terça-feira, 9 de novembro de 2021

Após eleição com opositores presos, PT celebra vitória de Ortega na Nicarágua

Em nota, legenda classifica pleito, altamente questionado internacionalmente, como 'uma grande manifestação popular e democrática'.

Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, ao lado de sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo, após eleição Foto: CESAR PEREZ / AFP

A reeleição de Daniel Ortega na Nicarágua, rejeitada pelos governos das principais democracias ocidentais, foi celebrada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que, em nota, classificou o  pleito do último domingo como “uma grande manifestação popular e democrática”. As eleições que deram vitória a Ortega, segundo os números oficiais com 75% dos votos, foram realizadas após uma série de prisões de opositores, incluindo dissidentes sandinistas e sete possíveis adversários na disputa, dentre eles sua principal oponente, Cristiana Chamorro.

“Os resultados preliminares, que apontam para a reeleição de Daniel Ortega e Rosario Murillo, da FSLN [Frente Sandinista de Libertação Nacional], confirmam o apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construção de um país socialmente justo e igualitário”, diz a nota, publicada na noite de segunda-feira e assinada por Romenio Pereira, secretário de Relações Internacionais do partido. “Esta vitória será conquistada apesar das diversas tentativas de desestabilização do governo e do bloqueio internacional contra a Nicarágua e seu atual governo, uma situação que penaliza principalmente os mais pobres e necessitados.”

Sem adversários e com o  Conselho Supremo Eleitoral (CSE) controlado por aliados do governo, o presidente foi reeleito para seu o quarto mandato consecutivo.

Na América Latina, países com governos de esquerda, como o Peru, também rejeitaram o pleito que “não atende aos critérios mínimos de eleições livres, justas e transparentes estabelecidos pela Carta Democrática Interamericana”, segundo comunicado da Presidência de Pedro Castillo. Outros, no entanto, como Cuba, Venezuela e Bolívia, comemoraram os resultados.

Nesta terça-feira, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), instou os países da região a agirem após as “eleições ilegítimas" no país. “Rejeitamos os resultados das eleições ilegítimas na Nicarágua”, tuitou  Luis Almagro. “Insto os países da OEA a responderem a esta clara violação da Carta Democrática durante sua Assembleia Geral”.

Vivi para contar: 'Me dei conta de que era o próximo a ser preso, pois Ortega já não respeitava os velhos lutadores'

Em agosto deste ano, o próprio ex-presidente Lula chegou a pedir que Ortega — que já acumula mais de 25 anos no poder nos últimos 40 anos — respeitasse a democracia, durante uma entrevista ao canal mexicano Once.

— Quando a gente pensa que não tem ninguém para nos substituir, nós estamos virando ditadores — disse Lula na entrevista. — Quando eu era presidente do sindicato, convoquei uma assembleia de trabalhadores e decidi que o presidente do sindicato só poderia ser eleito duas vezes. Quando era presidente da República, muita gente queria que eu tivesse um terceiro mandato, mas não aceitei, porque sou amplamente favorável à alternância de poder. Tem que ter revezamento na governança do país para a sociedade ir aprimorando sua participação democrática.

Após o resultado, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que Washington está disposta a usar várias ferramentas, incluindo possíveis sanções, restrições de vistos e ações coordenadas com seus aliados contra aqueles que apóiam os “atos antidemocráticos" das autoridades nicaraguenses.

O subsecretário de Estado americano para as Américas, Ricardo Zúñiga, disse hoje que Ortega impôs "uma ditadura baseada no personalismo", que comparou à de Anastasio Somoza, o ditador derrubado na Revolução Sandinista em 1979. A União Europeia (UE) também rejeitou os resultados, dizendo que as eleições “completam a conversão da Nicarágua em um regime autocrático”.

Após as críticas, Ortega  classificou os EUA como “imperialistas”, “fascistas” e, no caso da Espanha, como “descendentes do franquismo”. Ele também acusou os prisioneiros políticos de seu regime de serem “filhos da puta dos imperialistas ianques”.

—  Eles deveriam ser levados para os Estados Unidos. Eles não são nicaraguenses, não têm pátria! — disse em um discurso inflado na segunda-feira, na Praça da Revolução, no coração da capital, Manágua.

O presidente, que governa o país desde 2007, tem hoje o apoio de menos de 20% população, segundo pesquisa do Gallup de outubro, uma queda drástica após os protestos de 2018, que tomaram conta do país e deixaram dezenas de mortos. 

Marina Gonçalves e agências internacionais. Publicado originalmente n'O Globo, edição online, em 09.11.21, às 17:45.

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