sábado, 11 de março de 2023

Bolsonaristas acampam na alfândega

Apoiadores de Bolsonaro protestam pela integridade das joias

Ilustração de Débora Gonzales para a coluna de Renato Terra de 9.mar.23 - Débora Gonzales

Nas redes sociais, Carlos Bolsonaro divulgou o áudio de uma conversa com o pai.

- Hello, daddy! Tudo joia?

- Não, meu filho. Tem também uma caneta, um anel, um relógio, um par de abotoaduras e um terço.

- Daddy, o que podemos fazer pra liberar nossa parada?

- Fala pro seu irmão mandar um cabo e um soldado irem lá, porra!

O diálogo foi interpretado pela base bolsonarista como um sinal cifrado de que os verdadeiros patriotas deveriam acampar na frente da alfândega no Aeroporto Internacional de Guarulhos. "Onde já se viu isso? Se o Bolsonaro ganhou um presente foi porque mereceu. O comunismo é assim. Primeiro, o Estado se apropria das nossas joias! E depois? Amanhã podem tomar o seu apartamento! Ou pior: podem tomar a pensão das filhas dos militares", denunciou Lucrécia Maria de Pádua Figueiroa, de 78 anos. Em seguida, Figueiroa jogou um coquetel Molotov no Free Shop.

No embalo, o vendedor Diógenes Petrúcio de Souza, de 72 anos, fez uma defesa enfática do Mito. "Antigamente a gente via dinheiro na cueca ou em malas. Bolsonaro e sua família prometeram fazer diferente. E fizeram. Hoje é tudo em cheque, barras de ouro e agora são essas joias. Viva o novo Brasil!", exclamou, enquanto atirava para cima com um fuzil de ouro.

Sobre um fundo rosa há uma mão com o polegar apontando para baixo e desse polegar estão caindo vários anéis.

Com a repercussão do acampamento, a rede de solidariedade às joias do ex-presidente se ampliou e começou a tomar proporções nacionais. Em Campos de Jordão, bolsonaristas organizaram uma joiaciata. "Vamos andar pela Suíça Brasileira erguendo colares de pérolas, brincos de diamantes, pulseiras Swarovski e braceletes de ouro puro", explicou Verinha Brazil, coordenadora do Movimento dos Sem Bijuteria.

Comovido, Flávio Bolsonaro escreveu no Twitter que o pai já tinha data para voltar ao Brasil, mas depois recuou. "É que a gente se deu conta de que ele teria que passar na alfândega ao desembarcar", explicou.

Em seguida, Eduardo postou um vídeo desmascarando a farsa da alfândega. "Vejam só. Semana passada, voltando de Dubai, passei na alfândega levando uma mochila lotada de pen drives e calendários. Mas ninguém apreendeu nada! Hipócritas!", vituperou.

No final da tarde, a sociedade civil organizada se organizou para organizar uma cerimônia de premiação ao Funcionário Público Desconhecido. "Essa pessoa anônima e heroica que fez o seu dever e reteve as joias. Depois, resistiu bravamente às tentativas de intimidação. No Brasil, isso não é pouca coisa", explicaram os organizadores. O prêmio concedido foi batizado de "Troféu Joinha".

Renato Terra, o autor deste artigo, é roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67. Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, em 09.03.23

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