Não vá se acostumando porque, na vida, nada é para sempre. O
minuto passa, a hora transcorre, a semana se vai, o mês acaba, e quando menos
se espera já é ano novo, de novo. E tudo segue no mesmo ritmo, do mesmo jeito.
As pessoas se já são feias vão ficando mais feias por causa das
coisas feias que vão fazendo, e talvez nem se apercebam disso. Quando o feio
entra na regra, o sem freio se insere entre a normalidade geral.
A exceção é a ala dos
loucos que no meio disso tudo insiste em desfilar só com os honestos, os que
não têm vergonha de se assumirem honestos. Como foi que disse o Senador Rui
Barbosa?
“De tanto ver triunfar as
nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Isso é de um discurso
intitulado “O Triunfo das Nulidades”, pronunciado na Tribuna do Senado Federal,
em 1914. Tem constatação mais atual?
As pessoas não são
imortais. Por mais que alguém se julgue imortal haverá uma doença como pretexto
para a causa mortis na certidão de óbito. Como costumava lembrar minha amiga
Genu Morais, na horizontal todos somos iguais. É isso mesmo, – na cama, no
chão, no tapete ou nos sete palmos de terra, lá embaixo.
Então, para que esse
deslumbre? E esse salto alto e essa arrogância? Para que, minha jovem ou meu
doutor, essa empáfia, essa ignorância? Um naco de poder chegou-lhe às mãos, mas
não podes deixar que isso, logo isso, te suba à cabeça.
O poder só é bom enquanto
instrumento para fazer o bem aos outros. Sim, porque o exercício do poder, como
o exercício de viver, não poder ser uma luta contra os outros. Nenhum poder de
uma pessoa sobre as outras se origina em alguma divindade.
Divino é o poder do Povo
quando consagra a sua vontade sobre a pessoa do eleito. E essa pessoa não é
dona de nada, é apenas um agente da vontade popular que, assim, imantado de
autoridade legal, passa a atuar em nome de todos.
Mas nada disso quer dizer
que o do poder esteja acima de todos, desengatado dos controles, dono das
verdades absolutas, das afirmações incontestáveis. Não confundir nunca
exercício da autoridade com autoritarismo.
O autoritário é um doente,
no mínimo sofre de incurável alergia aos direitos dos outros, aos sentimentos
dos outros, às práticas democráticas. O autoritário leva as pessoas ao
sofrimento profundo e meio sádico ainda encara as suas vítimas com a
insensibilidade dos gelados, como se nada estivesse acontecendo.
O consciente da autoridade
se esforça em busca da sensatez, sabe ser firme na hora exata, não passa
incerteza, mas confiança. Motiva com o próprio exemplo a equipe a cada novo
desafio, busca resultados duradouros, não perde tempo com esparadrapos, garante
a paz no agora e não deixa ninguém esperando o amanhã sem as esperanças
confiáveis.
Tudo que tem começo um dia
terá fim. Quem pensa que o tempo pára só porque está tudo muito bom e o muito
bom não vai acabar, saiba que o muito bom também acaba. Quanto mais o muito
ruim.
Compensa saber que quando
o muito bom parece se prolongar, e só para os mesmos, logo chega o muito ruim
para eles todos. O muito ruim que nos atormenta um dia também acaba e logo
atravessa a pista lá para o rumo deles.
O mundo dá voltas, e
muitas voltas, velha senhora, meu jovem doutor. E ainda tem a dona morte sempre
rondando querendo atrapalhar. Melhor ficar singelo, não perder tempo admirando
os gafanhotos que picam a roseira.
Já sabemos que o que vem
por aí será de impor decepções, tristezas, arrependimentos. Não vai ser nada
fácil. Não obstante, feliz ano novo!
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