domingo, 16 de outubro de 2022

Lula enfrenta reta final liderando em algumas pesquisas que deixam margem para dúvidas

Bolsonaro está um pouco menos de 5 pontos atrás na média, mas a subestimação geral do atual presidente no primeiro turno coloca em dúvida onde cairão os decisivos 7,6% de indecisos

Lula (48,6%) está consistentemente à frente de Bolsonaro (43,8%) na corrida ao Planalto segundo todas as pesquisas realizadas após o primeiro turno eleitoral. 

Mas sua vantagem é pequena (menos de 5 pontos) e, portanto, inconclusiva, pelo menos ainda não. Na verdade, essa distância é substancialmente menor do que o número total de indecisos restantes entre os prováveis ​​eleitores. Isso deixa a batalha mais aberta, e nas mãos desse grupo de céticos que impedem qualquer um dos dois candidatos de chegar a metade mais um do total.

De acordo com as assembleias de voto, nenhum dos dois candidatos que foram para o segundo turno mal conseguiria somar apoio se contarmos como ponto de partida aqueles que já obtiveram em 2 de outubro. Não pelo menos em porcentagem: apenas 0,4 ponto a mais para Bolsonaro e míseros 0,2 para Lula. Como resultado, há tantos eleitores indecisos quanto pessoas que optaram por candidatos de terceiros no primeiro turno. Cabe lembrar aqui que todas essas quantidades são relativas: porcentagens de uma massa previamente definida como "prováveis ​​eleitores". Mas as saídas e entradas dessa massa (e, portanto, para a abstenção) contam tanto ou mais do que as transferências entre seus componentes (as candidaturas).

A maioria das pesquisas o coloca abaixo de 50% (e nenhuma além de 51, onde ele ocupa o segundo lugar). A vantagem atribuída a ele varia de 0,4 a 9 pontos. A média é 4,8. Este é um valor quase idêntico ao que resultou da primeira volta: 5.2. A maior surpresa na época foi justamente esse número, que era metade do esperado pelo consenso demográfico. Em outras palavras: o maior erro da maioria das assembleias de voto ocorreu então na subestimação do potencial eleitoral de Jair Bolsonaro. Foi quase sem dúvida a única grande falha, na verdade. Todo o resto foi cumprido conforme o esperado pelas pesquisas, que informaram corretamente os contornos essenciais do resultado: Lula estaria à frente do atual presidente, ambos estariam bem acima dos demais candidatos,

Apesar de todos esses sucessos, o foco do debate público desde a noite de 2 de outubro rapidamente se voltou para o erro com a direita. Essa fixação no erro é comum em períodos pós-eleitorais e pode ser explicada do ponto de vista cognitivo: se as pesquisas são um espelho no qual a sociedade espera se ver refletida, a distorção sempre chamará mais atenção do que o sucesso. Mesmo uma pessoa que nunca teve um espelho diante de si pode sentir seu rosto e contar dois olhos, um nariz, duas orelhas, uma boca. Da mesma forma, uma sociedade pode, desajeitada e imperfeitamente, explorar-se por meio de conversas mais ou menos gerais (nos bares, nas redes sociais ou na mídia) e ao menos saber que não houve rival realista para Lula ou Bolsonaro. Além disso, uma vez que confirmamos o que intuímos diante do espelho, a previsão torna-se paisagem. É atribuída uma probabilidade de 100% e deixamos de usá-la como critério para avaliar a qualidade da previsão. Paradoxalmente, isso chama a atenção para onde permanece a maior incerteza, precisamente o que é mais difícil para métodos desajeitados e precisos de prever.

Agora, nem tudo é viés cognitivo. Há um sentido analítico e prospectivo nessa atenção: afinal, chegando a um segundo turno com apenas dois candidatos, um hipotético erro significativo com um deles poderia significar, agora, um erro também no essencial: antecipar o vencedor. É muito cedo para adivinhar, e ainda há tempo para os indecisos se decidirem e para as pesquisas ajustarem os métodos. Mas, por enquanto, há pelo menos uma indicação para ficarmos atentos: há uma correlação negativa entre o erro que cada pesquisador cometeu com sua última pesquisa publicada sobre Bolsonaro e o voto que eles preveem para ele hoje. Ou seja: quem subestimou o atual presidente então hoje continua a tê-lo na faixa baixa, apesar de todos já assumirem que ele terá pelo menos um valor semelhante ao obtido no dia 2 nas urnas.

Embora a distância média antecipada por esses mesmos pesquisadores entre os dois candidatos seja menor do que o total de indecisos declarados, bastaria que, como aconteceu em 2 de outubro, a maioria deles decidisse pelo atual presidente para que essa vantagem fosse reduzir drasticamente. Portanto, as pesquisas não viram essa virada.

Jorge Galindo, o autor deste artigo, é analista colaborador do EL PAÍS, doutor em sociologia pela Universidade de Genebra com duplo mestrado em Políticas Públicas pela Central European University e pela Erasmus University of Rotterdam. É coautor dos livros 'The Invisible Wall' (2017) e 'La Urna Rota' (2014), e é membro do EsadeEcPol (Esade Center for Economic Policy). Publicado no EL PAÍS, em 16.10.22, às 07:15hs

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