quinta-feira, 2 de março de 2023

Duas mulheres são estupradas no Brasil por minuto, diz novo levantamento do Ipea

Trabalho é baseado em números do IBGE e do Ministério da Saúde; o maior número de casos acontece entre jovens menores de 18 anos

Protesto de mulheres: Brasil tem 822 mil estupros por ano (Foto: Dida Sampaio/Estadão)

Pelo menos 822 mil mulheres são estupradas por ano no Brasil – o equivalente a duas por minuto. O dado foi divulgado nesta quinta-feira, 2, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ainda assim, o número é considerado conservador, uma vez que uma parte significativa das mulheres não denuncia o crime.

O trabalho foi baseado em dados da Pesquisa Nacional de Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNS/IBGE) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, tendo 2019 como ano de referência. De acordo com os dados do Sinan, a maior quantidade de casos ocorre entre jovens, com o maior número aos 13 anos.

Os agressores, em geral, são os parceiros e ex-parceiros, parentes e amigos ou conhecidos. Os desconhecidos são em menor número.

Um dos principais autores do estudo, Daniel Cerqueira explicou que os números são subestimados porque, em caso de estupro, depende da própria vítima – ou sua família – buscar ajuda no Sistema Único de Saúde (SUS) ou denunciar o agressor à polícia.

“O número de casos notificados difere substancialmente da prevalência real, pois muitas vítimas terminam por não se apresentar a nenhum órgão público para registrar o crime, seja por vergonha, sentimento de culpa ou outros fatores”, afirmou.

Roberta Jansen para O Estado de S. Paulo, Publicado originalmente em 02.03.23

Salários de até R$ 20 mil: Descubra quais são as profissões jurídicas do futuro

Expansão da tecnologia abre espaço para que profissionais do direito encontrem espaço em novos nichos; advogados especializados e consultores de inteligência artificial são exemplos

A sede da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil, no Centro de São Paulo. Foto: Reprodução/Facebook/OAB-SP

O Brasil é o País com a maior proporção de advogados por habitante no mundo. Existem cerca de 1,3 milhão de profissionais inscritos na OAB, o que representa um advogado para cada 164 brasileiros. O inchaço do mercado jurídico associado a automatização de processos internos feitos através da inteligência artificial assusta muita gente, mas a implementação de soluções tecnológicas está criando nichos de atuação e os advogados que estão atentos a isso e se adaptando a essa nova realidade, irão continuar tendo oportunidades no mercado.

“A gente só não pode ser ingênuo. Algumas coisas vão deixar de existir, mas existem dezenas de novas profissões surgindo dentro do direito devido às novas tecnologias”, pontua o advogado e presidente da AB2L Daniel Marques.

Confira a lista que aponta 5 profissões do futuro na carreira jurídica:

Data Protection Officer (DPO)

Popularmente conhecido por sua sigla, o encarregado pelo tratamento de dados pessoais surgiu com a Lei de Proteção de Dados (LGPD) e se tornou uma das profissões mais promissoras na área do direito. O profissional é responsável por fiscalizar e garantir a proteção dos dados coletados pelas empresas. O salário médio gira em torno de R$ 20 mil.

Legal Designer

Na prática, um legal designer aplica princípios de design na construção de peças jurídicas atrativas e simplificadas para clientes ou escritórios. A ideia é tornar a linguagem do direito mais atrativa, utilizando recursos visuais para a comunicação ser feita da forma mais eficiente possível.

Cientista de Dados Jurídicos

Presente em lawtechs, legaltechs e escritórios de advocacia, o profissional une todo seu conhecimento jurídico ao data science para resolver problemas e tornar processos jurídicos mais eficientes. O salário costuma chegar a R$ 18 mil.

Diretor/Consultor de Inteligência Artificial ou Inovação

No escritório de advocacia Machado Meyer, por exemplo, Thais Victoretti é consultoria de Inteligência Artificial e tecnologia jurídica. A advogada tem pós-graduação em Ciência de Dados e atua no desenvolvimento de planos de ação eficazes, media a comunicação entre as áreas de negócios e técnicas e apoia no gerenciamento de projetos de inovação.

Advogado especializado em smartcontract, NFT, Criptomoeda

Essa carreira engloba os profissionais que se especializam em práticas do ambiente digital. A atuação do advogado nesse contexto demanda conhecimento técnico das novas tecnologias e das leis que abordam o comportamento do consumidor na online.

Bruna Klingspiegel para O Estado de S. Paulo, em 02.03.23

Moro tenta se descolar de Bolsonaro e diz que Lula cria condições para crises de corrupção

Ex-juiz da Lava Jato critica loteamento de cargos e afirma não ter voltado ao grupo político do ex-presidente

Sergio Moro em entrevista à Folha em seu gabinete no Senado Federal - (Pedro Ladeira/Folhapress)

Ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) afirmou à Folha que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gera condições para novos casos de corrupção.

"O governo quer relaxar a Lei das Estatais, que foi um avanço de 2016, uma reação àquele loteamento exacerbado que foi constatado na Lava Jato", disse.

Na campanha eleitoral, Moro reatou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) —a quem em 2020 acusou de tentar interferir na Polícia Federal. Agora, o ex-ministro tenta evitar vínculos com o bolsonarismo.

"Não tenho relação próxima. Eu aderi [a ele] ali na campanha, como uma atuação muito pontual. Eu não voltei a fazer parte do grupo político do Bolsonaro", declarou.

O hoje senador assessorou o então candidato a presidente em debates no segundo turno.

Na entrevista, Moro também saiu em defesa do juiz Marcelo Bretas, responsável pela Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, que nesta terça-feira (28) foi afastado do cargo pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Quais são os planos do sr. na política? 

Pretende concorrer ao Governo do Paraná ou à Presidência? 

Isso é muito especulativo. O foco é o mandato do Senado. Tenho uma bandeira histórica que é o combate da corrupção. A corrupção torna o setor público ineficiente e, além disso, acaba enfraquecendo a democracia. Então, é muito além de um sítio, muito além de um tríplex, muito além de desvios da Petrobras. A corrupção é um problema central das democracias modernas e precisa ter vozes no Parlamento que defendam pautas para combatê-la. Por exemplo, a volta da prisão na segunda instância.

O sr. pediu para desarquivar o projeto de prisão em segunda instância. Quando o Senado deve discutir isso? 

Esse projeto foi importante porque já tinha sido aprovado na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] e depois foi arquivado. Em vez de começar do zero, nós preferimos desarquivar. Agora penso que tenho que esperar o melhor momento político e analisar o cenário. Tem graves casos de injustiça, de pessoas que foram condenadas por crimes às vezes até violentos, e que acabam não sendo punidas porque os processos não chegam ao fim.

Qual seria o melhor momento político? Em alguma crise de corrupção no governo, por exemplo? Essas crises de corrupção, pelo jeito, são previsíveis, né? Porque esse governo está fazendo a mesma coisa que fez no passado, que é um loteamento completo de cargos públicos, com aumento da estrutura burocrática. Então, esses casos, infelizmente, e com relaxamento dos controles, devem surgir nos próximos anos. Mas, na verdade, o momento político apropriado é quando nós entendermos que o convencimento dos pares [senadores] foi atingido.

O sr. acredita que casos de corrupção irão surgir neste governo? 

É uma questão de condições. As condições estão presentes ou ausentes? Por exemplo, o governo quer relaxar a Lei das Estatais, que foi um avanço de 2016, uma reação àquele loteamento exacerbado que foi constatado na Lava Jato. Agora o governo está fazendo um movimento contrário, porque quer distribuir cargos das estatais para ganhar apoio político. Muitas vezes isso acaba menosprezando o aspecto técnico. Então você vai gerando as condições para que retornem os casos de corrupção.

Uma estatal que tem denúncias de corrupção, inclusive no governo Bolsonaro, é a Codevasf, que deve continuar sob comando de indicados do seu partido, a União Brasil. Qual sua avaliação sobre a participação da sigla?

Sou contra o loteamento político de cargos públicos. Claro que você tem que ter um núcleo de cargos políticos. Por exemplo, o de ministro. Mas quanto mais perfil técnico, melhor. Quando fui ministro da Justiça, em relação à Polícia Federal e à Polícia Rodoviária Federal, orientei que as indicações de todas as superintendências tinham que ser técnicas.

Agora, o que a gente vê nas notícias é que a demora para nomeação dos superintendentes da Polícia Rodoviária decorre desses acertos políticos. Não sei se é verdade, mas começar a lotear os cargos de superintendentes de órgãos de polícia é um modelo que não dá certo.

O sr. acredita que haverá interferência na PF nesse governo? 

Responder isso seria especulativo.

E no governo Bolsonaro? 

Eu deixei o governo por conta disso.

E depois que o sr. deixou? 

Eu não tive um acompanhamento preciso em relação a isso, mas, quando deixei o governo, eu deixei muito claro as razões da discordância. Eu, na verdade, fiz o apoio ao Bolsonaro no segundo turno [da eleição] por conta da oposição ao Lula. Em nenhum momento eu me retratei daquilo que eu disse.

O sr. se considera bolsonarista? 

Eu não rotulo as pessoas, assim como não me rotulo. Eu fui um candidato no Paraná que não teve apoio nem de Lula nem de Bolsonaro. Eu fui a terceira via no Paraná e tenho minhas bandeiras próprias. Então eu não me defino em relação a Lula nem a Bolsonaro.

O sr. acredita que a terceira via vai se viabilizar nos próximos anos? 

Não sei se terceira via é a melhor expressão, mas eu acho que o Brasil não pode ser simplificado entre dois times: Bolsonaro e Lula. Eu acho que existe um conjunto não só de cidadãos, mas de políticos, que querem ver o país prosperar, mas sem esses rótulos.

Mas qual sua relação hoje com Bolsonaro e com as pessoas do núcleo dele? 

Eu não tenho relação próxima. Eu aderi ali na campanha, como uma atuação muito pontual. Eu não voltei a fazer parte do grupo político do Bolsonaro.

O PL do Paraná tenta cassar seu mandato. Como fica a relação com os aliados do ex-presidente? 

Isso é uma ação temerária, que foi proposta por dois maus perdedores. Nós temos absoluta segurança quanto à correção do que foi feito na nossa campanha eleitoral. Lamento essa iniciativa, mas a relação com a bancada do PL no Senado transcende essa divergência.

Aliados de Bolsonaro defendem que o ex-presidente volte ao Brasil e coordene a oposição. O sr. concorda?

Essa é uma decisão que cabe a ele. Eu faço minha oposição de maneira independente. Nós temos um grupo aqui que está disposto a fazer oposição a esse governo e acredito que esse grupo vai ser crescente.

A União Brasil e o PP negociam uma federação. Se isso acontecer, o sr. continua no partido? Nós temos que esperar os desdobramentos desses fatos. Na União Brasil hoje existe uma boa parcela de parlamentares e filiados que não se sentem representados pelo governo Lula e querem fazer oposição. E essa posição tem sido respeitada pela cúpula do partido.

O que o sr. acha que vai acontecer com a Lava Jato? Há risco de novas derrotas? 

Nós precisamos recriar as condições na legislação para o combate à corrupção. Eu defendo também o fim do foro privilegiado, a autonomia dos órgãos de controle. Sem isso, é muito difícil retomar o combate à corrupção, seja lá em Curitiba ou em qualquer outro lugar.

O CNJ julga nesta terça-feira o juiz Marcelo Bretas [a decisão de afastamento do juiz ocorreu após a entrevista]. Na sua avaliação, há risco de ele ser punido? 

Ele fez um bom trabalho no Rio de Janeiro, desmontou o império de corrupção do [ex-governador] Sérgio Cabral. Por conta disso, são muitos interesses contrariados. Pelo que eu vi, não encontrei nada sólido que justifique o afastamento do juiz. Acho que os fatos têm que ser apurados, mas o afastamento me parece uma medida exagerada.

Há diferenças do caso de Bretas com os contatos que o sr. tinha com procuradores? 

Meus contatos com procuradores não têm nada de ilícito. Nunca teve nada disso. A gente combateu a corrupção. A gente assumiu riscos. A gente colocou pessoas poderosas na cadeia. E a gente quer retomar essa luta. Então tenho muito orgulho do trabalho que foi feito na Operação Lava Jato. Não tenho nada para lamentar ou me arrepender.

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner, afirma que a lavagem cerebral da Lava Jato culminou na resistência das Forças Armadas a Lula. O sr. vê essa relação? 

Não. O que existe é que os militares tradicionalmente têm uma visão negativa em relação à corrupção. E, do outro lado, o que existiu nos governos do PT são vários escândalos de corrupção, como o mensalão e o petrolão, que até hoje ninguém fez um mea-culpa dentro do governo do PT. Ou não houve corrupção no governo do PT? Ou a Petrobras não foi roubada, não foi saqueada? Esses são os pontos que eles têm que se preocupar.

Qual deve ser o encaminhamento em relação aos presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro? 

O ministro Alexandre [de Moraes, do STF] decidiu questões difíceis em situações extremas. Passado aquele momento emergencial, acho que as responsabilidades têm que ser individualizadas. Então, quem invadiu e depredou é uma situação. Quem se manifestava é uma situação completamente diferente. Então é importante que as responsabilidades, sim, sejam apuradas, mas feita a diferenciação devida.

O sr. acha que esses casos devem ser julgados pelo STF ou em primeira instância? 

É uma questão que cabe ao Supremo.

E sobre o envolvimento do ex-presidente Bolsonaro? Qual teria sido a participação dele? 

Não cabe a mim essa avaliação.

O sr. diz que não quer que o combate à corrupção seja sua única bandeira e tem se envolvido com pautas do agronegócio. O sr. se vê como integrante da bancada ruralista? 

O Brasil tem problemas na economia, mas, se tem um setor que tem competitividade, inclusive internacional, é o agronegócio. Nós temos que valorizar essa parcela da nossa economia. Atualmente, a principal preocupação é ligada ao discurso equivocado do governo federal. Os agricultores foram chamados de fascistas pelo presidente. Eu não me sinto representante do agro propriamente dito, mas defenderei os interesses do agro porque coincidem com os interesses do país.

RAIO-X | SERGIO MORO, 50

Hoje filiado à União Brasil, foi juiz na Operação Lava Jato e condenou Lula em 1ª instância no processo que depois levou o agora presidente à prisão. Abriu mão da magistratura para ser ministro da Justiça e Segurança Pública no governo Bolsonaro e deixou a pasta após 16 meses. Moro foi declarado parcial pelo STF em sua atuação nos processos de Lula e teve suas decisões anuladas. Tentou se viabilizar como candidato à Presidência da República na eleição de 2022, mas acabou eleito para o Senado pelo Paraná.

Thiago Resende e Thaísa Oliveira para a Folha de S. Paulo. Publicado originalmente em 01.02.23

Múcio diz a comandantes das Forças que não haverá comemoração sobre data do golpe militar

Defesa afirma que não divulgará mensagem sobre 31 de Março; estratégia de ignorar ditadura é questionada por petistas

O general Tomás Paiva, comandante do Exército, cumprimenta o ministro da Defesa, José Múcio, durante solenidade de passagem do comando do Exército. - Divulgação/ Exército

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou aos comandantes das Forças Armadas que a pasta não divulgará nenhuma ordem do dia em 31 de março sobre a ditadura militar.

Em resposta, os chefes militares indicam que vão manter a sinalização, feita desde janeiro, de que o golpe não será celebrado —rompendo um ciclo de quatro anos consecutivos em que, sob Jair Bolsonaro (PL), o governo comemorou a ditadura em comunicados oficiais.

A decisão, segundo relatos de interlocutores de Múcio, foi natural e repassada em conversas informais entre o ministro e os comandantes Tomás Paiva (Exército), Marcelo Damasceno (Aeronáutica) e Marcos Olsen (Marinha).

Não haverá nenhuma decisão formal sobre o tema, e a estratégia na cúpula da Defesa é não tocar no assunto, considerado sensível e com poder de desgastar a relação com os militares.

O comandante do Exército, Tomás Paiva, comunicou ao Alto Comando da Força em reunião no fim de janeiro que não deveria haver nenhuma nota oficial dos militares sobre a ditadura militar.

Na visão de oficiais-generais ouvidos pela Folha, sob reserva, as manifestações sobre o assunto devem ficar restritas aos círculos de militares da reserva, representados por clubes e associações.

Nos quatro anos de governo Bolsonaro, o Ministério da Defesa publicou ordens do dia em celebração ao golpe militar de 1964. A comemoração foi uma ordem dada pelo ex-presidente.

"Nosso presidente já determinou ao Ministério da Defesa que faça as comemorações devidas com relação ao 31 de março de 1964 incluindo a ordem do dia, patrocinada pelo Ministério da Defesa, que já foi aprovada pelo nosso presidente", disse em 2019 o então porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.

Desde então, os ministros Fernando Azevedo e Braga Netto divulgaram comunicados sobre o dia, que foram lidos nos quartéis e eventos militares marcados para 31 de março.

Azevedo escreveu que "o Movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira. Muito mais pelo que evitou".

E completou: "A sociedade brasileira, os empresários e a imprensa entenderam as ameaças daquele momento, se aliaram e reagiram. As Forças Armadas assumiram a responsabilidade de conter aquela escalada, com todos os desgastes previsíveis".

Braga Netto, depois, foi ainda mais incisivo em sua manifestação. Ele disse que a ditadura militar merece ser "celebrada".

"O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março", finalizou o comunicado.

O Exército chegou a celebrar a ditadura de 1964 em comunicados oficiais, lidos em quartéis, antes do governo Bolsonaro. Nos primeiros mandatos de Lula, o comandante militar escreveu quatro manifestações em comemoração ao aniversário do golpe.

Em 2006, por exemplo, o comandante Francisco Albuquerque emitiu um comunicado para o Exército "orgulhar-se do passado".

"O 31 de Março insere-se, pois na História pátria e é sob o prisma dos valores imutáveis de nossa Força e da dinâmica conjuntural que o entendemos. É memória, significado à época pelo incontestável apoio popular, e une-se, vigorosamente, aos demais acontecimentos vividos, para alicerçar, em cada brasileiro, a convicção perene de que preservar a democracia é dever nacional."

À época, o ministro da Defesa Waldir Pires disse que respeitava a posição do comandante do Exército. "Não tenho nada a contestar à posição de quem interprete dessa forma [a exaltação ao golpe militar]. Tenho que respeitar a posição de cada um", afirmou.

O Exército deixou de divulgar comunicados oficiais em comemoração ao golpe militar em 2007. Nos últimos 16 anos, as únicas citações oficiais foram feitas pelo Ministério da Defesa.

Logo após assumir a Presidência, em 2011, Dilma Rousseff (PT) determinou que as Forças Armadas não citassem a ditadura militar nas ordens do dia. Naquele ano, o Exército chegou a vetar uma palestra do general Augusto Heleno que seria realizada em comemoração ao golpe de 1964.

Neste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou para Múcio a definição sobre o que seria feito. O ministro disse a interlocutores que não pretende falar sobre o assunto publicamente e tenta evitar entrevistas, para não dar abertura para novas crises com os militares diante de muitos assuntos sensíveis.

Segundo relatos, Múcio tem se queixado das consecutivas notícias negativas e princípios de crises na caserna, como a situação do tenente-coronel Mauro Cid, a demissão do general Júlio César de Arruda, o vazamento do áudio do comandante Tomás Paiva e a investigação sobre a participação de militares nos atos golpistas de 8 de janeiro.

Apesar do tom conciliador de Múcio, alas do PT têm aconselhado integrantes do governo para que o Ministério da Defesa seja ainda mais incisivo em 31 de março e divulgue um comunicado oficial em repúdio à ditadura militar.

O ministro, porém, tem se mostrado contrário à possibilidade e afirma a auxiliares que somente ignorar a data será suficiente para evitar crises.

A ditadura militar no Brasil teve uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimento.

Os números da repressão são pouco precisos, uma vez que a ditadura nunca reconheceu esses episódios. Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontaram para 20 mil casos.

Presos relataram terem sido pendurados em paus de arara, submetidos a choques elétricos, estrangulamento, tentativas de afogamento, golpes com palmatória, socos, pontapés e outras agressões. Em alguns casos, a sessão de tortura levava à morte.

Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade listou 191 mortos e o desaparecimento de 210 pessoas. Outros 33 desaparecidos tiveram seus corpos localizados posteriormente, num total de 434 pessoas.

Publicado originalmente pela Folha de S. Paulo, em 01.03.23

Ucrânia diz ter destruído 130 tanques e blindados russos em Vuhledar

 A batalha por Vuhledar, no sul da Ucrânia, estará a revelar-se desastrosa para a Rússia. 

Soldado ucraniano dentro de veículo blindado, na região de Vuhledar   -  (Crédito da foto:  Evgeniy Maloletka/Copyright 2020 The AP.)

O Exército ucraniano diz ter destruído pelo menos 130 tanques e veículos blindados russos em três semanas de combates e difundiu imagens capturadas por drone que diz mostrarem um tanque russo visado na semana passada na região.

As informações não foram ainda verificadas de forma independente, mas o que é certo é que os bombardeamentos russos deixaram um rasto de destruição em Vuhledar.

Ucranianos poderão retirar de Bakhmut

Mais a norte, a cidade de Bakhmut continua a servir de exemplo à determinação ucraniana face ao invasor russo, mas Kiev admite agora a hipótese de uma retirada estratégica, com um conselheiro do presidente Volodymyr Zelenskyy a frisar que não estão dispostos a "sacrificar [aí] todos os [seus] homens".

Zelenskyy diz que "inverno terminou"

A Ucrânia diz ter vencido o "terror invernal" e Zelenskyy afirmou, no discurso quotidiano, que, apesar de ter sido "muito difícil", o inverno mais rigoroso "terminou" e que Kiev foi capaz de "fornecer energia e aquecimento" aos ucranianos.

Mas, a 10 quilómetros de Bakhmut, na cidade de Chasiv Yar, o dia a dia continua pautado pelas dificuldades da vida num teatro de guerra. Sem aquecimento, os residentes tentam reparar o que foi destruído.

Publicado originalmente por Euronews, em 02.03.23 

quarta-feira, 1 de março de 2023

Uma nação nasce, um império morre

É no coração dos russos que a destruição avança sem remédio, uma agonia sem outro termo senão o distante momento em que é liberdade e não submissão ao autocrata que habita o lugar onde pulsa o amor à pátria russa.

Vladimir Putin, durante um show no estádio Luzhniki em Moscou. (MAKSIM BLINOV (AFP)

Mais Ucrânia e menos Rússia. Este é o simples balanço de um ano de destruição, sangue e morte em abundância, o preço insuportável do tipo de catástrofe que os seres humanos perpetram regularmente, trancados na história para sempre com a ajuda da parteira sinistra, a guerra.

Hoje a nação ucraniana é mais forte. No coração dos cidadãos, a vontade dos seus jovens de morrer por ela e a admiração que merece e desperta na Europa e no mundo. E, sobretudo, no seu compromisso com a liberdade, a democracia, o Estado de direito e os direitos humanos, tudo o que caracteriza a sociedade europeia a que se quer associar, face à oferta que vem de Moscovo juntamente com as bombas para conformar-se com a autocracia.

Muito mais fraca é a sua economia, é verdade. Sua população diminuiu, refugiando-se em países vizinhos e dizimada por bombardeios e combates. A dor e os danos do parto são terríveis. Com sua infraestrutura destruída, numerosos hospitais, escolas e teatros destruídos, o estoque habitacional reduzido, este é o campo de escombros que Putin oferece. O efeito sobre a Rússia é revertido, preservado e intacto graças à assimetria de sua agressão abusiva sob o guarda-chuva nuclear. Mesmo as duras sanções não atrapalham a vida do gigante vitimado, ainda que prejudiquem seus abastecimentos, incomodem seus oligarcas e transformem seus diplomatas e políticos em pestes no Ocidente coletivo que designam como inimigo, depois de tê-lo escolhido por 30 anos como o paraíso dos seus investimentos, das suas férias,

É no coração dos russos que a destruição avança sem remédio, uma agonia sem outro termo senão o distante momento em que é liberdade e não submissão ao autocrata que habita o lugar onde pulsa o amor à pátria russa. Quando os russos, como os ucranianos, são cidadãos de mais uma nação européia e não servidores de um império avassalador disposto a impor sua ordem pela única lei da força.

Teve seu maior revés há 30 anos, quando o anterior avatar soviético ruiu, mas agora, querendo sobreviver e recuperar o império, perdeu definitivamente a Ucrânia, peça geopolítica central de seu domínio. Ele perdeu tantas coisas que parece não se importar com mais uma: seu exército falido, seus jovens exilados, suas prisões cheias de dissidentes, até mesmo seus aliados da Ásia Central incomodados por tanta brutalidade... e sua alma. Junto com o declínio do império, seus adversários, a Europa e a OTAN, crescem. Também à custa de aumentar o perigo. É justamente aí que pode surgir a salvação de quem sabe enfrentá-la e a condenação de quem a promove. Resta cruzar o difícil lintel, o fim do império, interromper o trabalho e a agonia para que a paz, a paz justa e verdadeira, chegue quanto antes.

Luís Bassets, o autor deste artigo, escreve colunas e análises sobre política, especialmente política internacional, para o EL PAÍS. Ele escreveu, entre outros, 'O ano da Revolução' (Taurus), sobre as revoltas árabes, 'A grande vergonha. Ascensão e queda do mito de Jordi Pujol' (Península) e um diário pandêmico e confinado com o título de 'Les ciutats interiors';Publicado originalmente em 23.02.23

A Ucrânia enfrenta o desafio de uma luta de artilharia com a Rússia com uma desvantagem de 1 a 10

Kiev exige urgentemente mais munição de seus aliados enquanto a UE estuda fórmulas para acelerar as entregas. Moscou salva projéteis, mas lança grupos de assalto para forçar as forças ucranianas a atirar

Soldados ucranianos disparam contra posições russas com um obus fornecido pelos EUA na região de Kherson em 9 de janeiro. (Libkos  AP)

A guerra da Rússia na Ucrânia é hoje uma batalha feroz dominada por combates de artilharia . E o exército de Kiev enfrenta essa luta na proporção de uma peça para 10 das tropas do Kremlin. A Ucrânia precisa de munição e precisa urgentemente, adverte o governo de Volodimir Zelensky.

Na implacável frente de Luhansk, em uma das posições avançadas do exército ucraniano ao redor da cidade ocupada de Kremina, um flanco onde a luta é particularmente intensa, uma brigada se esforça para ajustar o canhão TRF1 instalado em meio a valas e trincheiras lamacentas. Eles receberam o obus francês de 155 mm há alguns meses e está sendo fundamental para repelir as forças russas. Mas como a invasão lançada pelo presidente Vladimir Putin entrou em seu segundo ano, Kiev precisa de suprimentos. “Precisamos de mais, precisamos de toda a munição que eles possam nos fornecer. E precisamos agora”, diz o comandante Sergei, ancorado próximo ao cânion, na lama.

Chove, o céu está nublado e pesado. Não é o clima ideal para os drones de reconhecimento comandados pelas forças do Kremlin; nem para aviões-bomba. Ao fundo, ao longe, algumas explosões soltas podem ser ouvidas nas colinas de Donbass.. A Rússia dispara em média entre 40.000 e 50.000 projéteis por dia, contra entre 5.000 e 6.000 lançados pela Ucrânia, segundo dados tratados pela Comissão Europeia e aos quais o EL PAÍS teve acesso. Trata-se de um número muito semelhante ao de que dispõe o governo da Estónia, um dos países que mais tem contribuído para o esforço de guerra de Kiev, que coloca a utilização média de artilharia entre 20.000 e 60.000 tiros russos por dia e entre 2.000 e 7.000 da Ucrânia, segundo um documento de Tallinn enviado aos Estados-Membros, a que este jornal teve acesso. Esses números equivalem a entre 600.000 e 1,8 milhão de lançamentos russos por mês e entre 60.000 e 210.000 das forças de Kiev.

Bakhmut, o foco mais quente da guerra

A situação é difícil em Donbass , onde a batalha de artilharia é muito intensa. A guerra em grande escala se arraigou nesta região mineira, que já vivia oito anos de conflito entre o exército de Kiev e os separatistas pró-Rússia, atrás dos quais o Kremlin se protegeu. A batalha por Bakhmut, o foco mais quente da guerra, está se tornando "cada vez mais difícil", reconheceu o presidente Zelensky. As forças de Putin avançaram e já controlam partes da cidade da província de Donetsk, que tinha uma população de 70.000 habitantes antes da invasão e onde combates de rua já estão acontecendo.

Além de ferozes ataques de artilharia , o Kremlin enviou grupos de infantaria e brigadas de mercenários de Wagner para tentar cercar Bakhmut e embolsar as tropas ucranianas. Algumas brigadas do exército de Kiev se retiraram e estão defendendo a cidade por trás da linha, segundo diferentes unidades, que já localizaram suas posições a vários quilômetros da cidade sitiada, de onde vêm os sons de fogo de artilharia. Com um olhar intenso, alguns militares garantem que as linhas logísticas estão cada vez mais difíceis e que as munições dentro de Bajmut não são de todo supérfluas.

Soldado ucraniano, ao lado de um canhão francês Howitzer TRFI. ((Foto de María R. Sahuquillo)

“O inimigo está constantemente destruindo tudo o que pode ser usado para proteger nossas posições, para ganhar posição e garantir a defesa”, disse Zelensky em seu discurso noturno. No que é conhecido como a “cidade fortaleza”, hoje uma cidade arrasada, arrasada em muitas partes, as baixas são imensas entre o exército russo e também entre as forças de Kiev. A Ucrânia prepara contra-ofensivas no flanco oriental, onde a Rússia tenta romper as suas linhas, e também no sul com a chegada da primavera, que no país oriental começa oficialmente esta quarta-feira. Para isso, ele espera não apenas melhores condições climáticas, mas também novos carregamentos de munição e armas ocidentais. "Os próximos três meses na frente serão muito ativos e decidirão o curso dos acontecimentos", disse.Voice of America , no qual ele pediu mais ajuda militar.

A inteligência militar dos EUA garante que a Rússia tem problemas de abastecimento de munição e seus estrategistas afirmam que ela está em modo econômico. De fato, reduziu seus números de disparos de artilharia nos últimos dois meses, segundo vários relatórios. Também passou a priorizar alguns focos, como Bakhmut, o eixo dos bastiões de Kremina e Svetove, onde está localizada a brigada de canhões francesa, e outros pontos na linha de frente do Donbass. Embora para reabastecer, Moscou tem uma importante indústria de produção própria e aliados como Irã e Coréia do Norte fornecem suprimentos. Washington até acredita que a China poderá em breve entrar nessa equação.

Em uma cabana usada como trincheira ao lado das florestas de Kremina, com suas árvores cinzas afiadas, o sargento Yuri explica que a Rússia está usando cada vez mais a técnica de Bakhmut: usando grandes grupos de infantaria e ondas de assalto para procurar pontos fracos nas linhas de defesa ucranianas, mas também para forçar o exército de Kiev a gastar munição. "Nós os vemos com nossos drones de reconhecimento, eles mandam uma brigada de artilharia, nós atiramos neles e eles imediatamente mandam outro, e depois outro", disse o sargento Yuri, um dos soldados da brigada que viajou duas semanas para a França para treinar no novo uso do obusTRF1. "Eles lutam independentemente das perdas que têm", acrescenta o comandante Sergei. “Trabalhamos intensamente, os recursos que a França ou outros países europeus usariam em anos, usamos em poucos meses”, diz.

Necessidade Urgente

A UE e seus aliados da OTAN estão agora procurando maneiras de fornecer mais munição à Ucrânia. O problema, o desafio, é a velocidade. Kiev precisa receber remessas agora, em duas ou três semanas, insiste uma fonte sênior da comunidade. O Alto Representante para a Política Externa e Defesa, Josep Borrell, apelou aos Estados-Membros para que se comprometam mais e agilizem a entrega de material dos seus próprios arsenais. Numa carta enviada há dias aos Vinte e Sete, o chefe da diplomacia comunitária alertou que Kiev precisa "urgentemente" de munições de artilharia e está a estudar um novo esquema de financiamento melhorado e mais atractivo para repor o que os Estados-Membros entregam à Ucrânia. É a melhor fórmula a curto prazo, diz.

Soldado, no abrigo de um posto avançado na frente do Kremina. (Foto de María R. Sahuquillo)

Um bom número de países já entregou material importante à Ucrânia, inclusive munições. Alguns países estão relutantes em entregar munição para a Ucrânia para não ver suas próprias reservas esgotadas ainda mais, dizem fontes da comunidade. A OTAN, que tem instado os aliados a entregarem mais material e mais rápido —nos últimos meses, enfatizando as munições—, observou que os países terão que aceitar reservas menores e que, por enquanto, e com racionalidade, podem ser esquecidos dos padrões da Aliança Atlântica em seus arsenais, apontam fontes aliadas.

Além disso, a União estuda um esquema de compra conjunta direta para enviar material à Ucrânia por meio da Agência Europeia de Defesa, utilizando, por exemplo, o Fundo Europeu de Paz. A Estónia lançou uma proposta semelhante de compras conjuntas aos sócios utilizando o mesmo fundo de compras para a Ucrânia, mas com a ideia de que os Estados-Membros contribuam com mais 4.000 milhões de euros. A médio e longo prazo será preciso mais dinheiro, reconhece fonte da comunidade.

Mas mesmo que haja a intenção de comprar e enviar para Kiev, os números da produção de uma indústria -especialmente da UE- que mudou de foco após a Guerra Fria, não são grandes. E a Rússia dispara em um único dia na Ucrânia A taxa de produção mensal de artilharia da Europa, que fica entre 20.000 e 25.000 projéteis por mês, segundo dados do documento de análise da Estônia, que indica que haveria potencial para aumentar a produção em sete vezes. Assim, a Agência Europeia de Defesa analisa com a indústria quais mecanismos e incentivos podem ser colocados na mesa para expandi-la. Encomendas conjuntas e com horizonte planejado seria um incentivo. Além disso, os EUA, a UE e os países da OTAN buscam aumentar a cooperação entre seus fabricantes de armas para ganhar velocidade e eficiência.

María R. Sahuquillo, enviada especial, da Frente do Kremina, para o EL PAÍS, em 01.03.23

Papa ordena que cardeais passem a pagar aluguel no Vaticano

Até agora, para viver em apartamentos da Igreja Católica eles deviam pagar apenas despesas como água e luz. Nova regra estipula que sejam cobrados os mesmos valores aplicados a pessoas de fora da Santa Sé.

Cardeais e outras autoridades da Igreja Católica não poderão mais morar no Vaticano sem pagar aluguel, segundo uma nova decisão do papa Francisco. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (01/03) por Maximino Caballero Ledo, que chefia o Ministério das Finanças do Vaticano.

Segundo ele, devido ao atual contexto econômico, o pontífice ordenou a revogação das normas que permitiam a utilização gratuita ou em "condições de favor" ​​dos imóveis pertencentes às instituições e organismos ligados à Santa Sé.

O documento assinado pelo papa, chamado de "rescrito", justifica que a medida foi tomada "para fazer frente aos crescentes compromissos que o cumprimento do serviço à Igreja universal e aos mais necessitados exige em um contexto econômico como o atual, que é particularmente grave".

Por essa razão, afirma o documento, é preciso "que todos façam um sacrifício extraordinário para destinar maiores recursos à missão da Santa Sé, também incrementando as receitas da gestão do patrimônio imobiliário".

A disposição diz respeito a cardeais, chefes de dicastérios, presidentes, secretários, subsecretários, dirigentes e equivalentes, incluindo os auditores e equivalentes, do Tribunal da Rota Romana.

Até agora, os cardeais que viviam em Roma e no Vaticano precisavam pagar somente taxas de serviços como água e luz. Bispos e outros administradores do Vaticano tinha seus aluguéis subsidiados.

A partir de agora, as instituições proprietárias dos imóveis deverão cobrar valores normalmente aplicados a pessoas que não têm cargos na Santa Sé ou no Vaticano. Também as Domus deverão aplicar as tarifas, incluindo o alojamento na Domus Santa Marta, prédio no Vaticano onde vive o papa e que muitos prelados, mas também visitantes, por vezes usam como hotel sem pagar.

O documento diz que os contratos atuais continuarão como estão até o término. Depois, serão aplicadas as novas regras. O papa também estabeleceu que qualquer alteração ao regulamento deverá ser autorizada diretamente por ele.

Aperto de cinto no Vaticano

Não é a primeira vez que o Vaticano aperta os cintos para economizar. Dois anos atrás, Francisco ordenou aos cardeais que fizessem um corte salarial de 10% e reduziu os salários de outros clérigos que trabalham no Vaticano para salvar empregos de funcionários. Na época, a decisão foi parcialmente motivada pelo impacto do coronavírus nas receitas da Santa Sé.

Desde que assumiu o papado, Francisco fez várias mudanças para reestruturar as finanças do Vaticano e torná-las mais transparentes. Ele também foi forçado a agir após um cardeal e outras nove pessoas serem pegos em um escândalo imobiliário em Londres.

Os ativos imobiliários da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA) consistem em 4.051 propriedades na Itália e cerca de 1.120 no exterior, sem incluir as suas embaixadas.

Na Itália, o Vaticano é dono de aproximadamente 1,6 milhão de metros quadrados construídos. Apenas 15% são destinados para o mercado livre, 30% têm rendas subsidiadas para funcionários, aposentados e outras formas de auxílio e os 55% restantes são para fins institucionais ou em regime de empréstimo gratuito, como para escolas ou universidades.

Publicado originalmente por Deutsche Welle Brasil, em 01.03.23

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Zelensky: "Espero ver Putin no tribunal de Haia"

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou que os crimes cometidos pela Rússia na Ucrânia "não podem ficar impunes".

"Espero ver [Vladímir] Putin em tribunal em Haia. Tantas mortes não podem ficar impunes", afirmou durante a conferência de imprensa em que o presidente ucraniano faz o balanço da guerra no dia do aniversário do conflito. "[Putin] é o líder da Rússia e ele tem que responder. O que ele fez não pode ser perdoado. Esse número de pessoas mortas é uma tragédia e devemos responder", afirmou Zelensky.

Ucrânia e Polônia realizam a entrega dos primeiros tanques Leopard


Na foto distribuída pelo governo ucraniano, Denís Shmihal (esquerda) e Mateusz Morawiecki, na entrega dos tanques Leopard à Ucrânia. 

O primeiro-ministro ucraniano, Denís Shmihal, e o seu homólogo polaco, Mateusz Morawiecki, protagonizaram esta sexta-feira a entrega dos primeiros quatro tanques Leopard de fabrico alemão ao exército ucraniano. 

"Um ano atrás, os tanques entraram na Ucrânia para privá-la de sua liberdade", escreveu Shmihal em sua conta no Telegram. "Hoje os tanques entraram na Ucrânia, mas para proteger sua liberdade." 

Shmihal indicou que as tripulações dos tanques "têm experiência de combate" e foram treinadas para seu uso. "Continuamos a expandir a coalizão de tanques para devolver a liberdade a todos os territórios ucranianos." 

Publicado originalmente por EL PAÍS, em 24.02.23

A Ucrânia se dedica a homenagear seus mortos e reivindicar sua resistência no aniversário da guerra

“O mundo não se esquece de nós. Se nossos aliados fizerem seu trabalho, a vitória é inevitável", diz Zelenski.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na cerimônia oficial do primeiro aniversário da invasão russa da Ucrânia em Kiev na sexta-feira. (Foto: DPA VIA EUROPA PRESS )

A Ucrânia prestou homenagem aos mortos no primeiro aniversário da grande invasão russa do país, que começou em 24 de fevereiro de 2022. Enquanto a guerra não terminar e essa possibilidade não estiver à vista, esta data é marcada não oficialmente como o novo dia dos mortos A morte é um drama diário que ocupa um lugar preferencial na vida de um país em guerra. De norte a sul e de leste a oeste, as homenagens se espalharam nesta sexta-feira em forma de flores, orações, cantos e lágrimas. Enquanto isso, as autoridades de Kiev e Moscou oferecem números de suas baixas que não são reais.

Na guerra, as figuras também são armas nas mãos de cada lado, que as utiliza para promover sua causa. Em meio a essa incerteza sobre o impacto humano real, fontes de inteligência ocidentais estimam as mortes em cerca de 25.000 a 30.000 no lado ucraniano e cerca de 100.000 no lado russo. Outras fontes aumentam o número de vítimas ucranianas.

O presidente Volodímir Zelenski, que se tornou uma figura influente na política mundial ao liderar a resistência de seu país, recebeu o primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, em Kiev para coincidir com o aniversário. O presidente do país vizinho viajou acompanhado da primeira entrega de tanques Leopard 2, de fabricação alemã, que a Ucrânia reclama há meses e que também receberá da Espanha. Zelensky, embora não pare de pedir mais e mais armas, apreciou a ajuda recebida de seus aliados ao longo desses meses, pois esse apoio é o que lhes permitiu impedir a tentativa do presidente russo Vladimir Putin de assumir o controle do país. e estabelecer um governo fantoche. “O mundo não está esquecendo a Ucrânia. Isso nos permite ficar fortes, invencíveis”, agradeceu. "Se todos os nossos aliados fizerem seu trabalho, a vitória será inevitável."

Fotos de oito dos mortos nas mãos dos russos em Bucha se destacam acima de um arranjo de flores vermelhas em uma das paredes externas do que se tornou o quartel-general do exército do Kremlin nesta cidade nos arredores de Kiev. Natalia Verbova, 50, acaricia a primeira dessas imagens. É a de Andrii Verbovii, seu marido. A acompanhá-lo, entre duas bandeiras nacionais, estão Vitalii Karpenko, Denis Rudenko, Sviatoslav Turkovskii, Anatolii Prikhidko, Andrii Dvornikov, Andrii Matviichuk, Valerii Kotenko. Este último é quem os acolheu em sua casa nas primeiras horas de ocupação de Bucha, quando, segundo os familiares souberam da polícia, um jovem os traiu.

O grupo foi capturado em 4 de março, de acordo com imagens de câmeras de rua obtidas pelo The New York Times.. Eles foram assassinados no mesmo dia, segundo as investigações, embora a princípio se pensasse que fosse 5 de março, data da morte que aparece em todas as fotos. Os corpos, alguns algemados segundo fotos da agência Associated Press, permaneceram no mesmo local até um mês depois, quando as tropas invasoras tiveram que se retirar, deixando atrás de si um rastro de morte e brutalidade. É ali mesmo que os familiares ergueram a oferenda floral e onde esta sexta-feira foram lembrados num acto simples mas emocionante. Alguns deles mostram na tela do celular fotos dos corpos espalhados no mesmo local em que agora estão com os pés.

400 vítimas civis em um mês de ocupação

Mais de 400 civis perderam a vida em Bucha durante um mês de ocupação e pesadelo. Alguns foram, segundo as primeiras indicações, torturados e assassinados a sangue frio. A rua Yablunska, em cujo número 144 está o prédio tomado como centro de comando pelos russos, foi encontrada repleta de cadáveres quando eles fugiram depois de fracassar em sua tentativa de tomar Kiev. “É muito difícil supor o que aconteceu. Os corpos tinham vestígios de tortura. Também é um pesadelo saber que eles ficaram aqui por um mês. Procurávamos por eles com a esperança de que estivessem vivos”, lamenta Natália.

Ao lado dela, Oleksander, 68 anos e pai de Sviatoslav Turkovskii, outro dos oito assassinados. “No dia 23 de fevereiro meu filho completou 35 anos e no dia 24 começou a invasão. Nesse dia ele me ligou e disse que havia sido dispensado do trabalho para ingressar na defesa territorial. O último contato que tive com ele foi no dia 4 de março, quando ele me mandou uma mensagem no celular dizendo que eles estavam escondidos na casa de Valerii Kotenko. Ele me disse para não ligar para ele, que não podíamos nos ver”, lembra o pai.

No cemitério local, um padre rezou uma resposta enquanto várias famílias de soldados mortos em combate compareceram com flores que posteriormente foram colocadas em seus túmulos. Ao fundo, alguns choros e o som do vento gelado, que faz esvoaçar as bandeiras e os plásticos que envolvem alguns buquês. Depois de cantar o hino nacional, cada um vai ao túmulo de seu ente querido.

Anastasiya, 27, não tira os olhos da foto do marido, Yurii, que morreu aos 28 anos em agosto passado em Marinka (região de Donetsk, leste da Ucrânia). Acompanhada dos sogros, a jovem conta que tem um filho, Iván, que completou 10 anos na véspera e que não para de relembrar os melhores momentos que passou com o pai. “Hoje é um dia muito doloroso. Em 24 de fevereiro do ano passado, nossas vidas se partiram em duas. E quebrou pela segunda vez com a morte do meu marido”, diz Anastasiya. “Não posso sentir mais dor, mas também sinto pena do resto das vítimas”, acrescenta.

Em Kiev, vários homens vestidos de soldados e vários grupos de mulheres depositam flores na parede que lembra aqueles que morreram desde o início da guerra em 2014 no leste da Ucrânia. Seus rostos, milhares, somam-se à parede que ladeia o mosteiro de San Miguel de las Cúpulas Doradas. Olha, de 40 anos, vai para lá com um buquê nas cores da bandeira nacional, azul e amarelo. Um dos retratos é de seu marido, Ivan, que morreu perto de Bakhmut (região de Donetsk) há quatro meses. “Muitos de nosso povo, nossos soldados e nossas crianças estão morrendo. Esperamos a vitória todos os dias. Pode ser amanhã, hoje…”.

Luis de Vega, o autor deste artigo, é o enviado especial do EL PAÍS ao front da resistência da Ucrânia à invasão da Russia ordenada por Vladimir Putin. Publicado originalmente em 24.03.24

Guerra na Ucrânia: por que planos de Putin falharam e o que a Rússia quer agora

Após uma série de retiradas humilhantes, seu plano inicial de invasão claramente fracassou — mas a Rússia não vê a guerra como perdida.


Quando o presidente russo, Vladimir Putin, enviou cerca de 200 mil soldados para a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, ele presumiu erroneamente que poderia invadir a capital, Kiev, em questão de dias e depor o governo.

Qual era o objetivo inicial de Putin?

Até hoje, o líder russo descreve a maior invasão europeia desde o fim da Segunda Guerra Mundial como uma "operação militar especial". E não como uma guerra em larga escala que bombardeou civis em toda a Ucrânia, levando mais de 13 milhões a cruzar a fronteira como refugiados ou a se deslocar dentro do próprio país.

Seu objetivo declarado em 24 de fevereiro de 2022 era "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia — e não ocupá-la pela força —, dias depois de reconhecer a independência de duas regiões separatistas no leste da Ucrânia, ocupadas por forças rebeldes apoiadas pela Rússia desde 2014.

Ele prometeu proteger a população de oito anos de intimidação e genocídio ucranianos — uma alegação da propaganda russa sem qualquer fundamento na realidade. Ele falou em impedir o avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) por meio da Ucrânia, e depois acrescentou o objetivo de garantir o status neutro da Ucrânia.

Putin nunca disse isso com todas as letras, mas no topo da sua agenda estava derrubar o governo do presidente eleito da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

"O inimigo me designou como alvo número um; minha família é o alvo número dois", declarou Zelensky. As tropas russas fizeram duas tentativas de invadir o complexo presidencial, segundo o assessor dele.

As alegações russas de nazistas ucranianos cometendo genocídio nunca fizeram sentido, mas a agência de notícias estatal russa Ria Novosti explicou que "a desnazificação é também inevitavelmente a desucranização" — que, na prática, seria apagar o Estado moderno da Ucrânia.

Durante anos, o presidente russo negou à Ucrânia sua soberania, escrevendo em um longo artigo de 2021 que "russos e ucranianos eram um só povo", o que remontaria ao fim do século 9.

Como Putin mudou seus objetivos de guerra

Um mês após a invasão, suas metas de campanha foram drasticamente reduzidas depois que suas tropas bateram em retirada de Kiev e Chernihiv. O objetivo principal se tornou então a "libertação de Donbas" — que se refere amplamente a Luhansk e Donetsk, duas regiões industriais no leste da Ucrânia.

Forçada a se retirar também de Kharkiv, no nordeste, e de Kherson, no sul do país, a Rússia manteve seus objetivos inalterados, mas tem mostrado pouco sucesso em alcançá-los.

Esses reveses no campo de batalha levaram o líder russo a anexar quatro províncias ucranianas em setembro passado, sem ter controle total sob nenhuma delas: nem sob Luhansk ou Donetsk, no leste, nem sob Kherson ou Zaporizhzhia, ao sul.

Putin anunciou a primeira convocação militar da Rússia desde a Segunda Guerra Mundial, embora parcial e limitada a cerca de 300 mil reservistas.

Uma guerra de atrito está ocorrendo agora ao longo de uma linha de frente ativa de 850 km — e as vitórias russas são pequenas e raras. O que era para ser uma operação rápida, se tornou uma guerra prolongada que os líderes do Ocidente estabeleceram que a Ucrânia deve vencer. Qualquer perspectiva realista de neutralidade para a Ucrânia já não existe mais.

Putin alertou em dezembro que a guerra "poderia ser um processo demorado", mas depois acrescentou que o objetivo da Rússia era "não girar o volante do conflito militar", mas acabar com ele.

O que ele alcançou?

O maior sucesso que Putin pode reivindicar é estabelecer uma ponte terrestre ligando a fronteira da Rússia com a Crimeia, anexada ilegalmente em 2014, de modo a não depender mais da ponte sobre o Estreito de Kerch.

Ele falou da captura deste território, que inclui as cidades de Mariupol e Melitopol, como um "resultado significativo para a Rússia". O Mar de Azov, dentro do Estreito de Kerch, "se tornou o mar interno da Rússia", ele declarou, lembrando que nem mesmo o czar russo Pedro, o Grande, conseguiu isso.

Ele fracassou?

Além de tomar um corredor territorial para a Crimeia, a guerra foi um desastre para a Rússia em si e para o país em que foi desencadeada. Até agora, conseguiu pouco mais do que expor a brutalidade e a inadequação das forças armadas russas.

Enquanto cidades como Mariupol foram arrasadas, vieram à tona detalhes de crimes de guerra cometidos contra civis em Bucha, perto de Kiev. As denúncias levaram a um relatório independente que acusa a própria Rússia de incitação ao genocídio orquestrada pelo Estado.

Mas são os fracassos militares que expõem a fragilidade Rússia:

- A retirada de 30 mil soldados russos de Kherson pelo Rio Dnipro, em novembro, foi uma falha estratégica;

- Um comboio blindado de 56 km que parou de avançar perto de Kiev, no início da guerra, foi uma falha logística;

- As mortes de um grande número de soldados recém-convocados em um ataque de mísseis ucraniano no ano novo, em Makiivka, foram uma falha de inteligência;

- O naufrágio do Moskva, principal cruzador russo do Mar Negro, foi uma falha defensiva, assim como o ataque espetacular em outubro de 2022 que fechou a ponte do Estreito de Kerch por semanas.

As advertências feitas pela Rússia ao Ocidente contra armar a Ucrânia foram ignoradas, com garantias de apoio do Ocidente "pelo tempo que for necessário".

A artilharia da Ucrânia foi reforçada por mísseis Himars, fabricados nos EUA, e a promessa de tanques alemães Leopard 2.

Mas a guerra não acabou. A luta por Donbas continua. A Rússia capturou a cidade de Soledar neste ano e espera tomar a cidade de Bakhmut, ao leste, na rota para cidades-chave a oeste, além de recapturar o território que perdeu no outono passado.

Especialistas acreditam que Putin vai tentar ampliar o controle das quatro regiões que declarou fazerem parte da Rússia, não apenas em Donbas, mas em direção à cidade-chave de Zaporizhzhia.

Se for necessário, o presidente russo pode estender a mobilização militar e prolongar a guerra. A Rússia é uma potência nuclear, e ele indicou que estaria disposto, se necessário, a usar armas nucleares para proteger a Rússia e manter as terras ucranianas ocupadas.

"Certamente faremos uso de todos os sistemas de armas disponíveis. Não é um blefe", alertou.

Kiev acredita que a Rússia também está tentando depor o governo pró-europeu na Moldávia, onde as tropas russas estão baseadas na região separatista da Transnístria, na fronteira com a Ucrânia.

Putin foi prejudicado?

Aos 70 anos, Putin tentou se distanciar dos fracassos militares, mas sua autoridade, pelo menos fora da Rússia, foi minada — e ele faz poucas viagens além das fronteiras do país.

Internamente, a economia da Rússia aparentemente resistiu a uma série de sanções ocidentais, embora o déficit orçamentário tenha disparado e as receitas de petróleo e gás tenham caído drasticamente.

Qualquer tentativa de avaliar sua popularidade esbarra em dificuldades.

A dissidência na Rússia é altamente arriscada, com penas de prisão aplicadas a qualquer um que espalhe "notícias falsas" sobre os militares russos. Aqueles que se opõem ao governo da Rússia fugiram ou foram colocados atrás das grades, como aconteceu com a principal figura da oposição, Alexei Navalny.

Mudança da Ucrânia para o Ocidente

As sementes desta guerra foram plantadas em 2013, quando Moscou convenceu o então líder pró-Rússia da Ucrânia a cancelar um pacto planejado com a União Europeia, provocando protestos que acabaram por derrubá-lo e levaram a Rússia a tomar a Crimeia e preparar a apropriação de terras no leste.

Quatro meses após a invasão da Rússia em 2022, a União Europeia concedeu à Ucrânia o status de candidata — e Kiev está pressionando para o país ser aceito o mais rápido possível.

O líder russo de longa data também estava desesperado para impedir que a Ucrânia entrasse na órbita da Otan, mas sua tentativa de culpar a aliança militar do Ocidente pela guerra é falsa.

A Ucrânia não apenas concordou antes da guerra com um acordo provisório com a Rússia para ficar fora da Otan, como o presidente Zelensky se ofereceu, em março, para manter a Ucrânia como um Estado não-alinhado e não-nuclear: "É uma verdade e precisa ser reconhecida ."

A Otan é culpada pela guerra?

Os Estados membros da Otan têm enviado cada vez mais sistemas de defesa aérea à Ucrânia para proteger suas cidades, assim como sistemas de mísseis, artilharia e drones que ajudaram a virar o jogo contra a invasão russa.

Mas a aliança militar não é culpada pela guerra. A expansão da Otan vem como uma resposta à ameaça russa — Suécia e Finlândia só solicitaram adesão por causa da invasão.

Culpar a expansão da Otan para o leste é uma narrativa russa que ganhou algum espaço na Europa. Antes da guerra, Putin exigiu que a Otan voltasse no tempo para 1997 e retirasse suas forças e infraestrutura militar da Europa Central, do leste europeu e dos países bálticos.

A seus olhos, o Ocidente prometeu em 1990 que a Otan não se expandiria "nem um centímetro para o leste", mas avançou assim mesmo. No entanto, como isso foi antes do colapso da União Soviética, a promessa feita ao então presidente soviético Mikhail Gorbachev se referia apenas à Alemanha Oriental no contexto de uma Alemanha reunificada.

Gorbachev disse mais tarde que "o tema da expansão da Otan nunca foi discutido" na época.

A Otan afirma que nunca teve a intenção de mobilizar tropas de combate em seu flanco oriental, até que a Rússia anexou a Crimeia ilegalmente em 2014.

Paul Kirby para a BBC News. Publicado originalmente em 22.02.23

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Fantasmas no Congresso

Parlamentares se dão de presente verbas imorais diante da realidade do país

Fachada do Congresso Nacional, em Brasília (DF) - Marcos Oliveira/Agência Senado

Deputados e senadores deveriam ser os maiores interessados em ver a imagem dos políticos melhorar no país, mas, em vez de se aplicarem para receber aplausos da população, eles parecem se esforçar para piorar sua situação diante dos olhos da sociedade.

Não se trata somente de seus salários, generosos no contexto da realidade orçamentária nacional: são R$ 39,3 mil mensais, que em abril passarão a R$ 41,7 mil e chegarão a R$ 46,4 mil em 2025.

Tampouco se trata apenas das inúmeras outras verbas a que têm direito. Deputados, por exemplo, recebem R$ 8.400 de auxílio-moradia, além de R$ 45 mil, em média, para reembolsar despesas com passagens aéreas, combustível, hospedagem e alimentação, entre outras.

Insatisfeitos com tantos mimos e mordomias, os parlamentares ainda se consideram em posição de angariar um salário extra no começo e no final de seus mandatos.

Neste ano, as duas Casas do Legislativo transferiram 1.080 dessas cotas, relativas a 513 deputados e 27 senadores eleitos, além de 513 deputados e 27 senadores em fim de mandato. Somados, esses regalos montam a mais de R$ 42 milhões.

Tamanha gastança transcorre sem nenhuma explicação digna desse nome. Como se não precisassem justificar de forma adequada o destino dado aos impostos do contribuinte, os parlamentares se agarram a um óbvio ilusionismo.

Dizem que a verba que cai nas suas contas representa uma ajuda de custo para que se mudem de seus estados para Brasília, quando são eleitos, e da capital federal de volta para casa, quando encerram seu trabalho representativo.

Supondo que fosse verdade, seria o caso de perguntar por que o valor equivale a um salário extra, visto que nem todas as mudanças têm o mesmo orçamento. E seria o caso de questionar que mudança é essa, dado que muitos parlamentares não residem em Brasília e todos recebem reembolso de passagem aérea e hospedagem.

A fantasmagoria, que já era evidente, revela-se por inteiro quando se dá conta de que até parlamentares reeleitos têm o privilégio da verba extra, embora não estejam se mudando para lugar nenhum. Pior: a mamata cai nos seus bolsos duas vezes, uma pelo mandato que termina, outra pelo que começa.

Diante dessa desfaçatez, parlamentares devem saber que só há uma atitude a tomar: recusar o dinheiro e derrubar a lei que legitima esse absurdo.

Editorial de Folha de S. Paulo, em 23.02.23 (editoriais@grupofolha.com)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Os verdadeiros inimigos do País

Combinação desastrosa de burrice, ignorância e paroquialismo eleitoral revela que Lula manterá o Brasil alijado do mundo que dá certo

Quando Luís Napoleão conquistou o poder na França, Karl Marx descreveu o retorno do bonapartismo como “a história se repete, primeiro como tragédia e, depois, como farsa”. O epítome serve também para classificar a volta do PT ao poder. Após 14 anos na Presidência da República, o PT deixou um país esgarçado pela polarização política, dilacerado pela pior recessão econômica da história, inflação de dois dígitos, 13 milhões de desempregados e um gigantesco rombo fiscal que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff por suas pedaladas fiscais. Foi uma tragédia.

A volta do bonapartismo lulista já tem as sementes de uma farsa. Seu revisionismo histórico pretende sepultar os escândalos de corrupção do PT e tratar o impeachment de Dilma como golpismo. Sua visão diplomática consiste em reatar a aliança com ditadores e presidentes populistas latino-americanos e financiá-los com o dinheiro do BNDES. Sua ideia de governabilidade é a velha política de distribuir cargos e verbas públicas para aliciar partidos em troca de apoio no Congresso. Esse comportamento mostra que Lula não aprendeu nada e não esqueceu nada.

Lula não compreendeu que o “inimigo” não é a direita nem a oposição ou o mercado. O nosso inimigo é o baixo crescimento econômico, que já dura quatro décadas. É a perpetuação de um Estado caro e ineficiente, que gera desigualdade social, presta serviço público de péssima qualidade e sustenta uma casta de privilegiados na máquina pública. É o populismo, que debilita o funcionamento da democracia e avilta os pilares sagrados do Estado de Direito e das liberdades individuais. É a educação pública de péssima qualidade, que destrói a igualdade de oportunidade e trava o crescimento da produtividade. É um país que ignora o seu extraordinário ativo ambiental, que pode ser convertido em prosperidade econômica, geração de renda, emprego e investimento no mundo da economia de baixo carbono.

Exceto a questão ambiental, que é um desafio para todos os países que precisam reduzir a emissão de carbono sem comprometer a geração de riqueza e prosperidade, os demais desafios já foram superados por vários países há mais de 40 anos. A abertura comercial foi responsável pelo crescimento da economia global, redução da pobreza mundial e desenvolvimento dos países emergentes desde os anos 80 do século passado. O Brasil, ao contrário, ainda se apega ao mercantilismo do século 18, que acredita em reserva de mercado, protecionismo e Estado interventor na economia. As desastrosas falas de Lula sobre a economia provocaram a reação do mercado, que já perdeu a paciência com populistas. O Banco Central já deixou claro que continuará a subir a taxa de juros para brecar a irresponsabilidade da gastança pública desenfreada e o desequilíbrio fiscal. O presidente do Uruguai, Lacalle Pou, foi enfático ao dizer que trilhará caminho próprio, caso o Mercosul continue a protelar os acordos de abertura comercial. O Uruguai não seguirá o caminho do precipício econômico defendido pelos governos do Brasil e da Argentina.

No século 19, as duas grandes potências econômicas do mundo, Reino Unido e Estados Unidos, compreenderam que era impossível criar um Estado eficiente com uma burocracia incompetente e dominada pelo clientelismo político, sinecuras e indicações partidárias. Iniciou-se um ciclo virtuoso de reformas para criar uma burocracia eficiente, profissional, meritocrática e blindada de indicações políticas. A profissionalização da burocracia tornou-se obrigatória para todos os países que buscam criar regras estáveis, previsibilidade e continuidade de políticas públicas eficazes. Já no Brasil a reforma administrativa ainda sofre resistência de uma classe política que rechaça a criação de uma burocracia profissional, meritocrática e baseada em desempenho porque entende que o clientelismo, as indicações políticas e as ilhas de privilégios da elite do funcionalismo público são importante ativo político-eleitoral.

A educação pública de qualidade tornou-se o pilar central da geração de igualdade de oportunidade, mobilidade social e ganho de produtividade. A educação focada no aprendizado do aluno, na formação e valorização da carreira do professor e na avaliação da aprendizagem se tornou padrão perante todos os países que deram um salto qualitativo na educação. No Brasil, essas lições foram ignoradas. O País está entre os piores do mundo nas avaliações internacionais de aprendizagem. No fim do governo Dilma, 50% das crianças não estavam devidamente alfabetizadas. Não é por outra razão que o Brasil continua a ser um dos países mais desiguais do mundo.

Esta combinação desastrosa de burrice (não aprender com os exemplos que deram certo), ignorância (o misticismo ideológico prevalece sobre os fatos e as evidências) e paroquialismo eleitoral (perpetuar os vínculos do corporativismo e do clientelismo para ganhar votos) revela que Lula manterá o Brasil alijado do mundo que dá certo e longe das soluções práticas para combater os verdadeiros inimigos do País.

Luiz Felipe D'Avila, o autor deste artigo, é Cientista político, autor do livro ‘10 Mandamentos – Do brasil que Somos para o País de Queremos’, foi candidato à Presidência da República (2021).

Perigoso legado de Bolsonaro

Número de armas nas mãos de particulares saltou de 1,3 milhão para 2,9 milhões, um evidente absurdo

A atuação do então presidente Jair Bolsonaro para facilitar o acesso a armas de fogo durante seu mandato produziu um dado impressionante: o número de armas nas mãos de particulares mais do que dobrou entre 2018 e 2022, passando de 1,3 milhão para 2,9 milhões. Eis o resultado concreto da pregação e das ações do então presidente para flexibilizar restrições ao armamento da população. Hoje a sociedade brasileira está mais armada, e isso traz riscos. Um legado com efeitos de curto, médio e longo prazos.

Como noticiou o Estadão, dados obtidos pelo Instituto Sou da Paz e pelo Instituto Igarapé mostram que o acervo particular no Brasil cresceu ano a ano durante o governo Bolsonaro. Não tinha como ser diferente: o acesso a armas, inclusive a fuzis, foi um dos temas explorados pelo então candidato na campanha eleitoral de 2018, com sua ideia equivocada de que as deficiências da segurança pública deveriam − como se isso fosse possível − ser supridas por cidadãos devidamente armados. Um disparate capaz de gerar consequências em sentido contrário, sobretudo num país já tão violento como o nosso.

Tão logo assumiu o cargo, em janeiro de 2019, Bolsonaro passou a assinar decretos e a recorrer a outras medidas infralegais para facilitar o acesso da população a armas de fogo. Foi assim que flexibilizou a exigência de comprovação de “efetiva necessidade” para ter arma em casa ou permitiu que Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) adquirissem até 60 armamentos, dos quais 30 de uso restrito das forças de segurança, além de 180 mil balas por ano. Um exagero injustificável. Vale lembrar que algumas das iniciativas se deram ao arrepio da lei e, por isso, foram barradas pelo Supremo Tribunal Federal.

Nesse contexto, infelizmente, o boom de armas de fogo está longe de ser surpresa. Cabe ao atual governo agora dar sequência às medidas já adotadas para corrigir equívocos estimulados nos últimos quatro anos. É evidente que tamanho aumento do acervo particular impõe um cuidado especial de fiscalização. De imediato, é preciso verificar se as pessoas que adquiriram esses armamentos cumprem os requisitos legais, da mesma forma que se faz necessário adotar mecanismos de controle mais rigorosos, combatendo fraudes para evitar que criminosos consigam comprar armas legalmente − um efeito indesejável da política de acesso desenfreado estimulada por Bolsonaro.

É acertada a iniciativa do atual governo de exigir que todas as armas de fogo sejam registradas no Sistema Nacional de Armas da Polícia Federal, sob pena de apreensão. Lamentavelmente, a liberalização do acesso no governo anterior foi acompanhada de descontrole por parte do poder público – a ponto de que nem o Exército se disse capaz de mapear as armas adquiridas por CACs, o grupo que mais cresceu nos últimos anos entre os detentores de armamentos, de acordo com o balanço do Sou da Paz e do Igarapé.

A melhoria das condições de segurança pública é um imperativo, mas a violência legítima é monopólio do Estado, que não pode terceirizar essa responsabilidade permitindo que os cidadãos se armem sem qualquer controle.

Editorial / Notas e Informações, O Estado de S. Paulo, em 2.02.23

Lira e Pacheco silenciam sobre 'mudança fantasma' bancada pelo Congresso

Verba ultrapassa R$ 40 milhões e tem objetivo de custear deslocamento mesmo de reeleitos e de quem é do DF

Os presidentes Rodrigo Pacheco (Senado) e Arthur Lira (Câmara) - Ueslei Marcelino - 12.dez.2022/Reuters

Reportagem da Folha mostrou que congressistas estão recebendo neste início de ano verba que totaliza mais de R$ 40 milhões e que tem como justificativa uma situação que não encontra amparo na realidade.

A Folha enviou perguntas por email ao gabinete dos cinco senadores e de todos os cerca de 280 deputados federais reeleitos e pediu, entre outros pontos, comprovante de gastos ou de orçamentos relacionados à mudança do estado para Brasília, ou vice-versa.

Procurou também as assessorias das duas Casas e, diretamente, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Lira, que foi reeleito e receberá duas vezes neste início do ano a verba para a "mudança fantasma", e Pacheco, que está no meio do mandato de oito anos, não se pronunciaram.

Quase todos os 513 deputados federais e 27 senadores da legislatura que teve início no dia 1º, além de quase todos os 513 deputados e 27 senadores da legislatura que terminou em 31 de janeiro, embolsaram ou embolsarão R$ 39,3 mil brutos a título de ajuda de custo para se mudarem para Brasília ou para fazerem o caminho inverso, de volta aos estados de origem.

Desse total, cinco senadores e cerca de 280 deputados federais reeleitos receberam ou receberão duas cotas da verba-mudança, uma pelo fim da legislatura passada e outra pelo início da atual, somando R$ 78,6 mil extras neste início de ano.

Além de não haver nenhuma justificativa do fornecimento de auxílio-mudança para quem já mora na capital federal e para reeleitos, que trabalham e continuarão a trabalhar no Congresso, os demais casos —daqueles que de fato deixaram de ser congressistas e os que ingressaram na Câmara ou Senado pela primeira vez— também são questionáveis.

O Congresso já fornece aos parlamentares outras generosas cotas para custeio de passagens aéreas e hospedagem, entre outros gastos, além de há muitas décadas não ser mais comum deputados e senadores se mudarem em caráter permanente para a capital federal.

A Câmara disse que só após o pagamento da próxima terça terá um balanço sobre eventuais devoluções. O Senado afirmou que todos os senadores em fim e início de mandato receberam a verba, a exceção de Reguffe (DF), que renunciou ao benefício.

Nenhum dos senadores reeleitos —Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Romário (PL-RJ) e Wellington Fagundes (PL-MT)—, além de Damares Alves (Republicanos), que é do DF, responderam.


O que é?Verba para deputados e senadores se mudarem para Brasília ou de volta ao estado, no início e no final da legislatura
Quanto é?*R$ 39,3 mil em 31 de janeiro (fim da legislatura passada) e R$ 39,3 mil em 28 de fevereiro (início da atual)
Quem recebe?Todos os parlamentares da legislatura passada e todos os parlamentares da legislatura atual
Alguém receberá duas cotas agora?Sim, cerca de 300 parlamentares da legislatura passada que se reelegeram para a atual
Até parlamentares do DF recebem?Sim
Congressistas se mudam pra Brasília?Muito dificilmente. Isso era mais comum no século passado, quando havia ainda poucas opções de voos
Como eles fazem então?A Câmara e o Senado bancam, em outra verba, passagens aéreas para várias idas e voltas mensais estado-Brasília
Onde eles ficam em Brasília?Em imóveis funcionais ou hotéis e flats, mediante auxílio-moradia de até R$ 8.401 ao mês

Apenas 7 dos mais de 280 deputados federais procurados se manifestaram —Daniel Trzeciak (PSDB-RS), Reginaldo Veras (PV-DF), Sanderson (PL-RS), Luiza Erundina (PSOL-SP), Celso Russomanno (Republicanos-SP), Gilson Marques (Novo-SC) e Adriana Ventura (Novo-SP).

Eles afirmaram que recusaram ou devolveram a verba para a Câmara ou que vão doar o dinheiro para instituições de caridade.

"Não considero adequado o pagamento do auxílio-mudança. Não só agora, como reeleito, mas também em minha primeira legislatura doei os valores recebidos para entidades sociais. Em 2019, doei em prol do Hospital de Pronto Socorro do Município de Pelotas [RS]. Este ano, doarei a três instituições gaúchas", afirmou Trzeciak, acrescentando ter apresentado em 2019 e agora em 2023 projetos de decreto legislativo para acabar com o pagamento da verba para os reeleitos.

"Entendo que não tem necessidade, considerando que a gente não vai mudar de lugar nenhum, mas como o recurso é depositado, eu já tinha assumido o compromisso de que iria doar", afirmou Veras, que mora em Taguatinga, cidade satélite de Brasília, e está assumindo o primeiro mandato na Câmara.

Sanderson enviou à reportagem comprovante de GRU (Guia de Recolhimento da União) com devolução para a Câmara, no último dia 9, da íntegra do valor líquido recebido a título do auxílio em janeiro (R$ 28,5 mil). Ele afirmou que fará o mesmo com o segundo repasse.

Erundina afirmou considerar abusivo o pagamento e esperar que ele seja extinto, o que, segundo ela, "contribuirá para a preservação da imagem do Poder Legislativo, atualmente desgastada, o que não é positivo para a democracia".

Ela disse ter encaminhado ofício a Lira renunciando ao benefício e solicitando instrução para a devolução dos valores.

Russomanno afirmou ter devolvido para os cofres da Câmara R$ 3,6 milhões da verba de gabinete, durante seus mandatos, além de não cobrar da Câmara ressarcimento pelo aluguel do escritório político no estado nem usar em Brasília apartamento funcional ou auxílio-moradia. Ele afirma que compensará o valor da verba-mudança continuando a cortar o uso da verba de gabinete.

"Considero o valor do auxílio-mudança um absurdo por si só, mas para os reeleitos chega a ser revoltante. Assim como no primeiro mandato, eu renunciei aos seguintes privilégios: auxílio-mudança, auxílio-moradia, auxílio-saúde e aposentadoria especial, com economia de mais de R$ 5,7 milhões", disse Gilson Marques.

Adriana Ventura afirmou que um deputado que ganha R$ 39,3 mil não deveria ter benefícios extras e que os considera imorais.

"Quando tratamos então de um deputado reeleito, que já está morando em Brasília, a situação é ainda mais absurda! Eu, bem como todos os deputados do Novo, abri mão de todos os privilégios, inclusive o auxílio-mudança, desde o meu primeiro mandato. Inclua aí: auxílio moradia, aposentadoria especial, reembolso ilimitado de saúde, entre outros."

Após a publicação da reportagem, as assessorias de Marcel van Hattem (Novo-RS) e de Heitor Schuch (PSB-RS) entraram em contato afirmando não ter recebido ou visto o email da Folha e informaram que os parlamentares renunciaram ao recebimento da verba desde o primeiro mandato.

Ranier Bragon, de Brasília - DF para a Folha de S. Paulo, em 21.02.23. Publicado originalmente em 22.02.23.