Presidente viajou com mais de cem pessoas. No primeiro ano de governo, saídas do Brasil custaram 28% a mais
O presidente Lula em entrevista à imprensa na ONU — Foto: ANGELA WEISS / AFP
Para demonstrar que o Brasil voltava com força à cena global depois do isolamento no governo Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a viajar pelo mundo ainda antes da posse. Depois, como presidente, adotou uma agenda internacional frenética. Nos primeiros oito meses de governo, visitou 19 países nas Américas, Europa, Ásia e África. Em cada viagem, Lula costuma seguir acompanhado de um séquito de ministros, diplomatas, assessores, seguranças e todo tipo de agregado. As viagens internacionais da administração pública federal, fundações e autarquias em 2023, primeiro ano do mandato de Lula, chegaram a 22.494 e custaram R$ 296,6 milhões aos cofres públicos. Na comparação com o último ano de Bolsonaro, tais números cresceram, respectivamente, 38% e 28%.
A comitiva levada a Nova York para a 79ª Assembleia Geral da ONU ilustra o exagero em que se transformaram as viagens ao exterior neste governo. Entre autoridades e assessores, incluindo a primeira-dama Janja Lula da Silva, mais de cem pessoas foram aos Estados Unidos acompanhar o discurso de Lula na abertura da assembleia. Não é preciso examinar com lupa a lista de viajantes para identificar o desperdício de dinheiro público em momento de grave crise fiscal.
Presente na comitiva, a ministra de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, já aterrissara neste ano em Nova York. Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas e outra integrante da comitiva, visitou 12 países desde a posse. Esteve nos aeroportos de Amsterdã, Londres, Roma, Paris, Dubai, Vancouver, Caracas e Cartagena, entre outros. De Brasília para Manaus, só viajou cinco vezes. Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, também acompanhou Lula a Nova York. Em 21 meses à frente da pasta, foram 12 viagens ao exterior.
É perfeitamente possível que a maioria dos ministros consiga apresentar boas justificativas para participar de eventos no estrangeiro. Mas, nestes tempos de trabalho remoto e videoconferências, deveriam refletir mais antes de sair do país. Nem toda viagem é planejada com a devida antecedência. Compradas em cima da hora, as passagens são mais caras. As diárias de assessores elevam os gastos às alturas. Eles podem não ser tão altos levando em conta o tamanho do Orçamento, mas as autoridades precisam demonstrar mais parcimônia e dar exemplo de austeridade. A maneira mais eficaz de melhorar a imagem do Brasil e de alavancar projetos e investimentos externos é trabalhar dentro das fronteiras do país para que mais resultados positivos apareçam e atraiam o interesse internacional. O ímpeto de projetar o país no exterior e estreitar relações com estrangeiros merece um freio de arrumação.
Editorial de O GLOBO, em 28.09.24
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