sábado, 18 de abril de 2015

Quer não

Defensor intransigente do financiamento de campanhas eleitorais com dinheiro público exclusivamente, - o que já vinha ocorrendo de forma camuflada com a movimentação de bilhões de reais desviados em contratos superfaturados - o PT informa não querer mais doações de empresas.
A direção nacional petista sinaliza agora a volta da arrecadação para suas campanhas aos tempos em que a militância vendia bonecos barbudos e broches com a estrela vermelha. A desistência às contribuições de empresas, porém, ainda será debatida pelas inúmeras instancias do partido.

Quem manda?

Tem aquela do elefante que depois de um tempo vagando a sua grandiloquência e vendo ao redor todos os bichos assustados foi se achando o mandão até que um felino encorpado, barbudo, nada abstêmio e nunca vegetariano, foi se aproximando.

Notando que os bichos todos se aquietavam como a reverenciar o gatão recém chegado, o elefante que ainda não havia decidido se aderia ou não à ultima dieta da moda, quis saber:

- Afinal, quem manda aqui floresta?

O felino encorpado deu uns passos atrás e ficou encarando o desengonçado elefante por um bom tempo. Depois mandou chamar o Levy para cuidar da economia e o Temer para cuidar da politica. Todo bicho sabe que sem economia e sem politica não há Estado que funcione.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Riscos Calculados

Claro que não é só a vontade de assegurar a continuação de programas que, se interrompidos ou extintos, resultará em danos irreparáveis ao povo em geral o que leva um governante a fazer o diabo numa campanha eleitoral e, por conseguinte, o seu sucessor.

A catapora das reeleições sem limites que por contágios bolivarianos grassara em alguns mapas aqui do lado debaixo do equador encontrou um Lula nadando de braçadas num segundo mandato e, ao mesmo tempo, instituições republicanas fortemente imunizadas contra qualquer quebra da ordem constitucional.

Diferente do cenário tropical em que se bronzeava o Lula foi o que se deu bem antes com Juscelino, eleito num único turno sem a exigência de maioria absoluta e que só tomou posse porque teve ao seu lado, nos golpes e contragolpes indispensáveis à ordem constitucional, o General Lott, um soldado exemplar.

Vargas, o verdadeiro criador do Estado brasileiro, pensou em Juscelino, então Governador de Minas, para sucedê-lo e, assim, não deixar caírem as conquistas sociais, dentre outras, no campo econômico e na produção industrial, que com mãos firmes e coração largo lograra implantar.

Vendo da sua janela no Palácio do Catete que uma simples greve de estudantes contra o aumento nas passagens de bondes o imobilizava no Rio de Janeiro passando incertezas ao País, Juscelino caiu fora e tratou de construir Brasília.

Brasília deu o mote do que ainda faltava em forma física ao sonho de Vargas – a inderrogável integração nacional.

A realidade dos custos arregalou os olhos dos críticos da economia, mas nem por isso, inclusive inflação alta, Juscelino decaiu na popularidade.

Tinha votos no Congresso para aprovar uma emenda de reeleição e votos populares para ser reeleito. Não aceitou. Ainda tinha capital de tempo. Poderia voltar a ser Presidente dali a cinco anos.

Juscelino, que como todo bom mineiro de bobo não tinha nada, sabia em cálculos exatos do turbilhão que viria a espalhar desafios pelo período seguinte.

Lançou o General Lott para Presidência tendo como Vice outro grande brasileiro – Osvaldo Aranha, braço direito de Getúlio. Ambos sem chances ante o Jânio, que empunhando uma vassoura prometia varrer a bandalheira.

Juscelino então calculou o risco – esse maluco ganha, não vai dar conta do recado, será melhor para eu voltar que os meus candidatos percam.

O maluco venceu e não aguentou sete meses. As esquerdas que mantinham distância do Jânio não deixaram o Jango governar. Em 1964, veio o golpe militar que deu no que deu. Juscelino foi cassado, preso, exilado, morto num acidente controvertido.

E o Lula o que fez? Pensou – eu ponho no meu lugar essa mulher que não sabe nada de politica e vou dar as cartas. Daqui a quatro anos eu volto. Nem ele deu as cartas, nem ela abriu mão da reeleição. Foi reeleita e pela Operação Lava Jato já se sabe como.

Num recente encontro à noite no Palácio da Alvorada entre Lula e Dilma na conversa entre os dois houve uma subida de tom. Ministros na sala ao lado ouviram a voz rouca, inconfundível, perguntar a Dilma – você sabe a coisa errada que eu fiz, não sabe? Foi botar você aí..."

Pensa agora Lula em voltar. Pensa.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Pause

Todos os depoimentos agendados para esta semana na Operação Lava Jato serão suspensos e retomados a partir da próxima segunda feira.

A pausa é para ajustes de estratégias que sem sintonia fina entre a Polícia Federal e o Ministério Público desperdiçavam tempo. 

Sete inquéritos abarcam os depoimentos suspensos vinculados, inclusive, a investigações em torno de Vacari, tesoureiro do PT que foi preso hoje e, ainda, de Renan e Lobão

terça-feira, 14 de abril de 2015

Maçonaria

Instituição secular e de muito respeito, a Maçonaria foi de grande peso em dois importantes momentos da história do Brasil – a declaração da Independência e a proclamação da República.

Não só. Atuante e vigilante tem acompanhado pari-passo os acontecimentos políticos, intervindo abertamente sempre que há ameaça de ruptura democrática.

Dilma recebeu uma dura carta das lideranças maçônicas, que – segundo registro do repórter Leonel Rocha, de Época, representam mais de 300 mil brasileiros. Pedem que Dilma renuncie. 

Habemus Fachin

Só depois do okey de Renan, Dilma se sentiu segura e anunciou que indicará ao Senado o nome de Luiz Edson Fachin, advogado e professor de direito no Paraná, para Ministro do Supremo Tribunal Federal na vaga aberta há nove meses com a aposentadoria do Ministro Joaquim Barbosa.

Embora apoiado abertamente pelo Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), Fachin vinha sofrendo restrições do PMDB por supostas ligações com o PT e seus movimentos sociais como CUT e MST.

Depois de sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde pelo acordo de Renan com Dilma não sofrerá resistências, Fachin precisará ainda dos votos da maioria absoluta do plenário do Senado, o que também já lhe está assegurado.

Segundo o Senador Álvaro Dias, Fachin é um competente, suprapartidário e valorizará a Suprema Corte do País. O consagrado jurista trocará uma das mais movimentadas bancas de advocacia do Paraná por uma rotina insana de trabalho e um contracheque mensal de menos de 30 mil reais líquidos.

Canalhice

Há um assanhamento como se fosse de marimbondos sempre que se abre uma vaga de Ministro no Supremo Tribunal Federal.

O vale tudo se aprofunda quando há alguma demora na indicação, o que enseja mais golpes entre os pretendentes e seus apoiadores, inclusive rasteiradas sem precedentes.

Há pouco se soube que um dossiê contendo votos do Ministro Mauro Campbell no STJ contra recursos, aliás, descabidos e meramente protelatórios, da Fazenda Nacional foi entregue por mãos anônimas entre aspas no gabinete da Dilma, a quem cabe única e exclusivamente escolher um nome e indica-lo à aprovação do Senado.

As cópias dos votos recolhidos num julgamento ali ou em outros acolá seriam as provas de que o Ministro Campbell não costuma votar com o Governo no STJ.

Nada mais vergonhoso, anti-republicano e canalha. A vaga aberta com a aposentadoria do Ministro Joaquim Barbosa é para ser preenchida por alguém que preencha os requisitos constitucionais – ilibada reputação moral e notável saber jurídico. Cabe à Presidente avaliar e ao Senado confirmar ou não.

Para se ter uma ideia do desmantelo institucional também nessa área tão sensível é público e notório que a demora na definição do nome para o STF tem a ver com o receio da Dilma de contrariar o PMDB no Senado.

Até aqui os julgamentos nos Tribunais Superiores do Brasil ainda estão a cargo de Juízes como Mauro Campbell, não cabendo, ainda, essa função a comissários ou delegados de facções políticas.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Assim é se lhe parece

Felipão, no auge da fama como técnico da seleção brasileira, contou que estando num restaurante em Nova Iorque, Estados Unidos, começou a ser assediado e achando que eram admiradores do seu trabalho correspondeu com gestos de simpatia.

Lá para as tantas alguém perguntou se ele era mesmo o Gene Hackman, aquele ator que sempre se sai bem quando interpreta personagens malvados. Confirmou. Sim, o Felipão era Gene Hackman.

Houve fila na mesa do restaurante de pessoas pedindo autografo e fotos. E se o verdadeiro Gene Hackman entrar aqui de repente, como vai ser? Era só no que pensava o Felipão. Isso não aconteceu.

O que aconteceu no domingo em Belo Horizonte durante a passeata do “Fora Dilma” foi que o fotografo conhecido como Beto, que já havia se tornando celebridade nesses anos todos de governos do PT tamanha a sua semelhança física com o Lula, já acostumado a posar para fotos com fãs do ex-Presidente, estava de serviço cobrindo a passeata para um jornal quando alguém apontou – olha ali o Lula, disfarçado de fotografo!

O resultado não poderia ter sido outro. Avançaram no coitado do Beto achando que ele fosse mesmo o Lula e deram-lhe tanta porrada que só com  a intervenção pra valer da turma do deixa disso tudo então se esclareceu.

Coléricos

Tem gente que não se segura. Ademar de Barros era desbocado, mas não perdia o bom humor. Achando que iria agradar ao General Dutra colocou como seu Vice o genro do Presidente, um sujeito chamado Novelli Junior.

Não demorou e o Vice contando com a força do sogro achou que poderia depor Ademar.

“Para me tirarem daqui vão precisar de quatro homens fortes, mas pensando bem como sou muito pesado vão precisar de mais homens e nenhum será esse Novelli”.

Mais tarde vendo que o Presidente não dissuadia o genro da perigosa aventura, Ademar interrompeu uma reunião em seu Gabinete e indagou solene:

“Sabem como se escreve Dutra em japonês?”

Pegou uma folha de papel, escreveu e temendo estar sendo gravado exibiu em silêncio:

- Tacomkunacara...

Outro famoso por suas explosões, tendo mandado inclusive o Ministério Público tomar naquele lugar e isso bem alto para todo mundo ouvir no cafezinho da Câmara, o nosso estimado Ciro Gomes reconhece o destempero verbal como seu pior defeito como político.

Uma vez me disse que antes de se lançar em outra campanha presidencial iria fazer um curso socila de linguagem. Quer dizer, um curso de boas maneiras verbais. Para quem não sabe, socila era uma escola carioca que preparava moças ao fino trato para diversas finalidades, dentre as quais o casamento.

Agora, ainda que com algum certo atraso, ficamos sabendo hoje, através do Noblat em O Globo, de mais uma encolerizada da Dilma.

Porque não gostou do modo como um vestido seu havia sido pendurado num cabide a Presidenta teve um ataque de nervos xingando a arrumadeira de nome Jane de tudo quanto foi nome feio.

Em seguida, passou a atirar cabides contra a coitada da funcionária, a qual não deixou por menos – devolveu os cabides um a um voando... Claro que a Jane foi demitida do emprego no Palácio da Alvorada.

Como a campanha para a reeleição da Dilma iria começar, alguém se lembrou do episodio e lá se foram os marqueteiros atrás da Jane para ela não falar nada daquilo que alguns do circuito íntimo da Dilma já sabiam.

Ofereceram a Jane uma casa e um bom dinheiro. Ela topou.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Qui mai qui tu quer?

Há um encanto irresistível na ilha, não saberia definir direito nem dizer bem por que, mas noto que muitos dos que por aqui aportam, e se ficam uns dias a mais, logo se enamoram e se enturmam e vão ficando.

Diferente um pouco do que se sucedeu àquele jovem navegante chamado Robson Crosué, o qual depois de se engalfinhar zangado medindo forças com o capitão do navio foi por este largado sozinho na primeira ilha que apareceu.

Não tendo certeza se essa ilha foi ou não a de São Luis do Maranhão, Daniel Defoe não omite que Robinson Crusoé viveu por uns tempos no nordeste brasileiro como um próspero dono de plantações de cana – de - açúcar.

O que importa aqui é registrar o contraste.

Enquanto Crusoé teve que cumprir a pena de cinco anos de degredo numa ilha onde faltava tudo, tendo ele que viver se agarrando aos gatos que usava como escudos contra os ratos cuja população só aumentava a cada dia, os que por aqui foram aportando, incluindo nós outros, e hoje já somamos um milhão na demografia, nunca tivemos, nem temos hoje, absolutamente nada do que nos queixar.

Muito sol, muita chuva, muita praia, muita alegria, dentro da ilha e no seu derredor é tudo muito farto.

Só os que não sendo cegos que nem eu, mas que exatamente por isso insistem querendo enxergar demais, se queixam da farta de água, da fartura dos mosquitos e das muriçocas, da farta de iluminação publica nas ruas por onde ninguém passa mais, da farta de transportes, da farta de limpeza publica, da fartura de buracos, da farta de empregos, da farta de segurança, da farta de vagas nas escolas publicas, da farta de atendimento nos hospitais, da farta de dinheiro para comprar remédios, só esses doentes acometidos de incapacidades para silenciarem suas aspirações cidadãs, não se fartam nessas farturas.

Só esses tarrabufados que nem eu que se embebedam de idéias por aqui de há muito decaídas como as republicanas e outras defasadas chamadas de democráticas, falando em alternância no poder, talvez pensando que por serem maioria quase absoluta nas contas demográficas acham que podem dar algum palpite nas coisas.

A ilha não é deles. Mas quem somos nós, primos?

E o que fazer se a ilha faz parte do Maranhão, portanto muito bem representativa para ser a Capital desse estado de coisas?

Isso me faz lembrar o nosso querido e o não menos saudoso Professor Solano, dono do Ateneu, quando uma vez de dedo em riste para o meu nariz me fez lembrar que o colégio era dele e que os estatutos que eu invocara na condição de Presidente do Grêmio dos alunos eram ele, e ponto.
Assim também esse milhão de Crusoés abobalhados.

O que querem mais? Não já alcançaram a ilha? Já não assistem novela de graça, não tem carnaval de graça, regue de graça, opa regue de graça não, bumba meu boi de graça, já não são feitos de bobos e tratados como idiotas de graça?

Não já moram na ilha respirando essa brisa inigualável e se enlevando pelos encantos encantadores e também de poetas, de jovens mucuras e de velhas raposas em domínios nunca dantes imaginados? Alguns podem até se candidatar às proximas eleições ainda que só para não as vencerem, mas e daí podem ser candidatos, e então o que querem mais?

Como pergunta o Baleiro na canção, - qui mai que tu quer? Cachaça, samba, viola, mariola, gaita, fumo e muier? Qui mai qui tu quer?

Dizer que ama é para uns doentes uma forma de mascarar a dependência.

Quando dizemos ao mundo que só não abandonamos a ilha indo nos embora para bem longe dos donos daqui porque a amamos demais estamos, sim, na verdade, mascarando essa nossa dependência talvez já bastante doentia.

Dependência dessas coisas do presente cotidiano nos mesmos cenários e onomatopéias que nos entristecem e nos revoltam, mas também nos divertem.

Quem é que está muito doente de loucura abissal para querer ir se embora agora de vez desta ilha do amor, gente? 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Reinaldo para o STJ

Receando que alguma indicação sua ao STF ou a STJ, onde ainda há vagas, pudesse esbarrar na contramão do PMDB ultimamente em brincadeira de cabra cega com o Governo, a Dilma foi cautelosa procurando antes saber quem passaria com menos dificuldades pelo crivo daqueles aliados na CCJ e no plenário do Senado. 

Do apurado, prevaleceu a sugestão do ex-Presidente José Sarney e o nome que será publicado amanhã como o indicado à sabatina e depois à maioria absoluta do plenário é o do Desembargador Federal Reinaldo Soares Fonseca, 52 anos, maranhense de São Luis. 

Não há duvidas que o Desembargador Reinaldo pulará sem dificuldades as duas fogueiras que serão acesas contra a Dilma no Senado. 

De uma família bem estruturada e muito querida, Soares pelo lado da mãe professora e Fonseca pelo lado do pai advogado de muito prestigio e juiz eleitoral pela classe dos juristas, Reinaldo é do tipo respeitoso, muito bem educado, conciliador como convém a um bom juiz, sendo um dos mais cultos operadores do direito da sua geração.

Foi Procurador em Brasília, Professor de Direito e Juiz Federal no Maranhão. Por merecimento foi promovido a Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. É doutor em Direito devendo acrescentar seu conteúdo doutrinário e senso prático de Justiça numa das Turmas especializadas em Direito Penal do STJ.

Mesmo que seja aprovada a PEC da Bengala, que reduzirá a marcha da fila para as expulsórias do serviço ativo, Reinaldo Fonseca, porque ainda é muito jovem, será o segundo maranhense a presidir a principal Corte infraconstitucional do País.

quinta-feira, 19 de março de 2015

A Palmatória das Ruas

A nossa querida Presidenta, atualmente nem tão querida assim, que nunca antes se candidatara em qualquer eleição nem mesmo em tempos mais formosos para Rainha das Rosas, já estava no lucro ao fim do primeiro mandato e teria feito bonito se tivesse chamado o Lula para ser o candidato a sucedê-la.  

A farofa que ela espalhou no ventilador da economia, o que acabou levando o País a temer o dia seguinte, sobraria para o Lula caso fosse ele o eleito ou para outro da oposição em condições ate mais cômodas de limpar o cenário.

Não se recandidatando não só estaria no lucro como também iria usufruir na história as loas pelo bom exemplo de desprendimento pessoal às etéreas conquanto solúveis missangas do poder.

Lula só por ser o candidato a sucedê-la nunca diria o que tem pensado ultimamente em arrependimentos algumas vezes em voz alta. Muito ao contrário discursaria louvações ao seu charme de mulher brasileira.

Na sala de espera de um gabinete num Tribunal encontrei um experiente advogado radiante com a Presidenta que, horas antes, acabara de conhecer pessoalmente numa audiência que ela concedera a uns dirigentes da OAB.

Na avaliação do colega, a mulher que aparece durona passando tanto insegurança quanto arrogância quando fala na televisão é outra sem nada a ver com aquela que ele acabara de conhecer na audiência.

Contou que a mulher é uma pessoa humilde, que ouve e anota, deixando o interlocutor à vontade e seguro de que ela está mesmo dedicando toda a atenção ao momento. E olha que esse colega não é de tietagens soltas pela aí. Nem com a Gal Costa.

Mudou o natal ou mudei eu? Nem o próprio autor, Machado de Assis, nos legou resposta clara a tão sempre atual dúvida.

De fato, eu lera na véspera, em O Globo, num texto de Alan Gripp, que "se por alguma razão, um brasileiro tivesse ficado completamente fora do ar nas ultimas 48 horas não reconheceria a presidente Dilma Roussef que reapareceu ontem, depois das manifestações que levaram multidões às ruas." Etcétera.

Uai, não está sendo agora voz geral que ela tem que mudar não só os rumos da economia, mas também economizando palavrões e suavizando cinquenta tons do seu jeito de ser, melhorar seu trato com os empresários e a base aliada?

Pura maldade com uma pessoa que nunca pensou em ser Presidenta e porque nunca pensou nisso também nunca se preparou para isso.

Se a Presidenta fosse uma atriz de novela e estivesse encarnando um papel, por exemplo, de menina malvada, talvez até convencesse mais.

Ora, ninguém muda ninguém da noite para o dia no que a pessoa carrega, desde a infância, dentro de si no seu jeito de ser, de pensar e de agir.

Mas a ordem do criador, no caso o Lula, é amansar lapidando a criatura. Talvez seja o caso de pedir autorização ao Brizola para mandar de volta o Darcy Ribeiro.
-o0o-

quarta-feira, 4 de março de 2015

Tudo Embaralhado

Quem passando ali defronte ao Palácio do Planalto, onde os grandões da República cuidam dos seus afazeres, tem a atenção voltada para aqueles rapazes perfilados em duas fileiras na imensa rampa a lembrarem pelo fardamento à moda antiga que seguimos sendo perante Portugal um Brasil independente.

Chova ou faça sol eles se alternam compondo a mesma paisagem. Quem estando em Brasília pela primeira vez resiste à ideia de um selfie com eles, os Dragões da Independência,  ao fundo?

Quando os ventos escasseiam e a secura se impõe ao clima do planalto há, em cada rodizio entre os Dragões, um deles desmaiando. Fazem um trabalho difícil, quase de estátua. E como é difícil ser estatua...

Embora vistos de longe até pareçam estátuas, mas são gente em carne e osso e neurônios. Noventa bilhões de neurônios se entendem ou não uns com os outros em cada cérebro daqueles.

Li que as conexões entre os neurônios, chamadas de sinapses – e elas somariam mais de cem trilhões – podem determinar  ao nosso cérebro reações de êxtase ou de inibição.

O ponto de equilíbrio é o controle emocional, também chamado de freio por ser o que nos impede de num impulso transpor fronteiras como as da razão, da ética, da moral, da tolerância.

Não nos tem passado despercebidas no cenário nacional desta atual Pátria Educadora situações no mínimo inusitadas a nos levarem a uma busca obrigatória para entendermos o que realmente está acontecendo, até mesmo para nos imantarmos de alguma certeza de que não somos nós os menos certos.

No campo da psicologia há quem afirme que o maior ou menor numero de sinapses nos cérebros das pessoas tem a ver com o exercício profissional de determinados afazeres.

A pesquisa de James E. Black, porem, não assegura se o trabalho extra, aquele que se faz fora do campo estritamente profissional, desencadeia novas sinapses ou se os que as tem em maior quantidade são os que se sentem mais atraídos a ações mais desafiadoras.

O soldado do Batalhão da Guarda Presidencial, também conhecido como Dragões da Independência, disse que nunca havia pensado nisso antes, mas que pela primeira vez sentiu uma vontade irresistível de roubar alguém. Daí planejou o assalto.

Pegou um revolver de brinquedo e sem pensar mais em nada, movido apenas pelo piloto automático do cérebro, escolheu a vitima. Anunciou o assalto e o assaltado se anunciou como Delegado da Policia Federal e lhe deu voz prisão, entregando-o à Delegacia mais próxima.

O soldado tem 21 anos de idade. Está preso agora no batalhão da Guarda Presidencial e após o inquérito administrativo que concluirá por sua expulsão, o que será de sua vida?

Com a breve biografia manchada por um antecedente desse jaez precisará, com certeza, de tratamento psiquiátrico adequado que o restituirá à sociedade devidamente ressocializado.

O erro do jovem Dragão foi, talvez, acreditar que de tanto ler e ouvir falar em traficâncias dos grandes ele também, embora sendo um menor na hierarquia do poder, embora sendo um guardião da entrada do Palácio do Governo, poderia ele também inventar a sua própria contribuição ao atual momento.

A propósito, sabes como reagiu ao ser preso o ultimo diretor da Petrobrás?

- Que País é este?

-oOo-

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sob a força da grana

Não só o Legislativo e o Executivo. Pelos deletérios efeitos colaterais também o Judiciário.
Em todos os níveis, e cada vez mais a cada eleição, os Poderes da República são enfraquecidos em sua representatividade esvaindo-se, por conseguinte, a legitimidade que dá sentido à autoridade moral e legal imprescindível para que os executivos, os legisladores e os julgadores, merecendo o respeito coletivo, exerçam as suas funções.  
De há muito as campanhas eleitorais perderam o seu caráter didático. Os debates em torno de princípios programáticos dos partidos e de como os seus candidatos buscam traduzi-los em programas de governo ou em plataformas de ações configuram a essência do que os eleitores precisam para tirar as suas conclusões. Isso tudo se perdeu.
As engendrações do chamado marketing de campanha, mais ao serviço do embuste e da mentira e muito menos da democracia, consomem quase toda soma das arrecadações que ultimamente nem são mais espraiadas por centenas ou até milhares de doadores.
Quem tem negócios com o poder faz seu adiantamento em generosas quantias aos candidatos ou partidos na certeza de que depois será ressarcido de forma ainda mais generosa em contratos de obras ou serviços. Como dizem os empreiteiros presos por seus porta-vozes ou arrecadadores em geral – tudo nos conformes da lei.
Ora, se não há limites para gastos nem para arrecadações, logo o céu o é o limite.
Daí não haver resquício de dúvida de que o Estado brasileiro, que queremo-lo de direito, republicano e democrático, segue se distanciando perigosamente da sociedade civil não só porque sangra a classe média com escorchante carga tributária, penalizando ao mesmo tempo os meios de produção, em especial a indústria, também ampliando o fosso com os serviços públicos que por obrigação constitucional não poderiam ser assim como tem sido de péssima qualidade.
Como se fosse um grande leilão, a cada eleição o Estado brasileiro, como poder central ou por suas unidades federativas – Estados, Municípios e Distrito Federal, é arrematado por financiadores de campanhas. Os eleitos serão apenas os amiguinhos ou as amiguinhas das empreiteiras, dos bancos, dos frigoríficos e outros milionários.
Como os partidos, em sua grande maioria, não são mais que pequenas empresas de grandes negócios, quem pode ter o nome na urna eletrônica se não entrar nos esquemas deles?
Quem for eleito não será dono da própria voz porque em cada partido, além dos financiadores também chamados de doadores, haverá sempre um dono de todas as vozes – o dono do partido.
Existem outros imbróglios para que este País continue sendo esta República muitas vezes confundida com a Pensão de dona Nica.
Vamos refletir hoje apenas nesse quesito das doações e dos gastos de campanha eleitoral.
Já tivemos uma Lei Orgânica que admitia contribuições das pessoas jurídicas destinando-as apenas aos institutos dos partidos para custear suas atividades de difusão dos seus programas e cursos de formação politica.
Pessoa jurídica não vota, mas é natural que tenha interesse, sim, nos destinos políticos do País onde com o seu capital move a força do trabalho fazendo render dividendos saudáveis à economia nacional.
Mas daí a passar dinheiro diretamente a partidos ou candidatos desequilibrando drasticamente a contenda e fazendo encarecer de forma astronômica a campanha para as eleições é um despautério imensurável.
Pensemos num teto inalterável de despesas para cada eleição em cada Munícipio ou Estado com itens de gastos variáveis e conforme as peculiaridades de cada lugar.
E mais ainda temos que pensar. Ousar e fazer.


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O Rei e a Rainha

O Rei Momo, na origem, isto é, na mitologia grega, foi uma mulher que foi até deusa e também juíza à qual se atribuía poderes de só fazer o bem.

Conhecida também como Reclamação, filha da deusa Nix e  de pai desconhecido, Momo personificava a noite.

Contam os etimólogos que os romanos escolhiam três dias a cada ano para uma grande festança tendo como lema o seja você quem for, seja o que Deus quiser. Em torno de uma enorme vala faziam churrascos, vindo dessa vala da carne chamada carnivália a palavra carnaval.

Para o governo do carnaval os romanos elegeram Rei a deusa Momo dos gregos. Não era bem um Rei encarnado num homem, mas originariamente uma mulher que com o passar do tempo, aí sim, se assumiu e alcançou.

A condição de elegibilidade para Rei Momo era ser militante, defensor do Império de César, dono de insuspeitável alegria, irradiante simpatia e muito bonito. O que para estas paragens não chega a ser o caso.

Tempos depois uma reforma eleitoral feita às pressas, no maior casuísmo, tornou inelegível quem não pesasse no mínimo 120 quilos, exigindo-se a vistosa obesidade também para as candidatas a Rainha Momo.

Tudo isso ideia, já naquele tempo, da bancada do agro negócio e de um pessoal da OAB do Maranhão sob a justificativa de que o sobrepeso simboliza a fartura, o dólar em queda, a inflação controlada, o real valorizado, os salários com poder de compra, enfim, o crescimento da produção, inclusive a industrial.

Mas como isso tudo foi sumindo do cenário e constatando-se que metade da população do País está obesa, o que só aumenta as despesas do governo e dos planos de saúde, a primeira condição de elegibilidade para os tronos de Rei e de Rainha do carnaval foi revogada, determinando-se que os candidatos agora tem que ser magros na proporção da altura e do peso.

Ora, quem sob a visibilidade geral inerente ao Poder, Rei ou Rainha, Presidente ou Presidenta de qualquer coisa, não tem que se mostrar como símbolo do bom exemplo?

Quando algum ungido para alguma altura diz que não gosta de ler livros e que seu primeiro e único diploma na vida foi o que lhe permitiu ascender a curaca, qual a criança que depois disso vai querer ir para a escola?

Vale também para o Rei Momo e Rainha Momo, enquadráveis na lei ficha suja da obesidade, caso não se apresentem magros e sarados. Casal de monarcas obesos é o mesmo que dizer às crianças – bebam mais refrigerantes, comam mais batata frita, comam mais sanduiches de lanchonetes...

Em Palmátria, a capital de um País descoberto pelo poeta Tribuzi no ultimo século, houve há pouco uma grande confusão na escolha do novo Rei e da nova Rainha Momo.

Quando tudo parecia seguir nos conformes dos previamente combinados, como sói acontecer igualmente no Maranhão, sabendo-se antemão nos bastidores quem seria a Rainha Momo eleita, eis que desponta uma morena que parecia saída de uma tela do Di Cavalcanti.

Alta, esguia, dedos de pianista, sorriso cativante, daqueles de encarcerar doleiro e até diretor da Petrobrás, dir-se-ia que era a reencarnação da modelo do gênio pintor, a Marina Montini.

Ah o júri não gostou. Seria a revogação do que havia sido negociado antes. 

Esgotados todos os argumentos, um inflamado jurado saiu com mais este:

- Esta candidata é muito alta, gente. E mulher alta cansa.

- Quem falou que mulher alta cansa? Quis saber outro jurado.

– Ora, o Sarney...
Ninguém achou graça. Mas o Sarney que acompanhava tudo pela televisão, qual o dono da tabacaria, sorriu.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Ou dá ou desce

Havia na escola um crioulo compositor que só sabia fazer samba enredo sobre a história do Brasil.
Um dia o Estado Maior da escola, decidido a inovar, chamou o crioulo.
- Neste ano não vai ter mais história do Brasil, ó quêi?
O crioulo que passava metade do ano pesquisando o Brasil na memória republicana, pois a biblioteca pública estava há vinte anos como a transposição das aguas do São Francisco – em obras paradas, reagiu embasbacado:
- Então, vamos desfilar na avenida cantando o que, maioral?
- A atual conjuntura. A atual conjuntura.
Foi aí que, segundo Sérgio Porto, o crioulo endoidou de vez.
Ao final, a escola não ganhou nem o troféu Mais Sem Graça.
Porém, ainda hoje, mais de meio século depois, segue imortal o crioulo compositor que teve em alguns versos a parceria de Stanislaw Ponte Preta, outro grande pesquisador das arcadas, a quem devemos a indispensável coleção rival da brasiliana – Festival de Besteiras que Assola o País, conhecida como Febeapa.
O samba sobre a atual conjuntura ignora propositadamente a cronologia dos fatos juntando excentricamente momentos ainda inéditos na história como aquele em que Chica da Silva tendo outros pretendentes obrigou a Princesa Leopoldina a se casar com Tiradentes. Termina com um alegre ô, ô, ô, avisando que o trem está atrasado ou já passou.
Nestes começos de governos que mais parecem já estarem no fim, quem não percebe esta terra de amores, alcatifada de flores, onde a brisa fala amores, entre os delírios do Samba do Crioulo Doido e as fantasias do Festival de Besteiras que Assola o País? Fantasias moldadas a pirraças varonis nesta tão encantada Pátria Educadora.
Há pouco vimos como foram as eleições para as direções das casas legislativas responsáveis, em tese, pela fiscalização dos atos e das despesas dos Governos e, quando possível, pela feitura de leis quase sempre horríveis. E injustas.
Os poderes são independentes entre si, mas quem não cuidar de colocar os seus querubins nos postos de comando das mesas dos parlamentos para que, por meio deles, possam comandar por inteiro todo o poder legislativo, não se sustentará.
Como bem lembrou o Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Roberto Barroso, o sistema eleitoral e o partidário no Brasil são indutores da criminalidade.
Por via de consequência, o Estado a cada dia mais se distancia da sociedade civil sobre a qual recai sempre a conta dos erros dos governantes e das falcatruas dos seus agentes infiltrados pelos partidos e seus políticos nas cercanias de cada cofre público.
O Maranhão, por enquanto, se exclui dessa regra. A mesa da Assembleia só não foi eleita por unanimidade para não dar razão a Nelson Rodrigues para quem toda unanimidade é burra. Só faltaram dois votos para a burrice se consolidar.
Mas em Brasília, e só não ver quem não quer, ficou tudo muito bem armado. Numa cumbuca, a emborcada, vai haver o assopra, enquanto houver leite e mel, sim, porque em pão e agua nem falar. Na outra cumbuca, a estratégia é ir pegando de leve sem nunca deixar escorregar.
O problema é que o Temer ao que parece não tem nada do Itamar. Nem um coringa como o Fernando Henrique, ora chanceler e dos bons, ora Ministro da Fazenda para com o Malan e sua rapaziada bancar como bancou com sucesso o Plano Real.
O trem está atrasado ou já passou? Quo vadis?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Isto aqui, o que é?

- Agora que eu sou o chefe maior até imagino que se soubessem o que eu sei sequer poderiam imaginar que do muito que eu sei só me resta calar-me.
- Então, excelência, por que resolveu nos dar a honra desta entrevista à TV Arara Vermelha com retransmissão da CNN, BBC, Al Jazeera e emissoras de rádio de toda a Europa...
O chefe maior interrompendo o repórter:
- A Rádio do Vaticano também?
O repórter blefando:
- A Rádio do Vaticano também. O Papa Francisco tem recebido pedidos para incluir o seu país na agenda das próximas viagens.
- Já nos conhecemos. Fomos apresentados pelo nosso Embaixador e até posamos numa foto para a posteridade lá no Vaticano...
- Mas se o senhor não vai nos falar do que sabe para nós outros aqui da imprensa que quase sempre nem sabemos de nada...
- Por favor, moreno, compreenda bem...
Olhar fixo na câmera um, o entrevistador anuncia um breve intervalo para os comerciais. É o momento de insistir.
- Vossa excelência sabe que a segurança depende da confiança que a gente tem em si e nos outros.
- Não vou falar de crise no sistema de segurança. Isso é parte da herança maldita.
- E o senhor não vai perder tempo com o passado...
- Precisamos é ganhar tempo e só se ganha tempo cuidando seriamente do futuro.
- Mas quando falei que a segurança depende da confiança, trocando em miúdos, eu quis apenas lhe garantir o sigilo da fonte e que, assim, vossa excelência poderá nos contar o que sabe em “off”. Depois alguém do seu gabinete dá uma declaraçãozinha negando tudo. Mas até isso acontecer já estaremos cobrindo os efeitos colaterais.
O chefe maior esboça um sorriso. Passa a mão na cabeça ajeitando o penteado. Chama atenção a simetria dos fios brancos dos cabelos um pouco acima das orelhas. Propõe.
- Retomaremos a entrevista ao vivo falando sobre abobrinhas da economia ou sobre os dois japoneses que o Estado Islâmico ameaça degolar se não receber dois milhões de dólares como resgate?
- E o que senhor acha disso?
- Sou um politico de diálogo. Acho que pelo diálogo é possível encontrar solução para tudo.
- Menos para a morte e para os impostos, como dizia Benjamim Franklin?
O produtor do programa avisa que a entrevista vai recomeçar. Entrevistador e entrevistado se entreolham como se um corisco de desconfiança mutua riscasse o ar no estúdio.
- Excelência, o preço do barril do petróleo caiu pela metade. Não seria lógico que os preços da gasolina e do diesel também caíssem pela metade?
- Isso é nos Estados Unidos, meu camarada.
- Agora mudando um pouco de pau pra cacete, quais as áreas no seu governo são mais cobiçadas pelos políticos da sua base aliada, além da saúde e da educação?
- Na nossa base aliada temos excelentes aliados. Confio muito na contribuição patriótica dos operadores da nossa base aliada. Não sei de nenhum deputado que me tenha indicado alguém para um cargo e que já o esteja aparelhando para o serviço de futuras campanhas à respectiva repartição.
- Mas já sabe de um que dividiu as tarefas ordenando assim à moça que ele indicou: você cuida das teorias e eu dos pagamentos, das licitações, das nomeações... e a moça, obediente, despacha esses assuntos em reuniões na casa do deputado.
Como se fosse um Mike Tayson dos áureos tempos o chefe maior cerra os punhos que nem um artista do filme “Adeus Camaradas” e encara o entrevistador transpirando indignação:
- Conosco não tem esse negócio de toma lá, dá cá. Não tem, não!
A entrevista é encerrada com uma vinheta musical tirada de Ari Barroso – “Isso aqui, iô, iô / é um pouquinho de Brasil iá, iá...”


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Uma Mulher na História

Incomodada com o que lhe diziam sobre a filha, ainda adolescente, afamada namoradeira, Dona Gracy pediu ajuda ao marido e sabes o que ele, o Doutor Eurípedes, o pai, aconselhou? “Deixa a Genuzinha desfrutar dos filhos dos outros...”
Semanas depois de começar a frequentar a melhor escola particular da época, o Colégio das Irmãs, a moça queixou-se ao pai. O colégio era bom, sim, mas ela achava que se perdia muito tempo com rezas desnecessárias. Foi para a escola pública.
O doutor Eurípedes de Aguiar, um médico de largo conceito e admiração popular, tanto que seria eleito Governador do Estado do Piauí (1916-1920), estudara na França. Daí o seu olhar das coisas mais à frente naquele começo de século.
A primeira mulher a andar a cavalo pelas ruas de paralelepípedos de Teresina e também a primeira a dirigir automóvel, sempre apoiada pelo pai, aprendeu cedo a não ligar aos falatórios.
Apaixonou-se e casou com um homem culto e empresário bem sucedido, António Moraes Correa, de Parnaíba. Piloto de avião, artista plástico e fotografo nas horas vagas. Foram morar na ilha de São Luís do Maranhão. Num tempo em que as areias do mar pareciam inacessíveis construíram na praia do Olho D’agua uma casa sem ostentações arquitetônicas.
No quintal cortado por um arroio de agua limpa e gelada, cajueiros em profusão e açaís ganhando alturas, havia espaços para João do Vale, sim, o do Carcará, assessorado por seu compadre e secretário particular Esmagado, atacante do Sampaio Correa, tirar som das panelas enquanto não servia seus apreciados cozidões.
Genú foi a primeira mulher a exercer de fato o jornalismo no Maranhão. Digo de fato porque jornalista naquele tempo, desde que tivesse carteira do sindicato e registro no Delegacia do Trabalho, não precisava provar mais nada para não pagar imposto de renda e voar nos aviões da carreira com 50% de desconto. Genú foi a primeira mulher Presidente de Sindicato de Jornalistas no Maranhão.
Quando fui preso logo após o golpe de 1964, a primeira visita que recebi no quartel do Exército, foi da Genú. Diferente de outras visitas que me levaram cigarros, Genú se interessou em me ajudar.
A casa de Genu e António Moraes no Olho D’agua não era só festa nos fins de semana. Funcionou também como bastião de resistência ao regime militar. Lá se aleitou o MDB velho de guerra sob as inspirações de Renato Archer e Domingos Freitas Diniz.
Na primeira eleição municipal após o golpe militar, Genu foi a Vereadora mais votada. Luiz Adolfo Pinheiro, então editor da Veja, foi mandado pelo Mino Carta para uma matéria sobre José Sarney, o novo de então. O que ela disse o Mino publicou - “São Luís tem crescido muito, mas em termos de palafitas”. Com direito a foto do Geraldinho Guimarães.
O MDB, na Oposição e sem dinheiro, precisava apresentar candidatos a todos os cargos. Não havia quadros. Quem era doido de ser candidato pelo MDB? Archer já estava cassado. Genu emprestou seu nome à chapa de Deputados Federais e António não só emprestou o avião para a campanha como aceitou ser o candidato a Senador.
Na sala de visitas havia um enorme mural com autógrafos de algumas pessoas que indo ao Maranhão visitaram Genú e António. O autografo de Juscelino Kubistchek se destacava parecendo sempre o mais retocado.
O que JK foi fazer no Maranhão? Os militares iam mandar prende-lo quando Renato Archer teve a ideia de leva-lo para São Luís. Depois de receber homenagem no Clube Jaguarema, o Presidente foi para a casa de Genú e António, de onde saiu na hora que quis. Sem ter sido preso.

Maria Genovefa de Aguiar Moraes Correa morreu ontem, quarta feira, em Teresina. De complicações cardíacas. Aos 87 anos.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Levas e Coisas

Não vá se acostumando porque, na vida, nada é para sempre. O minuto passa, a hora transcorre, a semana se vai, o mês acaba, e quando menos se espera já é ano novo, de novo. E tudo segue no mesmo ritmo, do mesmo jeito.
As pessoas se já são feias vão ficando mais feias por causa das coisas feias que vão fazendo, e talvez nem se apercebam disso. Quando o feio entra na regra, o sem freio se insere entre a normalidade geral.
A exceção é a ala dos loucos que no meio disso tudo insiste em desfilar só com os honestos, os que não têm vergonha de se assumirem honestos. Como foi que disse o Senador Rui Barbosa?
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Isso é de um discurso intitulado “O Triunfo das Nulidades”, pronunciado na Tribuna do Senado Federal, em 1914. Tem constatação mais atual?
As pessoas não são imortais. Por mais que alguém se julgue imortal haverá uma doença como pretexto para a causa mortis na certidão de óbito. Como costumava lembrar minha amiga Genu Morais, na horizontal todos somos iguais. É isso mesmo, – na cama, no chão, no tapete ou nos sete palmos de terra, lá embaixo.
Então, para que esse deslumbre? E esse salto alto e essa arrogância? Para que, minha jovem ou meu doutor, essa empáfia, essa ignorância? Um naco de poder chegou-lhe às mãos, mas não podes deixar que isso, logo isso, te suba à cabeça.
O poder só é bom enquanto instrumento para fazer o bem aos outros. Sim, porque o exercício do poder, como o exercício de viver, não poder ser uma luta contra os outros. Nenhum poder de uma pessoa sobre as outras se origina em alguma divindade.
Divino é o poder do Povo quando consagra a sua vontade sobre a pessoa do eleito. E essa pessoa não é dona de nada, é apenas um agente da vontade popular que, assim, imantado de autoridade legal, passa a atuar em nome de todos.
Mas nada disso quer dizer que o do poder esteja acima de todos, desengatado dos controles, dono das verdades absolutas, das afirmações incontestáveis. Não confundir nunca exercício da autoridade com autoritarismo.
O autoritário é um doente, no mínimo sofre de incurável alergia aos direitos dos outros, aos sentimentos dos outros, às práticas democráticas. O autoritário leva as pessoas ao sofrimento profundo e meio sádico ainda encara as suas vítimas com a insensibilidade dos gelados, como se nada estivesse acontecendo.
O consciente da autoridade se esforça em busca da sensatez, sabe ser firme na hora exata, não passa incerteza, mas confiança. Motiva com o próprio exemplo a equipe a cada novo desafio, busca resultados duradouros, não perde tempo com esparadrapos, garante a paz no agora e não deixa ninguém esperando o amanhã sem as esperanças confiáveis.
Tudo que tem começo um dia terá fim. Quem pensa que o tempo pára só porque está tudo muito bom e o muito bom não vai acabar, saiba que o muito bom também acaba. Quanto mais o muito ruim.
Compensa saber que quando o muito bom parece se prolongar, e só para os mesmos, logo chega o muito ruim para eles todos. O muito ruim que nos atormenta um dia também acaba e logo atravessa a pista lá para o rumo deles.
O mundo dá voltas, e muitas voltas, velha senhora, meu jovem doutor. E ainda tem a dona morte sempre rondando querendo atrapalhar. Melhor ficar singelo, não perder tempo admirando os gafanhotos que picam a roseira.
Já sabemos que o que vem por aí será de impor decepções, tristezas, arrependimentos. Não vai ser nada fácil. Não obstante, feliz ano novo!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Nós, os Cristãos

A humanidade de hoje em dia não teria com certeza alçançado esse patamar civilizatório sem as lições dos Evangelhos. No mundo do olho por olho e dente por dente pareceu coisa de insanos a recomendação cristã do amai-vos uns aos outros.

As grandes jornadas em favor do bem começam com poucos. E se querem propagar ideias novas, induzindo as pessoas a pensarem diferente, as resistências se redobram, as perseguições são implacáveis.

Naquele tempo, Jesus marcava a diferença entre os seus irmãos judeus que, acumpliciados com os romanos que dominavam por inteiro a Judeia, se mantinham presos ao passado e sem percepção para os sinais do céu.

Então, depois de muitas desobrigas pela Galileia ensinando o novo Evangelho nas suas sinagogas, e tendo a acompanhar-lhe muita gente dali e da Decápode, e de Jerusalém, e da Judeia, e de além do Jordão, eis que ele subiu a um monte e sentado falou aos apóstolos:

“Bem - aventurados sereis quando vos injuriarem e vos perseguirem e mentindo disserem contra vós todo mal por minha causa. Alegrai-vos e exultai porque assim também perseguiram os profetas que existiram antes de vós. E grande será a vossa recompensa nos céus.”

“Vós sois o sal da terra. E esse sal se desvirtuar com que então se salgará? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte nem se acende um candeeiro deixando-o num canto da casa, mas num alto para que, assim, dê luz a todos os que estão na casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens.”

“Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Porém, eu digo-vos: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos perseguem e vos caluniam para que sejais filhos do vosso Pai, que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e manda a chuva sobre justos e injustos. Porque se amais somente os que amam, que recompensa haveis de ter?

Não fazem os publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem também assim os gentios? Sede, pois, perfeito assim como vosso Pai é perfeito”.

“Não julgueis para que não sejais julgados porque  segundo o juízo com que julgardes sereis julgados; e com a medida com que tereis medido vos medirão também. E por que vês tu a aresta no olho do teu irmão e não vês a trave no teu olho? Ou como dizes ao teu irmão deixa-me tirar-te do olho uma aresta, tendo tu no teu uma trave? Hipócrita, tira primeiro a trave.

“Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos a vossas perolas para que não suceda que eles as calquem com os seus pés e que se voltando contra vós vos dilacerem”.

“Entrai pela porta estreita porque longo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela e estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida e quão poucos os que acertam entrar”.

Aqui não há o Sermão na integra. Mas apenas algumas passagens dentre as que desde adolescente as tenho na memória.

Minha intenção é apenas lembrar que o menino Jesus cujo nascimento o mundo cristão festeja hoje cresceu na contramão dos maus costumes prevalecentes e repudiando a mentira, pregando a verdade, alertando o mundo, como ainda o faz, contra os perigos do mal e nos incitando a pratica dos princípios morais que já norteiam grandes porções da humanidade.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A Força da Grana

O escudo do Real Madrid, um dos mais famosos times de futebol da Europa, não ostentará mais a cruz, símbolo do cristianismo.
Nada contra a tradição cristã espanhola. Mas tudo a ver com os mulçumanos que estão hoje entre os maiores patrocinadores do clube de Madrid.
O Banco Nacional de Abu Dhabi, um dos patrocinadores, vai emitir cartões de crédito com o escudo do time, mas sem a cruz.
A história registra que o famoso time ostenta a cruz desde seus primórdios, mas sem qualquer vinculação direta com a Igreja.
Aconteceu de o Rei Alfonso XII, no inicio do ultimo século, ter conferido ao clube o título de “Real” como de resto ocorre hoje com muitos times espanhóis.
Tendo a grife “Real”, os times passaram a ostentar a coroa do reino espanhol, a qual ostenta no cume a cruz, símbolo do cristianismo.
Por 400 milhões de euros a IPIC, empresa de petróleo de Abu Dhabi, contratou o patrocínio com o Real Madrid pelos próximos 20 anos.