Foram presos vários militares que, segundo documentos apreendidos, tinham como alvo um senador e ministro Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
O juiz Moraes, fotografado durante audiência judicial em março passado, foi um dos altos funcionários visados pelo grupo desarticulado nesta quarta-feira pela Polícia Federal. (Crédito:
Parecia ser apenas mais uma empresa de segurança privada, mas era um grupo de extermínio. Um grupo formado por militares da ativa e da reserva que estipulavam preços para espionagem e assassinato, inclusive de altos funcionários do Estado brasileiro. O grupo se autodenomina Comando C4, sigla para Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos, e detalhes de seu modus operandi começaram a vir à tona nesta quarta-feira após uma operação da Polícia Federal.
O juiz responsável pelo caso ordenou que cinco dos detidos fossem mantidos em prisão preventiva e que outros quatro sob investigação recebessem tornozeleiras eletrônicas. Ele também ordenou diversas buscas durante as quais os policiais apreenderam documentação sobre os serviços oferecidos pelo grupo.
Na casa do coronel aposentado do Exército Etevaldo Caçadini, a polícia encontrou documentos lucrativos com tabelas detalhando os preços para espionar ou assassinar autoridades do Supremo Tribunal Federal e do Congresso. Os preços variavam conforme o objetivo: um juiz do mais alto tribunal judicial, 250.000 reais (44.000 dólares), um senador, 150.000; um deputado, 100.000; e um cidadão comum, 50.000. Considerando os preços, considerados baixos, a polícia acredita que as mesas eram uma referência à espionagem. Matar seria consideravelmente mais caro.
Esta planilha específica do Excel inclui até uma linha dedicada a "custos diversos", que inclui a contratação de prostitutas que supostamente eram usadas para armar armadilhas para os alvos. Os investigadores enfatizam que o Comando C4 operava com alto grau de organização, utilizando táticas militares, métodos de infiltração social e tecnologia de vigilância de ponta, como o uso de drones.
Várias fotos das pessoas espionadas foram encontradas nos celulares dos suspeitos, como prova de que o trabalho estava sendo feito. Vários nomes de possíveis vítimas surgiram nas conversas interceptadas: o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes (inimigo número um do bolsonarismo), seu colega Cristiano Zanin (que anteriormente atuou como advogado que tirou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão) e o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco. A polícia acredita que a vigilância esteja ligada a planos de possíveis ataques, embora ainda não tenha relatado nenhuma conspiração iminente de assassinato.
A polícia descobriu esse suposto plano de espionagem e assassinato ao seguir um crime específico: em dezembro de 2023, o advogado Roberto Zampieri, de 56 anos, estava sentado em seu carro em frente ao seu escritório em Cuiabá (no estado do Mato Grosso) quando um homem se aproximou da janela e disparou uma dúzia de tiros. Ele morreu instantaneamente.
Pouco depois, a polícia prendeu o assassino, a mulher que ordenou o crime e o intermediário que facilitou a contratação do assassino. Quem depositou o dinheiro (cerca de US$ 7.000) foi o Coronel Caçadini, que está preso desde janeiro do ano passado. Após o assassinato, a polícia teve acesso ao celular do advogado e encontrou indícios de que ele atuava como intermediário na venda de decisões judiciais no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e no Superior Tribunal de Justiça, a segunda instância máxima do país.
Até agora, Zanin (o juiz responsável pelo caso e um dos que supostamente estão sob vigilância) prendeu cinco dos presos, impôs vigilância eletrônica a outros quatro e impôs outras medidas cautelares, como a apreensão de passaportes.
Apesar de certas semelhanças, este caso não tem relação com a conspiração da Adaga Verde e Amarela, uma conspiração iniciada por oficiais militares de elite da coalizão liderada por Bolsonaro que planejava assassinar vários funcionários do estado, começando por Lula, para impedi-lo de assumir o poder em 2023.
Joan Royo Gual, jornalista, do Rio de Janeiro - RJ para o EL PAÍS, em 29.05.25
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