sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Moro quer retomar itens do pacote anticrime em reforma do Judiciário

Ex-juiz discute incluir prisão após segunda instância e prática do ‘plea bargain’ na proposta de revisão do sistema de Justiça 
     

Moro reuniu grupo de juristas para elaborar proposta de reforma Foto: Alex Silva/Estadão - 7/12/2021

O pré-candidato do Podemos à Presidência, Sérgio Moro, pretende retomar pontos do pacote anticrime rejeitados no Congresso na proposta de reforma do sistema Judiciário que vem sendo elaborada para integrar seu futuro plano de governo. Na esfera civil, uma sugestão em discussão é a que prevê o enxugamento do sistema processual para que o orçamento excedente seja direcionado a outras áreas.

Entre as ideias debatidas, estão o reforço de orientações à Advocacia-Geral da União para evitar recursos excessivos em processos, a criação de uma arbitragem para costurar acordos com devedores de impostos e até mesmo a restrição da Justiça gratuita, sob o argumento de que infla os gastos processuais e não atinge, na maior parte dos casos, os mais necessitados (mais informações nesta página). Os debates sobre a reforma no sistema de Justiça reúnem Moro e três grupos principais de juristas de sua confiança. Estes consultores têm se encontrado frequentemente com o ex-juiz. 

No âmbito penal, os trabalhos são coordenados pelo professor de Direito Constitucional e integrante da Academia Brasileira de Letras Joaquim Falcão. Conforme apurou o Estadão, Moro tem defendido retomar propostas que não conseguiu emplacar quando comandou o Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo Jair Bolsonaro (PL).

Os planos incluem ainda a volta da autorização de execução de pena após condenação em segunda instância. A tese era aceita pelo Supremo Tribunal Federal até novembro de 2019, quando, por um placar de 6 a 5, os ministros retomaram o entendimento de que prisões para execução penal só poderiam ocorrer após o trânsito julgado em todas as esferas de apelação. O entendimento anterior havia sido determinante para que a Lava Jato levasse à prisão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá (SP) e outros políticos como o ex-ministro petista José Dirceu.

Moro também tem recorrido a seus conselheiros para debater propostas como o plea bargain, uma espécie de acordo previsto no sistema penal dos Estados Unidos que prevê a confissão de crimes em troca de redução de pena. No Brasil existe hoje a possibilidade do acordo de não persecução penal, previsto para crimes de menor potencial ofensivo, em que o investigado confessa o crime, mas não há o oferecimento da acusação formal. 

‘Informante do bem’

O grupo de juristas também debate a criação da figura do whistleblower, ou “informante do bem”, cujo objetivo é proteger denunciantes de atos de retaliação. Há diversos casos no Brasil em que agentes públicos são acusados, por exemplo, de violação de sigilo funcional após denunciarem esquemas de corrupção. Um deles ocorreu em São Paulo – a Procuradoria-Geral do Estado processou um fiscal que denunciou a máfia do ICMS ao Ministério Público. O caso foi julgado improcedente em todas as instâncias. 

Em sua reforma do Judiciário, o pré-candidato do Podemos tem defendido a criação de um tribunal anticorrupção nos moldes da Corte criada na Ucrânia para combater crimes de colarinho-branco. Os detalhes desta proposta ainda não foram divulgados. 

Institutos como o plea bargain e a execução da pena em segunda instância foram rejeitados em 2019, quando o Congresso desidratou o pacote anticrime enviado pelo então ministro da Justiça e aprovou, em seu lugar, medidas criticadas por Moro, como a criação do juiz de garantias. 

As propostas são vistas com restrições por especialistas em segurança pública. Mestre em Direito Constitucional e ex-diretora da Secretaria Nacional de Justiça, Isabel Figueiredo afirmou que há risco de a aplicação do plea bargain repetir, no Brasil, problemas que ocorrem nos Estados Unidos, como a confissão de crimes não cometidos. “Para pegar uma pena menor, as pessoas, mesmo não sendo culpadas, preferem se declarar culpadas a ir para o mérito.”

Em relação à prisão após condenação em segunda instância, o defensor público da União Gustavo Ribeiro observou que o Supremo e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ainda promovem correções significativas em condenações impostas pelos tribunais. 

Custos

Moro debate com sua equipe mudanças na área civil, com o fim de reduzir gastos com o sistema processual. O dinheiro, então, poderia ser revertido a outras áreas e políticas de cunho social. Um dos integrantes da equipe é o doutor em Direito e ex-secretário nacional de Defesa do Consumidor Luciano Timm. “A estrutura judiciária hoje custa R$ 100 bilhões porque custa muito processo. Gastamos cem vezes mais em disputas do que em saneamento básico do Orçamento da União”, afirmou. 

Questionado se o enxugamento passa pelo fim de privilégios e “supersalários” da magistratura, Timm disse que o tema não está em discussão. “Não adianta polemizar com categorias profissionais porque, assim, o País não avança.” 

Autor de estudos sobre o tema, Luciano Timm propõe que o Judiciário imponha restrições no acesso à Justiça gratuita. Segundo ele, a maior parte dos litígios com o uso da Justiça tem como parte pessoas de classe média e classe média alta. Estas, disse, teriam acesso majoritariamente à Justiça gratuita.

O custo desses processos poderia ser direcionado, na avaliação de Timm, à ampliação do acesso à Justiça nas periferias. “Os mais vulneráveis não acionam o sistema público de distribuição de Justiça. A necessidade dessas pessoas menos favorecidas está associada a algumas coisas fundamentais como registro civil, família. Tem muitas disputas de família nas comunidades menos favorecidas, filhos, pequenos ilícitos… Existem iniciativas como o juizado itinerante, e temos que começar a ter mais interação de práticas. Hoje, falta recurso para fazer isso, também por estar gastando ineficientemente.” 

“E quem paga essa conta é o contribuinte. Temos hoje, do ponto de vista orçamentário, um custo com o Poder Judiciário de R$ 100 bilhões”, disse Timm.

Luiz Vassallo, O Estado de S.Paulo, em 28 de janeiro de 2022 | 05h00

Bolsonaro tem dois compromissos em dia de depoimento a Moraes

Agenda oficial do presidente da República apresenta apenas 90 minutos de compromisso para esta sexta-feira; o ministro do STF convocou Bolsonaro para depoimento às 14h

A agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta sexta-feira, 28, inclui um compromisso às 15h, apenas uma hora após o horário determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para que o mandatário preste depoimento na sede da Polícia Federal sobre o suposto vazamento de dados sigilosos da corporação. Ao todo, o chefe do Executivo tem 90 minutos de compromissos públicos hoje; a oitiva da PF não consta de sua agenda. 

O compromisso marcado às 15h deu margem a boatos de que o presidente possa simplesmente não atender à intimição e faltar ao depoimento, uma vez que é comum que oitivas do tipo na PF durem mais que uma hora. A instituição quer apurar se o presidente vazou dados sigilosos de uma investigação da PF sobre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para atacar sem provas a segurança das urnas eletrônicas. 

Os dois compromissos expostos na agenda de Bolsonaro nesta sexta são uma solenidade no Palácio do Planalto, às 9h30, e um encontro com o Subchefe de Assuntos Jurídicos da Presidência, Pedro Cesar Sousa, às 15h. 

Antes de ser intimado a depor, Bolsonaro teve 15 dias, depois prorrogados para 60, para ajustar com as autoridades policiais os moldes em que ocorreria a oitiva e informar ao Supremo. Como o presidente não indicou dia e horário para a realização de seu interrogatório dentro do prazo estabelecido, Moraes determinou sua intimação para esta sexta-feira.

O criminalista Conrado Gontijo, doutor em direito penal pela USP, avalia que a determinação de Moraes é adequada. Ele afirma que o código de processo penal confere ao presidente da República a prerrogativa de ser ouvido em data, horário e local convencionados entre ele e a autoridade que for colher seu depoimento. "Tal prerrogativa, ao que consta, não teria sido exercida por Bolsonaro, que parece não ter indicado onde e quando gostaria de ser ouvido. Portanto, é correta a determinação, diante da inércia presidencial em agendar o depoimento, de que ele ocorra presencialmente", diz Gontijo.

O criminalista argumenta ainda que o chefe do Planalto não tem salvaguarda para não prestar esclarecimentos, a menos que  — e pode ser que esse seja o caso, diante dos fatos que estão sendo apurados — ele se valha do direito ao silêncio para não produzir provas contra si mesmo.

O presidente chegou a apresentar, por meio da Advocacia-geral da União (AGU), um termo de recusa em prestar depoimento, mas a possibilidade não foi aceita por Moraes, que é relator do caso sobre o suposto vazamento no Supremo.

Procurado, o Planalto ainda não respondeu se o chefe do Executivo pretende faltar à oitiva ou, ainda, se a reunião marcada para as 15h pode prejudicar a realização do interrogatório.

Davi Medeiros, O Estado de S.Paulo, em 28 de janeiro de 2022 | 08h59

Por que STF quer que Bolsonaro preste depoimento à Polícia Federal

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que o presidente Jair Bolsonaro deve prestar depoimento à Polícia Federal em investigação sobre supostos vazamentos de documentos sigilosos.


                                                                  Jair Bolsonaro (Reuters)

A ordem do ministro do STF especifica que Bolsonaro precisa comparecer à Superintendência da Polícia Federal às 14h desta sexta-feira (28/1). Moraes negou um pedido feito pelo presidente para não prestar o depoimento.

Segundo o STF, a decisão de Moraes "ressalta que Bolsonaro concordou em participar do ato procedimental, tendo inclusive solicitado dilação do prazo para exercer 'real, efetiva e concretamente seu direito de defesa, como fator legitimador do processo penal em busca da verdade real e esclarecimento de importantes fatos'."

E aponta que, "após conceder mais tempo para que o depoimento fosse prestado em local e data a serem escolhidos por Bolsonaro, o ministro do STF foi informado pela Advocacia-Geral da União (AGU), na véspera do prazo final para a realização da oitiva (28/1), que ele não tinha mais interesse em fazê-lo".

Segundo Moraes, a Constituição Federal garante a réus e investigados "o direito ao silêncio e a não se autoincriminar, mas não permite a recusa prévia e genérica a determinações legais, permitindo que sejam estabelecidos pela Justiça dentro do devido processo legal", aponta o STF.

Assim, para o ministro, é necessária "a estrita obediência da expressa previsão legal, não havendo a possibilidade de investigados simplesmente impedir o agendamento para realização de um ato procedimental, sob pena de total desvirtuamento das normas processuais penais".

O caso

Em agosto de 2021, Bolsonaro publicou nas suas redes sociais uma série de links em que falava de supostos problemas no sistema eleitoral brasileiro. Os links continham documentos que fazem parte de um inquérito sigiloso da Polícia Federal.

"Conforme prometido em entrevista ao programa 'Pingos nos Is' [da Jovem Pan] segue os documentos que comprovam, segundo o próprio TSE [Tribunal Superior Eleitoral], que o sistema eleitoral brasileiro foi invadido e, portanto, é violável", escreveu o presidente, na ocasião, com quatro links para documentos vazados.

O TSE rechaçou o conteúdo dos relatórios divulgados por Bolsonaro, reconhecendo que alguns sistemas do Tribunal ficaram vulneráveis, mas que isso não representou risco à integridade das eleições de 2018, já que, segundo o TSE, o código-fonte dos programas utilizados passa por verificações e testes que fazem com que seja possível identificar qualquer tentativa de manipulação.

Alexandre de Moraes foi principal alvo de ataques e ofensas de Bolsonaro e apoiadores nas manifestações do 7 de Setembro (Rosinei Coutinho / STF)

Naquele mês, Alexandre de Moraes aceitou uma denúncia-crime do TSE contra Bolsonaro, que já era alvo de outras investigações dentro do chamado inquérito das fake news. Esse inquérito, mais amplo, foi aberto em março de 2019 e investiga críticas e ameaças feitas por diversos usuários e grupos a ministros do STF.

Em resposta à denúncia-crime, Bolsonaro disse em agosto de 2021 que não retiraria o material do ar, como determinara Moraes, já que isso não surtiria efeito porque "todo mundo já copiou" o conteúdo. Além disso, Bolsonaro afirmou que as informações dos relatórios eram de interesse "para todos nós".

O episódio aconteceu um mês antes de Bolsonaro convocar manifestações no 7 de setembro em que fez pesadas críticas ao STF e a Alexandre de Moraes e lançou dúvidas sobre o processo eleitoral brasileiro.

Dias depois dos atos de 7 de setembro, Bolsonaro divulgou uma carta, escrita com ajuda do ex-presidente Michel Temer, na qual recuava nas críticas e apresentava um tom mais amistoso com o STF.

Não está claro se Bolsonaro obedecerá a determinação de Moraes para prestar depoimento nesta sexta-feira. Em novembro, o presidente prestou um depoimento à PF, no Palácio do Planalto.

BBC News Brasil, em 28.01.22

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Ciro e Moro superam Bolsonaro em 'probabilidade de voto'

No cenário mais provável, Lula possui 44% contra 24% de Bolsonaro; Sérgio Moro e Ciro Gomes empatam em 8% cada, seis pontos à frente de João Doria     

Mais pessoas têm restrições a votar no presidente Jair Bolsonaro (PL) do que em Ciro Gomes (PDT) e Sérgio Moro (Podemos), segundo pesquisa Ipespe divulgada nesta quinta-feira, 27. Apenas 8% dos eleitores consultados disseram que “poderiam” votar no chefe do Planalto, enquanto para Moro e Ciro esse índice é de 28% e 39%, respectivamente. Essa categoria de resposta é o meio termo entre os eleitores que “com certeza” escolheriam um candidato e aqueles que não o fariam de maneira alguma. 

Entre todos os pré-candidatos, o atual presidente da República é quem tem a maior rejeição — 64% disseram que não votariam nele de “jeito nenhum”. Para Ciro e Moro, o percentual é de 42% e 53%, respectivamente. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece como uma opção impensável para 43% dos eleitores. 

Bolsonaro, Ciro e Moro

Apenas 8% dos eleitores consultados disseram que 'poderiam' votar em Bolsonaro, enquanto para Moro e Ciro esse índice é de 28% e 39%, respectivamente. Foto: Gabriela Biló e Alex Silva/Estadão e Cleia Vilana/Câmara

“Com certeza” votariam em Lula 44%; em Bolsonaro, 25%; em Moro, 12%; e em Ciro, 11%. Mais que a metade disse não conhecer suficientemente o pré-candidato do Cidadania, Alessandro Vieira (54%) e do Novo, Luiz Felipe d’Ávila (53%). 

Lula se manteve com 44% das intenções de voto no cenário estimulado, com vantagem de 20 pontos sobre Bolsonaro, que tem 24%. Sérgio Moro e Ciro Gomes têm 8% cada, enquanto João Doria tem 2%. Simone Tebet, Rodrigo Pacheco e Alessandro Vieira aparecem empatados com 1%.

Primeiro turno

A pesquisa mostra ainda que Lula teria chances de vencer no primeiro turno, dentro da margem de erro, se Moro desistisse da corrida presidencial. Nesse cenário, o petista supera a soma de todos os demais candidatos por 44% a 43%. A desistência de Moro aumenta em dois pontos percentuais as intenções de voto em Bolsonaro, que passam de 24% a 26%; dois para Doria, que vai de 2% a 4%; e um para Ciro, que sobe de 8 a 9%.

A pesquisa ouviu mil pessoas por telefone nos dias 24 e 25 de janeiro. A margem de erro máximo estimada é de 3.2 pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-06408/2022. A pesquisa Ipespe é feita sob encomenda da XP.

Redação, O Estado de S.Paulo, em 27 de janeiro de 2022 | 11h42

Lula morre de medo de Moro

Petista, que pretende manter Bolsonaro como adversário a derrotar no segundo turno, mandou PT suspender CPI contra ex-juiz para evitar debates desagradáveis sobre corrupção

Lula percebeu o óbvio – que uma CPI, qualquer que seja, tendo Moro como protagonista – poderia lhe causar consequências funestas na campanha e mandou o PT cancelar a ideia infeliz do líder. Fotos: Dida Sampaio e Gabriela Biló/Estadão

1 – Lula mandou o PT abortar a ideia de convocar uma CPI para apurar ganhos de Sérgio Moro numa empresa norte-americana, dando ao adversário a chance de dizer que, no popular. ele “arregou” 2 – Com os pobres brasileiros morrendo de fome nas calçadas, o desgoverno federal embolsou, em 2021, a maior arrecadação da História: 3 trilhões 878 e bilhões de reais, e cortou investimentos. 3 – No artigo “A significância de um desgoverno desastrado”, em blog no portal do Estadão, corrigi quem chamou Bolsonaro de “insignificante” e citei o conformismo que sucede à indignação no País.

José Nêumanne n'O Estado de S. Paulo, em 26 de janeiro de 2022 | 23h46

Brasil tem recorde de casos de covid pelo 2º dia consecutivo

País registra mais de 228 mil infecções e 672 mortes em 24 horas. Total de óbitos já é de mais de 625 mil, segundo dados oficiais. Média móvel de casos é superada pelo décimo dia seguido.


O Brasil superou pelo segundo dia consecutivo o recorde nacional na contagem diária de casos de covid-19 nesta quinta-feira (27/01), com 228.954 novas infecções, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).

O recorde anterior, registrado nesta quarta-feira, era 224.567 casos. Com os dados das últimas 24 horas, o total de casos registrados no país chega a 24.764.838.

Também foram registradas oficialmente 672 mortes atribuídas à doença, um aumento significativo em relação ao dia anterior, quando foram contabilizados 570 óbitos, o que eleva o total de vítimas do coronavírus para 625.085.

Diversas autoridades e instituições de saúde alertam, contudo, que os números reais devem ser ainda maiores em razão da falta de testagem em larga escala e da subnotificação.

A média móvel de casos, que avalia os últimos sete dias, atingiu marca recorde pelo décimo dia consecutivo, com 168.514 infecções. A média móvel de óbitos aumentou para 411.

Já a taxa de mortalidade por grupo de 100 mil habitantes está em 297,5 no Brasil, a 14ª mais alta do mundo, atrás de alguns pequenos países europeus e do Peru.

Em números absolutos, o Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes, atrás apenas dos Estados Unidos, que somam mais de 877,6 mil óbitos, mas têm população bem maior. É ainda o terceiro país com mais casos confirmados, depois de EUA (73,2 milhões) e Índia (40,3 milhões).

Ao todo, mais de 364,9 milhões de pessoas contraíram oficialmente o coronavírus no mundo, e foram notificadas 5,63 milhões de mortes associadas à doença, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.

Deutsche Welle Brasil, em 27.01.22

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Bolsonaro e seus acólitos estúpidos destroem saúde pública impunemente

Justiça não tem o direito de se omitir em meio aos ataques do governo à vacina, pondo em risco a vida de todos

A Justiça precisa punir os criminosos que atentam contra a saúde pública. Se continuar de braços cruzados, tem que explicar para a sociedade por que razão não o faz.

No último fim de semana fui convidado a participar de um abaixo-assinado redigido por professores da USP, em repúdio a um documento do Ministério da Saúde que teve o descaramento de insistir na farsa da eficácia da hidroxicloroquina, característica que faltaria às vacinas, segundo eles.

Assinei, claro, como o fizeram 45 mil colegas nas primeiras 24 horas.

Apesar da adesão em massa, estou certo de que será mais uma ação incapaz de alterar o rumo das políticas adotadas por um ministério desmoralizado, comandado por um lambe-botas incompetente, com credibilidade abaixo de zero, que envergonha a nossa profissão sob o olhar subserviente do Conselho Federal de Medicina.

Há um ano, jornalistas, médicos e cientistas aparecem nos meios de comunicação de massa para repetir à exaustão que as vacinas são seguras e protegem contra as formas graves da doença, afirmações defendidas por todas as sociedades médicas. Não conheço um único médico com um mínimo de formação científica que conteste a necessidade de vacinarmos a população; os que atacam as vacinas na internet ou no governo são ignorantes, curtos de inteligência ou mal intencionados, não há quarta alternativa.

Em contraposição, o ministro e seus auxiliares encarregados do trabalho sujo fazem o possível para desacreditar a vacinação e semear dúvidas sobre a segurança das preparações aprovadas pela Anvisa, uma das agências mais respeitadas do mundo.

O empenho em confundir o povo é tão grande que o ministro da Saúde, acompanhado da ministra que teve o privilégio de receber Jesus no alto de uma goiabeira, viajaram para Lençóis Paulista decididos a explorar o caso de uma menina que teve parada cardíaca horas depois de receber a vacina.

A ministra se apressou a divulgar a "suspeita" pelo Twitter, sem mencionar que o laudo médico já havia concluído que o episódio não guardava relação com a vacina. Na mesma plataforma, o ministro curtiu a mensagem da colega.

Para completar o show de horrores e de oportunismo rasteiro, o próprio presidente da República se deu ao trabalho de telefonar para os familiares da criança, em contraste com o desprezo às 623 mil famílias brasileiras que perderam entes queridos na pandemia.

Enquanto na Inglaterra o primeiro-ministro pode cair por causa de uma festinha que contrariou as recomendações oficiais de isolamento social, no Brasil, o presidente, o ministro da Saúde e seus acólitos escolhidos a dedo nas catacumbas da estupidez humana conspiram contra a saúde pública sem que nada lhes aconteça.

Essa pandemia é mais prolongada do que esperávamos. A variante ômicron se dissemina numa velocidade impressionante. Em mais de 50 anos de medicina nunca vi virose tão contagiosa. Os mais
velhos diziam que a varíola era assim, mas não cheguei a ver porque a vacinação varreu o vírus da face da Terra.

Não podemos nos iludir, essa variante não vai nos imunizar coletivamente. Tenho vários pacientes que tiveram Covid, receberam as três doses da vacina e adoeceram outra vez nas últimas semanas, embora com sintomatologia discreta.

Se a doença provocada pelas variantes anteriores não produziu níveis de anticorpos suficientes para evitar a infecção pela ômicron, que certeza pode haver de que não emergirá uma nova cepa capaz de driblar a imunidade induzida por ela? O SARS-CoV-2 permanecerá entre nós.

Quanto mais contagiosa for a variante e mais pessoas não vacinadas disseminarem o vírus, mais tempo ele terá para sofrer novas mutações.

Enfrentar epidemia de tal complexidade exige especialistas competentes, coordenação centralizada, serviços de saúde organizados e políticos conscientes de suas responsabilidades, para convencer a
população de que todos devem se vacinar e tomar os demais cuidados para reduzir ao máximo a transmissão.

Admitir que autoridades inescrupulosas se dediquem a fazer exatamente o oposto, pondo em risco a saúde e a vida de todos impunemente, é um péssimo exemplo para lidar com esta e com as futuras epidemias. A Justiça não tem o direito de se omitir, precisa deixar claro para as próximas gerações que crimes contra a saúde pública devem ser punidos com rigor em nosso país.

Drázio Varella é Médico cancerologista. Autor de "Estação Carandiru". Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, em 26.01.22.

EUA rejeitam proposta da Rússia e dizem que guerra na Ucrânia depende de Putin

Secretário Blinken afirma estar aberto para diálogo; antes, Moscou prometera retaliar

                       

        Uma bateria antiaérea Strela-10 da Ucrânia durante treinamento na região de Volin - Comando das Forças Terrestres Ucranianas/via Reuters

Os Estados Unidos rejeitaram formalmente as propostas russas para tentar solucionar a crise com a Ucrânia nos termos desejados por Vladimir Putin. Afirmam que guerra ou paz no país europeu agora dependem da reação do russo e que estão "preparados de qualquer jeito".

As afirmações foram feitas pelo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, responsável pela diplomacia do país, em entrevista em Washington. Ao mesmo tempo, conversas entre Rússia, Ucrânia, Alemanha e França em Paris resultaram apenas no acerto para uma nova reunião, em Berlim.

Blinken não detalhou o documento entregue a seu colega russo, Serguei Lavrov, porque confia em "conversas confidenciais". Em um sinal de que diz temer um conflito iminente, a embaixada americana em Kiev pediu que todos os seus cidadãos deixem o país.

A resposta americana era previsível e manteve a disposição de conversar. "Estamos abertos ao diálogo", disse Blinken. Depois, sem detalhar, ele falou sobre as demandas apresentadas por escrito por Putin:

1) Expansão da Otan. O Kremlin quer a volta da aliança militar a seu tamanho antes da absorção de membros ex-comunistas, a partir de 1999. Blinken disse não.

2) Entrada da Ucrânia. Putin queria o compromisso de que a aliança nunca chegaria às suas portas na grande fronteira com os ucranianos. Blinken disse não e ressaltou que não abre mão da soberania territorial de Kiev.

3) Outros temas. Aqui está a porta de saída do imbróglio, se é que ela existe com exercícios militares envolvendo milhares de russos em três lados da Ucrânia. Blinken disse estar aberto a mais diálogos e citou temas como desarmamento nuclear e monitoramento de exercícios militares mútuos.

O problema é que tudo isso já havia sido colocado na mesa antes, em três semanas de negociações diversas. O secretário americano disse que deverá falar novamente com Lavrov, assim que o chanceler conversar com Putin sobre o óbvio: o impasse segue.

Talvez mais importante, Blinken insistiu que haverá conversas com reciprocidade "se a Rússia desescalar suas forças" em torno da Ucrânia —de 100 mil a 175 mil soldados mobilizados desde novembro, insuficiente para uma invasão total, mas adequado para ações como a eventual anexação do Donbass.

A região no leste ucraniano está no centro da crise. Em 2014, Putin anexou a Crimeia e ajudou rebeldes pró-Rússia de lá numa guerra civil que já matou 14 mil pessoas porque o governo que o apoiava em Kiev foi derrubado. Para o Kremlin, a Ucrânia e o resto de seu entorno têm de ser neutros ou aliados —como eram na União Soviética ou no Império Russo. Politicamente, além de tudo, uma Kiev melhorada com amplo apoio ocidental poderia ser vendida aos russos como exemplo do que fazer com seu próprio país.

Por fim, Putin compartilha a noção da elite russa de que a Ucrânia não é bem um país, mas um pedaço da Rússia. Na Belarus, que compartilha com os dois vizinhos laços étnicos, linguísticos e culturais, o processo de fusão está acelerado devido ao apoio do Kremlin à repressão da ditadura contra a oposição.

Não houve resposta imediata de Moscou. Em Paris, um encontro de oito horas entre representantes russos, ucranianos, alemães e franceses não chegou a conclusão, mas uma nova reunião foi marcada para daqui a duas semanas, em Berlim. Tempo ganho, apesar das pressões russas nas fronteiras. "Não foram conversas fáceis", disse Dmitri Kozak, o enviado de Moscou.

O tom do Kremlin, contudo, tinha sido dado por Lavrov em discurso horas antes na Duma, a Casa baixa do Parlamento russo. "Se o Ocidente continuar seu curso agressivo, Moscou irá tomar as medidas retaliatórias necessárias", afirmou o chanceler. "Nós não vamos deixar nossas propostas serem afogadas em discussões sem fim."

E Blinken, repetindo o que já vinha sendo falado antes, basicamente propôs uma discussão sem fim. Além disso, desfiou o rosário de armamentos entregues para os ucranianos recentemente, como sistemas antitanque Javelin, desenhados para enfrentar blindados russos.

Os EUA, afirmou ele, estão comprometidos em ajudar Kiev a se defender. Na prática, isso poderia aumentar a fatura para Putin, mas não impediria uma vitória ao menos inicial de Moscou —ainda que ocupar seja uma coisa, como disse Maquiavel, e manter território, outra.

No Kremlin, o porta-voz Dmitri Peskov disse que a ameaça do governo de Joe Biden de aplicar sanções contra altos oficiais russos, talvez até Putin, "politicamente, não é dolorosa, é destrutiva", lembrando que o efeito prático seria nulo, já que autoridades no país não podem ter bens fora —oficialmente, claro.

Uma chave para o futuro da crise, se não descambar para um conflito armado, já que para Putin a simples retirada não é uma opção palatável, está no caráter confidencial dado pelos EUA ao documento e às próximas rodadas de conversa. Pode haver acomodações diversas.

Putin pode bater o pé e, em vez de agir militarmente como sempre disse que não faria, aplicar medidas outras: abrir uma base permanente na Belarus, talvez com armas nucleares, explorar o envio de tropas ou armas para seus aliados no quintal dos EUA, Cuba e Venezuela.

Essas seriam repostas "técnico-militares", como diz o jargão russo. Enquanto isso, confidencialmente, poderia negociar algum tipo de moratória de entrada de novos membros orientais na Otan, algo já vetado na prática porque tanto Ucrânia como a Geórgia têm conflitos territoriais ativos.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, deu uma estocada em Putin após a fala de Blinken. Disse à CNN elogiar a disposição dos EUA para o diálogo, mas lembrou que a Rússia deveria retirar suas tropas de solo ucraniano, georgiano e moldavo —onde apoia um encrave separatista chamado Transnístria.

O mesmo Stoltenberg, por outro lado, afirmou que Rússia e Otan deveriam restabelecer laços diplomáticos para abrir canais de negociação, o que pode ser vendido em Moscou como uma vitória, ao menos ao público doméstico.

Radicais de lado a lado deram a cara. O líder do Rússia Unida, partido de sustentação de Putin no Parlamento, pediu que o Kremlin forneça armas para os rebeldes do Donbass, por exemplo. No mais, os EUA mantiveram as ameaças de sanções econômicas caso a Rússia resolva invadir o vizinho. Nada de novo, e a resistência do Kremlin desde 2014 fez aumentar o questionamento da eficácia das medidas.

Politicamente, Putin até aqui conseguiu um objetivo secundário na crise, que é o de expor as divisões internas dos membros europeus da Otan. A Alemanha, maior cliente do gás russo na Europa, tem adotado uma linha ambígua na crise. Com um governo recém-eleito, o país viu o comandante de sua Marinha ter de se demitir por dizer que Putin era uma força respeitável e que a Crimeia nunca mais voltaria à Ucrânia.

No Parlamento Europeu, uma sessão nesta quarta-feira questionou, de acordo com relatos, a instalação de uma missão de treinamento militar da União Europeia na Ucrânia, liderada pela Alemanha. Berlim, que já fizera algo semelhante em países africanos, ainda não assumiu a tarefa.

O governo alemão tem na mão um dos maiores instrumentos para pressionar Putin: a autorização de funcionamento do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia ao país.

Ele ficou pronto em setembro e, quando operar, poderá tirar boa parte do fluxo do produto que hoje passa pela Ucrânia —deixando US$ 2 bilhões anuais de pedágio. Blinken queixou-se da transformação da commodity em arma de guerra e voltou a prometer opções de fornecimento à Europa.

Igor Gielow para a Folha de S. Paulo, em 26.jan.2022. Atualizado às 17h10.

Em novo recorde de casos, Brasil registra 224,5 mil infecções e 570 mortes por covid-19

Com isso, o país totaliza 24.535.884 casos oficiais e 624.413 mortes na pandemia até o momento.

Dezenas de pessoas na estação da Luz, em São Paulo; país vive novo pico de casos de covid-19

O Brasil registrou oficialmente mais 224.567 casos de covid-19 nas últimas 24 horas, um novo recorde em infecções diárias, segundo o boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) desta quarta-feira (26/1). Foram registradas 570 mortes nas últimas 24 horas, em mais um crescimento no número de óbitos.

Vale lembrar que, no fim de semana e às segundas-feiras, os números costumam ser mais baixos, pela demora em contabilizar casos. Por conta disso, a média móvel dos últimos sete dias costuma ser um indicador mais fiel do retrato atual da pandemia - embora a escassez de testes e o apagão de dados do Ministério da Saúde apontem que até mesmo esse indicador é inferior à situação real de contágio do país.

A média móvel de casos dos últimos sete dias é de 159.877 mil casos diários, a mais alta de toda a pandemia, e ainda crescendo.

A média móvel de óbitos nos últimos sete dias é de 365 mortes diárias. Esse foi o 15º dia consecutivo de alta na média móvel de óbitos — em comparação, em 11 de janeiro, o valor foi de 122.

Ainda assim, o patamar hoje é mais baixo em relação aos picos da pandemia, distante do números de abril de 2021, quando a média ultrapassou 3,1 mil mortes diárias.

O número de casos desta quarta-feira supera o recorde anterior, registrado em 19 de janeiro, quando foram contabilizados 204.854 casos em 24h.

O crescente índice de novas infecções nos últimos dias tem acendido o alerta em diversas regiões do país, que anunciaram a retomada de medidas sanitárias para tentar conter a propagação do coronavírus.

Desde o início de janeiro, a média e o número de casos da doença estão em franca ascensão, o que é atribuído em grande parte à variante ômicron.

De acordo com o painel da Universidade Johns Hopkins, os Estados Unidos lideram globalmente em número de casos (72,5 milhões) e óbitos (874 mil).

Em relação aos casos oficialmente registrados, em 2ª lugar vem a Índia (40 milhões), e depois o Brasil. Em mortes, o Brasil está, de acordo com dados oficiais, em segundo lugar o mundo — embora a subnotificação de casos e mortes em diversos países (como Brasil, Rússia e Índia) torne as comparações mais complexas.

Após um primeiro semestre de 2021 com um ritmo muito aquém de nossas capacidades, a campanha brasileira de vacinação contra a covid-19 finalmente deslanchou em julho do ano passado — e agosto foi um mês com intenso avanço nessa seara, o que se manteve, de modo geral, em setembro e outubro.

Os últimos dados nacionais disponíveis, de 8 de dezembro (já defasados, portanto), mostram que pouco mais de 138,25 milhões de pessoas já haviam completado o ciclo vacinal com as duas doses ou com a dose única.

Esses dados deixaram de ser atualizados desde que o sistema do Ministério da Saúde sofreu um ataque hacker, de acordo com o governo federal.

Após a imunização da população mais jovem e adolescentes e do início da aplicação de doses de reforço, o país vive um novo desafio: a inclusão de crianças na campanha.

Em 16 de dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos.

Porém, o Ministério da Saúde somente anunciou o início da vacinação para esse grupo em 5 de janeiro.

Após o aval da Anvisa, crianças a partir de de 6 anos também começaram a ser vacinadas com a CoronaVac.

A pandemia não acabou (Getty Images)

Especialistas alertam: a pandemia não acabou. Em razão disso, recomendam cautela na flexibilização de medidas como o uso de máscara ou distanciamento social.

Ainda exige atenção também a presença das variantes mais agressivas, especialmente a delta e a ômicron, detectadas originalmente na Índia e na África do Sul, respectivamente, que parecem ter uma taxa de transmissibilidade bem superior às demais versões do coronavírus.

O que deve ser feito agora?

Todos os Estados do país já têm casos e óbitos confirmados de coronavírus (EPA)

Diante de um cenário recheado de incertezas sobre o futuro, os especialistas parecem não ter dúvidas sobre quais medidas seriam necessárias neste momento da pandemia no Brasil — algumas delas, inclusive, sequer foram implementadas ao longo dos últimos meses.

Para começo de conversa, o país deveria ter um melhor controle de suas fronteiras, com testagem de passageiros e funcionários em aeroportos, portos e rodovias. Isso dificultaria, inclusive, a entrada de novas variantes de preocupação em nosso território.

O segundo passo seria lançar mão de um amplo programa de testagem, rastreamento de contatos e isolamento dos casos positivos. Políticas desse tipo explicam parte do sucesso que é observado em países como Austrália e Nova Zelândia. Afinal, ao detectar precocemente um paciente infectado e colocá-lo em quarentena, é possível quebrar as cadeias de transmissão do coronavírus na comunidade.

Ainda na seara das análises laboratoriais, o país também requer uma vigilância genômica mais ampla, capaz de fazer sequenciamento genético das amostras de pacientes infectados para saber quais são as variantes mais prevalentes em cada local.

Também precisávamos criar campanhas de comunicação para incentivar o uso de máscaras (especialmente modelos mais confiáveis, como a PFF2) e desencorajar as aglomerações.

Por fim, é vital manter, ou eventualmente até acelerar, o ritmo da campanha de imunização. Quanto mais brasileiros estiverem protegidos, melhor para todo mundo: a experiência de outros países aponta que as internações e as mortes por covid-19 caem de forma significativa quando uma porcentagem considerável da população recebeu as duas doses.

Esse conjunto de estratégias aponta para uma saída segura e efetiva da pandemia — e tem o potencial de evitar novas marcas tristes e negativas num futuro próximo.

Histórico da pandemia

O primeiro registro do coronavírus no Brasil foi em 26 de fevereiro do ano passado.

Um empresário de 61 anos de São Paulo (SP) foi infectado após retornar de uma viagem, entre 9 e 21 de fevereiro, à região italiana da Lombardia.

O novo coronavírus, que teve seus primeiros casos confirmados vindos da China no final de 2019, passou a ser tratado como pandemia pela OMS a partir de 11 de março de 2020.

Estudos apontam que a grande maioria dos casos do novo coronavírus apresenta sintomas leves e pode ser tratado nos postos de saúde ou em casa.

No entanto, novas variantes têm se mostrado mais contagiosas e, na percepção de médicos, algumas têm afetado com mais gravidade também a população mais jovem, em vez de apenas idosos e pessoas com comorbidades.

Publicado originalmente por BBC News Brasil, em 26.01.22.

Entenda a polêmica sobre o salário de Moro e o contrato com a Alvarez & Marsal

Ex-juiz Sérgio Moro é pressionado pelo TCU a dar explicações sobre os serviços prestados à consultoria americana Alvarez & Marsal; PT chegou a cogitar uma CPI sobre o caso

Moro afirma que sua atuação na consultoria Alvarez & Marsal não tinha qualquer relação com as empresas denunciadas na Lava Jato.  Foto: Denis Ferreira Neto/Estadão - 2/12/2021

Desde que se lançou na política, o ex-juiz e pré-candidato à Presidência Sérgio Moro (Podemos) tem sido cobrado a dar explicações sobre sua trajetória na iniciativa privada. Moro atuou na área de compliance da consultoria americana Alvarez & Marsal ao deixar o Ministério da Justiça, em 2020. A consultoria presta serviços a empresas denunciadas na Lava Jato, o que tem motivado os questionamentos. Moro encerrou seu contrato com a Alvarez & Marsal em outubro, e os termos da rescisão também passaram a ser alvo de investigação no Tribunal de Contas da União. 

Provocado pelo procurador Lucas Furtado e por ordem do ministro Bruno Dantas, o TCU abriu procedimento para apurar eventual conflito de interesses na atuação de Moro junto à consultoria. A Corte quer saber os termos do contrato e valores previstos no encerramento, incluindo o salário que Moro recebia na empresa.  

Adversários políticos têm aproveitado o tema para cobrar "transparência" de Moro, que afirmou ao Estadão que vai revelar sua remuneração à Justiça Eleitoral. “Eu vou revelar meu salário, vou apresentar meu imposto de renda, declarar todos meus ganhos”, disse.

"No setor privado meu trabalho não era defender empresa, era dar consultoria para empresas adotarem políticas antissuborno, compliance, due diligence, investigação corporativa interna (...) Essa hipótese do TCU além de fantasiosa é absurda", afirmou.

Esta semana, o Ministério Público junto ao TCU encaminhou pedido para que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) seja acionado e ajude a quebrar o sigilo que impede a divulgação do salário do ex-juiz nos Estados Unidos. Segundo o procurador, a quebra do sigilo ajuda a explicar se houve ou não conflito de interesses no caso.

No ofício encaminhado ao gabinete do ministro do TCU em dezembro, Furtado aponta que ‘se avaliam questões relativas a possíveis conflitos de interesse, favorecimentos, manipulação e troca de favores entre agentes públicos e organizações privadas’. A Alvarez & Marsal administra o processo de recuperação judicial da construtora Odebrecht, alvo da Lava Jato, e recebeu em honorários dezenas de milhões de reais de empresas denunciadas pela operação. 

"A relação (com a empreiteira) precede à minha ida e não tem nenhuma relação com defesa da Odebrecht em casos de corrupção. É administradora da recuperação judicial, está a serviço do juiz que a nomeou e dos credores da Odebrecht", ele afirmou ao Estadão.

Os principais questionamentos que giram em torno de Moro dizem respeito à prática de revolving door — quando um servidor público migra para o setor privado na mesma área em que atuava, levando consigo benefícios à empresa, como acesso a informações privilegiadas — e lawfare, uso estratégico do sistema jurídico em benefício próprio. 

Em outra frente, lideranças do PT passaram a avaliar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a existência de conflito de interesse na contratação de Moro. Contudo, o partido recuou da ideia. Nas redes sociais, o ex-juiz afirmou que a criação do colegiado seria um “tiro no pé”. 

“(O PT) percebeu que além de não haver justificativa legal, seria um tiro no pé, pois a CPI seria uma oportunidade de relembrar aqueles que realmente receberam suborno das empresas investigadas na Lava Jato”, escreveu o presidenciável do Podemos.

O ex-juiz se defende das acusações e diz que tem “absoluta tranquilidade” em relação ao que fez em sua carreira como juiz. Ele afirma que foi trabalhar na Alvarez & Marsal por não ter enriquecido no setor público. “Fui trabalhar, precisava ganhar dinheiro. E aí recebia pagamento de um serviço que eu prestava. Jamais prestei serviço para empresa envolvida na Lava Jato. Quem fala isso mente”, disse em entrevista ao podcast Flow.

Na segunda-feira, a Alvarez & Marçal divulgou nota afirmando que o contrato assinado pelo presidenciável impedia a prestação de serviços a empresas ligadas à Lava Jato; segundo o ex-juiz, sua atuação era restrita a apoio a compliance.

"Seu contrato foi expresso em impedi-lo de atuar direta ou indiretamente no atendimento a clientes que tivessem qualquer envolvimento com a operação Lava Jato ou empresas investigadas por ele ao longo de sua carreira como juiz ou ministro, estando totalmente delimitado a atuar dentro do seu escopo de trabalho em disputas e investigações. O contrato possui ainda uma cláusula de confidencialidade, que não permite sua divulgação sem o consentimento da outra parte", diz a nota.

Davi Medeiros, O Estado de S.Paulo, em 26 de janeiro de 2022 | 10h13

Flagelo convergente, constata Waack

Os dois líderes das pesquisas não convencem em como tirar o Brasil da estagnação

Os seguidores de Lula e os de Bolsonaro detestam que seus respectivos chefes sejam comparados entre si. Sim, são gritantes as diferenças, mas ambos convergem em ponto crucial. Os líderes das pesquisas não apresentaram até aqui um conjunto de ideias coordenado de como tirar o País da estagnação.

Cada um ajudou a aprofundar aquilo que o professor e economista da FGV Fernando de Holanda Barbosa deu o título em recente publicação de “flagelo da economia de privilégios”. Os privilegiados, segundo o autor, são empresários obtendo subsídios, tratamento fiscal diferenciado, conjuntos de trabalhadores com tratamentos especiais, funcionários dos três Poderes com salários acima do setor privado, além de aposentadorias e pensões também especiais.

Líderes das pesquisas não apresentaram até aqui um conjunto de ideias coordenado de como tirar o País da estagnação. Foto: Amanda Perobelli/Reuters e Dida Sampaio/Estadão

O “conflito social” entre enormes grupos de privilegiados e o resto produz as cíclicas crises fiscais das quais a atual está longe ainda de ter sido debelada. E ela precisa ser resolvida logo, sob o risco de tirar qualquer perspectiva de futuro para o País. 

A manutenção do sistema de privilégios é também o pano de fundo para se entender o embate político no Brasil que, no extremo, não passa de disputa cada vez mais acirrada (pois os cofres quebraram) por extrair renda do Estado. A esfera da política, em especial a do Legislativo, reflete essas “escolhas” pelo voto, e sustenta o cenário macro no qual falta investimento pois falta poupança e falta poupança pois não há uma “escolha” política nesse sentido.

A convergência entre os personagens políticos Lula e Bolsonaro se dá, portanto, no fato de representarem a manutenção do “status quo” – algo que enfurece as respectivas claques, especialmente a acadêmica, mas que todo dia encontra exemplos no noticiário sobre a facilidade com que os grupos de privilegiados pulam de um lado para o outro do espectro político.

A rigor, as próximas eleições deveriam ser vistas como o verdadeiro choque entre as forças empenhadas em mover o País para fora do flagelo dos privilégios e o “sistema”, que dá sinais de estar confortável com Lula ou Bolsonaro (o Centrão vai mandar tanto faz qual dos dois). Mas essas forças, chamadas de “terceira via”, estão desarticuladas, ainda que tenham cabeças brilhantes, think tanks excelentes e diagnósticos precisos.

É necessário reconhecer que não se trata apenas de sucesso eleitoral em prazo historicamente muito curto. O problema maior é enfrentar a situação de um país que dá preferência a consumo em vez de poupança, e está desprovido de uma noção geral de justiça social e combate à desigualdade.

William Waack, o autor deste artigo, é apresentador do Jornal da CNN Brasil. Publicado originalmente n'O Estado de S.Paulo, em 20 de janeiro de 2022.

O mal que Lula faz à democracia

As sondagens de intenção de voto mostram que parte do eleitorado está se esquecendo de quem é Lula. Convém recordar o que o PT fez em sua passagem pelo poder

Considerando tudo o que o PT fez e deixou de fazer ao longo de seus 40 anos de existência – muito especialmente, no período em que Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff estiveram no Palácio do Planalto –, uma nova candidatura petista à Presidência da República não deveria suscitar entusiasmo na população. A legenda que supostamente seria progressista, ética e renovadora da política percorreu um caminho muito diferente, colecionando casos de corrupção, aparelhamento do Estado, apropriação do público para fins privados e políticas econômicas desastradas.

No entanto, apesar de todo esse passivo, Luiz Inácio Lula da Silva tem aparecido em primeiro lugar nas sondagens de intenção de voto para presidente da República. Às vezes, com margem de vantagem suficiente para a vitória em primeiro turno. Sabe-se que as eleições ainda estão distantes no tempo e na cabeça do eleitor. As pesquisas de agora não se prestam a prever o que vai ocorrer em outubro nas urnas. Há tempo para muitas mudanças. De toda forma, as sondagens revelam um dado importantíssimo: parte do eleitorado está se esquecendo de quem é Lula. Convém, portanto, resgatar essa memória.

Para começar, o líder petista não tem nenhuma credencial para se apresentar como o salvador da democracia. Antes de assumir o governo federal, o PT notabilizou-se por uma oposição absolutamente irresponsável, numa lógica de quanto pior para o País, melhor para Lula. Sem base jurídica, apenas para criar instabilidade, o partido apresentou pedidos de impeachment contra Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Sabotou sistematicamente os projetos apresentados pelo Executivo. Fechada ao diálogo, a legenda de Lula tratava tudo o que viesse do governo federal – rigorosamente tudo: Plano Real, modernização do sistema de telefonia, criação das agências reguladoras ou mesmo propostas de melhoria para a educação pública – como ocasião para criar desgaste.

Depois de chegar ao Palácio do Planalto, o PT continuou sua tradição antidemocrática. Apenas mudou de lado na mesa. São famosos e variados os escândalos de fisiologismo do partido de Lula. O mensalão é caso paradigmático de perversão do regime democrático, com uso de dinheiro público para manipular a representação política.

O petrolão foi ainda mais perverso, ao colocar toda a estrutura do Estado, incluindo estatais e empresas de capital misto, a serviço do interesse eleitoral do partido. Não foi apenas um conjunto de ações para desviar uma enorme quantidade de dinheiro público e privado. Todo o esquema estava orientado a alimentar a máquina eleitoral de Lula.

Também nas relações com os grupos políticos divergentes, Lula manteve, uma vez no poder, a mesma trilha antidemocrática. Passou a deslegitimar toda e qualquer oposição ao seu governo, criando uma das mais infames campanhas de incivilidade, intolerância e autoritarismo da história nacional: a do “nós” (os virtuosos petistas) contra “eles” (todos os que não aceitam Lula como seu salvador). O País segue ainda padecendo diariamente dessa irresponsável divisão social, da qual, não por acaso, Lula pretende extrair os votos para voltar à Presidência.

A atuação antidemocrática de Lula continuou após a saída do PT do governo federal. Nos últimos anos, o líder petista dedicou-se a desmoralizar, perante o mundo, o Estado Democrático de Direito brasileiro. Em vez de uma defesa técnica nas várias ações penais em que se viu envolvido, Lula promoveu verdadeira campanha difamatória contra o Judiciário, sugerindo que, por trás de cada condenação, mesmo colegiada e amplamente baseada em provas, havia uma conspiração (internacional!) para prejudicá-lo. A decisão do Supremo sobre a incompetência de determinado juízo, que libertou Lula, não torna menos grave o comportamento do ex-presidente e do PT. Ao se apresentar como perseguido político, Lula deixa claro que não acredita nas instituições democráticas do País.

Depois do ambiente de ameaças e de ataques à democracia criado pelo bolsonarismo – a exigir uma resposta responsável dos partidos e dos eleitores –, parece piada de mau gosto com o País pensar no PT como eventual solução. Lula nunca tratou bem a democracia brasileira.

Editorial / Notas&Informações, O Estado de S.Paulo, em 23 de janeiro de 2022

Porandubas Políticas

Por Gaudêncio Torquato

Abro Porandubas com o espetacular Adriano Suassuna, o famoso autor de Auto da Compadecida e de grandes aulas sobre o conhecimento humano. Antes, um parêntesis. Este escriba tem o maior respeito por suas leitoras e leitores. A historinha de hoje não sinaliza desrespeito, tão somente um exemplo dos "causos" hilários protagonizados por Ariano, que incluo na categoria tão celebrada por Vergílio na Eneida: "poetis et pictoribus omnia licet" ("Aos poetas e pintores, tudo é permitido").

Dito isto, vamos à historinha.

O escritor pernambucano Ariano Suassuna (1927-2014) estava terminando a aula quando certo estudante, tatuado, jeitão de hippie, óculos redondos, bolsa com franjas e chinelo de couro, faz a pergunta respondida de pronto:

— O senhor não acha que o rock é um som universal?

— Meu filho, som universal só conheço três: arroto, espirro e peido.

A estrela do bolsonarismo

Olavo de Carvalho, a estrela que brilha nas mentes bolsonaristas, desaparece aos 74 anos de idade. Era um descrente da Covid e das vacinas. Perdeu para o vírus, que deve ter se aproveitado do conjunto de comorbidades do guru. Foi embora do Brasil por descrédito na política e esperançoso de que, longe, poderia fazer "uma igreja" com seus crentes. Nunca polemizei com o "filósofo", que massacrava todos aqueles de quem discordava.

Certa vez

Certa vez, deparei-me com um artigo de Olavo disparando flechadas contra esse escriba. Não entendi a razão. Fiz, ao longo de minhas análises políticas, severas críticas ao lulismo. Nunca li na cartilha de Lula. Mas sempre reconheci seu valor e sua persistência na política. Olavo foi duro, considerando-me um lulista. Risos. Leu errado. Era de sua índole questionar tudo e todos. Não respondi. Morreu sem minha resposta. Descanse em paz.

E agora?

Pergunto-me: e agora, o que poderá ocorrer com a leva de crentes que liam nas páginas do guru? Continuar a desacreditar na Covid? Dizer que morreu de causas naturais? E os fiéis ex-ministros Abraham Weintraub, da Educação, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores? Aliás, o que fará Weintraub? Candidato a que? Deputado Federal por São Paulo, talvez esta seja sua melhor opção.

Viabilidade

Só para lembrar os fatores que explicam a viabilidade de um governo, segundo Carlos Matus, ideólogo chileno: a) a viabilidade política; b) a viabilidade econômica; c) a viabilidade cognitiva e d) a viabilidade organizativa. Bolsonaro acertou os ponteiros da viabilidade política, com o apoio do Centrão. Está perdido na questão da organização de seu governo, com ministros o desajudando. Está carente na viabilidade econômica, com o PIB sendo rebaixado pelo FMI. E quanto à viabilidade cognitiva, também fica a dever, com a montanha de dúvidas que persistem e obscurecem a identidade do governo. Afinal, o que quer e para onde pretende levar o país?

O que espera Bolsonaro?

Afinal de contas, quais os trunfos que se escondem na cabeça do Bolsonaro? O programa Auxílio Brasil? Recuperação da economia? Capacidade de Carlos Bolsonaro fazer milagres nas redes sociais? Ora, o filho Eduardo, o deputado Federal, está sendo isolado da campanha por seu radicalismo? Em política, tudo é possível. Mas, mesmo como reconhece a Bíblia, será difícil passar um elefante no buraco de uma agulha.

Lula

E Luiz Inácio, hein? Da esquerda do "vira a mesa", dos velhos tempos da luta de classes, Lula agora vira um perfil que quer atrair os integrantes do centro e até da direita. E até, tu, Geraldo Brutus? O que te impressionou a ponto de apagar tudo que disseste de Lula e fazer de conta que ambos são amigos desde os tempos dos primeiros passos? O que a política não faz, hein?

Matreirice

Lula transformou-se em renomada raposa da política. Matreiro como jamais foi. Uma espécie de José Maria Alkmin dos tempos de outrora. Conhecem esta?

O milagre de Fátima

José Maria Alkmin, a raposa mineira, mestre da arte política, chegava da Europa com cinco garrafas enroladas na pasta. A Alfândega quis saber o que era.

– Água milagrosa de Fátima.

– Mas tudo isso?

– Lá em Minas o pessoal acredita muito nos milagres da água de Fátima. Não dá para quem quer.

– O senhor pode desenrolar?

– Pois não, meu filho.

– Mas, deputado, isso é uísque.

– Ué, não é que já se deu o milagre?

Pico da contaminação

O pico da contaminação está à vista. Teremos novamente a avassaladora onda de contaminação que persistiu por ocasião da variante Delta no ano passado. Espera-se que tudo volte ao normal? Sonho. O desespero está nos estabelecimentos hospitalares, onde faltam insumos e mão de obra para enfrentar a onda da Ômicron. Quem entrou em hospital ou conversa com profissionais da saúde sabe o tamanho da encrenca.

Tasso e Simone

Tasso Jereissati está sendo procurado por Lula para papear sobre sua adesão ao candidato petista. Esse analista não acredita que Tasso embarque nessa. E Simone Tebet, Tasso? Quem sabe ela não dá um salto? Quem sabe, cai a ficha de milhões de brasileiros que desejam aposentar o radicalismo? Fui amigo de Ramez Tebet. Um dos perfis mais dignos que este escriba conheceu em sua vida profissional de comunicação política. Simone é uma política de respeito. Já provou ser uma grande administradora. Foi prefeita de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, onde deixou um rastro forte de sucesso.

E se o bicho for longe...

E se o vírus Ômicron não sair da paisagem e continuar no pano de fundo da campanha eleitoral? A radicalização tende a se intensificar. A conferir.

Federações

As federações partidárias constituem uma solução para clarear a política. Partidos com um mesmo tronco identitário tendem a se unir, ficando mais fácil ao eleitor compreender os espaços do arco ideológico, direita, centro-direita, centro, centro-esquerda, esquerda. Os partidos se comprometem a passar quatro anos juntos. Distribuição correspondente aos espaços midiáticos e recursos partidários. Se um quiser sair, as federações precisam contar com pelo menos três protagonistas. A política mais clara permitirá escolher por conteúdos e programas ideológicos.

SP e MG

Olhem o que pode acontecer com Minas Gerais, que é uma síntese do Brasil, uma banda virada para o Nordeste, outra banda virada para o Sudeste. E o carro-chefe da Federação, São Paulo?

O interiorzão

Este analista costuma conversar com eleitores do fundão do país, em sua maioria, eleitores fanáticos de Bolsonaro, que não se cansam de conclamar: "aqui, Lula já era. Bozo ganha de lavada". Podem até acertar suas previsões. Mas nos centros médios e avançados, o voto em Bolsonaro se esvai, diminui, seca a olhos vistos. A não que ser que nossos olhos não consigam mais enxergar bem. Estou há 40 anos olhando para a paisagem.

Fecho a coluna com a fama dos políticos.

Ninguém tem provas

Numa festa, a dona de casa recebe um político famoso.

— Muito prazer! — diz ele.

— O prazer é meu! Saiba que já ouvi muito falar do senhor!

— É possível, minha senhora, mas ninguém tem provas!

Torquato Gaudêncio, cientista político, é Professor Titular na Universidade de São Paulo e consultor de Marketing Político.

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Três partidos do Centrão controlam mais de R$ 149,6 bilhões do governo Bolsonaro

PP, PL e Republicanos comandam 32 cargos em postos-chave na administração federal; especialistas veem controle "sem precedentes" pelo grupo desde a redemocratização

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, ao lado do presidente Jair Bolsonaro: Centrão controla quase R$ 150 bilhões no governo Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo/13-12-2021

Na reta final do mandato do presidente Jair Bolsonaro, o Centrão conquistou sua influência mais decisiva sobre os cofres públicos. Um levantamento feito pelo GLOBO aponta que os três principais partidos do bloco — PP, PL e Republicanos, esteios da campanha de reeleição de Bolsonaro — comandam ao menos 32 postos-chave na administração federal e têm sob gestão mais de R$ 149,6 bilhões. Além disso, deputados e senadores dessas legendas foram beneficiados com ao menos R$ 901 milhões do orçamento secreto, mecanismo de distribuição de verba parlamentar de forma desigual e sem transparência.

A cifra de quase R$ 150 bilhões é maior do que o orçamento total estimado para este ano dos ministérios da Defesa (R$ 116,3 bilhões) e da Educação (R$ 137 bilhões). O Ministério da Saúde tem um pouco mais: R$ 160 bilhões.

No comando da Casa Civil, o PP tem 16 indicados entre os levantados pelo GLOBO. PL e Republicanos, por sua vez, têm oito nomes em posições de chefia na máquina pública (veja infográfico abaixo). Dentre esses cargos mais cobiçados está o da presidência do Banco do Nordeste (BNB), ocupada interinamente na semana passada por um apaniguado do ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, legenda à qual Bolsonaro se filiou em novembro. Embora tenha um orçamento de R$ 144 milhões, a instituição financeira, que protagonizou escândalos de corrupção, administra R$ 65 bilhões em ativos.

Poder irrestrito

Outro órgão importante sob a administração de expoentes do Centrão é o Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), presidido por Marcelo Lopes da Ponte, ex-chefe de gabinete de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil. O FNDE tem um orçamento previsto para este ano de R$ 37 bilhões. Já o diretor de Ações Educacionais do fundo é Garigham Amarante Pinto, próximo de Valdemar. O FNDE é responsável por fazer repasses de recursos destinados a estados e municípios de todo o Brasil.

Superintendências e outros órgãos regionais não têm orçamento próprio, estando vinculados à administração central. Entretanto, um levantamento feito pelo gabinete do senador Alessandro Vieira (Cidadania-RE) e dos deputados Filipe Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral (PSB-SP) mostra que 16 dos órgãos comandados por indicados do Centrão empenharam R$ 1,1 bilhão em 2021.

Embora tenha sido eleito em 2018 pregando contra a política tradicional, Bolsonaro abriu cada vez mais espaço à ala que costuma compor o governo independentemente de quem ocupa a cadeira mais importante da República. Reunidos mais pelo pragmatismo político do que pelas orientações ideológicas, dirigentes do Centrão receberam do presidente os ministérios da Casa Civil (comandada pelo PP), da Secretaria de Governo (PL) e da Cidadania (Republicanos). Os dois primeiros são responsáveis pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso — e por definirem tanto a distribuição de cargos públicos quanto a liberação de verbas parlamentares. Já o terceiro, cujo orçamento é de R$ 108,7 bilhões, cuida do Auxílio Brasil, um dos principais programas sociais do país. Na prática, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, a cúpula do Centrão passou a ter o poder na caneta para tirar recursos das veias da máquina pública, sem passar por intermediários.

— Pelo menos em tempos de redemocratização, não há precedentes (de um cenário como este). Não tenho memória do governo Lula, Dilma ou Fernando Henrique fazerem isso com recursos orçamentários com tanta explicite e em um volume tão significativo — diz o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas.

Gil Castello Branco, economista e fundador da Associação Contas Abertas, avalia “que nunca houve uma apropriação do orçamento tão intensa como essa do Centrão”:

— Com o presidente fragilizado, com popularidade em queda livre, o preço do apoio político está subindo. De fato, a cópia da chave do cofre foi entregue ao Ciro Nogueira.

Orçamento secreto

Pela primeira vez na história recente o Centrão ocupa o ministério da Casa Civil, considerado o mais importante da máquina pública federal. Passam pela pasta praticamente as principais decisões do Executivo. Além disso, recentemente um decreto de Bolsonaro enxertou ainda mais poder nas mãos de Ciro Nogueira, ao determinar que ações como abertura, remanejamento ou corte de despesas precisam agora ter aval do presidente licenciado do PP — antes, era uma decisão apenas do Ministério da Economia. O efeito prático dessa mudança ficou perceptível durante as negociações do Planalto com o Congresso para elaborar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para tentar reduzir o preço dos combustíveis e da energia elétrica, atacando o principal desafio do governo na campanha: a inflação. As conversas foram encabeçadas pela Casa Civil, de Ciro, e não pela equipe econômica.

Em outro levantamento, publicado em dezembro, O GLOBO revelou uma lista de 290 deputados e senadores — em sua maioria, próximos ao Palácio do Planalto — que, sem transparência, foram beneficiados com emendas de relator e distribuíram recursos para as suas bases eleitorais. Os valores rastreados foram empenhados em 2020 e 2021 e chegam a R$ 3,2 bilhões, uma amostra dos R$ 36 bilhões que compuseram as emendas de relator no período. Desses recursos com destinação conhecida, R$ 901 milhões foram para PP, PL e Republicanos.

Um exemplo ilustrativo de como as engrenagens de cargos e verbas se movem a favor de aliados governo ocorreu em Alagoas. À frente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no estado, está João José Pereira Filho, primo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O superintendente do órgão administra um caixa de R$ 83,9 milhões de emendas do relator apadrinhadas por Lira — e os repasses desses recursos já tiveram como destino, por exemplo, Barra de São Miguel, governada pelo pai do deputado, que nega qualquer irregularidade.

Com o apoio do governo Bolsonaro, em fevereiro do ano passado, Lira foi eleito presidente da Câmara e, pouco tempo depois, ganhou o poder de controlar o direcionamento de R$ 16 bilhões das chamadas emendas de relator. Até então, essa responsabilidade ficava com o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre. É com esse poder na caneta que Lira vem beneficiando aliados em seu partido e negociado o apoio em diversos projetos de interesse do governo no Congresso.

— Isso desequilibra a democracia. Quem tem esse volume de recursos na mão tem capacidade de galgar apoio e ter capilaridade eleitoral que nenhum outro partido ou pessoa tem. E, para além disso, há uma questão primária: parlamentar não foi eleito para fazer papel de Executivo — diz Teixeira.

O cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP), avalia que o poder crescente do Centrão foi uma espécie de seguro feito pelo presidente contra um impeachment no Congresso e de olho nas eleições deste ano:

— Qual o raiz desse problema? A escolha que o presidente fez: a crítica que se faz é o tanto de poder que o presidente Bolsonaro tem dado a esse tipo de força. O Centrão é um conjunto de forças intensamente fisiológico, com pouco compromisso com combate à corrupção e redução de desigualdade.

Dimitrius Dantas, Daniel Gullino e Bruno Góes para O Globo, em 24/01/2022 - 04:30

Ocupação de UTIs para Covid cresce em 18 estados e DF em uma semana

Oito unidades da federação já têm 80% ou mais das vagas públicas de UTI para Covid-19 em uso

Ocupação de UTIs para Covid cresce em 18 estados e DF em uma semana (© Getty Images)

Impulsionada pela nova escalada dos casos de Covid no país, a ocupação de leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) para pacientes com coronavírus cresceu em 18 estados e no Distrito Federal na última semana, aponta levantamento da repoortagem realizado junto aos governos estaduais.

Ao menos oito unidades da federação já têm 80% ou mais das vagas públicas de UTI para Covid-19 em uso. Há uma semana, eram apenas quatro estados nesse mesmo patamar.

Distrito Federal, Rondônia, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Goiás, Espírito Santo, Piauí e Pernambuco são os que estão em situação mais crítica.

A piora aconteceu a despeito de os governos estaduais terem reaberto leitos para o tratamento de pacientes com a doença. Em uma semana, o número de vagas para pacientes graves cresceu de 15.115 para 15.876 no país, um aumento de cerca de 5%.

O Distrito Federal está entre as unidades da federação que apresentam cenário mais grave. A capital federal tinha 90% dos leitos públicos de UTI ocupados no final da tarde desta terça-feira (25).

Ao todo, a capital possui 73 vagas de UTI para Covid, sendo que 58 estão ocupadas, 10 estão aguardando liberação (bloqueadas) e 5 estão vagas.

A taxa de ocupação chegou a 100% no DF na manhã desta terça, mas o governo local liberou alguns leitos que estavam bloqueados e o percentual caiu a 90%. O governo informou que 9 em cada 10 internados não estão vacinados ou não receberam ao menos duas doses.

Por causa da explosão de casos, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu que, a partir desta segunda, o Hospital Regional de Samambaia vai atender apenas casos de Covid, com exceção da maternidade.

Há 98 pacientes aguardando leitos de UTI na capital federal, sendo 7 desses com confirmação ou suspeita da Covid-19, que devem ser direcionados para unidades com atendimento da doença.

Outros dois estados do Centro-Oeste também superaram o patamar de 80% de ocupação. Em Goiás, 84% dos leitos de terapia intensiva já têm pacientes. Na capital, a pressão é ainda maior: mesmo com o incremento de 73 novas vagas em uma semana, 97% estão cheias.

Nas últimas semanas, a prefeitura de Goiânia reduziu o limite de público de eventos e estabelecimentos para 500 pessoas. Bares, restaurantes, celebrações religiosas, shopping centers, academias, salões de beleza e teatros só podem funcionar com 50% da sua capacidade.

Em paralelo, a administração municipal reforçou a fiscalização contra festas clandestinas. No último final de semana, 8 locais foram fechados dentre 20 visitados por infrações às regras sanitárias.

Em Mato Grosso, o índice de UTIs ocupadas é de 85%, superior ao da semana passada. Na capital, UBSs (unidades básicas de saúde) de quatro bairros suspenderam os atendimentos na segunda (24) após profissionais de saúde terem sido diagnosticados com gripe ou Covid-19.

Nos estados do Nordeste, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Piauí enfrentam os piores quadros.

No Rio Grande do Norte, a ocupação das unidades de terapia intensiva chega a 84%. As UTIs públicas pediátricas, com apenas três vagas, estão lotadas.

O governo do estado informou nesta terça que, diante da situação atual, está expandindo a oferta de leitos críticos e clínicos na rede. A média móvel de pedidos por leitos quadruplicou de 15, em 26 de dezembro, para cerca de 60 um mês depois.

O Piauí também teve um aumento repentino na ocupação de UTIs na última semana, saindo de 58% para 82%. Agora figura na lista de estados com maior risco de colapso no sistema de saúde.

Pernambuco, por sua vez, reduziu o percentual de 86% para 80%, mas se mantém em um cenário considerado crítico. A queda proporcional foi causada pelo aumento no número de leitos disponíveis, que subiu de 952 para 1.002.

Por causa da escalada de casos da influenza H3N2 e da Covid-19, o estado retomou medidas restritivas. Os eventos foram limitados a 3.000 pessoas pelo menos até a próxima segunda (31), e o passaporte vacinal passou a ser exigido em bares, restaurantes, cinemas, teatros e museus.

Especialistas defendem o endurecimento desse tipo de limitação. O médico Bruno Ishigami, do Recife, explica que, mesmo com a variante ômicron provocando mais casos leves, a quantidade de casos é tão elevada que o número absoluto de pessoas que precisam de internação é muito alto.

"Festas privadas, por serem uma aglomeração com 3.000 pessoas, podem ajudar a aumentar a taxa de contaminação com vírus circulantes. O ideal é a proibição das festas agora", afirma.

Nos estados do Norte, Rondônia também enfrenta um quadro crítico, com 91% das 55 vagas para pacientes graves com Covid-19 ocupadas. Um dos três hospitais com leitos públicos para Covid da capital, Porto Velho, já não tem mais vagas.

O Amazonas, que viu o seu sistema de saúde colapsar nas duas primeiras ondas da doença, tinha 81% dos leitos de UTI para Covid-19 ocupados neste domingo (23). Desde o início do mês, o número de pacientes graves internados na capital amazonense mais do que triplicou, saltando de 23, em 1º de janeiro, para 74 neste domingo.

Em meio à explosão da transmissão do vírus, o governo do estado decidiu alterar o registro de leitos nesta segunda, deixando de informar quantos estão disponíveis para Covid-19 e quantos estão ocupados.

O Amazonas divulgou apenas o número de pacientes internados com a doença e a ocupação total das UTIs (60%), incluindo as que não são direcionadas para Covid. Questionada pela reportagem sobre o motivo da mudança, a secretaria de Saúde não respondeu.

No estado do Rio de Janeiro, a ocupação de UTIs públicas deu um salto de 10% para 62% em apenas uma semana, mesmo com a abertura de 60 leitos. A maioria dos internados é de idosos com comorbidades e pessoas que não tomaram o reforço da vacina, segundo médicos.

O tempo médio de espera para hospitalização já chega a mais de dois dias na capital fluminense, onde a ocupação pulou de 64% para 77% no período. Estado e cidade não informaram a situação dos leitos pediátricos.

Em São Paulo, a taxa também cresceu e chegou a 65% no estado e 72% na capital, segundo a Fundação Seade. Ambas as gestões seguem ampliando o número de leitos de UTI para Covid-19, mas ainda assim a ocupação segue em alta.

Na avaliação de Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, a escalada de casos do novo coronavírus está disseminada em todo o país.

"É tão maior o número de novos casos que, mesmo se a gente tiver 90% de redução na proporção das hospitalizações de antes da vacina, isso ainda pode pressionar o sistema de saúde", afirma.

Outro problema, diz Schrarstzhaupt, é que a disseminação da doença também atinge os profissionais de saúde, que estão desfalcando os hospitais. "Um leito não é só a cama, mas também equipamento e equipe", ressalta.

Ele avalia que, para frear a atual curva crescente, seria necessário voltar a reforçar cuidados adotados antes da vacinação, como o uso de máscaras com boa vedação e o distanciamento social.

Publicado originalmente por Brasil ao Minuto / FOLHAPRESS, em 26.01.22

sábado, 22 de janeiro de 2022

Covid-19: Brasil tem 10° dia seguido de alta na média de mortes

O Brasil registrou nas últimas 24 horas 358 mortes por covid-19, chegando a um total de 622.563 óbitos pela doença, segundo o boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) desta sexta-feira (21/1).

Dezenas de pessoas na estação da Luz, em São Paulo; país vive novo pico de casos de covid-19 (Reuters)

A média de óbitos nos últimos 7 dias (indicador chamado de "média móvel") foi de 252 mortes. Esse foi o 10º dia consecutivo de alta na média móvel de óbitos — para comparação, em 11 de janeiro, o valor foi de 122. Ainda assim, o patamar hoje é baixo considerando toda a pandemia, pois está próximo a números de abril de 2020.

Nas últimas 24 horas, foram registrados também 166.539 novos casos de covid-19, levando o total a 23.751.782 casos da doença desde o início da pandemia.

Na quarta-feira (19), houve recorde de novos casos em 24h: 204.854.

A média móvel de casos registrada nesta sexta-feira foi de 117.797.

É bom lembrar que os números podem ser maiores por causa escassez de testes de covid-19 e o apagão recente de dados no Ministério da Saúde. Esses elementos sugerem que o contágio pode ser maior.

O crescente índice de novas infecções nos últimos dias tem acendido o alerta em diversas regiões do país, que anunciaram a retomada de medidas sanitárias para tentar conter a propagação do coronavírus.

Desde o início de janeiro, a média e o número de casos da doença estão em franca ascensão, o que é atribuído em grande parte à variante ômicron.

De acordo com o painel da Universidade Johns Hopkins, os Estados Unidos lideram globalmente em número de casos (70 milhões) e óbitos (864 mil). Em relação aos casos, em 2ª lugar vem a Índia (38,5 milhões), e depois o Brasil. Em mortes, o Brasil está, de acordo com dados oficiais, em segundo lugar o mundo — embora a subnotificação de casos e mortes em diversos países (como Brasil, Rússia e Índia) torne as comparações mais complexas.

Após um primeiro semestre de 2021 com um ritmo muito aquém de nossas capacidades, a campanha brasileira de vacinação contra a covid-19 finalmente deslanchou em julho do ano passado — e agosto foi um mês com intenso avanço nessa seara, o que se manteve, de modo geral, em setembro e outubro.

Os últimos dados nacionais disponíveis, de 8 de dezembro, mostram que pouco mais de 138,25 milhões de pessoas já completaram o ciclo vacinal com as duas doses ou com a dose única. Entretanto, estes dados deixaram de ser atualizados desde que o sistema do Ministério da Saúde sofreu um ataque hacker, de acordo com o governo federal.

Após a imunização da população mais jovem e adolescentes e do início da aplicação de doses de reforço, o país vive um novo desafio: a inclusão de crianças na campanha. Em 16 de dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Porém, o Ministério da Saúde somente anunciou o início da vacinação para esse grupo em 5 de janeiro.

A pandemia não acabou

Especialistas alertam: a pandemia não acabou. Em razão disso, recomendam cautela na flexibilização de medidas como o uso de máscara. (Getty Images)

Ainda exige atenção também a presença das variantes mais agressivas, especialmente a delta e a ômicron, detectadas originalmente na Índia e na África do Sul, respectivamente, que parecem ter uma taxa de transmissibilidade bem superior às demais versões do coronavírus.

Por fim, não dá pra ignorar o fato de as estatísticas permanecerem muito altas: falamos de médias de milhares de novos casos diagnosticados e centenas de mortes todos os dias.

O que deve ser feito agora?


odos os Estados do país já têm casos e óbitos confirmados de coronavírus (EPA)

Diante de um cenário recheado de incertezas sobre o futuro, os especialistas parecem não ter dúvidas sobre quais medidas seriam necessárias neste momento da pandemia no Brasil — algumas delas, inclusive, sequer foram implementadas ao longo dos últimos meses.

Para começo de conversa, o país deveria ter um melhor controle de suas fronteiras, com testagem de passageiros e funcionários em aeroportos, portos e rodovias. Isso dificultaria, inclusive, a entrada de novas variantes de preocupação em nosso território.

O segundo passo seria lançar mão de um amplo programa de testagem, rastreamento de contatos e isolamento dos casos positivos. Políticas desse tipo explicam parte do sucesso que é observado em países como Austrália e Nova Zelândia. Afinal, ao detectar precocemente um paciente infectado e colocá-lo em quarentena, é possível quebrar as cadeias de transmissão do coronavírus na comunidade.

Ainda na seara das análises laboratoriais, o país também requer uma vigilância genômica mais ampla, capaz de fazer sequenciamento genético das amostras de pacientes infectados para saber quais são as variantes mais prevalentes em cada local.

Também precisávamos criar campanhas de comunicação para incentivar o uso de máscaras (especialmente modelos mais confiáveis, como a PFF2) e desencorajar as aglomerações.

Por fim, é vital manter, ou eventualmente até acelerar, o ritmo da campanha de imunização. Quanto mais brasileiros estiverem protegidos, melhor para todo mundo: a experiência de outros países aponta que as internações e as mortes por covid-19 caem de forma significativa quando uma porcentagem considerável da população recebeu as duas doses.

Esse conjunto de estratégias aponta para uma saída segura e efetiva da pandemia — e tem o potencial de evitar novas marcas tristes e negativas num futuro próximo.

Histórico da pandemia

O primeiro registro do coronavírus no Brasil foi em 26 de fevereiro do ano passado.

Um empresário de 61 anos de São Paulo (SP) foi infectado após retornar de uma viagem, entre 9 e 21 de fevereiro, à região italiana da Lombardia.

O novo coronavírus, que teve seus primeiros casos confirmados vindos da China no final de 2019, passou a ser tratado como pandemia pela OMS a partir de 11 de março de 2020.

Estudos apontam que a grande maioria dos casos do novo coronavírus apresenta sintomas leves e pode ser tratado nos postos de saúde ou em casa.

No entanto, novas variantes têm se mostrado mais contagiosas e, na percepção de médicos, algumas têm afetado com mais gravidade também a população mais jovem, em vez de apenas idosos e pessoas com comorbidades.

BBC News Brasil, em 22.01.22