sábado, 19 de fevereiro de 2022

A vida de Lula está em perigo?

O fato de personalidades do mundo jurídico terem denunciado a possibilidade de um atentado contra o ex-presidente adiciona mais tensão a uma campanha já acalorado

O ex-presidente brasileiro Lula da Silva, em entrevista em São Paulo, em 17 de dezembro de 2017. (Amanda Perobelli (Reuters)

No mundo político brasileiro começa a se temer um possível ataque ao ex-presidente Lula da Silva, que aparece como o único candidato capaz de destronar o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro. Estes não são apenas rumores das redes sociais. Foram publicações conceituadas, como a revista Forum , que publicou entrevistas com duas figuras proeminentes da vida pública nas quais afirmam sem meias medidas que a vida de Lula pode estar em perigo.

A jornalista Daniela Pinheiro, do portal de noticias Uol , entrevistou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa. O magistrado que havia sido nomeado para o cargo pelo então presidente Lula tornou-se popular por ter sido o relator do processo do escândalo do mensalão, que levou à prisão de toda a direção do Partido dos Trabalhadores (PT). Hoje Barbosa é uma figura respeitada e vários partidos tentaram em vão tê-lo como candidato presidencial. Na entrevista, Barbosa afirma que não duvida que Lula possa ser assassinado durante a campanha eleitoral: “Não duvido. Eles são sanguinários, não têm limites.”

Ao lado do popular ex-magistrado, outra personalidade importante, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragón, hoje advogado da campanha do PT, tem insistido nos mesmos temores de Barbosa. Em entrevista ao Jornal Fórum ele afirma: “Não podemos ser infantis. Sabemos que a vida de Lula está em perigo. Sabemos que essas pessoas não jogam. Há um milhão de bolsonaristas armados até os dentes em eleições que vão ser violentas.” E acrescentou: “Não podemos dizer que o jogo já está ganho. Bolsonaro está longe, longe de ser derrotado."

Quem teme a possibilidade de um atentado contra a vida de Lula, que ainda não é candidato oficial embora pareça o vencedor em todas as pesquisas, acha que um dos motivos da estranha visita de Bolsonaro a Putin em Moscou há alguns dias atrás poderia estar pedindo “ajuda” ao líder soviético para usar as redes sociais a seu favor na campanha eleitoral. Algo semelhante ao que a Rússia fez com o candidato Trump nos Estados Unidos.

Que o PT realmente teme um possível ataque contra Lula ficou claro com a forte proteção que, desde o início da campanha informal para as eleições presidenciais, vem sendo tomada contra um possível ataque. Na verdade, Lula ainda não compareceu fisicamente a nenhuma manifestação pública. Todas as suas intervenções no Brasil se reduzem a entrevistas online com a mídia. Ele ainda não foi visto saindo às ruas nas mãos de seus fiéis seguidores como sempre estava acostumado. E não se sabe o que pode ser respondido quando, depois de ter decidido publicamente e legalmente ser candidato, a campanha eleitoral começa a sério.

O fato de personagens de total solvência no mundo jurídico como Barbosa e Aragón terem querido denunciar sem meias palavras a possibilidade de um atentado à vida de Lula acrescentou ainda mais tensão, se possível, ao clima já acalorado de uma campanha eleitoral que na realidade já começou e está cheio de incógnitas e possíveis surpresas.

Tudo isso está criando um clima de ceticismo e instabilidade política no país que continua afetando os rumos de uma economia já gravemente ferida, com milhões de desempregados e passando fome. Enquanto o presidente continua armando as pessoas, favorecendo economicamente as forças policiais e contando cada vez mais com as forças armadas. Os militares, embora divididos, puderam, em um momento de grave crise e possibilidade de retorno da esquerda ao poder, ao lado do capitão aposentado que já colocou mais de 6.000 soldados em seu governo e nas quadrilhas do Estado.

Enquanto isso, o presidente continua insistindo dia após dia que as urnas eletrônicas, usadas no Brasil nas eleições há mais de 20 anos e nas quais os últimos presidentes foram eleitos, inclusive ele próprio, não são seguras e podem ser manipuladas. Na verdade, com suas declarações contra a segurança das urnas, ele se prepara para, no caso de uma possível derrota, anular o resultado e organizar algum tipo de golpe autoritário. E esse é o grande medo das forças progressistas diante de eleições em que tudo pode acontecer e sobre as quais nenhum dos maiores analistas políticos se atreve a fazer profecias.

Juan Árias, o autor deste artigo, é correspondente do EL PAÍS. Publicado em 18.02.22.

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