segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Mulheres são as mais ansiosas para tirar Bolsonaro do poder

O eleitor de Bolsonaro é o típico homem brasileiro: homens sedentos de poder e com medo de perder os privilégios de uma herança colonial patriarcal

Apoiadores de Lula da Silva aguardam os resultados das eleições no Brasil.

Haverá um segundo turno nas eleições presidenciais brasileiras . Ainda estou esperando que institutos de pesquisa expliquem o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas, principalmente em estados decisivos como Rio de Janeiro ou São Paulo. Lula chegou onde as pesquisas indicavam, a surpresa foi Bolsonaro. Uma explicação possível é que eleitores indecisos ou sem chance de vencer no segundo turno transferiram seu voto para Bolsonaro . Se essa hipótese for razoável, quem seriam essas pessoas?

O eleitor de Bolsonaro é o típico homem brasileiro. São homens que se projetaram como chefes na família e chefes no trabalho. Homens ávidos de poder e temerosos de perder os privilégios de uma herança colonial patriarcal. Bolsonaro se apresenta como um arquétipo de masculinidade robusta: sua política é de homens para homens. É verdade que Bolsonaro elegeu mulheres como deputadas e senadoras, o que mostra que não basta haver mulheres na política, mas que são necessárias mulheres com consciência crítica dos efeitos do patriarcado na democracia.

Cadê os eleitores de Bolsonaro? Há uma distribuição regional óbvia que se cruza com outros sistemas históricos de opressão, como a desigualdade de classes e o racismo. O Brasil que se acredita branco e educado no sul votou massivamente em Bolsonaro, enquanto o Brasil do nordeste, herdeiro da escravidão, votou em Lula. É o homem branco e alvejado das classes média e alta que impulsiona Bolsonaro como força política.

Como esse quadro sombrio pode ser revertido? Lula não tem escolha a não ser se dirigir a jovens, mulheres e pessoas de diferentes gêneros. Somos nós que, em 2018, ocupamos as ruas e gritamos “#EleNão” contra Bolsonaro, em um dos maiores movimentos de consenso da história política brasileira. Somos nós, as mulheres, que mais uma vez rejeitamos Bolsonaro nas urnas. Não somos o típico eleitor de Bolsonaro. É verdade que para muitos de nós talvez Lula não fosse o candidato para a necessária transformação democrática no país, mas é o candidato possível para conter a consolidação do bolsonarismo no país.

Lula não deve ter medo de responder a perguntas simples como se haverá paridade de gênero em seus ministérios ou se ele nomeará mulheres negras para o Supremo. Não deve se esquivar de questões prementes que afetam a vida das mulheres, como a violência doméstica ou a criminalização do aborto, a fome ou o desemprego. Há um eleitorado feminino que não votou em Lula no primeiro turno, mas que, como eu, teme Bolsonaro. É urgente encarnar a política: as mulheres são as mais impactadas pelo governo Bolsonaro e nós somos as mais ansiosas para tirá-lo do poder.

Debora Diniz, a autora deste artigo, é professora da Universidade de Brasília. Publicado originalmente no EL PAÍS, em 02.10.22 às 23h:06

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