeira resposta de emergência para ajudar os refugiados, informou Borrell.

A Ucrânia tem uma população de cerca de 41,5 milhões de pessoas. A ONU estima que mais de 1,7 milhão de pessoas já deixaram o país, a maioria seguindo para a Polônia. (DW)

14:35 – Levi's interrompe negócios na Rússia

A fabricante de jeans Levi's está encerrando temporariamente seus negócios na Rússia. O grupo de moda americano anunciou que as operações normais não seriam sustentáveis ​​dada a situação na região. 

Novos investimentos na Rússia também estão fora de questão por enquanto. Segundo a empresa, cerca de 4% das receitas da Levi's vieram da Europa Oriental em 2021, metade delas da Rússia.

14:30 – Mais de 900 localidades na Ucrânia estão sem luz, eletricidade e água

As forças russas já destruíram ou danificaram mais de 1.500 edifícios residenciais, mais de 200 escolas e 30 hospitais desde o começo da guerra na Ucrânia, informou a presidência ucraniana. Mais de 900 localidades no país ficaram sem água, eletricidade e aquecimento, de acordo com as autoridades ucranianas. (EFE)

14:23 – Homem é detido após chocar caminhão contra embaixada da Rússia em Dublin

A polícia irlandesa informou nesta segunda-feira que prendeu um homem que chocou um caminhão contra o portão de entrada da embaixada da Rússia em Dublin, local que se tornou foco de protestos contra a invasão na Ucrânia nos últimos dias.

Em comunicado, a polícia afirma que está investigando "um incidente" envolvendo um "delito contra a propriedade" que ocorreu por volta das 10h30 (horário de Brasília), no qual não foram relatados feridos.

Os oficiais prenderam um homem e "as investigações estão em andamento", diz a declaração.

Um vídeo divulgado pela emissora pública irlandesa RTE mostra um caminhão pertencente à empresa Desmond Wilsey, de abastecimento eclesiástico, se chocando contra o portão da missão diplomática russa, onde um pequeno grupo de manifestantes estava reunido.

O embaixador russo na Irlanda, Yury Filatov, já havia denunciado a natureza "muito agressiva" dos protestos no exterior da sua residência na capital.

"Neste momento, estamos lidando com uma situação extremamente tensa na embaixada. Os nossos funcionários recebem constantemente ameaças de morte nas suas casas privadas", lamentou o diplomata à imprensa. (EFE)

14:07 – Autoridades ucranianas dizem que pelo menos 13 civis morreram em ataque a padaria industrial

Os serviços de emergência da Ucrânia disseram ter resgatado os corpos de 13 civis após um ataque aéreo a uma padaria industrial na cidade ucraniana de Makariv, perto de Kiev. Cinco pessoas foram salvas.

Acredita-se que um total de 30 pessoas estivessem na fábrica no momento do ataque, indicando que mais pessoas podem estar presas sob os escombros. (DW)

13:40 – Alemanha diz que não vai sancionar importações de energia da Rússia

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, disse nesta segunda-feira que Berlim apoia medidas duras contra a Rússia, mas que manterá as entregas de energia isentas. O líder alemão disse que a energia russa é essencial para a vida cotidiana.

"O abastecimento da Europa com energia para aquecimento, mobilidade e para a indústria não pode, no momento, ser garantido de outra forma", disse Scholz em comunicado. O chanceler também afirmou que a Alemanha e a União Europeia estão buscando alternativas, mas o trabalho não pode ser feito da noite para o dia.

"Foi, portanto, uma decisão deliberada permitir a continuidade das atividades de negócios alemães com a Rússia relacionadas ao fornecimento de energia", disse ele.

A Rússia está enfrentando uma série de medidas punitivas por sua invasão à Ucrânia. No entanto, a ameaça de uma proibição de importação de petróleo e gás russo elevou os preços, com o petróleo Brent sendo negociado a 139 dólares, valor mais alto desde julho de 2008. Os preços do gás na Europa também atingiram 381 dólares por metro cúbico nesta segunda-feira. Antes da invasão, o preço estava abaixo de 80 dólares, 12 dias atrás.

12:00 – Moscou alerta contra entregas de armas do Ocidente para a Ucrânia

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia alertou novamente contra as entregas de armas do Ocidente à Ucrânia e as consequências disso para a Otan. 

A entrega de armas ou aviões e o envio de mercenários não melhoraria a situação humanitária na Ucrânia, disse a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, segundo a agência estatal TASS. Pelo contrário, provocaria um "desenvolvimento catastrófico da situação não só na Ucrânia, mas também nos países da Otan", sublinhou. Zakharova alertou para um "colapso global" se armas ocidentais caíssem nas mãos de combatentes. (ots)

11:53 – UE aceita iniciar processo de possível adesão de Ucrânia, Moldávia e Geórgia ao bloco

Os países da União Europeia (UE) concordaram nesta segunda-feira em iniciar o processo para que Ucrânia, Moldávia e Geórgia possam se tornar membros do bloco no futuro. Os três países solicitaram adesão à UE na semana passada.

De acordo com a presidência rotativa do bloco, exercida pela França, os 27 estados-membros pediram à Comissão Europeia que dê o primeiro passo neste caminho, preparando o relatório necessário para que decidam se Ucrânia, Moldávia e Geórgia receberão o status de candidatos.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, assinou o pedido de adesão à UE na semana passada como parte da resposta à invasão que a Rússia lançou em 24 de fevereiro. Moldávia e Geórgia fizeram o mesmo em seguida.

O órgão executivo da UE vai preparar um relatório para avaliar se os três países atendem os critérios de adesão, incluindo o respeito aos valores fundamentais do bloco, se possuem instituições estáveis que garantam a democracia e uma economia de mercado.

Quando a Comissão concluir a avaliação - que é o primeiro passo em um processo que normalmente leva anos -, os países da UE terão que aprová-la por unanimidade, e só então poderão ser abertas as negociações de adesão.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse na semana passada que "ainda há um longo caminho a percorrer" para concluir com sucesso o processo de ampliação do bloco.

Atualmente, Turquia, Sérvia e Montenegro estão em negociações para aderir à UE, e Albânia e Macedônia do Norte obtiveram o status de país candidato. (EFE)

11:20 – Retomadas negociações entre Rússia e Ucrânia

De acordo com a agência de notícias Reuters, as delegações da Rússia e da Ucrânia retomaram nesta tarde as negociações em Belarus. 

É a terceira rodada de negociações desde a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro. Até agora, elas não foram bem sucedidas. (Reuters)

11:12 – ONU contabiliza 1,7 milhão de refugiados da Ucrânia

O número de refugiados da Ucrânia continua aumentando significativamente. De acordo com os números mais recentes divulgados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), 1,7 milhão de pessoas já deixaram o país desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro. Isso significa 200.000 pessoas a mais do que em relação ao domingo. (ots)

10:55 – Brasil fora da lista da Rússia de países considerados "hostis"

Todos os países da União Europeia, além de Estados Unidos, Japão e Canadá, entre outros, estão em uma lista de nações hostis elaborada pelo governo da Rússia, informou nesta segunda-feira a agência de notícias russa Interfax. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o Brasil não está na lista. O governo brasileiro vem pregando uma posição de neutralidade em relação ao conflito e, até agora, não emitiu nenhuma sanção contra Moscou. 

Segundo a Interfax, a lista recebeu aval do primeiro-ministro, Mikhail Mishustin, e faz parte do decreto do presidente Vladimir Putin emitido no último dia 5 e intitulado "Sobre o procedimento temporário para o cumprimento das obrigações para com certos credores estrangeiros".

De acordo com este documento, a lista inclui os 27 estados-membros da União Europeia, que adotaram fortes sanções contra a Rússia após o início da ofensiva militar na Ucrânia.

Além disso, Austrália, Albânia, Andorra, Reino Unido (incluindo a ilha de Jersey e outros territórios ultramarinos, como a ilha de Anguilla, as Ilhas Virgens Britânicas e Gibraltar), Islândia e Liechtenstein foram definidos como países hostis.

Também estão na lista Micronésia, Mônaco, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, San Marino, Macedônia do Norte, Singapura, Taiwan, Montenegro, Suíça, Japão e a própria Ucrânia.

Entre outras medidas, as empresas russas poderão pagar dívidas em rublos aos países da lista. A moeda russa já desvalorizou 45% desde janeiro. (EFE, Lusa, ots)

10:35 – Pelo menos 406 civis mortos na guerra na Ucrânia, afirma ONU

Pelo menos 1.207 civis foram feridos ou mortos desde o início da invasão russa na Ucrânia, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. 

De acordo com os dados da ONU, 406 pessoas foram mortas, entre elas 27 crianças, e 801 ficaram feridas como resultado da violência, das quais 42 eram crianças.

Os dados referem-se ao período que vai do início da invasão russa, em 24 de fevereiro, até a meia-noite de 6 de março. A organização alerta, contudo, que o número real de civis mortos e feridos provavelmente é muito maior.

10:11 – Cidade perto de Kiev relata morte de prefeito por fogo russo

As autoridades da cidade de Hostomel, a cerca de 30 quilômetros de Kiev, disseram que forças russas mataram o prefeito, Yuri Illich Prylypko, enquanto distribuia comida aos necessitados. A infomação foi divulgada na página da prefeitura no Facebook. 

"Ninguém o obrigou a ficar sob as balas dos ocupantes", diz a postagem. "Ele morreu por seu povo, por Hostomel. Ele morreu herói". 

As autoridades locais disseram que, além de Prylypko, outras duas pessoas foram mortas a tiros. Não ficou claro quando o prefeito foi baleado.

Hostomel abriga o estratégico aeroporto militar Antonov, local de batalhas violentas entre as forças ucranianas e russas nos primeiros dias da guerra. Lá, estava o Antonov-225 Mriya, maior avião de carga do mundo, de fabricação ucraniana, que foi queimado e completamente destruído em um ataque russo. (DW)

10:02 – Macron critica "hipocrisia" da Rússia sobre corredores humanitários

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que a proposta de Moscou de evacuar os ucranianos para cidades russas era "hipócrita".

"Tudo isso não é sério, é cinismo moral e político, que considero intolerável", disse Macron à rede de televisão LCI.

Moscou alegou que a proposta seguiu um "pedido pessoal" de Macron, o que o presidente francês nega. (DW)

09:36 – Cruz Vermelha teme onda de covid com a guerra

Um porta-voz da Cruz Vermelha afirmou nesta segunda-feira que especialistas temem que a guerra leve a um aumento nos casos de covid-19 na Ucrânia e em países vizinhos. No início da invasão, a Ucrânia se encontrava no meio de uma onda de infecções causada pela variante Omicron. Em fevereiro, 900 mil casos da doença foram registrados no país.

Países vizinhos da Ucrânia, como a Moldávia e Romênia, que são destinos de muitos refugiados, possuem baixas taxas de vacinação. (dpa)

09:18 – Encontro entre ministros do Exterior da Ucrânia e Rússia previsto para sexta-feira

A Turquia anunciou que intermediará na próxima sexta-feira um encontro entre os ministros do Exterior da Ucrânia, Dmitro Kuleba, e da Rússia, Sergei Lavrov. A reunião ocorrerá em Ancara e será a primeira negociação envolvendo o alto escalão de ambos os países desde o início da guerra.

Ancara mantém laços estreitos com Kiev e Moscou e vem tentando desempenhar um papel mais neutro no conflito, afastando-se de seus parceiros da Otan. (dw)

08:09 – Moradores de Irpin em fuga

Moradores de Irpin, nos arredores de Kiev, tiveram que fugir de suas casas em meio a um bombardeio russo neste domingo (06/03) apenas com a roupa do corpo e alguns itens que conseguiram carregar. Três civis teriam sido mortos nos ataques.

07:50 – Rússia estaria recrutando combatentes sírios para lutar na Ucrânia

A Rússia estaria recrutando sírios com experiência em combates urbanos para lutar na Ucrânia, segundo uma reportagem do jornal The Wall Street Journal.  Relatórios do governo americano indicam que Moscou, que opera dentro da Síria desde 2015, espera que os sírios possam ajudar a tomar Kiev.

"O número de combatentes recrutados é desconhecido, mas alguns deles já estão na Rússia e se preparam para entrar no conflito", segundo o jornal. Especialistas consultados pelo jornal, porém, não deram detalhes sobre o deslocamento dos combatentes sírios na Ucrânia.

A Rússia teria oferecido a voluntários sírios entre 200 a 300 dólares "para ir para a Ucrânia operar como guardas armados" durante seis meses. Além dos sírios, combatentes chechenos também foram convocados. (Lusa, ots)

07:00 – Zelenski defende boicote a petróleo russo

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pediu à comunidade internacional que boicote o petróleo russo e outros produtos de exportação da Rússia. Ele solicitou ainda aviões militares para a Ucrânia.

"Se a invasão continuar e a Rússia não desistir de seus planos contra a Ucrânia, então, um novo pacote de sanções é necessário por causa da paz", disse Zelenski em vídeo. (Reuters)

06:30 – Ucrânia rejeita proposta de corredores humanitários em direção à Rússia

O governo da Ucrânia rejeitou a proposta russa para a abertura de corredores humanitários em direção à Rússia ou Belarus. No início desta segunda-feira, Moscou anunciou um cessar-fogo temporário para permitir a evacuação de civis nas cidades de Kiev, Kharkiv, Mariupol e Sumy.

Moscou, porém, estabeleceu que as rotas de evacuação seriam apenas em direção à Rússia e Belarus. Kiev chamou a proposta de "imoral".

Um porta-voz do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que a proposta russa é "completamente imoral" e acusou Moscou de tentar "usar o sofrimento de civis" para criar imagens de televisão. "Eles são cidadãos ucranianos, têm o direito de ir para outras regiões na Ucrânia", acrescentou. O porta-voz afirmou ainda que a Rússia dificultou deliberadamente tentativas anteriores de evacuar cidades.

A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, chamou a proposta de Moscou para evacuar ucranianos de "ridícula" e "cínica".

Um porta-voz do Ministério da Defesa russo disse que seis corredores humanitários foram abertos: de Kiev para Gomel, no sudeste de Belarus; de Mariupol para Zaporíjia, no sudeste da Ucrânia; de Mariupol pra Rostob-on-Don, sul da Rússia; de Kharkiv para Belgorod, no sul da Rússia; de Sumy para Belgorod; e de Sumy para Poltava, no centro da Ucrânia. (Reuters)

05:40 – Polônia já recebeu mais de 1 milhão de refugiados

Autoridades polonesas afirmaram que mais de 1 milhão de refugiados ucranianos chegaram no país desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro. De acordo com a Polônia, houve um aumento no fluxo de migrantes na fronteira entre os dois países nos últimos dias. Somente na manhã desta segunda-feira, 42 mil ucranianos entraram na Polônia. (dw)

04:52 – China pede negociações, mas exalta parceria com a Rússia

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, pediu moderação e consequentes negociações em relação à guerra na Ucrânia.

"Questões complexas devem ser resolvidas com cabeça fria e de maneira racional", disse Wang Yi, durante entrevista coletiva de imprensa, em meio à reunião anual do Partido Comunista chinês, em Pequim.

Wang também defendeu ajuda humanitária aos civis. Ao mesmo tempo, destacou a "parceria estratégica" entre China e Rússia, criticou duramente os EUA, a expansão da Otan para o leste e enfatizou os interesses de segurança russos.

Até o momento, a China não condenou a invasão russa na Ucrânia. (dpa)

O ministro do Interior do Reino Unido, Priti Patel, afirmou que pretende criar um novo mecanismo para permitir a entrada de mais refugiados da guerra da Ucrânia, informou o jornal The Sun.

Mais de 1,5 milhões de pessoas já fugiram da guerra, na maior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

O Reino Unido já havia anunciado a concessão de vistos para quem tem familiares ou um responsável no país, mas o governo tem sido criticado pela oposição por não ser tão ativo na questão se comparado aos países da União Europeia.

"Estou elevando com urgência nossa resposta para a crescente crise humanitária", disse Patel ao The Sun, mencionando sua visita à fronteira polonesa na semana passada. "Estou pesquisando neste momento as opções legais para criar uma rota humanitária. Isso significa que qualquer pessoa sem vínculos com o Reino Unido que está fugindo do conflito na Ucrânia terá o direito de vir para esta nação."

A União Europeia já anunciou que concederá residência temporária aos refugiados da guerra da Ucrânia, que dará direito a trabalhar, receber benefícios sociais e moradia por até três anos. (Reuters)

03:15 – Representantes da Ucrânia e da Rússia devem se encontrar para negociações

Enviados dos governos da Ucrânia e da Rússia devem se encontrar nesta segunda-feira para uma terceira rodada de conversas desde o início da guerra. 

O local e o horário exato do encontro ainda não foram divulgados. As duas delegações já se reuniram duas vezes em Belarus, mas houve poucos avanços. 

Um dos acordos, de criar corredores humanitários para evacuar pessoas de cidades cercadas, fracassou em duas tentativas no final de semana. A Rússia disse que fará um cessar-fogo nesta segunda-feira para permitir a evacuação de civis de quatro cidades ucranianas.

03:00 – Rússia anuncia cessar-fogo temporário para corredores humanitários

O Ministério da Defesa da Rússia disse que suas forças irão iniciar um cessar-fogo temporário às 10h de Moscou (4h de Brasília) para permitir a evacuação de civis.

Moscou disse que abrirá corredores humanitários nas cidades de Kiev, Kharkiv, Mariupol e Sumy. A iniciativa atende a um pedido do presidente francês, Emmanuel Macron, que conversou por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, no domingo, segundo o ministério.

Rotas de evacuação publicadas pela agência de notícias russa RIA Novosti, citando o Ministério da Defesa, indicavam que os civis poderiam deixar a Ucrânia em direção à Rússia ou para Belarus. Aqueles que quiserem sair de Kiev também poderiam ser transportados por avião até a Rússia, segundo o ministério.

Militar ucraniano protege entrada de Kiev a leste da capitalMilitar ucraniano protege entrada de Kiev a leste da capital

Militar ucraniano protege entrada de Kiev a leste da capitalFoto: Chris McGrath/Getty Images

A criação dos corredores humanitários para retirar moradores e permitir a entrada de medicamentos e comida em cidades cercadas havia sido combinada em uma reunião entre representantes ucranianos e russos na quinta-feira, em Belarus. O plano, porém, não funcionou no sábado e no domingo. Autoridades ucranianos afirmaram que os russos desrespeitaram o cessar-fogo temporário, enquanto o Kremlin culpou Kiev pelo fracasso da operação. (AP)

01:30 – Militares russos estão perto de tentar invadir Kiev, diz Ucrânia

As forças armadas da Ucrânia afirmaram em um comunicado nesta segunda-feira que os militares russos estavam se preparando para invadir Kiev.

Segundo o comunicado, os militares russos primeiro tentariam assumir total controle das cidades Irpin e Bucha, que ficam próximas de Kiev.

As forças do Kremlin estavam "tentando obter uma vantagem tática alcançando a periferia leste de Kiev, por meio dos distritos Brovarsky e Boryspil", segundo o o boletim ucraniano.

Vadym Denysenko, assessor do Ministério do Interior da Ucrânia, afirmou que "uma grande quantidade de equipamentos militares e soldados russos estão concentrados na proximidade de Kiev", citado pelo jornal Ukrayinska Pravda.

"Avaliamos que a batalha por Kiev será uma batalha-chave que será lutada nos próximos dias", disse. (dpa)

22:30 – Zelenski: sanções são insuficientes

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou no domingo, em um discurso em vídeo, que as sanções atualmente impostas por diversos países à Rússia não são suficientes.

"A audácia do agressor é um claro sinal para o Ocidente que as sanções impostas contra a Rússia não são suficientes", afirmou.

A declaração foi feita depois de a Rússia ter anunciado que iria atacar um complexo militar e industrial da Ucrânia e pedir aos funcionários de indústrias militares que abandonassem seus postos de trabalho.

"Não ouço um único líder mundial reagir a isso", afirmou Zelenski. Ele também pediu que seja organizado um "tribunal" para julgar a Rússia pela suas ações.

Detsche Welle Brasil, em 07.03.22

Ocidente impotente perante campanha assassina de Putin

Deve-se agir com ainda mais cautela com Putin, por temores nucleares, ou detê-lo o quanto antes? Amargo é assistir de braços cruzados à morte da Ucrânia. Ou, pior ainda, cofinanciá-la, opina Barbara Wesel.

Apesar de toda a solidariedade oferecida pela Europa, ucranianos estão tendo que lutar sozinhos (Foto: John Thys/AFP/Getty Images)

Se fosse possível transformar manifestações de solidariedade em tanques blindados, lança-mísseis ou aviões de combate, talvez a situação da Ucrânia fosse menos desesperadora. Como está, vemos um excesso de grandes palavras e uma carência de ajuda militar efetiva. E nossos políticos nos preparam para aceitar que as atuais imagens de horror do país invadido são apenas o começo.

Após seu telefonema mais recente com Vladimir Putin, a formulação do presidente francês, Emnanuel Macron, foi quase literalmente a mesma que a do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, na sexta-feira (04/03): "Vai ficar ainda pior."

Os militares partem do princípio que em breve o exército russo intensificará os bombardeios e os disparos contra a população civil. Pessimistas temem que Putin vá reduzir Kiev a destroços e cinzas, seguindo o modelo da destruição total de Grozny, em 1999, quando, sob comando do senhor de guerra, as forças armadas russas transformaram da capital tchetchena num deserto de ruínas.

Otan não pode atacar

Com esse pesadelo perante os olhos, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, tem apelado repetidamente por uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia. E a Otan repetidamente tem que responder: "Não podemos!" Isso significaria a confrontação militar direta com a Rússia, e eclodiria a Terceira Guerra Mundial.

Putin já nos lembrou de suas armas nucleares e insinuou que talvez chegue às últimas consequências para tornar realidade seu desvario de um reino pan-russo, com a anexação da Ucrânia. No entanto, a aparente irracionalidade do chefe do Kremlin, sua loucura real ou fingida, não passa de mais um recurso para nos deixar inseguros.

Alguns observadores acham até que a aliança ocidental deveria se comportar com cautela ainda maior, a fim de evitar o apocalipse nuclear. Putin poderia interpretar até mesmo o fornecimento de armas como uma ultrapassagem da "linha vermelha", dizem.

Em contrapartida, os Estados Unidos creem ser preciso deter o lider russo agora, para que ele não abra a "caixa de Pandora", com ainda mais guerra e instabilidade, como disse o secretário de Estado Antony Blinken. Do mesmo modo que muitos europeus, ele parte do princípio que Putin atacará ainda outros países europeus: Geórgia, Modávia e os Estados bálticos.

As nações ocidentais reagiram com as sanções econômicas mais duras e mais imediatas de sua história. Mas se quisermos deter a campanha de destruição de Putin, vai ser preciso apertar mais ainda os parafusos. Para o início da segunda semana de fevereiro, a União Europeia anunciou a suspensão de ainda mais bancos, do tráfego marítimo e de diversas importações.

Ocidente financia a guerra de Putin

Depois disso, como último recurso, só restará sustar as importações de petróleo, gás e carvão mineral russos, No entanto, a medida abalará tanto as economias nacionais quanto a paz social de nossos países. Mas em caso de dúvida, teremos que encarar isso, já que todas as outras opções são piores.

Pois, continuando a comprar petróleo e gás russos, estamos financiando a guerra de Putin. Mesmo que a primeira rodada de sanções já tenha paralisado o Banco Central da Rússia, Moscou embolsa centenas de milhões de dólares por dia em seus negócios conosco.

Só se fecharmos essa torneira, deixando Putin sem nenhuma fonte de divisas e sem acesso a suas reservas, talvez ele se sente à mesa de negociações. Entretanto nem mesmo tais sanções extremas servirão à Ucrânia no curto prazo.

Assistindo à morte da Ucrânia

Em todos os outros aspectos, a UE, com frequência tão conflituosa, supera todas as expectativas: sem burocracia, ela oferece proteção a todos os refugiados, e a gigantesca solidariedade humana é emocionante e afetuosa. Os europeus fornecem dinheiro, armas e prestam ajuda humanitária ao povo do país vizinho sob ataque.

Nos limites do possível, as cidadãs e cidadãos da Europa fazem tudo, também por perceber que essa guerra é um ataque contra todos nós, nossa forma de vida liberal, democrática. E porque a inimaginável valentia dos ucranianos sacode quem acredita que a partir do sofá da sala possa dar a sua contribuição pela segurança do nosso futuro.

Contudo, se a intenção de Putin for, de fato, arrasar à base de bombas a capital ucraniana, com suas cúpulas douradas, seu palácio do governo, o heroico presidente Volodimir Zelenski e seus mais de 3 milhões de cidadãos, no fim de contas só vamos mesmo poder assistir.

E essa sensação de nossa impotência, de sermos observadores de mãos atadas da campanha assassina de Putin... vai ser terrivelmente amargo.

Barbara Wesel é jornalista da Deutsche Welle. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW. Publicado originalmente em 05.03.22.

sábado, 5 de março de 2022

Como guerra de Putin revela a ignorância no discurso público

Bolsonaro e alguns esquerdistas se encontram em sua opinião sobre a invasão da Ucrânia por Putin. Nesse assunto, o que os une é a ignorância e a prepotência, escreve Philipp Lichterbeck.

Destruição na cidade de Zhytomyr: para brasileiros, Ucrânia está longe demais (Foto: State Emergency Service/AA/picture alliance)

Quando um desses youtubers brasileiros neo-direitistas – o nome dele é Monark – afirmou, simplesmente porque lhe deu na telha, que se devia fundar um partido nazista no Brasil – ou seja, um partido visando o assassinato de adversários políticos, minorias étnicas e deficientes, além de legitimar campos de concentração e guerras ofensivas –, eu considerei tratar-se de mais um sintoma de uma dinâmica que já venho observando há bastante tempo. Sobretudo na internet, mas também nas mídias tradicionais e na política brasileira, estamos sendo confrontados com uma nova geração de ignorantes, prepotentes e burros.

Costumam ser pessoas que, em razão de uma projeção alcançada por caminhos duvidosos, se sentem com autoridade para dizer as maiores imbecilidades, sem pudor nem moderação. Eles se consideram corajosos por dizer coisas supostamente provocadoras ou tabus, ou que simplesmente soam bem aos seus ouvidos.

Na realidade, eles só têm uma boca deste tamanho, mas nenhuma informação. Fazem barulho, mas nunca leram um livro. Consideram-se espertos, mas seus raciocínios são de uma simploriedade arrepiante. Sabem o preço de tudo mas o valor de nada. São pessoas que nada qualifica a manifestar suas ideias ao grande público. Fazem muita confusão, mas por trás não há nada além de ar quente. São aqueles concidadãos sobre quem o filósofo britânico Bertrand Russel certa vez advertiu: "O problema com o mundo é que os estúpidos são excessivamente confiantes, e os inteligentes são cheios de dúvidas."

Pode-se observar esse fenômeno por toda parte, seja no YouTube, no rádio ou na televisão. Mas é também na política onde alardeiam suas opiniões, baseadas menos em saber do que, acima de tudo, numa crença prepotente nas próprias convicções.

Infelizmente há exemplos disso aos montes. Seja o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, afirmando que a escravidão foi "benéfica" para os escravos; ou Mário Frias, o secretário especial da Cultura, qualificado pelo próprio primo, o historiador Raul Milliet, como "inculto", "folgado" e "bajulador" – um julgamento que Frias faz todo possível para confirmar. 

Ou o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, segundo quem Jair Bolsonaro evitou a Terceira Guerra Mundial e merecia o Nobel da Paz porque a visita do mandatário brasileiro ao ditador russo o fez "recuar" da invasão na Ucrânia. Pouco depois, Putin marchava sobre o país vizinho. 

O fascínio de exibir a própria ignorância

E assim chegamos ao tema: a ofensiva russa contra a Ucrânia, sobre a qual circulam no Brasil as mais diversas opiniões e teorias. O que mais me apavora é quanta ressonância a propaganda russa na internet encontra justamente entre certos esquerdistas brasileiros.

Movidos por um reflexo anti-imperialista, eles acreditam e partilham toda opinião em que os Estados Unidos, a Otan e a União Europeia sejam declarados verdadeiros culpados por todo o mal do mundo. Eles justificam o assalto de Putin repetindo o argumento do ditador de que haveria na Ucrânia neonazistas que até mesmo definem a política do país (embora o próprio presidente ucraniano seja judeu). Com o argumento da existência de neonazistas, se poderia invadir e bombardear quase todo país do mundo, inclusive a Alemanha e o Brasil.

Especialmente peculiar é também a admiração do anticomunista ferrenho Jair Bolsonaro pelo ex-agente da KGB Vladimir Putin. Ao declarar a neutralidade do Brasil na guerra na Ucrânia, Bolsonaro alinha o país com as ditaduras socialistas da Venezuela, Cuba, Nicarágua, Belarus, China e Coreia do Norte. E assim, por uma vez na vida, o presidente e uma parte da esquerda brasileira estão de acordo.

Uma prova dos distúrbios intelectuais e hormonais que a guerra na Ucrânia desencadeia no Brasil é a reação do deputado estadual e pré-candidato ao governo de São Paulo, Arthur do Val (Podemos-SP), que está a caminho da fronteira da Ucrânia com a Eslováquia, junto com o coordenador nacional do MBL, Renan Santos. Segundo este, a dupla viajou para relatar o que está ocorrendo na região.

Fico muito curioso sobre o que os dois vão relatar. Pergunto-me se algum deles fala ucraniano ou russo, eslovaco ou polonês? Qual é seu conhecimento prévio sobre a região, com que especialistas falaram, que livros leram? Parece-me uma empreitada cuja meta não é realmente descobrir e relatar algo sobre a guerra, mas sim se colocar em cena, se aproveitar da guerra como palco.

Assim como Monark, para se fazer de importante, usou um acontecimento pavoroso da Europa, do qual não entendia nada e com que não tinha qualquer relação, os dois jovens políticos pretendem transformar o assalto militar da Rússia à Ucrânia num trampolim para suas próprias carreiras.

Guerras, genocídio, crimes na Europa parecem exercer sobre alguns brasileiros um fascínio especial, o qual os inspira menos à reflexão do que a exibir, com bastante alarde, a própria ignorância.

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Philipp Lichterbeck, o autor deste artigo, queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para jornais da Alemanha,Suíça e Áustria. Ele viaja frequentemente entre Alemanha, Brasil e outros países do continente americano. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio. Publicado originalmente na Deutsche Welle Brasil, em 05.03.22.

sexta-feira, 4 de março de 2022

Após vazamento de áudio sexista de Arthur “mamãe Falei”, Moro rompe com candidato do MBL: 'jamais dividirei meu palanque'

"Gravíssimas e inaceitáveis são as declarações do deputado estadual Arthur do Val, que foram divulgadas na imprensa. Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra", diz o texto.

Pré-candidato à Presidência, Moro publicou foto de encontro com o deputado estadual Arthur do Val (PATRIOTA-SP), que deve concorrer ao governo local | Reproduçã

Pré-candidato à Presidência, Moro publicou foto de encontro com o deputado estadual Arthur do Val (PATRIOTA-SP), que deve concorrer ao governo localPré-candidato à Presidência, Moro publicou foto de encontro com o deputado estadual Arthur do Val (PATRIOTA-SP), que deve concorrer ao governo local | Reprodução

Sergio Moro decidiu retirar o apoio à candidatura de deputado estadual Arthur do Val, conhecido como “Mamãe Falei” ao governo de São Paulo. A decisão veio depois que um áudio do parlamentar do Movimento Brasil Livre (MBL) foi vazado na imprensa. Em nota, o pré-candidato à presidência da República afirmou que jamais dividirá seu palanque e apoiará “pessoas quem têm  esse tipo de opinião e comportamento”.

Na gravação, do Val faz uma série de afirmações sexistas sobre mulheres do Leste Europeu e diz que as ucranianas “são fáceis, porque são pobres”. Ele diz ainda que a fila de refugiadas da guerra têm mais mulheres bonitas do que a "melhor balada do Brasil". Os áudios foram divulgados pelo site “Metrópoles” e pela coluna de Lauro Jardim, no GLOBO. 

Na nota, Moro diz: “Lamento profundamente e repudio veementemente as graves declarações do deputado Arthur do Val divulgadas pela imprensa. O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto. As declarações são incompatíveis com qualquer homem público Tenho uma vida pautada pela correção e pelo respeito a todos --tanto no campo público quanto na vida privada. Portanto, jamais comungarei com visões preconceituosas, que podem inclusive ser configuradas como crime. Meu respeito incondicional às mulheres em geral e às ucranianas, em especial, porque além de todos os problemas diários enfrentados, precisam conviver com os horrores da guerra. Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas quem têm  esse tipo de opinião e comportamento. Espero que meu partido se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige”.

O deputado estadual se filiou ao Podemos, partido de Moro, em janeiro para ser lançado ao governo de São Paulo. Após a manifestação do ex-juiz, o Podemos emitiu um comunicado no qual afirma que "repudia com veemência as declarações" de Arthur do Val e diz que abriu um procedimento disciplinar para apurar os fatos.

"Gravíssimas e inaceitáveis são as declarações do deputado estadual Arthur do Val, que foram divulgadas na imprensa. Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro País, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra", diz o texto.

O rompimento com do Val foi anunciado por Moro dois dias após o ex-juiz postar no Twitter um elogio a do Val por ter viajado à Ucrânia para, supostamente, auxiliar a resistência contra a invasão russa.

“O Dep. Arthur do Val e Renan Santos, do MBL, decidiram reportar in loco o conflito na fronteira da Ucrânia. Também angariaram ajuda financeira para amparar refugiados. É sempre louvável quando saímos do discurso e partimos para a prática”, escreveu o ex-juiz na quarta-feira passada.

Bela Megale, O GLOBO, em 04.03.22


Explosão mata dois operários em visita de Moro a fábrica em Maringá

O ex-ministro Sérgio Moro estava em outra área da Cocamar quando dois funcionários sofreram um acidente na ala fabril da empresa; o pré-candidato a presidente não foi atingido e suspendeu a visita de imedia   

Sérgio Moro cancelou agenda em Maringá após explosão que matou dois operários na Cooperativa Agroindustrial de Maringá Foto: JF Diorio/Estadão

Dois trabalhadores morreram após uma explosão na ala fabril da Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Cocamar), na manhã desta sexta-feira, 4, em Maringá, no norte do Paraná. O pré-candidato à Presidência, Sérgio Moro, visitava a fábrica no momento do acidente, mas discursava na área administrativa, longe do local do acidente.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa de Moro afirmou que, quando informado da explosão, o ex-juiz interrompeu o discurso que fazia, lamentou o acidente, prestou solidariedade ao corpo funcional e suspendeu a visitação.  Segundo a Cocamar, os dois operários prestavam serviço terceirizado.

Moro cumpria agenda no norte do Estado acompanhado do senador Alvaro Dias (Podemos-PR). Ele esteve em Londrina nesta quinta-feira, 3, visitou a sede da Embrapa e fez um novo evento de lançamento de seu livro “Contra o Sistema de Corrupção”. Em Maringá, município onde nasceu, cancelou o restante da agenda que incluia um almoço com representantes da Associação Comercial e Empresarial de Maringá. 

A Cocamar informou que a explosão aconteceu na Estação de Tratamento de Efluentes e que as causas do acidente ainda estão sendo investigadas. 

“A cooperativa esclarece que em todos os seus setores são adotados rigorosos protocolos de segurança, sendo que os trabalhadores utilizavam todos os equipamentos de proteção, e comunica também que está prestando assistência às famílias das vítimas, às quais se solidariza”, declarou a empresa.

De acordo com o Corpo de Bombeiros de Maringá, uma das vítimas tinha 32 anos e a outra 36. "Com base na análise do cenário e nas informações de testemunhas, as duas vítimas trabalhavam na montagem de uma estrutura na planta industrial da cooperativa, e acabaram utilizando solda em um tanque de efluentes de biodiesel, o que gerava uma atmosfera explosiva. Com a violência da explosão, as vítimas e o reservatório estavam a aproximadamente 20 metros do local original", escreveu em nota.

Redação, O Estado de S.Paulo, em 04.03.22. Atualizado às 16h32

Biden garante que os EUA defenderão a Finlândia se necessário

O país nórdico, membro da União Europeia, mas não da OTAN, vive sob a ameaça de Moscou após a invasão da Ucrânia


O presidente da Finlândia, Sauli Niinisto, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, estiveram nesta sexta-feira na Casa Branca (PETE MAROVICH / PISCINA (EFE)

A relação de defesa entre os Estados Unidos e a Finlândia é agora mais crucial do que nunca, depois que a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro. Nesse cenário, Joe Biden recebeu o presidente da Finlândia, Sauli Niinisto, na Casa Branca nesta sexta-feira para falar sobre como fortalecer a aliança bilateral de defesa após a agressão russa. Finlandia, segundo país europeo -después de Ucrania- con más kilómetros de frontera con Rusia, no es miembro de la OTAN, pero mantiene estrechos lazos con la Alianza Atlántica y tras el ataque de Vladímir Putin está subiendo el apoyo entre los finlandeses por ingresar en a organização.

Ambos os presidentes apareceram muito brevemente diante da imprensa pouco antes de iniciar sua reunião no Salão Oval. Tanto Biden quanto Niinisto expressaram sua solidariedade ao povo ucraniano. O presidente democrata declarou o compromisso da Casa Branca em ajudar a Finlândia a se defender, já que o conflito na Ucrânia despertou novas preocupações em alguns países europeus, como Finlândia e Suécia.

Biden deixou aberta à imprensa a possibilidade de a Finlândia formar uma aliança mais próxima com a OTAN, neste momento o país nórdico coopera com a Aliança, mas não é membro. Pouco antes, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, não quis esclarecer durante a sua conferência de imprensa diária se os Estados Unidos apoiariam a entrada da Finlândia na organização atlântica, assegurando que esta decisão depende de todos os estados membros da aliança.

Quando entramos no nono dia de uma guerra que já provocou milhares de mortos e feridos, além de um milhão de refugiados, o presidente dos Estados Unidos foi contundente ao declarar que "o ataque à Ucrânia foi também um ataque à segurança da Europa. “A Finlândia é um parceiro chave dos Estados Unidos, um forte aliado também em questões de defesa e um aliado da OTAN, especialmente no que diz respeito à força e segurança da área do Mar Báltico”, acrescentou Biden enquanto verificava algumas notas que carregava.

O presidente Niinistö saudou a oportunidade de discutir questões atuais com o presidente dos EUA "nestes tempos muito difíceis". O finlandês também agradeceu ao americano pela “liderança” exercida nesta crise. Niinistö também disse que o povo ucraniano "luta corajosamente por seu país". Niinisto pediu na quinta-feira para "manter a cabeça fria" em meio a uma situação tão difícil no velho continente. "Em meio a uma crise aguda é muito importante manter a cabeça fria e avaliar cuidadosamente o impacto em nossa segurança", disse o presidente do país escandinavo de 5,5 milhões de habitantes e membro da União Europeia.

Na semana passada, dois dias após o início da invasão russa da Ucrânia, o Kremlin denunciou os esforços desenvolvidos pelo Ocidente para incluir a Finlândia e a Suécia na Aliança Atlântica, países conhecidos pela sua neutralidade, e alertou para as graves consequências que a entrada destes países na OTAN. “É evidente que a entrada da Finlândia e da Suéciana OTAN, que é sobretudo um bloco militar, teria graves consequências político-militares, que exigiriam uma resposta do nosso país”, alertou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, María Zajárova, em entrevista coletiva. O representante da diplomacia russa salientou que Moscovo estava a par dos "esforços da NATO e de alguns países membros do bloco, sobretudo os Estados Unidos, para incluir a Finlândia e também a Suécia na Aliança".

Ao final da aparição diante da imprensa, Biden ousou fazer uma piada, apesar da gravidade da situação mundial, e disse que seu antecessor no cargo, referindo-se a Barack Obama e não a Donald Trump, considerou que tudo seria melhor se o mundo ficou nas mãos dos países nórdicos. O presidente finlandês apenas sorriu ao dizer: "Bem, não temos o hábito de começar guerras".

Yolanda Monge, de Washinton, DC, para o EL PAÍS, em 04.03.22.

Otan diz que "pior ainda está por vir" na Ucrânia

Aliança recusa pedido de Kiev para criar zona de exclusão aérea, temendo uma guerra total na Europa. Secretário-geral alerta para mais mortes nos próximos dias.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou nesta sexta-feira (04/03) que a aliança militar do Atlântico Norte não imporá uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, após os pedidos do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

"O único jeito de implementar uma zona de exclusão aérea é enviar caças da Otan para o espaço aéreo ucraniano, e impor a medida por meio da derrubada de aviões russos", explicou, após uma reunião de emergência com os ministros do Exterior dos Estados-membros.

Kiev havia pedido a medida para ajudar a impedir os bombardeios a várias cidades ucranianas. "Se fizéssemos isso, acabaríamos com algo que poderia levar a uma guerra total na Europa, com o envolvimento de mais países e com muito mais sofrimento humano. Esta é a razão pela qual tomamos essa dolorosa decisão."

Stoltenberg alertou que "os próximos dias serão provavelmente piores, com mais mortes, mais sofrimento e mais destruição, enquanto as Forças Armadas russas trazem armamentos ainda mais pesados e continuam os ataques em todo o país".

O ministro ucraniano do Exterior, Dmytro Kuleba, lamentou a decisão: "Minha mensagem: ajam agora antes que seja tarde demais. Não deixem [o presidente russo, Vladimir] Putin transformar a Ucrânia em uma Síria. Estamos prontos para lutar, continuaremos lutando. Mas, precisamos de parceiros que nos ajudem agora com ações concretas, resolutas e rápidas", escreveu em seu perfil no Twitter.

Defesa do território da Otan

A Otan reforçou sua presença nos países do Leste Europeu e membros da aliança anunciaram o envio de armamentos para ajudar a Ucrânia a defender a si própria. "Não somos parte desse conflito e temos a responsabilidade de assegurar que a situação não se agrave e se espalhe para além da Ucrânia", afirmou o secretário-geral da aliança.

"Faremos todo o necessário para proteger e defender cada centímetro do território da Otan. A Otan é uma aliança de defesa. Nossa tarefa primordial é manter nossos 30 países em segurança", disse Stoltenberg.

Kiev havia dito que, caso a Otan se recuse a fechar o espaço aéreo ucraniano, os aliados deveriam então enviar aviões e sistemas de defesa antiaérea ao país. Até agora, os países europeus vêm se recusando a enviar aeronaves, prometendo apenas armamentos mais leves e sistemas de mísseis antitanques e antiaéreos.

Deutsche Welle Brasil, em 04.03.22

terça-feira, 1 de março de 2022

Cientistas buscam uma vacina universal contra o coronavírus

Pesquisadores estão perseguindo as variantes da covid-19 e atrás de um imunizante mais completo

Indústria farmacêutica busca uma vacina que seja amplamente protetora contra a covid-19 e também tenha uma efetividade prolongada Foto: Brent Lewin / Washington Post

 

Os voluntários estão arregaçando as mangas para receber doses de vacinas experimentais adaptadas para combater a variante Ômicron – no momento em que o surto de coronavírus do inverno no Hemisfério Norte começa a ceder. Quando os cientistas souberem se essas vacinas reformuladas são eficazes e seguras, espera-se que a Ômicron esteja no espelho retrovisor. A utilização obrigatória de máscaras já está diminuindo. As pessoas estão começando a falar em normalidade.

( Não imunizar todo o planeta contra covid-19 pode custar mais de 1 milhão de vidas, dizem cientistas)

A desconexão destaca a exaustiva perseguição científica do ano passado - e a que está por vir. E ressalta um enigma mais premente e abrangente: perseguir a variante mais recente é uma estratégia viável? Ao invés de testar e potencialmente implantar uma nova vacina quando uma nova variante aparecer, e se uma única vacina pudesse frustrar todas as iterações desse coronavírus e as próximas também?

Até agora, reformular vacinas para combinar com uma nova variante está se tornando parte da memória muscular científica. As empresas farmacêuticas fizeram vacinas para combater a Beta, a Delta e agora a Ômicron. Nenhuma dessas doses chegou a ser necessária, mas para muitos cientistas, é uma estratégia de curto prazo, míope e insustentável.

"Você não quer essa abordagem de dar murro em ponta de faca", disse David R. Martinez, imunologista viral da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. "Isso poderia continuar para sempre."

A vacina original se manteve notavelmente bem, mas não há garantia de como ela se sairá contra a próxima variante. Cientistas como Martinez querem acabar com o ciclo de alcançar as variantes. Eles estão inventando vacinas projetadas para promover ampla proteção – uma parede de imunidade que repelirá não apenas as variantes do Sars-CoV-2 que conhecemos, mas também as que ainda estão por vir.

No mínimo, o mundo precisa de uma vacina verdadeiramente à prova de variantes. Ainda melhor seria uma dose que também impedisse uma futura pandemia, protegendo contra um coronavírus ainda desconhecido que virá dos animais para as pessoas nos próximos anos.

Alguns especialistas questionaram por que ainda não existe uma Operação Warp Speed para essas vacinas universais.

Anthony Fauci, principal conselheiro médico do presidente Joe Biden, enfatiza a necessidade de paciência, juntamente com a urgência. Existem lacunas científicas que precisam ser preenchidas para produzir uma vacina que seja amplamente protetora e dure muito tempo - e os Institutos Nacionais de Saúde no outono passado concederam US $ 36 milhões a grupos que tentam responder a perguntas básicas.

"Você não deve confundir a rapidez e a facilidade com que desenvolvemos uma vacina contra o coronavírus para Sars-CoV-2 com os obstáculos extraordinários que você pode enfrentar ao tentar obter uma vacina que proteja" de forma mais ampla, disse Fauci em entrevista ao The Washington Post. "Há muitas descobertas científicas que precisam entrar nisso."

Em particular, porém, os cientistas dizem que Fauci está pedindo que se apressem. “Eu me preocupo em perseguir variantes, porque sempre haverá uma nova variante”, disse Drew Weissman, pioneiro em vacinas e imunologista da Faculdade de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, que está trabalhando em uma vacina pan-coronavírus. "Agora, elas aparecem a cada seis meses, mas vão aparecer até que o mundo seja vacinado."

Cientistas buscam vacina que sejam eficazes contras futuras variantes

Animados com o sucesso das primeiras vacinas, muitos cientistas trabalhando em doses de última geração pensavam grande em 2021. Talvez pudessem fazer uma vacina que repelisse não apenas o Sars-CoV-2 e o SARS original, mas também dois coronavírus que causam o resfriado comum, a síndrome respiratória do Oriente Médio, bem como futuros coronavírus de morcegos que podem ser transmitidos para humanos.

Um estudo do New England Journal of Medicine no ano passado demonstrou que, pelo menos em conceito, era possível gerar ampla proteção imunológica contra muitos vírus. Pesquisadores em Cingapura mostraram que os sobreviventes do surto original de SARS há duas décadas que foram vacinados contra Sars-CoV-2 produziram anticorpos capazes de bloquear uma série de variantes e outros coronavírus.

Mas fazer uma única vacina que funcione contra uma gama tão ampla de vírus é complicado, e as variantes Beta, Delta e agora a Ômicron recalibraram parte dessa ambição abrangente. “Quando o Sars-CoV-2 surgiu pela primeira vez, era um vírus com muito poucos artifícios e, portanto, tivemos muito sucesso”, disse Dennis Burton, presidente do departamento de imunologia e microbiologia do Scripps Research Institute. "Mas ele está adquirindo cada vez mais artifícios, basicamente, e por isso é cada vez mais difícil lidar com isso - você precisa ser mais preciso com o anticorpo que induz por meio de sua vacina".

Antes de desenvolver uma vacina para interromper a próxima pandemia, ficou claro que um objetivo mais modesto - uma vacina à prova de variantes contra o Sars-CoV-2 - pode ser necessário para ajudar a acabar com essa crise. "A Ômicron realmente nos apontou para dizer: 'Ei, ainda não saímos dessa epidemia e não sabemos o que o futuro reserva com essa epidemia.' Precisamos nos concentrar em qual pode ser o próximo surto, mas também nos certificar de que estamos cobrindo qualquer variante... que surgiria nos próximos três a cinco anos", disse Barton Haynes, imunologista e especialista em vacinas da Faculdade de Medicina da Duke University.

No curto prazo, a equipe de Haynes está focada em interromper as variantes. Eles estão fabricando uma vacina - uma nanopartícula com um fragmento do pico pontilhando sua superfície. Em estudos com animais, essa vacina desencadeou ampla proteção imunológica contra variantes, o vírus SARS original e coronavírus de morcego. Haynes espera começar a testá-la em pessoas este ano.

Os resultados são esperados em breve a partir dos primeiros testes em humanos de uma vacina "pan-SARS" diferente desenvolvida por cientistas do Walter Reed Army Institute of Research. Em estudos iniciais, eles também mostraram fornecer proteção mais ampla do que as doses de primeira geração. Consiste em uma nanopartícula multifacetada pontilhada com o pico encontrada na versão original do coronavírus que surgiu em Wuhan, na China.

As vacinas ensinam o sistema imunológico a reconhecer um vírus. Elas costumam fazer isso apresentando uma versão do vírus – que simplesmente pode ser um recurso revelador, como os picos do lado de fora do coronavírus. O poder dessas novas vacinas decorre de qual característica elas mostram e como a apresentam. Os fragmentos de vírus são montados em nanopartículas multifacetadas, assemelhando-se à forma como o pico pode parecer na superfície do próprio vírus – uma abordagem que ajuda a focar a resposta imune.

"O sistema imunológico evoluiu para responder fortemente à repetição. Os vírus têm matrizes repetitivas de proteínas em suas superfícies", disse Neil King, bioquímico da Universidade de Washington com outra candidata a vacina à prova de variantes com testes em humanos. "É por isso que as vacinas de nanopartículas funcionam melhor, é que elas apresentam o antígeno como uma matriz repetitiva, para provocar essa resposta forte."

Futuras vacinas precisam de mais sofisticação

As primeiras versões das vacinas contra o coronavírus eram poderosas, mas simples. Eles pegaram proteínas pontiagudas do lado de fora do vírus que surgiu em 2019, ajustaram-nas para manter os picos na forma certa – e apresentaram esses picos ao sistema imunológico.

As vacinas de próxima geração, aquelas criadas para impedir futuras pandemias, provavelmente exigirão maior sofisticação.

Martinez está trabalhando em uma vacina na UNC que mostra os picos "quiméricos" do sistema imunológico. Como a criatura quimera da mitologia grega - com a cabeça de um leão, o corpo de uma cabra e a parte traseira de uma serpente - essas vacinas usam pontas remendadas de fragmentos de diferentes coronavírus. Um pedaço do Sars-CoV-2, outro pedaço do vírus Sars original e um terceiro componente de um coronavírus de morcego.

Outros pesquisadores, como King, estão construindo vacinas em "mosaico" e coquetéis, que contêm outras combinações. Uma pequena partícula pode ser pontilhada com uma peça-chave de proteínas spike de Sars-CoV-2, SARS e dois coronavírus de morcego, por exemplo. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia criaram nanopartículas de mosaico com fragmentos de quatro a oito coronavírus diferentes.

A abordagem precisa que formará a melhor vacina universal ainda é uma questão de debate científico. Mas uma coisa é certa: atualizar as vacinas a cada seis meses não será uma maneira razoável – ou equitativa – de proteger as pessoas globalmente.

"Não acho que a experiência com as variantes até o momento, tentar perseguir as novas variantes à medida que surgem e gerar rapidamente vacinas para variantes específicas - não acho que seja uma estratégia a longo prazo, mesmo em países de alta renda, e certamente não em ambientes com menos recursos", disse Richard Hatchett, diretor executivo da Coalition for Epidemic Preparedness Innovations, uma organização sem fins lucrativos que financia os esforços para desenvolver vacinas universais e à prova de variantes.

Descobrir que existem anticorpos capazes de reconhecer e neutralizar uma ampla gama de vírus é fundamental. Mas aprender como acioná-los para criar um escudo de proteção pode ser mais complicado do que parece.

Pode não ser suficiente que as pessoas possam gerar anticorpos para bloquear uma variedade de coronavírus. O truque é saber se uma vacina pode gerar quantidades suficientes para proteger as pessoas. No HIV, por exemplo, anticorpos que bloqueiam muitas cepas do vírus sempre mutante foram isolados em pessoas com infecções de longo prazo. Mas usar uma vacina para replicar o que a natureza pode realizar tem sido o Santo Graal para o campo.

No Sars-CoV-2, a proteína spike se parece um pouco com uma árvore, e anticorpos raros que se ligam à base da árvore podem bloquear uma ampla gama de coronavírus relacionados em estudos de laboratório, disse Duane Wesemann, imunologista da Brigham and Women's Hospital em Boston.

“Mas é uma frequência muito baixa, e se estamos fazendo uma vacina que faz apenas isso, temos que observar que pode não ser tão fácil”, disse Wesemann. “Não está claro se podemos gerar esses anticorpos especiais em níveis altos o suficiente”.

Uma vacina universal chegará a um mundo mais complicado do que as vacinas de primeira geração. As pessoas terão diferentes níveis de imunidade pré-existente, de vacinas e de infecções relacionadas a variantes.

Os cientistas não concordam sobre como exposições anteriores - conhecidas como impressão imunológica, ou às vezes chamadas de "pecado antigênico original" - afetarão a resposta das pessoas a novas vacinas, para o bem ou para o mal. Uma possibilidade é que novas vacinas criem a resposta mais forte ao vírus ao qual as pessoas foram originalmente expostas, não ao mais novo. Mas criadores de vacinas como Martinez veem o potencial de explorar essa peculiaridade do sistema imunológico como um recurso, para focar a resposta no alvo certo.

Outra questão científica que ainda precisa ser resolvida é a durabilidade. Uma vacina ampla com proteção que desaparece rapidamente pode ser impraticável para prevenir futuras pandemias. Afinal, o SARS surgiu cerca de duas décadas atrás e o MERS uma década depois.

"Estamos procurando uma vacina semelhante ao tétano", disse Haynes. "Todos nós temos que tomar uma vacina antitetânica a cada 10 anos. Isso seria realmente fantástico."

A busca por uma vacina verdadeiramente universal é urgente, mas muitos especialistas alertam que é um desafio muito diferente do que criar as vacinas de primeira geração.

“Estudamos os vírus da gripe há mais de 70 anos e estamos tentando fazer vacinas universais contra a gripe, e ainda não conseguimos”, disse Yoshihiro Kawaoka, que está trabalhando em uma vacina pan-coronavírus na Universidade de Wisconsin em Madison. "Mas este é um vírus diferente, e acho que vale a pena tentar. O que estou tentando dizer é que pode não ser fácil." 

Carolyn Y. Johnson, Washington Post, em 1802.22. TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES para O Estado de S. Paulo.

Contratempos se acumulam para Putin: seis frentes que não estão indo como o Kremlin gostaria

O ataque que Moscou propôs como uma operação cirúrgica é complicado por fatores como a resistência militar ucraniana, a dura resposta ocidental, a ambiguidade chinesa ou os tímidos sintomas de desconforto na sociedade russa.

O presidente russo, Vladimir Putin, no domingo em Moscou. (SERGUEI GUNEYEV (AP)

No quinto dia da guerra desencadeada pela invasão russa da Ucrânia, as más notícias sobre a mesa do presidente Vladimir Putin começam a se acumular. Embora seja muito cedo para fazer uma avaliação aprofundada, os estágios iniciais da guerra trouxeram muitos contratempos e poucos ganhos para a Rússia. A seguir, um olhar sobre o que aconteceu em termos militares, políticos, econômicos e midiáticos.

1. Resistência militar ucraniana

A força invasora russa conseguiu penetrar no território ucraniano em vários setores da metade oriental do país , do norte, leste e sul. As salvas de mísseis - cerca de 350 no domingo, segundo o Pentágono - degradaram as capacidades dos militares ucranianos. Esta segunda-feira, a agência russa Interfax informa que os atacantes teriam conquistado Berdiansk e Energodar, duas pequenas cidades no sudeste. No entanto, apesar da clara superioridade militar, neste momento a Rússia não pode mostrar nenhuma vitória significativa. Ele não conquistou nenhuma grande cidade; não foi capaz, de acordo com os serviços de inteligência militares ocidentais, de estabelecer o controle do espaço aéreo; não atingiu significativamente o mecanismo de comando e controle das forças ucranianas.

A resistência ucraniana, por outro lado, é firme, e as informações que chegam do país invadido apontam para um crescente espírito de combate , também no setor civil, com voluntários dispostos a pegar em armas. O moral de alguns —que percebem que conseguem resistir e têm uma motivação insuperável— sobe, e o de outros provavelmente cai ao verificar as dificuldades. Enquanto isso, os países ocidentais estão aumentando o fornecimento de armas, e a Turquia decidiu impedir a passagem de navios militares pelos estreitos de Bósforo e Dardanelos.(pelo qual o Mar Mediterrâneo e o Mar Egeu são acessados ​​ao Mar Negro), de acordo com o poder conferido pela Convenção de Montreux. A medida afeta tanto a Rússia quanto a Ucrânia, mas é mais prejudicial para a Rússia, já que a Marinha ucraniana é quase irrelevante. A Rússia já tem uma grande frota de guerra implantada no Mar Negro, mas a proibição tornará os movimentos futuros mais difíceis.

Tudo isso não deve levar a conclusões precipitadas. É muito cedo e, diante da resistência, o Kremlin pode optar por intensificar a violência, multiplicando os bombardeios. Para garantir a vitória, Putin pode estar disposto a infligir enorme sofrimento aos civis, como fez na Chechênia, mas isso seria uma escolha terrível para ele. Cada bomba em uma cidade é um ódio maior contra o Kremlin, que repercutirá no futuro em uma hostilidade difícil de conter.

Soldados russos em Armiansk, na parte norte da Crimeia, na Rússia, no domingo. (KONSTANTIN MIHALCHEVSKIY / SPUTNIK / CONTACTPHOTO (EUROPA PRESS)

2. Penalidades

Sem dúvida, a Rússia planejava uma forte reação sancionatória à invasão dos países ocidentais, que a haviam anunciado. É provável, no entanto, que Moscou não tenha contemplado uma retaliação da intensidade que está se materializando . Mesmo se eu tivesse previsto, o golpe do martelo é realmente notável. A ação destinada a dificultar o uso das reservas do Banco Central da Rússia é uma medida que não estava em muitos pools e tem potencial devastador.

O rublo caiu até 30%, forçando o banco central a aumentar as taxas de juros de 9,5% para 20% , seu nível mais alto em um século. Sintomas de dúvida, se não pânico, estão se acumulando em torno da sustentabilidade das instituições financeiras russas. A Rússia pode pedir ajuda à China, onde 14% de suas reservas são depositadas em moeda estrangeira, mas é possível que as entidades chinesas ajam com muito cuidado , temendo sanções ocidentais secundárias que compliquem o acesso a esses mercados. Moscou também pode vender suas enormes reservas de ouro, mas não será uma operação fácil, segundo especialistas. A situação é crítica para a Rússia.

Mas há mais. A BP anunciou que vai retirar seus investimentos no mercado russo – possui 20% da Rosneft – assim como fez o fundo público norueguês, o maior do mundo. O fundo soberano australiano também está avaliando a mesma opção. São passos que podem fomentar uma grande debandada de capital e conhecimento industrial. A miríade de derivativos que as sanções produzem começam a tomar forma, entre eles o congelamento do arrendamento de aeronaves , que não poderá ir além do final de março. Além da proibição de voar nos céus europeusPortanto, as empresas russas enfrentam o risco de uma séria escassez de dispositivos. As empresas russas têm mil aeronaves comerciais, das quais metade são alugadas por empresas estrangeiras, segundo a consultoria Cirium, citada pela Reuters.

Em termos geopolíticos, além disso, países relevantes como o Japão ou a Coreia do Sul estão aderindo às medidas de retaliação ocidentais.

3. rearmamento ocidental

O Ocidente respondeu com firmeza não apenas na dimensão econômica-sanção. Também está tomando medidas de natureza militar que são completamente opostas ao que o Kremlin poderia querer. O mais óbvio é o histórico, impensável até poucos dias atrás, o twist alemão . O governo liderado por Olaf Scholz anunciou que elevará os gastos militares anuais acima do limite de 2% do PIB —comparado com os atuais cerca de 1,5%— e a criação de um fundo especial de 100.000 milhões de euros para fortalecer as Forças Armadas. Exércitos. Além disso, fez uma mudança de direção em relação à tradição alemã e autorizou a entrega de armas letais à Ucrânia.

Um militante da autoproclamada República Popular de Donetsk inspeciona os restos de um míssil que caiu em uma rua da cidade controlada pelos separatistas. (ALEXANDRE ERMOCHENKO (REUTERS)).

Destaca também a vigorosa reativação da OTAN, após anos de trajetória turva, e o claro espírito de união entre seus parceiros. Várias rodadas de reforço do flanco leste já ocorreram, e o comitê militar deve aprovar outra na segunda-feira. Putin procurava afastar a Aliança das suas portas, e tudo indica que a terá muito mais presente, não só nesta contingência, mas de forma persistente ao longo do tempo. Além disso, sua ação tem outro efeito indesejado para a Rússia: o salto gigantesco na formação da UE como ator geopolítico. Os Vinte e Sete estão respondendo com unidade, velocidade e entrando em território desconhecido, como o financiamento de entregas de armas para a Ucrânia.

4. Ambiguidade chinesa

Um dos aspectos cruciais do pulso de Putin é verificar o grau de apoio internacional que ele desperta. Sem dúvida, a aproximação de posições com a China que se cristalizou na declaração conjunta sino-russa de 4 de fevereiro reforçou a convicção do Kremlin de ativar a invasão. Mas, diante disso, a atitude de Pequim não deve ser inteiramente satisfatória para Moscou.

É verdade que o regime chinês evitou chamar a ofensiva russa de "invasão", enfatizando a legitimidade das preocupações de segurança de Moscou e condenando as sanções ocidentais. Mas, significativamente, optou pela abstenção, ao invés da rejeição, diante da iniciativa de resolução condenatória no Conselho de Segurança da ONU , que não foi aprovada pelo próprio veto da Rússia; e nas suas declarações recorda repetidamente o seu apego ao princípio da integridade territorial dos Estados. Não se pode deduzir disso que Pequim abandonará completamente Moscou à sua sorte, mas é claro que há objeções e limites à vontade de cooperar.

O Conselho de Segurança da ONU convocou uma sessão especial da Assembleia Geral para esta segunda-feira para tratar da crise da invasão russa. Nesse tipo de votação processual não há possibilidade de veto, portanto a rejeição russa não conseguiu impedir a convocação, que dará lugar à votação de uma resolução que não será vinculante, mas terá grande peso político, e esclarecerá o grau de isolamento russo.

Alguns detalhes significativos: países africanos como o Quênia, em vez de permanecerem em uma posição de certa indiferença ao que poderia ser visto como uma luta distante entre potências, veem a agressão à Ucrânia como uma indignação contra um processo de descolonização pós-imperial; e o Cazaquistão, país cujo regime autoritário foi recentemente resgatado pela Rússia diante de uma onda de protestos populares, não apoiou Moscou no reconhecimento da independência dos territórios separatistas de Donbas. Uma empresa cazaque do setor de televisão e internet decidiu nesta segunda-feira bloquear canais russos alegando sua rejeição à propaganda de guerra.

5. A batalha da mídia

A luta para convencer a opinião pública também não traz boas notícias para o Kremlin. As notícias da Ucrânia criaram um profundo sentimento de rejeição e indignação nas sociedades ocidentais, fornecendo uma base sólida para que os executivos desses países adotem medidas duras que, em muitos casos, têm consequências problemáticas.

Em termos pessoais, além disso, para Putin, a diferença de imagem entre sua figura temerosa de contrair o vírus, com colaboradores servis e às vezes ineptos - como um oficial de inteligência de alto escalão demonstrou em uma aparência patética - a muitos metros de distância do líder, é verdadeiramente devastador ... e o do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, demonstrando coragem, vigor e humanidade , modulando habilmente seu discurso para a mídia.

O presidente da Ucrânia, Volodímir Zelenski, em comunicado institucional.

Também não há boas notícias para a Rússia do esporte, onde os sintomas de isolamento e desprezo estão se multiplicando . Apesar de não ter importância estratégica, tem forte impacto midiático e seu peso não deve ser subestimado.

6. Sintomas de desconforto interior

O cenário interno também não é tranquilizador para o chefe do Kremlin. Apesar do ambiente opressivo em que vive a sociedade russa, já foram detectados focos de protesto contra a guerra. Eles não foram massivos, mas cerca de 6.000 pessoas foram presas , segundo a organização OVD-Info, que monitora esses dados. Alguns magnatas no exterior já se manifestaram contra a guerra.

Além disso, as filas para sacar dinheiro nos bancos já começaram no fim de semana, e a perspectiva de alta da inflação e perda de poder aquisitivo pressiona bastante o pote.

É aconselhável não se apressar em julgar e não subestimar a capacidade de controle de Putin e o regime que ele construiu. Mas é claro que os primeiros estágios da invasão estão longe de ser um passeio triunfal.

Andrea Rizzi, de Madrid, em 28.02.22, para o EL PAÍS. Andrea é correspondente de assuntos globais do EL PAÍS e autor de uma coluna dedicada aos assuntos europeus que é publicada aos sábados. Anteriormente, foi editor-chefe do Internacional e vice-diretor de Opinião do jornal. É licenciado em Direito (La Sapienza, Roma), mestre em Jornalismo (UAM/EL PAÍS, Madrid) e em Direito da UE (IEE/ULB, Bruxelas). 

François Hollande: "Eu absolutamente não acredito que Putin esteja passando por uma crise de loucura ou paranóia"

 O ex-presidente francês considera um erro ter pensado que o líder russo estava abrindo a porta para a negociação e relativiza a ameaça nuclear exercida por Moscou

O ex-presidente francês François Hollande, durante a entrevista em seu escritório em Paris na segunda-feira. (Eric Hadi)

Não: Vladimir Putin não perdeu seu senso de realidade. E não: ele não é louco ou paranóico.

Quem afirma isso é François Hollande , presidente francês entre 2012 e 2017, que há alguns anos passava horas e horas negociando com ele. Às vezes, cara a cara. Outros, acompanhados pela então chanceler, Angela Merkel.

Era 2014, o presidente russo havia lançado seu primeiro ataque à Ucrânia e acabaria anexando a península da Crimeia e criando uma região separatista no leste do país. Esse pulso permitiu que Hollande (Rouen, 67 anos) entendesse algo da psicologia de Putin. E ele está convencido de que suas ações recentes – a invasão da Ucrânia ou a ameaça de uma bomba nuclear – seguem uma lógica.

“Absolutamente não compartilho a ideia de uma crise de loucura ou paranóia”, declarou Hollande esta segunda-feira, no seu gabinete em Paris, durante entrevista ao EL PAÍS e a outros jornais do grupo LENA. “Sempre olhei para Putin pelo que ele é, e há uma lógica nisso. É extremamente perigoso, mas há uma lógica.”

Na sexta-feira, o atual presidente, Emmanuel Macron, recebeu Hollande no Palácio do Eliseu, sua antiga residência, para discutir a guerra. Quando perguntado se Macron errou ou foi ingênuo ao negociar com Putin até o último momento antes da invasão , ele responde: “Nunca é um erro dialogar e negociar. Se houve um erro, foi pensar que Vladimir Putin estava dizendo a verdade e abrindo uma porta para a discussão quando ele estava batendo a porta nas mãos dos ocidentais."

O ex-presidente socialista, hoje aposentado da linha de frente, mas ativo no debate público, relativiza a ameaça nuclear que Putin exerce. "Ele sabe que hoje ele não tem um escopo real", diz ele. "Ele deve nos impressionar e nos intimidar, mas teria tudo a perder em um conflito que seria destrutivo para seu país." E acrescenta: “Em relação ao bombardeio na Ucrânia, toma-se cuidado para não criar uma situação irreversível que possa colocar em sério risco a população civil, embora já tenha causado inúmeras mortes”.

O que o presidente russo procura, sublinha o ex-presidente, “é a paralisia da Ucrânia, o controlo do espaço aéreo e a destruição das infraestruturas militares para depois entrar num processo de negociação”. “Muitas famílias russas”, continua ele, “estão ligadas à Ucrânia na Rússia. Destruir casas, bombardear cidades sem dúvida causaria um estado de choque na Rússia. Tente neutralizar a Ucrânia, não destruí-la. Há uma lógica, e é assustador o suficiente para não procurarmos argumentos psicológicos."

Hollande aplaude o envio de armas para a Ucrânia pelos aliados, embora em sua opinião tenham chegado tarde demais, e as sanções massivas , embora devam ser maiores. “Para fazer jus à gravidade do ato que Vladimir Putin cometeu ”, argumenta, as sanções devem se estender até a suspensão do fornecimento de petróleo e gás russo.

O ex-presidente acredita que esta é a forma de forçar Putin a se retirar da Ucrânia. “Da mesma forma que Vladimir Putin quer sufocar a economia e destruir a infraestrutura da Ucrânia para levar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a se render”, diz ele, “devemos paralisar a economia russa para levar Putin à retirada, ao cessar-fogo e à negociação. Putin, ele sustenta em outro momento, "só entende a relação de poder, e quando nada lhe resiste, ele avança".

A solução diplomática, segundo Hollande, consistiria em retornar "de alguma forma" aos acordos de Minsk que, em 2015 , deveriam iniciar o fracassado processo de paz. Isso implicaria "uma retirada de forças estrangeiras e, em seguida, garantir a integridade [territorial] da Ucrânia e, portanto, um processo de discussão para acabar com as repúblicas separatistas".

Putin deve receber, como ele exige, garantias de segurança? Hollande explica: “Sempre me lembrei que a Ucrânia não tem vocação para ingressar na OTAN”. Mas ele acrescenta: "A Ucrânia tem o direito de escolher seu destino, de trabalhar com a Europa, eventualmente de ter a proteção de aliados".

De suas longas conversas com Putin, ele lembra: “Você tinha que tomar seu tempo. Às vezes, passando a noite inteira e depois a manhã, sem dormir, para pressionar até o fim. Não era preciso cair no jogo de sua raiva mais ou menos fingida ou de sua doçura, mais ou menos sincera”.

As ideias que Putin está aplicando agora com bombas e mísseis na Ucrânia não são novas nem resultado de improvisação ou exaltação momentânea. "O que está inscrito na cabeça de Putin há muito tempo é redescobrir a influência da Rússia nos antigos países da antiga União Soviética, mas ele não tinha certeza de como chegar lá ou em que prazo", diz ele. “Procedi em etapas e aproveitei todas as oportunidades”, acrescenta. E lembre-se que na Síria, na Líbia, no Sahel ou na Bielorrússia, entre outros pontos do mapa, avançou e avançou diante da indiferença ou paralisia do Ocidente.

Hollande lista, entre os sinais de fraqueza diante de Putin, a decisão do presidente Barack Obama de não responder militarmente na Síria quando em 2012 o regime de Bashar El Assad usou armas químicas, a complacência de Donald Trump com o presidente russo e o abrupto e caótico Afeganistão no verão passado com Joe Biden já na Casa Branca.

Mas a França e a UE não teriam que ser mais duras com a Rússia em 2014, quando ele era presidente e Putin começou a assediar a Ucrânia? "Estávamos, a ponto de a pressão nos permitir concluir os acordos de Minsk com a chanceler Merkel", ele responde. "Mas as sanções certamente não foram suficientes porque não impediram a absorção da Crimeia pela Rússia."

Ao final desses anos, diz Hollande, “sem dúvida [Putin] se sentiu bêbado com seu sucesso e preparado para atuar na Ucrânia pensando que não haveria reação notável”, comenta. "Mas ele estava errado."

Agora ele enfrenta duas opções “Ou ele embarca em um longo conflito que irá congelar progressivamente, como sempre fez. Ou, segunda opção, o preço que o fazemos pagar por sua invasão é tal que ele busca uma solução. Neste caso, a negociação pode vir rapidamente. Daí a importância da pressão que devemos exercer. E quero sublinhar a resistência dos ucranianos, algo que não avaliei a princípio e que inflige perdas bastante sérias ao exército russo. Isso tem consequências para a opinião pública quando as famílias veem os caixões chegarem”.

–Putin cometeu um erro?

-Ele cometeu uma falta que lhe custará caro por muito tempo.

Marc Bassets, de Paris, em 01.03.22, para o EL PAÍS. Marc é  correspondente do EL PAÍS em Paris e antes disso esteve em Washington. Ingressou nesse jornal em 2014 depois de ter trabalhado para 'La Vanguardia' em Bruxelas, Berlim, Nova York e Washington. É autor do livro 'American Autumn' (Editorial Elba, 2017).

A população da Ucrânia organiza a resistência contra o invasor russo

A sociedade se prepara para a ofensiva de Moscou. Alguns se juntam às forças de defesa, outros fazem 'coquetéis molotov' ou preparam comida para soldados

Uma mulher prepara um 'cocktail Molotov' numa praça no centro do Dnipro, nesta segunda-feira.

Semyon joga várias rodas de plástico nas costas e as empilha do lado de fora de um prédio da administração em Dnipro, a quarta cidade mais populosa da Ucrânia, às margens do rio Dnieper. O prédio é cercado por sacos de areia e a entrada é quase bloqueada por uma armadilha antitanque. Alguns metros adiante, na Plaza de los Héroes, no gramado, dezenas de pessoas enchem garrafas de vidro e cortam pavios caseiros para preparar coquetéis molotov . Ao longo do rio, um restaurante prepara macarrão com queijo para soldados ucranianos e milícias cidadãs. Dnipro se prepara para a chegada das tropas enviadas pelo presidente russo Vladimir Putin.E ele faz isso com tudo o que tem: um contador que passou a empunhar uma arma nas forças de defesa territorial, um engenheiro que se tornou motorista para entregar suprimentos, uma rede de doação de sangue, outro que prepara alimentos, voluntários que constroem barricadas.

A cidade, com um milhão de habitantes, no centro do país, um polo estratégico de comunicações e que a Rússia tenta cercar para impedir a passagem de suprimentos enviados pelos aliados da Polônia e de tropas ucranianas para o sul e para Kiev, é preparando-se para a guerra total. A imagem se repete em todo o país. A Ucrânia, o maior país da Europa, onde vivem 44 milhões de pessoas, tece redes de resistência ativa, que se mostraram essenciais para enfrentar o ataque russo quando as tropas de Putin avançam em sua ofensiva e os ataques aumentam. Multiplicam-se as imagens de civis enfrentando tanques russos ou tentando impedir a passagem de tropas para suas cidades.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, cuja popularidade disparou desde a invasão, pediu à população que ajude a conter a ofensiva por qualquer meio ao seu alcance. Dnipro é uma cidade dedicada a isso. "No quinto dia da guerra russa em larga escala contra o povo da Ucrânia, permanecemos firmes", disse Zelensky na segunda-feira. “Cada crime que os ocupantes cometem contra nós nos aproxima cada vez mais. A Rússia nunca imaginou que enfrentaria tanta solidariedade”, enfatizou.

Às portas do hospital militar do Dnipro, Elena e o marido, Alexandre, fazem fila para levar roupa, fraldas e comida aos doentes. Ao lado dela, uma mulher de 50 anos carrega um grande saco de colheres de plástico brancas. "Eu tenho uma barraca de café e isso é o que eu pensei que seria mais útil", diz ele. O posto de saúde, no centro da cidade, destina-se ao atendimento dos feridos (especialmente os graves) das frentes sul e leste. Tem 400 leitos, mas nos últimos dias ultrapassou esse número e eles também tiveram que usar as salas de recuperação, explica Sergi Bachinski, vice-diretor do centro, onde profissionais de saúde de toda a área vêm oferecer ajuda no tratamento ferido.

Um restaurante no Dnipro prepara refeições para soldados e milicianos com alimentos doados por empresas e cidadãos, esta segunda-feira.

Anna Fedicheva, engenheira civil de 37 anos, ofereceu seu carro espaçoso para transportar “o que for necessário”. No Dnipro e em muitas outras localidades, foi criado um grupo de motoristas nas redes sociais para ajudar nas questões logísticas. Vestindo uma máscara de tecido preto, que tem uma árvore de Natal estampada em purpurina, a mulher diz que pensou em juntar-se às Forças de Defesa Territorial, geridas pelo Ministério da Defesa, brigadas de milícias cuja missão é proteger as infraestruturas das cidades, mas foi não encontrado em condições. Nem pensou em deixar o país. "Tento pensar que [os russos] não vão nos ocupar, acredito em nosso país e em nossa liberdade", diz Fedicheva, que diz que, antes desse pesadelo, estava feliz com sua vida: "Gostei do meu trabalho, sair para dançar com os amigos, ir ao cinema, uma vida simples. Às vezes você pensa que tudo é um sonho e de repente você acorda e não; é real".


Uma mulher reage enquanto os paramédicos realizam RCP em uma menina que foi ferida durante um bombardeio, no hospital da cidade de Mariupol, leste da Ucrânia, domingo, 27 de fevereiro de 2022. A menina não sobreviveu.  (Foto AP/Evgeny Maloletka)

A mesa onde Myroslav Malynovski prepara coquetéis molotov tem um paralelo em Lviv, no oeste do país, onde Kira Shivenko, uma pintora de 28 anos, enche garrafas usando máscara cirúrgica e luvas de látex; ou em Kramatorsk (leste), onde um grupo de jovens se organizou para preparar aquele explosivo caseiro cuja receita já é dada no rádio e em muitos jornais. “Putin pensou que os receberíamos com flores? Aqui preparamos alguns drinks de boas-vindas”, diz o aposentado de 65 anos, enquanto coloca uma das garrafas de vidro em uma caixa de papelão. “Não vamos fugir. Este é o nosso país e eles são os ocupantes, a Ucrânia é um país democrático e europeu”, diz Malynovski. "Vamos resistir até o fim."

Distribuição de armas entre a população

Apenas na região de KievCerca de 18.000 armas civis foram distribuídas, segundo o governo. Agora, Zelensky propôs libertar prisioneiros com experiência militar se eles estiverem dispostos a se juntar às forças armadas ucranianas. Uma medida muito controversa que dá a ideia da ansiedade e desespero do governo: o Exército ucraniano tem muito menos tropas que o russo, também uma capacidade menor em tecnologia de defesa. Alguns dias atrás, Zelensky também convidou estrangeiros para lutar na Ucrânia. "Se você tem experiência de combate na Europa, venha ao nosso país e defenda a Europa junto conosco", disse ele em uma mensagem de vídeo. No dia anterior à invasão, Zelensky mobilizou 36.000 reservistas, 5.000 guardas nacionais aposentados e outros 5.000 policiais de fronteira. Armar civis em um ambiente tão tenso também pode criar problemas.

No segundo dia da ofensiva russa, quando o alcance da agressão ficou claro, Oleg Trubnikov, 60 anos, apareceu no quartel da reservista de Kramatorsk, na região de Donetsk, na parte controlada pelo governo, onde dezenas de homens se alinharam na sexta-feira. para receber direções e destino. Trubnikov não recebeu a ligação. Ele tem uma deficiência e acha que não será aceito para a mobilização, mas ele estava no exército soviético e acha que pode trazer experiência. "Ou ajudar em qualquer coisa", diz ele. “Estou aqui para defender a Ucrânia dos russos. É o mínimo que posso fazer", acrescenta.

No Dnipro, Maxim Shanin destaca que as forças de defesa são tão importantes quanto a logística. O restaurante que dirige, no centro da cidade, faz parte de uma rede recém-criada de estabelecimentos que cozinham comida para os soldados ucranianos e para as pessoas que se juntaram às milícias e que constroem barricadas de areia muito perto das instalações ou protegem alguns dos As pontes do Dnipro. A rede de 11 locais prepara refeições, café da manhã e jantar para quase 4.000 pessoas todos os dias. O restaurante Shanin's, o típico lugar de vinhos da moda com um hipster e industrial, está cheio de sacos de batatas, garrafas de óleo e pacotes de macarrão. Na cozinha, uma equipe de cozinheiros prepara os almoços que um grupo de voluntários coloca em lancheiras e sacolas plásticas com carinha sorridente e a mensagem: “Obrigado pelo seu trabalho”.

Cerca de 250 voluntários se inscreveram no projeto, que está sendo replicado em outras cidades, conta Shanin. “Cada um de nós colocou nosso grão de areia. Essa situação nos uniu mais do que nunca contra o agressor. Os cidadãos querem trabalhar juntos para ajudar o Exército, o Governo, o presidente. Alguns podem ir lutar com as próprias mãos e outros não. Aqui cozinhamos e vamos fazer até a vitória”, diz.

Maria R. Sahuquillo, de Dnipro (Ucrânia), em 01.03.22 para o El País. Maria é Correspondente em Moscou, de onde cobre Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e o resto do espaço pós-soviético. Anteriormente, foi enviada especial para grande cobertura e tratou com os países da Europa Central e Oriental. Ela passou quase toda a sua carreira no EL PAÍS e, além de questões internacionais, é especializada em questões de igualdade e saúde.