A tentativa do presidente russo de intimidar a Europa representa uma escalada na hostilidade já vivenciada por alguns países da UE.
Putin, durante seu encontro na terça-feira em Moscou com a delegação dos EUA, em uma fotografia divulgada pelo Kremlin. (KRISTINA KORMILITSINA - PISCINA)
Se há algo que já deveria estar claro, tanto nas instituições europeias quanto nas sedes de cada governo do continente, é que é imprudente ignorar as palavras de Vladimir Putin. A ameaça feita na terça-feira pelo presidente russo de que seu país está preparado para entrar em guerra com a Europa "agora mesmo" deve ser levada muito a sério. Não com alarmismo ou sensacionalismo, mas pelo que ela é: a concretização de um desafio à segurança europeia que deixou de ser teórico ou vago.
Não é surpresa que a rodada de negociações realizada esta semana em Moscou entre Putin e o enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, tenha terminado sem resultados após cinco horas infrutíferas de reuniões e com uma humilhação prévia para o representante de Donald Trump, cuja atitude subserviente em relação ao líder russo não o ajudou a evitar uma espera de quase três horas.
Em questões importantes, Putin demonstrou repetidamente ser um jogador do tipo "tudo ou nada" e que, ao contrário do presidente dos EUA, raramente blefa. Os 28 pontos apresentados por Washington — negociados às escondidas da Ucrânia e do resto da Europa — já não lhe bastam. Na prática, esses pontos equivalem à rendição de Kiev, com a consequente mutilação territorial e sem qualquer garantia real de que a agressão russa não se repetirá no futuro. O ocupante do Kremlin quer mais e deixou isso claro: quer consolidar a anexação ilegal da Crimeia em 2014, quer mais território ucraniano e quer condições que lhe permitam assegurar a sua esfera de influência nas fronteiras da Europa democrática.
Assim como as palavras de Putin, os repetidos alertas — tanto de instituições europeias quanto de governos do continente — sobre a gravidade da escalada não devem ser ignorados. Quando Kaja Kallas, Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, adverte que a guerra híbrida que a Rússia trava contra a Europa pode também atingir a Espanha e Portugal, ela está soando dois alarmes que devem ser levados a sério.
O primeiro ponto é lembrar que Moscou há muito tempo realiza — e promove — atos hostis dentro da União, como repetidamente denunciado pelos países mais próximos, como Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia. O segundo é que essa hostilidade também ameaça os demais 27 Estados-membros. Essa é a posição compartilhada por autoridades de defesa como o chefe da Força Aérea e Espacial da Espanha, Francisco Braco, e o Secretário-Geral da Aliança Atlântica, Mark Rutte, quando afirmam: “Não estamos em guerra, mas também não estamos em paz”.
Editorial do EL PAÍS, 04.12.25
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