terça-feira, 28 de julho de 2020

Problemas na coagulação sanguínea são sinais severos da covid-19

Pesquisadores da USP encontraram coágulos em pequenos vasos existentes embaixo da língua de pacientes logo no primeiro dia de internação; hipótese anterior era que eles surgiriam em decorrência da internação

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, conseguiram registrar em pacientes internados com a forma grave da covid-19 a formação de coágulos em pequenos vasos existentes embaixo da língua. O achado, divulgado na plataforma medRxiv, reforça a teoria de que distúrbios de coagulação sanguínea resultantes de uma resposta inflamatória exacerbada ao SARS-CoV-2 estariam na base dos sintomas mais severos da doença – entre eles insuficiência respiratória e fibrose pulmonar.

Essa hipótese começou a ganhar força em abril, quando pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP encontraram, durante a autópsia de pessoas que morreram em decorrência do coronavírus, microtrombos nos vasos mais finos que irrigam o pulmão.

"Ainda havia uma certa dúvida se esses distúrbios de coagulação seriam uma consequência do longo período de internação em UTI [unidade de terapia intensiva] ou se de fato eram causados pela resposta inflamatória induzida pelo vírus. Mas nós conseguimos observar a formação dos microtrombos já no primeiro dia de internação", conta Carlos Henrique Miranda, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), à Agência FAPESP.

O artigo, ainda em versão preprint (não revisado por pares), descreve a análise feita na microcirculação sublingual de 13 pacientes que precisaram ser intubados e submetidos à ventilação mecânica. As imagens foram obtidas por meio de um microscópio equipado com uma câmera e uma luz polarizada capaz de destacar as hemácias e os vasos sanguíneos. O estudo foi apoiado pela FAPESP.

"Nossa proposta original era usar o microscópio para estudar problemas de coagulação sanguínea em pacientes com sepse [inflamação sistêmica geralmente desencadeada por uma infecção bacteriana localizada]. Mas a pesquisa foi paralisada por causa da pandemia e tivemos dificuldade até para importar o equipamento. Conseguimos graças à ajuda da Gerência de Importação da FAPESP e decidimos voltar nossa atenção aos pacientes com covid-19", diz Miranda.

A região sublingual foi escolhida por ser uma área de mucosa possível de ser acessada de forma não invasiva. "Observamos nesses pequenos vasos múltiplas falhas de enchimento, ou seja, trechos sem nenhuma hemácia. Inferimos que nessas regiões existem trombos obstruindo o fluxo sanguíneo. Em alguns dos pacientes conseguimos ver o vaso trombosando bem na nossa frente", relata o pesquisador.

Pesquisa covid-19

Estudo feito com 13 doentes submetidos à ventilação mecânica reforça a teoria de que distúrbios de coagulação sanguínea resultantes de uma resposta inflamatória exacerbada ao SARS-CoV-2 estariam na base dos sintomas mais severos da doença (a imagem 1 mostra a microcirculação normal; as imagens 2 e 3 registram sinais de problemas na circulação e, a imagem 4, capta a obstrução tromboembólica aguda) Foto: Carlos Henrique Miranda/USP
De acordo com Miranda, o distúrbio de coagulação causado pelo SARS-CoV-2 parece ter um "caráter predominantemente trombótico e muito intenso", diferente do que se observa na sepse bacteriana.

No caso da covid-19, o problema está associado ao que se chama de tempestade de interleucinas (proteínas que atuam como sinalizadores imunes), que ativa um processo conhecido como cascata de coagulação. As plaquetas presentes na circulação começam a se agregar, os trombos formados obstruem os pequenos vasos do pulmão e causam microinfartos. As regiões do tecido que morrem por falta de irrigação dão lugar a tecido cicatricial – processo conhecido como fibrose. Além disso, os microtrombos que se formam na interface do alvéolo pulmonar com os vasos sanguíneos impedem a passagem do oxigênio para as pequenas artérias, prejudicando a oxigenação do sangue.

"Esses fatores inflamatórios que levam à formação dos microtrombos são sistêmicos e, portanto, não afetam apenas o pulmão. Pode haver prejuízos em diversos órgãos. Nós conseguimos registrar os efeitos na região da língua", explica Miranda.

Atualmente, o pesquisador coordena um estudo clínico com heparina, um dos medicamentos anticoagulantes mais usados no mundo. O objetivo é ver se o tratamento ajuda a melhorar a oxigenação do sangue de pacientes com insuficiência respiratória causada pelo novo coronavírus.

"Pretendíamos registrar com o microscópio o efeito do tratamento na microcirculação sublingual, mas a epidemia estourou aqui na região de Ribeirão Preto e a prioridade agora é atender os doentes", diz o pesquisador.

Karina Toledo, Agência FAPESP
28 de julho de 2020 | 10h00

OMS diz que pandemia do novo coronavírus é ‘uma grande onda’ e não é sazonal

Organização alertou que o vírus da covid-19 não se comporta como o da gripe; de acordo com a entidade, esse é um novo vírus e está se comportando de maneira diferente

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou nesta terça-feira, 28, que o novo coronavírus, Sars-Cov-2, não tem características sazonais, como se comporta o vírus da influenza. De acordo com a Organização, a pandemia é "uma grande onda".

Apesar de também se espalhar de pessoa a pessoa, o vírus da gripe circula com maior frequência nas estações mais frias. A intensidade da circulação do influenza também pode mudar de ano para ano.

O coronavírus, no entanto, circula facilmente independentemente da época e estação do ano. Por não possuir um comportamento sazonal, Margaret Harris, porta-voz da OMS, chamou a atenção sobre os riscos de transmissão do vírus durante o verão do Hemisfério Norte, e não apenas no inverno.

"As pessoas ainda estão pensando nas estações do ano. O que todos precisamos entender é que este é um novo vírus e está se comportando de maneira diferente", disse Margaret, em uma coletiva virtual em Genebra, na Suíça.

Ela também alertou contra o pensamento em termos de ondas de vírus, dizendo: "Será uma grande onda. Vai subir e descer um pouco."  Margaret pediu ainda a aplicação de medidas para conter a transmissão do coronavírus, que está se espalhando em grandes aglomerações.

O mundo já contabiliza 16.523.029 infecções confirmadas e 654.860 mortes devido à covid-19, de acordo com a contagem da Universidade Johns Hopkins.

Redação, O Estado de S.Paulo
28 de julho de 2020 | 11h04


sábado, 25 de julho de 2020

Brasil tem agora 85.562 mortos por Covid-19

Número de pessoas infectadas pelo vírus chega a 2.355.920

O Brasil chegou aos 85.562 óbitos e 2.355.920 contaminações pela Covid-19, com 177 novos óbitos e 7.720 novas infecções desde 20h de sexta-feira, de acordo com boletim das 13h do consórcio de veículos de imprensa. Apenas  95 municípios do país  não têm casos da doença, número que representa menos de 2% do total de cidades brasileiras (5.570).

Os dados  são divulgados pelo consórcio de veículos de imprensa formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, que reúne informações das secretarias estaduais de Saúde.

Desde o último levantamento, fechado às 8h deste sábado, Ceará, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul atualizaram suas estatísticas.

As estatísticas da pandemia no Brasil são divulgadas três vezes ao dia pelo consórcio. Os próximos dados serão divulgados às 20h desta sexta-feira. A iniciativa dos veículos da mídia foi criada a partir de inconsistências nos dados apresentados pelo Ministério da Saúde.

Mundo registra recorde diário de casos pela Covid-19, com mais de 284 mil infecções
A Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou um aumento recorde nos casos do novo coronavírus em todo o mundo nesta sexta-feira (24), com 284.196 novas infecções em 24 horas.

Os países que mais registraram novos casos foram Estados Unidos, Brasil, Índia e África do Sul, de acordo com o relatório diário da entidade. Foram informadas 9.753 novas mortes pela doença, maior número diário de óbitos desde o recorde de 9.797 estabelecido em 30 de abril.

O recorde anterior de novos casos registrado pela OMS foi de 259.848 no dia 18 de julho. As mortes em julho têm sido, em média, de 5 mil por dia, uma elevação em relação à média diária de 4.600 óbitos em junho.

Covid-19 mata mais rapidamente pacientes em Roraima do que em Santa Catarina, mostra estudo
O tempo transcorrido tipicamente entre uma vítima brasileira do novo coronavírus manifestar os primeiros sintomas e morrer é de 15,2 dias, mas varia muito conforme o estado onde o paciente vive, podendo ir de 11 dias (em Roraima) a 17 dias (em Santa Catarina). Essa disparidade aparece em um estudo em andamento realizado por cientistas do Imperial College de Londres e da Universidade de Oxford, que analisou dados de pacientes internados em todo o Brasil.

Apesar de ainda ser difícil explicar os motivos específicos das diferenças entre os estados, o mapeamento ajudará epidemiologistas a entregarem projeções mais precisas sobre a doença no Brasil.

O Globo  / 25/07/2020 - 13:00 
Atualizado em 25/07/2020 - 15:22

O Bolsonaro imaginário e o real

Votação do Fundeb é o retrato do governo de um presidente que só trabalha para se reeleger e proteger sua prole

Nem os parlamentares mais fiéis ao presidente Jair Bolsonaro conseguem entender os rumos do governo. A deputada Bia Kicis (PSL-DF), bolsonarista acima de qualquer suspeita, foi dispensada do cargo de vice-líder do governo no Congresso porque votou contra a renovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) – exatamente como parecia ser o desejo do Palácio do Planalto até pouco tempo atrás.

O governo menosprezou o projeto de renovação do Fundeb o quanto pôde, considerando-o “demagógico”, conforme avaliação feita no início do ano pelo então ministro da Educação, Abraham Weintraub, de triste memória. Na ocasião, o ministro informou que o governo apresentaria sua própria proposta, o que jamais aconteceu.

À medida que ficava claro que o Congresso votaria o novo Fundeb mesmo sem qualquer participação do governo, os deputados que integram hoje a base governista tentaram adiar a votação, mas foram atropelados. Houve então uma negociação de última hora realizada por articuladores do governo para que o projeto, amplamente apoiado pela opinião pública e por especialistas em educação, tivesse afinal alguma digital de Bolsonaro. Só esqueceram de combinar com o punhado de deputados que votam com Bolsonaro faça chuva ou faça sol – entre eles a agora humilhada Bia Kicis.

“Foi uma votação quase unânime, 6 ou 7 votaram contra. Se votaram contra, eles têm seus motivos. Só perguntar para eles por que votaram contra”, disse o presidente Bolsonaro a respeito dos votos de seus fidelíssimos aliados. Já a propósito do projeto que seu governo tanto sabotou, Bolsonaro disse que “o governo conseguiu mais uma vitória” e que “a Câmara e o Executivo mostraram responsabilidade”.

Esse é o retrato de um governo perdido. Ou melhor, de um governo que é o reflexo de um presidente que não trabalha senão para se reeleger e proteger sua prole – único projeto concreto que apresentou ao País até agora, relegando às calendas suas retumbantes promessas de refundação da república. Em nome de seus interesses privados, não pensa duas vezes antes de atirar ao mar seus mais devotados seguidores e não se envergonha de tentar tomar para si os méritos do Congresso no avanço de pautas de profundo interesse do País. Foi assim com o Fundeb, foi assim na votação da reforma da Previdência – que o presidente igualmente dificultou – e está sendo assim na reforma tributária, de cujo debate o governo só decidiu participar quando percebeu que seria deixado de lado pelos parlamentares.

Não é à toa que os deputados verdadeiramente bolsonaristas devem estar confusos. Apoiaram cegamente um presidente que se elegeu prometendo abandonar a “velha política”, e eis que agora são humilhados justamente por se manterem fiéis a esse seu Bolsonaro imaginário – enquanto o Bolsonaro real abriu o balcão de negócios com os partidos fisiológicos para ter algum apoio consistente e conseguir sobreviver no cargo. “Alguns dizem que a minha bancada votou contra”, disse o presidente a respeito da votação do Fundeb. “A minha bancada não tem 6 ou 7 (deputados) não, é bem maior que essa daí.”

Como a votação do Fundeb e o debate sobre a reforma tributária mostraram, a única bancada com a qual Bolsonaro pode realmente contar é “essa daí”, goste ele ou não. Já os partidos de sua bancada “bem maior” vão votar conforme sua agenda própria, que não necessariamente coincide com a do governo, seja lá qual for.

Felizmente, o espírito do atual Congresso continua a ser firmemente reformista. Há promessas de avanço rápido da reforma tributária – a verdadeira, e não o arremedo apresentado pelo governo – e outras mudanças começam a entrar na pauta. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, informou que no processo de sua sucessão, em fevereiro do ano que vem, vai apoiar o candidato que se comprometer a tocar a reforma tributária. É uma sinalização de firmeza sobre a continuidade desse importante processo mesmo que mudem os líderes no Legislativo – e mesmo que o governo continue a fingir que não tem nada com isso.

Editorial / Notas e Informações, O Estado de S.Paulo
25 de julho de 2020 | 03h00

Mulheres e negros são os mais afetados pela covid-19 no Brasil, aponta IBGE

A cada dez pessoas que relatam mais de um sintoma da doença, sete são pretas ou pardas – parcela da população fortemente dependente da informalidade. Em relação a homens, mulheres têm saúde e trabalho mais prejudicados.

    Pessoas de máscara no Rio de Janeiro

De acordo com o IBGE, 39% dos trabalhadores pretos e pardos estão em regime de informalidade, ante 29,9% dos brancos

No Brasil, os prejuízos financeiros e de saúde causados pela covid-19 pesam muito mais sobre mulheres, negros e pobres. É o que apontam dados sobre mercado de trabalho e sintomas gripais aferidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no mês de junho.

O órgão do governo federal mostrou, em sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19, que o número de desempregados foi acrescido de 1,68 milhão de pessoas em junho, o que representou alta de 16,6% na comparação com maio. Com isso, chegou a 11,8 milhões de brasileiros o total de desocupados no país, que só leva em consideração quem procurou trabalho – missão dificultada pelo isolamento social. E a conjuntura é particularmente cruel para determinados grupos sociais.

Mesmo que indique um recuo do contágio viral, o inquérito epidemiológico do IBGE revelou um abismo racial no alcance da doença. Entre aqueles que disseram ter tido mais de um sintoma de síndrome respiratória, 68,3% são pretos ou pardos, ante apenas 30,3% de brancos. Entre os sintomas conjugados levados em consideração estão febre, dificuldade de respirara, tosse e perda de olfato ou paladar.

Na avaliação do professor da Universidade de São Paulo (USP) Ruy Braga, especializado em sociologia do trabalho, o contraste tem raízes históricas, que impactam a inserção dos negros no mercado, e está ligado à qualidade de moradia dessa população.

"É resultado de uma interseção entre pobreza, maior frequência na informalidade e precariedade nas condições de vida que atinge mais diretamente os negros e pobres no Brasil. Isso converge para as condições de saúde dessas pessoas", afirma Braga.

O sociólogo lembra que o adoecimento é muito mais frequente entre os negros, e a relação entre pandemia e comorbidades agrava o quadro. A situação é ainda mais delicada pela maior presença dessa população na chamada gig economy (economia dos bicos) e suas funções típicas, como as as de entregadores e motoristas de aplicativo, que ainda se difundiram no contexto da crise sanitária.

"São setores expostos à circulação, pessoas mais vulneráveis e que não podem ficar em casa, não têm acesso à proteção do home office, necessitam ir às ruas para ganhar seu pão. Há uma associação muito clara entre desigualdade racial, o aumento da vulnerabilidade desses grupos à pandemia e a esmagadora maioria de negros e pardos no trabalho informal", analisa o especialista.

De acordo com a pesquisa do IBGE, 39% dos trabalhadores pretos e pardos estão em regime de informalidade, ante 29,9% dos brancos. Autônomos e informais foram justamente os que mais perderam renda na crise.

"São trabalhadores atingidos duplamente", afirma o economista Sandro Sacchet, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Mesmo aqueles que não tiveram a renda afetada, como os entregadores, acabam tendo que se expor e apresentam incidência de sintomas maior do que a média. A pandemia tornou a precariedade das relações informais mais visível", diz.

Mulheres e o "cuidado perigoso"

Os dados referentes à manifestação de sintomas associados à covid-19 também revelam efeitos discrepantes na comparação entre gêneros. Em junho, 57,8% dos que disseram ter contraído mais de um deles eram mulheres, contra 42,2% de homens.

Desde o início do ciclo da doença no Brasil, a antropóloga e professora da USP Denise Pimenta vem alertando para esse cenário. Estudos internacionais e realizados no país mostram que, via de regra, mulheres são mais afetadas em epidemias, endemias e pandemias. O fenômeno encontra explicação no conceito de "cuidado perigoso", identificado por Pimenta em sua tese de doutorado, uma etnografia do impacto da epidemia de ebola (2015) na população feminina de Serra Leoa.

No país da África Ocidental, quase sempre eram as mulheres que assumiam os cuidados de familiares, amigos e vizinhos infectados, se expondo mais ao vírus do que os homens. Por vezes, quando outra mulher adoecia, uma amiga a substituia nas funções de cuidado, numa exposição interminável. No Brasil, além da reprodução em alguma escala deste fenômeno, incidem outras variantes, como a presença majoritária delas no front profissional da saúde ou em atividades de alta exposição, como limpeza.

"Há uma sobrecarga no cuidado exercido pelas mulheres. Além da atenção à família, ainda tem a gestão da casa e o envolvimento com iniciativas comunitárias. A mulher está de cara a cara com o vírus, é quem limpa o mundo, tanto em casa como em hospitais. Elas são maioria na área da saúde", comenta a antropóloga.

Na análise do mercado de trabalho, mais desigualdade. Em junho, a parcela de mulheres afastadas de sua atividade – e possivelmente sem salário –, foi bem superior à de homens: 18,3% delas estavam paradas, ante 11,1% da população ocupada masculina. Segundo o IBGE, quase a metade (48,4%) dos 11,8 milhões de trabalhadores nessa situação exclusivamente devido à pandemia ficaram sem receber salário nenhum.

Para o Diretor-Adjunto de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, a prevalência maior de afastamentos entre mulheres se explica, entre outros fatores, por sua elevada participação em setores como o de empregadas domésticas, dos que mais sofreram com os afastamentos: 22,9% do setor estava parado no mês passado.

Ao mesmo tempo, chama atenção a "vantagem" apresentada pelas mulheres no quesito trabalho remoto. Em junho, 17,5% puderam gozar dessa vantagem, enquanto só 9,4% dos homens trabalhavam de casa. "Em média, as mulheres têm maior escolarização, fator importante para a realização de trabalhos mais intelectuais, que convivem com o home office", lembra o economista Daniel Duque, da Fundação Getúlio Vargas.

Embora se trate de um indicador positivo, Pimenta sublinha que a realidade do trabalho remoto tornou ainda mais penosa a conciliação entre tarefas familiares e profissionais pelas mulheres.

"Não é mais jornada dupla, ela está em um trabalho contínuo. Tem que cuidar da casa, das crianças, dos idosos, das entregas, tudo ao mesmo tempo. Essa gestão de múltiplas obrigações deixa as mulheres mais estressadas do que os homens, mais produtivos do que as mulheres em trabalho remoto", aponta a professora da USP.

Publicado originalmente por Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha. Jornalismo independente em 30 idiomas. 

O plano de Trump para ficar na Casa Branca

Diante da queda de popularidade, presidente americano adotou uma estratégia para garantir a reeleição: em vez de declarar guerra a outros países, ele declara guerra ao próprio povo, comenta Ines Pohl.

As coisas não andam boas para Donald Trump - a covid-19 tem os Estados Unidos sob controle, o número de infectados continua aumentando e em muitas cidades os necrotérios estão lotados. Caminhões estão estacionados junto aos hospitais para resfriar os corpos dos mortos no calor do verão.

Um presidente sem rumo, que não quer assumir a responsabilidade por planos nacionais de resgate, aconselha aos concidadãos injeções com desinfetante e zomba do uso de máscaras faciais, não irrita seus opositores como também o apoio dentro de seu próprio partido republicano está começando a mostrar rachaduras.

A cada novo e horripilante relatório da covid-19, seu adversário nas próximas eleições presidenciais, o democrata Joe Biden, ganha mais terreno. Em uma série de pesquisas de opinião, ele está à frente de Trump por dois dígitos.

Mesmo um Trump que vê o mundo como lhe convém aparentemente percebeu que a economia não se recuperará até novembro. Muito pelo contrário – a cada dia que passa, a devastação econômica se torna mais óbvia e não há como o governo injetar dinheiro suficiente no sistema para segurar o pior até depois da eleição. Seu mantra "isso é tudo culpa da China" não será suficiente para ele ganhar apoio nas urnas.

Outros presidentes, como George W. Bush, o exemplo mais recente, iniciaram guerras em situações semelhantes – as guerras unem o país e os presidentes em tempos de guerra são reeleitos. Mas Trump escolheu um caminho diferente: ele aproveitou todas as oportunidades possíveis para transformar em medo a incerteza que muitos americanos agora sentem. Ele explora com perfeição as fissuras que existem na sociedade americana desde seu início, fraturando ainda mais o país.

Sem se preocupar com as graves consequências de suas ações, ele continua alimentando a violência para depois se apresentar como uma espécie de salvador. Ele está fazendo isso com a mesma tática política que lhe rendeu a Casa Branca em 2016. Para Trump, são sempre "os outros" que representam a ameaça; "os outros" são os culpados; e é "dos outros" que ele, o homem forte, tem que proteger seus apoiadores.

É um conceito simples. Mas funciona neste país que perdeu sua bússola interior. Funciona para pessoas em que a raiva substituiu a esperança pela realização de seu sonho americano em um mundo em que a supremacia dos Estados Unidos está desaparecendo. E funciona através das imagens com as quais Donald Trump domina as telas por meio de seu atual golpe político.

Em um primeiro passo, tropas anônimas foram enviadas para proteger estátuas. Trump emitiu um decreto em junho, permitindo que a polícia federal se deslocasse a cidades onde grassam protestos contra a brutalidade policial e a discriminação de negros. Então, em 4 de julho, num discurso em comemoração ao Dia da Independência dos Estados Unidos, ele declarou guerra à "multidão de esquerda", que, segundo ele, mancha a história gloriosa do país. De fato, imagens dos confrontos nos protestos de Portland realmente evocaram uma situação parecida com guerra. A situação é pior do que no Afeganistão, disse Trump recentemente no Salão Oval. Essa tática parece dar certo junto aos apoiadores de Trump.

Mas nem prefeitos nem governadores querem esse "apoio" de Washington. Eles sabem muito bem, afinal, que agentes federais em uniformes de camuflagem, pelo seu comportamento brutal, não ajudarão a acalmar os manifestantes, mas provocarão novos confrontos. Eles não querem agentes anônimos espancando manifestantes e os arrastando para seus veículos.

Mas Trump aprecia essas imagens. E ele quer mais delas, pois as vê como a última chance de ser reeleito: através da violência nas ruas dos Estados Unidos, que provoca ainda mais violência e lhe fornece as imagens de que precisa para se apresentar como o salvador. O envio de mais agentes federais certamente vai ajudar a cumprir seus objetivos.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha. Produz jornalismo independente em 30 idiomas. 

Porandubas Políticas

Por Gaudêncio Torquato

Abro a coluna com uma historinha do Paraná.

A conversa do jardim

Manuel Ribas, interventor no Paraná (1932/1935), depois governador (1935/1937), despachava no palácio, mas gostava de morar em sua casa. Bem cedinho, chega um rapaz e encontra o jardineiro regando o jardim:

– Seu Ribas está? Sou filho de um grande amigo dele. Meu pai me mandou pedir um emprego a ele. Eu podia falar com ele?

– Poder, pode. Mas, e se ele não lhe arrumar o emprego?

– Bem, meu pai me disse que, se ele não arranjasse o emprego, eu mandasse ele à merda.

– Olhe, rapaz, passe às 4 da tarde lá no palácio, que é a hora das audiências, e você fala com ele.

Às 4 horas, o rapaz estava lá. Deu o nome, esperou, esperou. No salão comprido, sentado atrás da mesa, o jardineiro. Ou seja, o governador. O rapaz ficou branco de surpresa.

– O que é que você quer mesmo?

Repetiu a história. "Meu pai me mandou pedir um emprego ao senhor".

– E se eu não arranjar o emprego?

– Então, seu Ribas, fica valendo aquela nossa conversa de hoje de manhã, lá no jardim.

Luz no fim do túnel

Primeiro, notícias auspiciosas. O Brasil começa a testar vacinas contra a Covid-19: uma, produzida pela Universidade de Oxford, em parceria com a Astrazeneca, considerada segura, com poucos efeitos colaterais, e que estimula a produção de anticorpos e células do sistema de defesa; outra, desenvolvida pela CanSino Biologics e pela área militar da China, com resultados animadores. Vamos esperar os testes dessa fase, considerada a de número três. Há, ainda, uma terceira vacina, com bom perfil de resposta imune, fabricada pela alemã BioNTech com a multinacional Pfizer. Os testes com a fórmula chinesa começam a ser aplicados em São Paulo. Um dos cinco Estados, além do DF, a receber as vacinas para testes. Portanto, começa a aparecer uma luz no fim do túnel.

Sem processo

O eleitor de Donald Trump se compromete a não processar o candidato caso pegue a Covid-19. Trump passou a fazer comícios em ambientes fechados. Diz o documento apresentado ao eleitor: "Ao clicar na confirmação abaixo, você reconhece que existe um risco inerente de exposição à Covid-19. Ao participar do comício, você e todos os seus convidados declaram voluntariamente não acionar judicialmente Donald J. Trump pelos riscos relacionados à Covid-19".

Coisas do Brasil I

A reabertura de atividade no comércio e em áreas de serviços está ocorrendo sem muita preocupação com os picos de mortos e contaminados pela Covid-19. Pressão de setores. Olho nas urnas de novembro. Demagogia e populismo. Muitos setores deveriam continuar fechados. Brasil da improvisação.

Coisas do Brasil II

O surto de contaminados e mortos subiu em Minas Gerais. O poder executivo municipal, comandado pelo prefeito Alexandre Kalil, determinou, nos termos da decisão do STF que autoriza governos e municipalidades a tomar medidas para conter a pandemia, o fechamento de bares e restaurantes. E eis que um juiz, alegando "tirania" de Kalil e "desespero" imposto pela mídia, autoriza a reabertura de bares e restaurantes. Medidas semelhantes estão sendo tomadas Brasil a fora. O nosso Judiciário parece desconhecer a tragédia que contabiliza mais de 80 mil mortos.

Coisas do Brasil III

Um desembargador, Eduardo Siqueira, considerado "um sujeito desprezível" por sua colega de Corte, desembargadora Maria Lúcia Pizotti, flagrado sem máscara na orla da praia de Santos, hostilizou um guarda metropolitano, chamando-o de "analfabeto", rasgou o papel que lhe foi apresentado, telefonou para o secretário de Segurança da cidade, enfim, desprezando a ação do fiscal. O país clama por uma lei de abuso da autoridade. Onde está este instrumento normativo? Ou vamos continuar cultivando: "você sabe com quem está falando"?

Coisas do Brasil IV

Entidades ligadas à saúde, aqui e alhures, desaconselham o uso da cloroquina pelos graves efeitos colaterais que pode provocar. O nosso presidente Bolsonaro não só defende o remédio publicamente como anda dizendo que está se curando da Covid-9 graças a ele. Entre abril e junho, o governo recebera 2,5 milhões de comprimidos do Exército. E já havia encomendado, segundo o jornalista José Casado, de O Globo, 3 milhões de unidades à Farmanguinhos para combate à malária. E eis que os EUA doam mais 2 milhões de comprimidos. A soma daria para abastecer por 38 anos o mercado nacional. E há mais desatino: como os frascos vem com 100 comprimidos, é necessário o fracionamento em doses individuais. O general Pazuello, da Saúde, quer que Estados e municípios façam e paguem por isso. Esse remédio, leio, precisa ser manipulado de modo especial. Quem vai fazer isso? Coisas do velho Brasil.

Coisas do Brasil V

Em São Paulo, a pessoa que circula em áreas públicas sem máscara recebe uma multa de R$ 500,00. Basta uma ligeira olhada nos transeuntes em parques e nas ruas para ver o descumprimento das normas. E não se veem fiscais multando. Eita, Brasil velho.

A quarta sociedade

Esse velho Brasil nos coloca na moldura da quarta sociedade mundial. Quem acompanha esta coluna deve lembrar desse retrato do nosso país. Há quatro tipos de sociedade no mundo: o primeiro é a sociedade inglesa, onde tudo é permitido, salvo o que for proibido; o segundo é a sociedade alemã, onde tudo é proibido, salvo o que for permitido; o terceiro é a totalitária, ditatorial, onde tudo é proibido, mesmo o que for permitido; e o quarto tipo é a brasileira, onde tudo é permitido, mesmo o que for proibido.

Mais ou menos

Por nossas plagas grassa a desconfiança, estiola-se a crença nas autoridades, quebram-se a todo o momento os elos da cadeia normativa. "É para fazer isso conforme prescreve a lei?". Mesmo tendo um olho no malfeito, o transgressor não quer saber. Pratica o que acha mais conveniente. E o bom senso não é respeitado? Apenas quando não fere o que a pessoa acha seu direito. Por isso mesmo, o advérbio talvez seja mais apreciado do que a certeza impressa na cultura anglo saxã: sim, sim, não, não. Experimente perguntar a um brasileiro quantas horas trabalha por semana. Ele vai responder: "trabalho mais ou menos 40 horas". O senhor é religioso? "Sou católico, mas não tenho ido à missa".

Ranking de governadores

Semana passada, fiz um roteiro com os nomes de governadores dos Estados e solicitei aos leitores que dessem uma nota ao desempenho do governador de seu Estado e a outros, caso tivessem conhecimento de sua performance. Hoje, apresento o resultado desta enquete. Vejam bem: enquete. Não se trata de pesquisa com rigor metodológico. Deixei de fora os governantes que receberam até 5 respostas. A coluna obteve 181 votantes.

Governador UF Partido Média

Eduardo Leite RS PSDB 6,96

Renato Casagrande ES PSB 6,47

Ronaldo Caiado GO DEM 6,27

Romeu Zema MG NOVO 6,17

Ratinho Junior PR PSD 5,68

João Doria SP PSDB 4,48

Flávio Dino MA PCdoB 4,46

Ibaneis Rocha DF MDB 4,31

Camilo Santana CE PT 4,19

Fátima Bezerra RN PT 4,19

Carlos Moisés SC PSL 3,86

Paulo Câmara PE PSB 3,46

Wellington Dias PI PT 3,20

Rui Costa BA PT 3,03

Renan Filho AL MDB 3,02

Helder Barbalho PA MDB 2,83

Wilson Lima AM PSC 2,40

Wilson Witzel RJ PSC 1,09


Leite e Witzel

A performance de Eduardo Leite ganha certo destaque no conjunto votado. É um nome que cresce na floresta dos tucanos. Mas o que chamou a atenção deste analista político foi o número de notas baixas atribuídas aos governantes. Merece atenção, ainda, o péssimo conceito atribuído ao governador do Rio de Janeiro. Mais adiante, perto das eleições, faremos nova enquete.

Boulos e Erundina

O PSOL fechou com a chapa Guilherme Boulos, cabeça de chapa, e Luiza Erundina, que tem uma boa votação nas margens. Boulos está mais moderado.

Marta vereadora?

Se Marta Suplicy não conseguir ser vice de Bruno Covas na chapa, pode se candidatar a vereadora.

Tatto

Gilmar Tatto não tem perfil para disputar a prefeitura de São Paulo pelo PT. O problema é que Fernando Haddad, o sonho de Lula como candidato, rejeita a hipótese. O partido tem em São Paulo seu maior bastião oposicionista do Brasil.

Covas

Bruno Covas tomou novo fôlego após mostrar coragem e disposição no combate ao câncer. Lembra a índole do avô Mário Covas. Tem grande chance de se reeleger.

Suplicy e Bolsonaro

Leio que o vereador Eduardo Suplicy mandou o livro Utopia, de Thomas Morus, ao presidente Jair Bolsonaro. Com sua histórica recomendação em defesa da renda mínima. Este analista político desconhecia a faceta humorística do ex-senador.


Gaudêncio Torquato, Professor Titular na USP, é cientista político e consultor de marketing político.

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Livro Porandubas Políticas

A partir das colunas recheadas de humor para uma obra consagrada com a experiência do jornalista Gaudêncio Torquato.

Em forma editorial, o livro "Porandubas Políticas" apresenta saborosas narrativas folclóricas do mundo político acrescidas de valiosas dicas de marketing eleitoral.

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sexta-feira, 24 de julho de 2020

A tragédia dentro da tragédia

Desafortunadamente, o País é presidido por um inepto durante a mais mortal crise sanitária em mais de um século

Se a Nação padece dos severos efeitos da pandemia além do que seria naturalmente esperado, é porque o governo do presidente Jair Bolsonaro foi incompetente para lidar com a crise ou pautou suas decisões por critérios antirrepublicanos. Não há outra conclusão a que se possa chegar após a leitura de um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a gestão da emergência sanitária pelo governo federal.

O foco inicial da fiscalização do TCU eram as compras feitas pelo Poder Executivo durante o estado de calamidade pública. No entanto, “dificuldades e preocupações” concernentes à gestão da crise como um todo levaram o ministro Benjamin Zymler, relator do processo na Corte de Contas, a expandir o escopo de análise com o objetivo de “sugerir” ao Ministério da Saúde (MS) alguns “apontamentos para correção de rumos”, a começar pela atuação do Comitê de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE). Para o ministro Zymler, uma das principais unidades da estrutura de governança do MS para o enfrentamento da pandemia, se não a principal, “parece não estar exercendo o papel de articulação e coordenação (que lhe cabe) na prática”. O ministro foi elegante na crítica.

O TCU também destacou o “enfraquecimento da função de comunicação” do governo com a sociedade pelo fim das coletivas de imprensa diárias, o que configura uma violação do Plano de Contingência Nacional para Infecção Humana pelo Novo Coronavírus. Sem o norte dado pelo poder central, tanto a sociedade como os governos locais ficam mais suscetíveis à inconsistência de informações sobre políticas públicas, o que, em se tratando de uma crise de saúde, é muito grave.

Mais grave, porém, é a falta de critérios técnicos claros para o repasse dos bilionários recursos da União aos entes federativos, o que sugere que motivações políticas do presidente Bolsonaro podem ter preponderado na hora de definir para onde iria o dinheiro. Os casos do Pará e do Rio de Janeiro são os mais alarmantes.

Os dois Estados estão entre os três com a maior taxa de mortalidade por covid-19 do País (31,4 e 28,1 mortos por 10 mil habitantes, respectivamente), mas estão entre os três que menos receberam recursos da União para enfrentar a pandemia. O que explica uma aberração dessas? As desavenças de Jair Bolsonaro com os governadores Helder Barbalho (MDB) e Wilson Witzel (PSC)? Será este o espírito que anima o presidente da República? É conhecido seu desdém pela gravidade da pandemia e sua diferença de visão, por assim dizer, em relação às ações de muitos governadores. Daí a ignorar a mortandade nos dois Estados e deixá-los com magros recursos vai uma enorme distância.

Até o dia 25 de junho, menos de um terço dos R$ 39 bilhões que foram alocados ao MS para enfrentamento da pandemia – ou seja, R$ 11,4 bilhões – tinha sido utilizado pelo governo. Números que traduzem um inaceitável descaso.

A má gestão pode ser mais perniciosa do que a escassez de recursos públicos. A boa administração de parcos recursos é capaz de produzir melhores resultados do que a incúria em cenário de abundância. Em situações de crise, como agora, o quadro é particularmente mais grave. No curso de uma emergência sanitária, malversação ou demora na alocação desses recursos em ações de socorro à população podem significar vida ou morte para milhões de pessoas. Diante disso, não surpreende que cada vez menos gente se mostre escandalizada pelo uso da palavra “genocídio” pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.

Desafortunadamente, o País é presidido por alguém inepto como Jair Bolsonaro no momento em que enfrenta a mais mortal crise sanitária em mais de um século. Uma tragédia dentro da tragédia. Nunca se saberá ao certo qual seria a história da pandemia de covid-19 no Brasil caso o presidente fosse outro, alguém minimamente cioso de suas responsabilidades, empático e capaz de inspirar e liderar seus concidadãos nesta hora grave. À Nação só resta refletir, amadurecer e evoluir no processo de escolha de seus líderes. É este o curso natural da democracia.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
24 de julho de 2020 | 03h00

Presidente do Banco do Brasil pede para sair

Bolsonaro procura outro nome para o lugar. "Tem que vender essa porra logo", disse Guedes, o Ministro da Economia, na célebre reunião do Presidente com o Ministério no dia 22 de abril, no Palácio do Planalto.


Rubem Novaes, Presidente do Banco do Brasil, entregou seu pedido de demissão ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Economia, Paulo Guedes.

A informação foi confirmada com a divulgação feita pelo banco como "fato relevante".

“Em conformidade com o § 4º do art. 157 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e com a Instrução CVM nº 358, de 03 de janeiro de 2002, o Banco do Brasil (BB) comunica que o Sr. Rubem de Freitas Novaes entregou ao Exmo. Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro e ao Exmo. Ministro da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes, pedido de renúncia ao cargo de presidente do BB, com efeitos a partir de agosto, em data a ser definida e oportunamente comunicada ao mercado, entendendo que a Companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário”, diz o comunicado.

O "fato relevante" informa ainda que o Presidente da República já aceitou o pedido de Rubens Novaes, devendo, por isso, indicar outro nome para presidir o Banco do Brasil.

Na reunião do dia 22 de abril, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, fez criticas à atuação de Novaes no Banco do Brasil. Ele disse que o governo "faz o que quer" com a Caixa Econômica Federal e o BNDES, mas no BB "não consegue fazer nada", mesmo tendo um "liberal lá", em referência a Novas, que estava no encontro. "Tem que vender essa porra logo", disse Guedes.

Para Guedes, o Banco do Brasil “não é tatu nem cobra, porque ele não é privado, nem público”. “Se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.’ . Aí se falar assim: “bota o juro alto”, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”, afirmou o ministro da Economia durante encontro com ministros e outras autoridades, entre elas Novaes.

“É um caso pronto e a gente não está dando esse passo. O senhor (presidente) já notou que o BNDE e o … e o … e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”, reforçou Guedes.

Em abril, durante a crise da pandemida do novo coronavírus e as medidas de isolamento para tentar evitar a propagaçaõ da doença, Novaes ao Estadão disse que “governadores e prefeitos impedem a atividade econômica e oferecem esmolas, com o dinheiro alheio, em troca”. “Esmolas atenuam o problema, mas não o resolvem. E pessoas querem viver de seu esforço próprio”, disse.

Fonte: O Estado de São Paulo

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Brasil conta 83.036 mortes e 2.242.394 infectados com coronavírus

Veja os números consolidados: 83.036 mortes e 2.242.394 infectados

Na quarta-feira (22), às 20h, o balanço indicou: 82.890 mortes, 1.293 em 24 horas. Com isso, a média móvel de novas mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 1.052 óbitos, uma variação de 1% em relação aos dados registrados em 14 dias.

Sobre os infectados, o Brasil registrou recorde de 65.339 casos de Covid-19 em 24h, e alcançou o número de 2.231.871 brasileiros com o novo coronavírus. A média móvel de casos foi de 37.280 por dia, uma variação de 1% em relação aos casos registrados em 14 dias.

MÉDIA MÓVEL: Veja como estão os casos e mortes no seu estado

Mortes por Covid-19 no Brasil: números superam soma de vítimas de homicídios e de acidentes de trânsito em 2019

Progressão até 22 de julho

No total, 12 estados apresentaram alta de mortes: PR, RS, SC, GO, MS, MT, AP, PA, RO, RR, TO e PB.

Em relação a terça (20), PR, MT e RO entraram na lista de estados com alta.

Veja como o número de novas mortes tem variado nas últimas duas semanas:

Subindo: PR, RS, SC, GO, MS, MT, AP, PA, RO, RR, TO e PB

Em estabilidade, ou seja, o número de mortes não caiu nem subiu significativamente: ES, MG, RJ, SP, DF, BA, MA, PE e SE

Em queda: AC, AM, AL, CE, PI e RN

Essa comparação leva em conta a média de mortes nos últimos 7 dias até a publicação deste balanço em relação à média registrada duas semanas atrás.

Fonte Por G1 / O Globo

quarta-feira, 22 de julho de 2020

"Carteirada é sintoma de uma cultura que tem aversão ao igualitarismo"

Em entrevista à DW Brasil, o antropólogo Roberto DaMatta aponta que casos de humilhação de fiscais escancaram a persistência de um comportamento aristocrático da sociedade brasileira que remonta à época colonial.

  Anthropologe Roberto DaMatta

"Sem entender as implicações desse forte componente aristocrático que caracteriza a sociedade brasileira, não é possível compreender o 'sabe com quem está falando?'", diz DaMatta.

Aos 84 anos, o antropólogo Roberto DaMatta nunca foi tão procurado para entrevistas como agora. Sucessivos episódios de "carteiradas” durante a pandemia trouxeram luz a um livro seu escrito há mais de 40 anos, Carnavais, Malandros e Heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. A obra traz um ensaio sobre os sentidos profundos da expressão "você sabe com quem está falando?”.

Foi exatamente a pergunta feita pelo desembargador Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira, em Santos (SP), ao ser multado por um guarda municipal. O guarda ainda foi chamado de "analfabeto” pelo magistrado, que estava sem máscara, cuja utilização é obrigatória na cidade por um decreto municipal instituído em abril deste ano. A multa é de R$ 100.

No início de julho, um fiscal que também chamava a atenção para as regras de distanciamento social foi humilhado por um casal no Rio de Janeiro. Na ocasião, uma mulher disse ao fiscal: "Cidadão não, engenheiro civil, formado, melhor do que você".

DW Brasil: Os recentes episódios de "carteiradas” lhe surpreenderam de alguma forma?

Roberto DaMatta: Sobretudo no caso do desembargador, surpreendeu a intensidade da arrogância. Eu me pergunto se isso aconteceria num país como a Alemanha ou outro país democrático. O guarda, que é uma autoridade pública, não está dizendo que ele é ladrão ou o acusando de nada, apenas que use uma máscara na pandemia. O cara apresenta a carteira de desembargador e só falta agredir o guarda, com gestos agressivos.

Felizmente, o guarda teve autocontrole para não fazer nada. Quando ele recebe a multa, rasga, joga no chão e vai embora, antes de telefonar para um amigo que é uma pessoa importante no governo de São Paulo. Nos dois casos, você destitui a pessoa de um papel universal, de cidadão, usado no espaço público, por outro papel. "Quem é você?”. Ele é um engenheiro formado, você não é ninguém. Esse papel de engenheiro formado não tem nada a ver com usar máscara. É o sintoma de uma sociedade que tem um padrão de comportamento aristocrático bastante forte.

Em todas as sociedades humanas, eu preciso saber com quem estou falando, conhecer as pessoas. Mas esse abuso, a tentativa de englobar a autoridade universalista de um guarda civil com um papel social mais sofisticado, que requer mais estudo, é típico de uma sociedade em que todo mundo sabia com quem estava falando. Há um determinado momento em que a sociedade cresceu, e o anonimato aumentou. As cidades modernas se expandiram, e o papel de membro de uma grande cidade começa a se complicar, porque você não conhece as pessoas. Por isso se adotaram as regras da vida burguesa, da cordialidade, de deixar que os mais velhos passem na frente.

Chama sua atenção que o livro escrito há mais de quatro décadas permaneça tão atual?

Como antropólogo, sei que as sociedades não mudam rapidamente, bem como as pessoas. Eu tive experiências com dependentes de álcool e fui dependente de fumo. Sei como é difícil sair desse quadro. Se isso acontece no nível individual, imagina no nível coletivo, em que há costumes legitimados por histórias, fatos sociais. Se nós estivéssemos andando no Rio de Janeiro em 1850, qualquer negro que aparecesse em nossa frente seria um escravo ou ex-escravo. Isso é muito importante. O que diferenciava as classes sociais na Viena do Império Austro-Húngaro, ou na Berlim prussiana do século XIX, era a maneira de vestir e falar. As pessoas não tinham educação, falavam dialetos provincianos. Era o comportamento e a roupa.

No Brasil, além desses elementos – sendo que os escravos nem usavam roupa às vezes, com as mulheres de seio de fora – tinha a cor da pele, e o fato de eles serem estrangeiros. Eles vinham da África e não eram brancos. A servidão europeia era feita de europeus, então era mais complicado distinguir um escravo, uma pessoa que ocupava uma posição ínfima na Rússia do século 19, por exemplo, como a gente lê nos livros de Dostoiévski ou nas novelas de Pushkin e Tchekhov. Todo mundo era branco e falava mais ou menos a mesma língua. No caso brasileiro, eles tinham o estigma de serem africanos, não saberem a língua e serem negros. Este elemento é fundamental.

A este elemento se acrescenta outro, que também é muito importante. O Brasil não é um país colonial clássico, virou o centro de um império com a vinda da família real portuguesa em 1808, fugindo da invasão napoleônica.

Sem entender as implicações desse forte componente aristocrático que caracteriza a sociedade brasileira, não é possível compreender o "sabe com quem está falando?”. Pode-se achar que é um desvio de conduta a ser punido. O diagnóstico é correto, mas até certo ponto. Isso faz parte de uma mentalidade, uma cultura na qual existe uma forte aversão ao igualitarismo, o que promove uma enorme contradição com a democracia republicana que a gente quer estabelecer no Brasil e estamos lutando para conquistar.

No livro, o senhor contrasta essa postura manifestada por esses casos com o Carnaval. Por que essa escolha? 

O Carnaval é o ritual do qual os brasileiros se orgulham, da alegria, do abraço, do encontro, no qual você inverte as posições sociais. O "sabe com quem está falando” é justamente o contrário, do qual os brasileiros não falam.

É o ritual da desigualdade, porque eu digo a você: está pensando que somos iguais? Você segue a regra, mas eu não sou obrigado a seguir. Evidentemente, isso contraria de maneira frontal, ilegítima e criminosa a regra básica de um regime democrático, de que todos nós somos submetidos a leis que governam o espaço público.

Eu não posso atravessar uma avenida correndo sem que o sinal esteja fechado, preciso esperar, seja eu presidente da República, Papa ou rainha da Inglaterra. O seu direito termina onde o meu começa e vice-versa. Esse tipo de entendimento e discussão parece muito simples, mas não é muito simples em sociedades fortemente personalistas ­­— caso do Brasil.

Apesar das raízes coloniais do problema, o que explica o fato de não terem ocorrido maiores transformações desde então?

Não houve, no Brasil, uma revolução como a que aconteceu nos Estados Unidos, onde eles lutaram contra os exércitos ingleses para proclamar a independência. Não estou dizendo que revolução é necessariamente boa. As sociedades têm histórias diferentes, determinadas nuances. No caso alemão, a unificação só acontece no final do século XIX, com Bismarck e os prussianos, em um processo lento como italiano. O Brasil começa centralizado e, depois, se descentraliza. Hoje, a gente ainda não sabe se vai ser uma república federativa com os limites da federação ou altamente centralizada. Quanto mais centralidade, mais fácil o caminho para o totalitarismo. O lado negativo da hierarquia está muito mais próximo de sociedades assim.

Até cinco minutos atrás, em perspectiva histórica, todo senador era barão no Brasil, e quem andava de carruagem ou cavalo era um aristocrata. Não precisava saber, bastava você olhar para a pessoa. O que os alemães e ingleses faziam? Usavam a peruca branca para sinalizar a aristocracia. A mesma coisa com os sans-culottes, que usavam meias brancas e os sapatos da aristocracia francesa. Um dos elementos trazidos pela Revolução Françesa era não usar o culotte, e tentou-se mudar a própria roupa e as datas nacionais.

Essa transformação de uma sociedade aristocrática, que é imóvel, para uma sociedade com mobilidade — caso clássico do modelo estadunidense, onde, em teoria, qualquer um pode virar um Bill Gates — tem ocorrido, mas com lentidão muito maior por causa desses entraves, de matrizes aristocráticas que persistem no nosso inconsciente. Quando a gente estuda antropologia, dedica-se aos costumes que são difíceis de explicar. Quanto mais difícil de explicar um costume, mais ele é revelador da sociedade. É impossível explicar por que os alemães falam alemão, uma tautologia.

Muito tem se falado sobre o pós-pandemia no Brasil e no mundo. Qual é a sua perspectiva?

A pandemia dá um soco muito forte na onipotência tecnológica. Estamos falando em conquistar o planeta Marte e temos relógios digitais que marcam o pulso. Isso cria uma onipotência, um sentimento ocidental de que a sociedade está sempre mudando de forma positiva, porque tem a ver com progresso.

Ao mesmo tempo, a pandemia revela a fragilidade dos seres humanos, mesmo nas sociedades mais industrializadas, que mais deram um salto no sentido de ocidentalizar determinadas dimensões da sua vida – caso da China e demais Tigres Asiáticos, bem como países da América do Sul.  A pandemia revela as desigualdades entre sociedades de maneira muito clara, bem como a brutalidade de concentração de renda e a ambição comercial, até mesmo na venda de remédios no contexto da pandemia.

O mundo pode sair da pandemia otimista, mas consciente que o mundo globalizado deveria ser mais humano e igualitário do que é, com mais compaixão do que existe no mundo de hoje. As fronteiras nacionais devem existir, sem dúvidas, mas deveriam ser mais aplacadas para que a gente pudesse espalhar pelo planeta não as diferenças, mas um bem-estar que fosse maior.

É preciso haver maior compreensão sobre as diferenças entre grupos étnicos, bem como entre pobres e ricos, com sistemas de vida diferentes, ponto fundamental da antropologia. Acredito que a pandemia pode ser uma dimensão capaz de nos levar a esse tipo de compreensão de nós mesmos.

Ela nos ataca biologicamente, e isso é um denominador comum, porque não há qualquer sociedade humana em que não exista a morte, e a pandemia tem a ver com a morte. Mais do que a política ou religiões, este é um denominador comum que pode levar a um mundo mais compreensivo, capaz de se autocriticar, um ponto fundamental do que acredito ser o verdadeiro humanismo.

Fonte:  Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha. Jornalismo independente em 30 idiomas.

Sabez avec quem tu parles, monsieur? O TJ-SP sabe

Ao lado do caso repulsivo, há uma instituição repulsiva que lhe hospeda. 

O desembargador que sabia francês andava sem máscara pelo calçadão. Exercia sua “liberdade” de infectar, a liberdade teorizada por Paulo Guedes e praticada pelo presidente. Abordado por guarda municipal que, com base em lei e decreto, solicitou uso da proteção, o desembargador recitou as virtudes do perfeito idiota brasileiro, um idiota com distinção.

Chamou o guarda de analfabeto e rasgou a multa. O guarda mais tarde replicou: “O sr. é muito mais esclarecido do que todos nós”. O desembargador empoderado assentiu: “Óbvio!” E passou a expelir grunhidos para iniciados.

Escutei um “je donne des ‘aula’” e “Sorbonne”. Luiz Felipe de Alencastro, ex-professor da Universidade de Paris-Sorbonne, também não soube traduzir. Classificou o ruído de “javanês-francês”, língua arcaica que analfabetos não compreendemos.

Essa caricatura da persona odiosa, porém, ainda diz pouco sobre a magistocracia, fração do sistema de justiça que rejeita o Estado de Direito (aquele regime que tenta submeter autoridades públicas à lei). Para além do caso repulsivo, devemos enxergar a instituição repulsiva que lhe hospeda —o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

O TJ publicou comunicado em seu francês particular, um dialeto menos grosseiro. Disse que “não compactua com atitudes de desrespeito às leis” e “segue com rigor as orientações técnicas voltadas à preservação da saúde de todos”.

Meses atrás, o dialeto foi empregado pelo presidente do TJ numa resposta a essa coluna. O título exalava poesia: “Juiz paulista vive a virtude como dever legal”. Explicava que o Judiciário é “função que procura reduzir as diferenças”, Poder “mais próximo ao necessitado”.

Argumentava que a “magistratura bandeirante”, na sua “trincheira diuturna”, é “serva da Constituição e da lei”; que sua matéria-prima é “a fragilidade da espécie humana”, que “igualdade de tratamento é sempre de rigor”. Não admitia a “aniquilação moral de um Poder legítimo e de profissionais sérios, probos, dignos”.

A vida real, contudo, ignora abstrações. Por trás da jurispoética, o TJ é um monumento de desrespeito à lei (não só contra vulneráveis, mas também contra juízes “sérios, probos e dignos”).

O TJ precisa se fazer respeitar pelo que faz, não pelo que fala de si. Porque o que fala, nesse linguajar cafona, faz corar até as fechaduras do tribunal. Listo alguns exemplos, mas há material para um tratado da infâmia judicial.

Começo pelo massacre do Carandiru. Já se passaram 28 anos, 10 anos só de atrasos deliberados na tramitação do caso. Houve duas anulações de julgamento. Não violou só a Constituição e a lei, mas a sua própria jurisprudência. 111 mortes, nenhum condenado.

Em casos de tráfico de drogas, o TJ despreza literatura sociológica, ignora o STF e mantém classificação de crime hediondo para aprofundar o rigor da pena. É responsável pela maior taxa de encarceramento no terceiro país que mais encarcera no mundo.

A “perpetuação da espécie pode estar em risco”, disse desembargador citando “Walking Dead”. O TJ afirma que só quer “proteger a sociedade e os cidadãos de bem”. O crime organizado agradece a ajuda logística.

Por falar em ignorar órgãos do Estado, o TJ não gostou da recomendação 62 do Conselho Nacional de Justiça, que tenta mitigar impacto do coronavírus nas prisões. Rejeitou quase 90% dos habeas corpus de presos pertencentes a grupos de risco (idosos com hipertensão, portadores de HIV, tuberculose etc.), em sistema prisional com taxa de ocupação de 150%. “Só astronautas estão livres do coronavírus”, ponderou outro desembargador.

Podemos falar em parceria com a violência policial (e anulação de protocolos sobre bala de borracha). Podemos falar em encarceramento de mães e gestantes e da resistência a outra decisão do STF. Podemos falar em racismo e seletividade. E mal começamos.

Isso se chama corrupção magistocrática. A essa corrupção se responde com atos concretos e honestidade. Ou então com o francês grandiloquente da “corruption magistocratique”.

Conrado Hübner Mendes, o autor deste artigo, publicado originalmente na edição de hoje da Folha de São Paulo, é Professor de direito constitucional da USP; Doutor em direito e ciência política e Embaixador científico da Fundação Alexander von Humboldt.

"Seu" Corona segue vencendo "Dona" Cloroquina e não larga o pé do "seu" Jair

O presidente Jair Bolsonaro testou positivo para a covid-19 no teste realizado na terça-feira, 21, segundo a Secretaria Especial de Comunicação Social do Ministério das Comunicações. O presidente contava com um resultado negativo para "voltar à normalidade" e fazer viagens para o Nordeste.

"O presidente Jair Bolsonaro segue em boa evolução de saúde, sendo acompanhado pela equipe médica da Presidência da República", diz a nota da Secom.

Ontem, o presidente disse que tinha feito um novo exame e que a expectativa era que desse negativo. Ele tinha previsão de viajar para o Piauí e para a Bahia nos próximos dias. No Piauí, deveria visitar o Parque Nacional da Serra da Capivara. Também existia a possibilidade de ele participar da entrega de uma adutora do Ministério do Desenvolvimento Regional em Campo Alegre de Lourdes (BA).

O presidente anunciou em 7 de julho que testou positivo para covid-19. Desde então, Bolsonaro está em isolamento no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, de onde despacha por videoconferência com ministros e autoridades. Ele fez outro exame no dia 14, também positivo.

Dois ministros informaram nesta semana que receberam diagnóstico positivo para a covid-19: Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Milton Ribeiro (Educação).

Após Bolsonaro afirmar ter sido diagnosticado com a covid-19, ao menos 13 ministros que se encontraram com o presidente também fizeram exames.

Paulo Guedes (Economia), Luiz Eduardo Ramos (Secretária de Governo), Braga Netto (Casa Civil), Levi Mello (AGU), Marcelo Alvaro Antonio (Turismo), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Roberto Campos Neto (Banco Central) realizaram testes, que deram negativo.

Os dados mais recentes da Secretaria-Geral da Presidência, de 10 de julho, indicam 128 casos de coronavírus no Planalto, onde trabalham 3.400 pessoas. No balanço anterior, com informações de 3 de julho, eram 108 infectados. Ou seja, no intervalo de uma semana foram confirmados mais 20 casos da doença, uma média de quase três novos por dia.

Segundo dados do consórcio de imprensa divulgados na terça-feira, o número total de mortos no País em virtude da pandemia chegou a 81.597. Mais de 2,1 milhões de brasileiros já foram infectados pelo novo coronavírus, conforme levantamento realizado pelo Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL junto às secretarias estaduais de Saúde.

O Brasil é a segunda nação do mundo com maior número de casos e mortes por covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, que têm 3,8 milhões de infecções confirmadas e 141 mil óbitos, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.

Tânia Monteiro e Julia Lindner, O Estado de S.Paulo
22 de julho de 2020 | 08h51


Obs. O título da matéria acima não é o do texto original. É da autoria do editor do blog.

Uma oportunidade histórica

Se nos unirmos podemos construir uma nação mais próspera, estável e menos desigual - propõe Luiz Felipe D'Avila, fundador do Centro de Liderança Pública (CLP) e autor do livro "10 Mandamentos - do País que Somos para o Brasil que queremos". Originalmente publicado n'O Estado de São Paulo hoje.

A crise da covid-19 obrigou-nos a encarar a dura realidade. Se o País continuar trilhando o caminho do sectarismo político, do capitalismo de Estado e do clientelismo social, vamos deixar para as próximas gerações um Brasil politicamente instável, fiscalmente falido e socialmente desigual. Os arroubos populistas contribuíram para aprofundar os males que já existiam antes da pandemia. A falta de coordenação política do governo desestabilizou a relação institucional entre os Poderes. O agravamento da tensão política com os governadores, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal colaborou para a formação da tempestade perfeita. Durante a pandemia nos tornamos um dos recordistas mundiais em número de mortes e sofremos uma das maiores quedas da atividade econômica entre os principais países.

A economia, que rastejava à beira da recessão antes da epidemia, voltou a mergulhar no crescimento negativo do PIB, estimado em torno de -6%. A dramática situação fiscal agravou-se com o aumento do gasto emergencial para enfrentar a crise, levando o País a uma dívida próxima de 100% do PIB. O desemprego, que já se encontrava num dos patamares mais elevados da História do Brasil, atingiu quase metade da população economicamente ativa. A extrema pobreza voltou a crescer, 15 milhões de brasileiros passaram a viver com menos de US$ 1,90 por dia. Mas momentos de impasse servem para repensarmos nossas ações, revermos nossos erros e mudarmos de atitude para corrigir a rota a ser trilhada.

Há sinais importantes de mudança de comportamento. O presidente da República trocou o tom belicoso por gestos conciliatórios com o Supremo e o Congresso. O vice-presidente reabriu o diálogo com empresários sobre as questões ambientais, buscando desanuviar a desconfiança dos investidores no País e reafirmar seu compromisso com o combate ao desmatamento na Amazônia. Os presidentes da Câmara e do Senado informaram que o Parlamento está pronto para retomar a votação das reformas e dos projetos de lei necessários para destravar o investimento e diminuir a insegurança jurídica no País. A sociedade civil também se mobilizou. O movimento Unidos pelo Brasil, lançado pelo CLP (www.clp.org.br), almeja unir a sociedade civil, o governo e o Congresso em torno de uma agenda vital para impulsionar a retomada da economia, do investimento privado e do emprego. O objetivo é aprovar um conjunto de medidas até dezembro para reavivar a confiança dos investidores e atacar o crescente problema da desigualdade social, sem clientelismo estatal.

A união da Nação em torno de uma agenda de prioridades demandará mudanças de atitude de todos nós. Se nossas preferências políticas, partidárias e ideológicas predominarem sobre a busca do diálogo e do entendimento com o Congresso e com o governo, as reformas não avançarão e a economia continuará oscilando entre a recessão e o baixo crescimento nos próximos dois anos. Para evitar a ruína do País precisamos deixar nossas preferências políticas e ideológicas para o embate eleitoral em 2022.

Se quisermos pavimentar o caminho da retomada do investimento privado e do emprego, será preciso enfrentar a pressão do corporativismo estatal e abandonar as reivindicações setoriais que buscam extrair benefícios do Estado. Teremos de dar prioridade à agenda nacional, como abertura econômica, privatização das estatais (que até agora não saiu do papel) e aprovação das reformas administrativa e tributária. Trata-se de medidas essenciais para aumentar a produtividade do governo e do setor privado. Ademais, é preciso transformar a educação na agenda prioritária do País. Não há futuro promissor numa nação onde 48% dos jovens abandonam a escola antes de concluir o ensino médio. Na era do conhecimento, a péssima qualidade da educação condenará uma geração de jovens ao desemprego e à dependência do Estado. Não se resolve a questão da desigualdade social criando dependentes do governo.

A igualdade de oportunidade continuará a ser um princípio inatingível num País em que o Estado é o principal criador de desigualdades sociais. Provedor de favores para o setor privado e de privilégios para o setor público, o Estado precisa abandonar suas políticas clientelistas e focar atenção e recursos para socorrer a população carente. O programa de renda básica precisa ser direcionado aos mais pobres e tem de ser financiado cortando os privilégios do corporativismo estatal e boa parte dos R$ 300 bilhões que o Estado confere em subsídios, isenção fiscal e benefícios para a classe média, empresas e setores da economia.

O impasse da covid-19 nos colocou numa encruzilhada. Se não mudarmos de atitude, vamos perpetuar a desigualdade, a injustiça social e a volatilidade política. Mas se nos unirmos em torno da agenda modernizadora do Estado, podemos dar ao Brasil o que a atual geração está devendo aos brasileiros: a criação das condições para construirmos uma nação mais próspera, mais estável e menos desigual.

E-MAIL: FELIPE@VIRTUNEWS.COM.BR

Cidadão, não! Militar!

Bolsonaro transforma militares em casta (ainda mais) privilegiada, analisa Vera Magalhães em artigo publicado hoje n'O Estado de São Paulo.

“É proibido militar estar na política? Não!” Jair Bolsonaro tem incontáveis defeitos, mas a dissimulação não é um deles. Poucos políticos são tão transparentes em suas intenções, seus propósitos e suas cismas. Não vou falar aqui em ideias, porque é uma categoria mais difícil de discernir na “obra” do presidente.

Bolsonaro não faz questão de disfarçar que quer pisar no acelerador do processo de militarização do seu governo. Começou a mover o barco nessa direção já no ano passado, e enfunou as velas de vez em 2020.

Levantamento do Tribunal de Contas da União apontou o espantoso contingente de 6.157 militares, da ativa e da reserva, em cargos civis no governo, sendo 2.643 em cargos comissionados. Trata-se de um aumento de 108,22% de 2016 para cá.

Diante dessa evidência incontestável não adianta os militares engrossarem a voz e baterem o coturno no chão quando são chamados a assumir responsabilidades pelas políticas de Estado determinadas pelo “capitão”.

A militarização do governo é um movimento combinado com outros que o bolsonarismo vem empreendendo nos últimos meses, como o aumento da influência política sobre as polícias militares – a ponto de, hoje, haver em muitos Estados comando paralelo ao dos governadores.

Também está em linha com a ideia do presidente, gritada em alto e bom som na dantesca reunião ministerial de 22 de abril, de “escancarar” a questão do armamento para a população, afrouxando limites, regras e fiscalização sobre a posse e o porte de armas e o acesso à munição.

Tudo isso coaduna com a visão de governabilidade na qual Bolsonaro de fato acredita, que é diversa dessa que ele vem tentando implementar ao chamar o Centrão para a festa antes restrita aos fardados e aos ideológicos.

Uma governabilidade em que o presidente é louvado por adoradores fanatizados pelas redes sociais, promove a guerra cultural permanente como forma de manter vivo o fantasma do “comunismo” contra o qual seria o único remédio e que é amparada, na retaguarda, por esse estafe militar cada vez mais numeroso e incumbido de funções primordiais.

Com um general da ativa à frente da Saúde os militares não poderão se queixar se forem corresponsabilizados pelas atitudes inconsequentes do presidente durante a pandemia, do lobby da cloroquina – transformado por pressão dele em protocolo da pasta! – à incitação ao descumprimento do isolamento social.

Da mesma maneira, ao colocar o vice-presidente (e general) Hamilton Mourão como tutor do ministro Ricardo Salles e responsável pelo pepino da situação da Amazônia, Bolsonaro joga no colo das Forças Armadas a cobrança internacional, que se dá por meio de países, organismos multilaterais e, cada vez mais, empresas e importadores dos produtos brasileiros, pela absoluta falta de uma política ambiental que atenda aos princípios mínimos do que a economia global exige.

Atraídos para a ribalta política por alguém que, em condições normais, seria considerado um pária, dada a sua passagem pífia pelo Exército, os militares também vão sendo seduzidos por concessões no plano financeiro, que os transformam numa casta privilegiada entre os já privilegiados servidores públicos.

Refestelados no poder, abrem mão até da discrição ao colocar parentes em cargos de confiança, se assemelhando cada vez mais aos políticos, como mostra o episódio do cargo dado à filha do ministro Braga Netto numa agência regulatória transformada em cabide para nepotismo.

Diante de tudo isso, os militares podem reclamar de Gilmar Mendes e de quem for, mas a constatação óbvia é que eles estão mergulhados até o último fio de cabelo no governo Bolsonaro. Serão cobrados pela História nessa condição, e não como “poder moderador” ou outro papel que queiram achar que têm.

Crimes contra a humanidade

Denúncias podem dar em nada juridicamente, mas terão alto custo político e econômico

Como já havia sido afirmado num evento acadêmico pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, no qual advertiu que o alto número de militares na cúpula do Ministério da Saúde em meio à pandemia de covid-19 está associando a imagem das Forças Armadas à ideia de “genocídio”, tornando o País vulnerável a processos em organismos multilaterais, o Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou que, recentemente, foram protocoladas três denúncias contra o presidente Jair Bolsonaro sob a acusação de crimes contra a humanidade.

Nos três processos, o presidente é acusado de negligência no combate ao novo coronavírus. As denúncias foram feitas pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), pelo grupo Engenheiros pela Democracia e por uma agremiação partidária – o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 2019, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns já havia denunciado Bolsonaro por outro motivo, acusando-o de genocídio contra povos indígenas.

Planejado na década de 1950, quando a ONU criou uma comissão para elaborar seu estatuto, o TPI é uma Corte permanente e independente que julga crimes de genocídio, guerra, agressão e crimes contra a humanidade – tipificados pelo Estatuto de Roma, firmado em 1998. Sediada em Haia, a Corte iniciou suas atividades oficialmente em 2002 e não julga Estados, mas pessoas. Uma vez apresentadas, as denúncias são apreciadas pela procuradoria do TPI, que verifica se elas se inserem na jurisdição da Corte e se estão lastreadas em fatos que justifiquem a abertura de uma investigação. A etapa seguinte avalia a gravidade da denúncia e, se considerar que há base para a abertura de uma investigação oficial, a procuradoria pede autorização a uma câmara integrada por três juízes.

Apesar das denúncias, o risco de Bolsonaro sofrer uma investigação formal no TPI é pequeno. Como afirmam especialistas, dentre eles a juíza Sylvia Steiner, que integrou a Corte entre 2003 e 2016, é difícil diferenciar uma gestão desastrosa no combate à pandemia de covid-19 de uma atitude consciente e deliberada de promover um crime contra a população. Segundo Steiner, como o caso brasileiro se destaca basicamente pela incompetência do governo Bolsonaro, o foro mais adequado não seria o TPI, mas a Corte Interamericana de Direitos Humanos. “É uma questão de responsabilização de políticas de Estado, e não de responsabilidade individual”, afirma.

Se do ponto de vista jurídico as denúncias contra Bolsonaro pela prática de crime contra a humanidade não devem prosperar no TPI, do ponto de vista político elas podem macular ainda mais a imagem externa do País. Por causa de iniciativas desastrosas de Bolsonaro em matéria social, educacional e ambiental, sua administração é tão ruim que, no mês passado, por exemplo, cerca de 30 grandes instituições financeiras mundiais ameaçaram retirar seus investimentos do Brasil caso o governo não mude a política para a Amazônia. Além disso, nos Estados Unidos, Europa e Ásia os principais veículos de comunicação há muito tempo vêm publicando contundentes editoriais contra Bolsonaro, acusando-o de estar convertendo o Brasil numa espécie de pária internacional.

Desde a última década do século 20, um dos conceitos mais importantes na teoria das relações internacionais para descrever a capacidade de um Estado de se firmar no plano mundial é o de soft power. Contrapondo-se ao conceito de hard power, que envolve poderio militar e financeiro, o conceito de poder suave pressupõe valores, ideias, reputação, credibilidade, autoridade moral e respeito a conquistas civilizatórias. Por isso, mesmo que as denúncias contra Bolsonaro no TPI não deem em nada no plano jurídico, no plano político elas corroerão o pouco que o Brasil ainda tem de soft power, desde a ascensão de Bolsonaro ao governo, o que só dificulta a captação de investimentos e conquista de novos mercados num período de crise econômica e escassez de recursos.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
22 de julho de 2020 | 03h00

terça-feira, 21 de julho de 2020

Coronavírus no Brasil: país registra mais de 1,3 mil mortos e 41 mil novos casos em 24h 21 julho 2020

O Brasil chegou nesta terça-feira (21) à marca de 2.159.654 infectados pela covid-19, segundo dados do mais recente boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). No total, 81.487 pessoas morreram pela doença desde o início da pandemia.

Nas últimas 24 horas, foram contabilizadas 1.367 novas mortes no país. Houve, também, mais 41.008 novos casos da doença registrados.

A taxa de letalidade (número de mortes por registros da doença) está em 3,8%.

São Paulo (422.669), Ceará (148.986), Rio de Janeiro (145.121) e Pará (140.388) seguem como os Estados com mais casos acumulados.

O Estado paulista tem também o maior número de mortes (20.171), seguido por Rio (12.293) e Ceará (7.284), segundo o boletim.

O Brasil continua como o segundo país do mundo com maior número de casos e mortes na pandemia do novo coronavírus, depois apenas dos Estados Unidos, que tem mais de 3,8 milhões de casos e 141,4 mil mortes pela covid-19, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.

Fonte: BBC News

domingo, 19 de julho de 2020

Você deseja voltar ao normal após o COVID-19?

Antes da pandemia, 734 milhões de pessoas viviam em extrema pobreza, 690 milhões de pessoas passavam fome e 79,5 milhões de pessoas foram deslocadas à força. 

Bill Gates ou Hans Rosling estariam certos se lhe dissessem que o mundo está em um estado melhor do que você poderia esperar, e que enormes progressos foram feitos. Contudo, para bilhões de pessoas, a vida normal - ou seja, antes do COVID-19 - não estava funcionando.

Pode até ser que, após o Covid-19, não consigamos voltar ao normal. Até, talvez, quem sabe, não devamos quere-lo mais. Com a crise climática pressionando, não podemos nos permitir.

O COVID-19 é uma catástrofe humana, mas que oferece à comunidade de saúde uma oportunidade para repensar o propósito da sociedade como um todo em um mundo fraturado e, assim, redefinir as coisas.

O que queremos que o novo normal signifique?

A pandemia tem duas lições salutares.

Primeiro, nos lembrou que quem realmente mantém a sociedade funcionando são os trabalhadores da saúde e de assistência, vendedores e assistentes sociais, motoristas de ônibus, professores, caixas de bancos, policiais, agricultores e faxineiros, os chamados trabalhadores-chaves. Sem eles, já estaríamos, ireeversivelmente, no caos.

A segunda é que a sociedade e seus sistemas são muito mais frágeis do que muitos de nós imaginamos. Até agora, alguns dos melhores sistemas de saúde evitam o colapso total apenas por meio de medidas extremas de emergência e esforços pessoais heróicos, como no caso da falta de ventiladores. Crises no sistema de saúde são, quase sempre, devastadoras.

Sem outros meios de apoio, muitos são alcançados e, assim, negativamente afetados pelas restrições decorrentes do COVID-19.

Estima-se hoje que pelo menos 70 milhões de pessoas serão empurradas para a pobreza por causa da pandemia.

John Alston, o Relator Especial da ONU sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos, argumenta que a pobreza extrema foi negligenciada e que precisamos reconceber a relação entre crescimento e eliminação da pobreza.

Diminuir o coeficiente de Gini, uma medida de igualdade em cada país em 1% ao ano, pode ter um impacto maior na pobreza global do que aumentar o crescimento anual em 1 ponto percentual. A redistribuição da riqueza, não o crescimento por si só, é essencial. Para lidar com a fragilidade em nossos sistemas, precisamos de resiliência: capacidade de lidar com tensões, choques e mudanças.
Um sistema de saúde resiliente tem respostas efetivas a emergências de saúde. Tem capacidade de sobretensão.

O ensino escolar e universitário parou. As empresas fecharam e 1,6 bilhão de trabalhadores na economia informal, muitos sem outros meios de apoio, são afetados pelas restrições do COVID-19. Pelo menos 70 milhões de pessoas serão empurradas para a pobreza por causa da pandemia.

Nenhuma ação, hoje na pandemia e depois dela, pode prescindir do um sério compromisso com a melhoria da qualidade. O sistema de saúde é  flexível e pode se adaptar. Um sistema de saúde resiliente não planejaria uma pandemia de influenza e seguiria esse plano quando ocorresse um surto de coronavírus.

Os sistemas econômicos também precisam ser resilientes. O foco da economia ortodoxa na eficiência precisa ser reconsiderado. Pandemias, desastres climáticos e colapsos financeiros podem parecer excepcionais, mas não são inesperados. Devemos recalibrar nossas prioridades em relação à resiliência para ter uma chance de lidar com elas.

Precisamos focar na sustentabilidade para a saúde, a sociedade e o planeta. A idéia de um Novo Acordo Verde, que vincula a agenda climática à justiça e redistribuição econômica, e a uma recuperação verde e saudável da pandemia, vem ganhando apoio político, pelo menos na retórica, mas apenas arranhará a superfície do que é necessário. A oportunidade de acelerar drasticamente a política climática deve ser abraçada vigorosamente. Com determinação e muita força de vontade.

A necessidade de desafiar as obsessões normais da sociedade - eficiência, consumo e crescimento - não é uma idéia nova, nem mesmo para economistas. Mas a comunidade da saúde tem uma autoridade moral renovada para exigir esse desafio. Isso exigirá uma mudança de cultura, bem como uma mudança de métricas. As pessoas, as instituições, as organizações e as sociedades que têm essas obsessões no coração precisam pensar novamente.

Esse normal a que nos acostumamos não funcionará mais.

Fonte: The Lancet, UK

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Brasil supera a marca de 2 milhões de contaminados por coronavírus

País atinge 2.014.738 de casos registrados e tem média móvel de 1.081 mortes por covid-19 nos últimos sete dias


O Brasil ultrapassou nesta quinta-feira, 16, a marca de 2 milhões de casos confirmados de covid-19, após menos de cinco meses desde o início da pandemia no País. Ao todo, são exatamente 2.014.738 contaminações registradas - 43.829 nas últimas 24 horas - e 1.299 mortes, segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL junto às secretarias estaduais de Saúde. Nos últimos sete dias, o Brasil registrou uma média diária de 1.081 óbitos por covid-19.

A evolução da doença tem sido acelerada no Brasil, que chegou à marca de 500 mil casos registrados em 31 de maio, 95 dias após o primeiro caso, em 26 de fevereiro. O número de infectados dobrou depois em apenas 19 dias, quando o País chegou a 1 milhão de contaminados. A marca de 1,5 milhão veio apenas 13 dias depois e agora ultrapassa a barreira dos 2 milhões de casos em 14 dias. Se o País demorou 114 dias desde o primeiro caso para atingir a marca de 1 milhão de contaminados em 19 de junho, 27 dias foram suficientes para o número dobrar e chegar a dois milhões de casos. Isso sem contar que o Brasil é um país que testa pouco a sua população, ou seja, os números podem ser muito maiores que os registrados.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o aumento se deve principalmente à curva de crescimento exponencial da pandemia e à interiorização da covid-19 no País: o novo coronavírus já está hoje em 95% dos municípios brasileiros (5.316), que respondem por 99% de toda a população, de acordo com levantamento do projeto de transparência de dados Brasil.io. Os números estão em alta no País em um momento que a pandemia cresce no mundo, com recorde de casos.

Só para se ter uma ideia, o Brasil o segundo país com mais casos de covid-19 no mundo. Só perde para os Estados Unidos, que somam 3.556.403 contaminações confirmadas, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. O terceiro país mais afetado é a Índia, com 968.876 casos. Os três juntos são responsáveis por quase metade de todos os casos registrados no mundo. Outro dado alarmante é que dois terços de todos os 230 mil casos registrados na quarta-feira são dessas três nações e da África do Sul, que vê a pandemia acelerar.

Para Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), apesar de o Brasil ter mantido neste último mês uma taxa de crescimento de cerca de 1.000 mortes por dia, isso não significa que a pandemia esteja controlada. “O número está mantido em um patamar alto, que deve ser ainda maior dada a subnotificação. Estacionamos em um pico, o que é grave. A pandemia continua em expansão com alta transmissão e mortalidade. Temos um controle pouco eficaz: testa-se muito pouco e isola-se muito pouco”, afirma. “Enquanto não houver redução da velocidade de crescimento, bateremos novas marcas rapidamente.”

Disseminação da covid-19 pelo Brasil

Especialista em geografia da saúde da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Raul Borges Guimarães afirma que a covid-19 chegou praticamente a todos os cantos do País. “Ao longo da pandemia vimos um modelo de difusão hierárquica, ou seja, uma rota do coronavírus das cidades maiores para as menores. Nesse último mês esse processo se completou chegando a todas as regiões e a todos os tipos de cidade, inclusive a municípios tipicamente rurais de menos de 15 mil habitantes”, afirma Guimarães, que é um dos pesquisadores envolvidos no Radar Covid-19, projeto da universidade que busca rastrear a difusão do vírus.

Com a interiorização da doença, médicos chamam atenção para possíveis impactos no sistema de saúde. “Cidades no interior costumam ter piores estruturas de hospitais, que podem não dar o suporte adequado à internação”, diz Chebabo, da SBI. Esse é um problema para os próximos meses. Jean Gorinchteyn, infectologista do hospital Emílio Ribas e do hospital Albert Einstein, também pontua que esse movimento pode sobrecarregar as UTIs de capitais, já que a população das cidades menores tende a buscar atendimento nas cidades maiores.

O avanço do novo coronavírus pelos Estados também mudou no último mês: principalmente as regiões Sul e Centro-oeste passaram a registrar um crescimento acelerado da pandemia, enquanto os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, epicentros impactados desde o início, passaram por semanas de ligeira desaceleração.

 “Temos várias epidemias dentro de um único País. Algumas regiões ainda estão se elevando em termos de número de casos”, diz Gorinchteyn. “Por causa dessas flutuações diferentes, vamos demorar mais para atingir um platô da doença no Brasil como um todo. Por enquanto não há previsão de quando esses números totais vão começar a cair.”

Para os especialistas, a reabertura em diversas cidades também é um ponto de atenção neste momento. Deveria ser repensada nos municípios onde a doença cresce e onde não há capacidade de UTIs. “A reabertura tende a elevar os casos. Corremos o risco de ter uma segunda onda ou mesmo uma elevação de número de casos ainda na primeira”, afirma Gorinchteyn. “Nessas próximas semanas esses processos precisarão ser milimetricamente monitorados. Também teremos de aprender a recuar, quando preciso, a despeito de interesses econômicos.”

Enquanto o Brasil atinge dois milhões de casos, o Ministério da Saúde completa mais de dois meses sem ministro. Em nota ao Estadão, a pasta afirmou que mantém esforço contínuo para garantir o atendimento em saúde à população desde o início da pandemia, e que já enviou R$ 9,9 bilhões a Estados e municípios voltados exclusivamente para combate ao coronavírus.

“Não temos uma coordenação centralizada para dar um rumo aos Estados e municípios nesse combate. Sem articulação, o controle fica muito mais difícil”, diz o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Consórcio de veículos de imprensa

O balanço de óbitos e casos é resultado da parceria entre os seis meios de comunicação, que uniram forças para coletar junto às secretarias estaduais de Saúde e divulgar os números totais de mortos e contaminados. A iniciativa inédita é uma resposta à decisão do governo Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia.

O órgão informou, no início da noite desta quinta-feira, que o Brasil contabilizou 1.322 óbitos e mais 45.403 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Com isso, segundo o Ministério da Saúde, no total são 76.688 mortes e 2.012.151 casos confirmados pelo coronavírus. O número é diferente do compilado pelo consórcio de veículos de imprensa principalmente por causa do horário de coleta dos dados.
     
Giovanna Wolf e Sandy Oliveira, O Estado de S.Paulo
16 de julho de 2020 | 20h05

Pensando o futuro

No vácuo de liderança governamental, tranquiliza ver a ação de setores da sociedade civil
 
Um programa sério e abrangente para o enfrentamento da pandemia de covid-19 não se limita ao atendimento das necessidades imediatas de cidadãos e empresas, como o suporte médico aos doentes, o pagamento do auxílio emergencial àqueles que perderam sua renda de uma hora para outra e a ajuda financeira a empresários com dificuldade para manter seus negócios, sobretudo os micros e pequenos. Estas são apenas as ações mais urgentes. Há muito mais do que isso a ser feito pelo bem do País.

Para poder dizer que lidou minimamente bem com os desafios impostos pela pandemia, o governo do presidente Jair Bolsonaro também precisaria mostrar capacidade de antever os impactos vindouros da covid-19 em diversas áreas, definir objetivos claros e alinhados ao interesse nacional para cada uma delas e mobilizar as forças da sociedade, em constante diálogo com o Congresso Nacional, em torno de projetos que preparem o Brasil para um futuro de desenvolvimento econômico e social sustentável. E isto, claro, sem descuidar de outras pautas igualmente importantes para o País. O que se vê, no entanto, é o oposto, a quase inação, como se a covid-19 fosse desaparecer num passe de mágica e com ela seus efeitos.

Diante do vácuo de liderança governamental, é tranquilizador ver a mobilização de setores da sociedade civil em torno de uma agenda voltada para a reorganização do Estado, pois a pandemia há de passar, mais cedo ou mais tarde, e a Nação não pode perder de vista a tramitação de projetos que são absolutamente vitais para o País.

Coordenadas pelo Centro de Liderança Pública (CLP), organização suprapartidária de mobilização social e formação de líderes públicos, dezenas de instituições se engajaram em uma ação conjunta de diálogo com o governo federal e o Poder Legislativo a fim de aprovar, até o final deste ano, 28 projetos de lei que estão em tramitação no Congresso Nacional. O CLP classifica como “vital” essa união de esforços para que as propostas sejam aprovadas e o País, enfim, possa voltar a trilhar o caminho do crescimento econômico e do desenvolvimento social.

O grupo, que tem entre os seus membros os economistas Ricardo Paes de Barros e Ana Carla Abrão, a ex-presidente do BNDES Maria Silvia Bastos Marques, o empresário Pedro Passos, o executivo Fábio Barbosa, o professor Carlos Ari Sundfeld, da FGV Direito-SP, além do fundador do CLP, o cientista político Luiz Felipe D’Avila, organizou a pauta de diálogo com o Legislativo em três pilares: reformas estruturais, combate à desigualdade e crescimento sustentável.

No pilar das reformas estruturais estão as reformas administrativa e tributária, ambas há muito necessárias para dar fim a uma série de distorções que fazem do Estado brasileiro ineficiente e refém de privilégios corporativos, além de pouco atrativo aos investimentos na produção e na geração de riquezas. No pilar de projetos de combate à desigualdade, o CLP destaca a criação de um programa de renda básica – cuja necessidade foi ressaltada pela eclosão da pandemia – e o desenvolvimento da educação pública, sobretudo do ensino básico, por meio da articulação entre União, Estados e municípios, uma frente que tem o apoio da organização Todos Pela Educação. Por fim, o pilar de crescimento sustentável tem foco nos projetos nas áreas de saneamento básico, meio ambiente e segurança.

Não será missão das mais fáceis fazer avançar uma agenda tão abrangente. Mas é de destacar a coragem e o engajamento do grupo coordenado pelo CLP a fim de mobilizar o Congresso Nacional e a sociedade para a aprovação de projetos tão necessários para o País.

É certo que haverá resistências ao avanço de alguns desses projetos, mas assim é em uma democracia. Com diálogo e contraposição de ideias, se os parlamentares estiverem imbuídos pelo mais elevado espírito público, serão capazes de entender que acima de suas divisões pontuais há o Brasil, que há tempo demais espera por um futuro mais vibrante.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
16 de julho de 2020 | 03h00

O custo da evasão escolar

Levantamento estima que o prejuízo total causado pela evasão escolar seja de R$ 214 bilhões por ano, o que equivale a 3% do Produto Interno Bruto

Depois de ter lançado em 2019 uma campanha de mobilização de institutos, empresas, ONGs e entes públicos para definir pautas para a produção de conteúdo de 81 programas sobre educação no Canal Futura, reunindo mais de 92 parceiros, a Fundação Roberto Marinho (FRM) concentrou-se nos problemas que prejudicam a permanência de crianças e jovens no ensino básico e, agora, está divulgando os resultados de sua iniciativa.

Com o objetivo de identificar os fatores responsáveis pelas altas taxas de defasagem e, principalmente, de evasão escolar, ela atribuiu a um grupo de especialistas a responsabilidade de elaborar um estudo intitulado Consequências da Violação do Direito à Educação, que foi lançado nesta semana. E, para coordenar o trabalho, convidou o economista Ricardo Paes de Barros, Ph.D. pela Universidade de Chicago, professor do Insper e consultor do Instituto Ayrton Senna. Depois de cruzar os dados do Censo Escolar de 2018 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), segundo os quais 25% dos estudantes do ensino fundamental estão atrasados em sua formação e 1 em cada 4 alunos do ensino médio abandona o curso, os pesquisadores chegaram a uma constatação trágica. Se esse ritmo não for detido, 17,5% dos jovens que hoje estão na faixa etária dos 16 anos não conseguirão concluir a educação básica até os 25 anos.

Na prática, isso representa o ingresso no mercado de trabalho de 575 mil pessoas sem escolaridade completa a cada ano, justamente num período em que o avanço da tecnologia vem obrigando as empresas a exigir mão de obra cada vez mais qualificada. Com base em análises e simulações, o levantamento estima que o prejuízo causado pela evasão escolar seja de R$ 372 mil ao ano, por estudante que abandonou a escola. No total, a perda é de R$ 214 bilhões por ano, o que equivale a 3% do Produto Interno Bruto.

Esses números atestam a baixa qualidade dos gastos do governo numa área estratégica para o futuro das novas gerações e, por consequência, do País. “Isso mostra que a máquina pública é ineficiente. Na educação, há problemas diversos, como formação inadequada dos professores e indicação política de diretores. É difícil quebrar isso, mas não se pode perder R$ 214 bilhões todos os anos em um sistema que não funciona”, diz Wilson Risolia, diretor da FRM.

“É como uma obra inacabada, que, se tivesse sido concluída, teria um tremendo impacto positivo na sociedade”, afirma Barros. Para ter ideia do alcance dessa afirmação, a evasão escolar influencia a expectativa de vida – quem conclui o ensino básico, por exemplo, tem, em média, quatro anos a mais de vida do que quem abandonou a sala de aula. A defasagem e a evasão escolar também têm reflexos no aumento dos índices de violência urbana. Segundo o estudo da FRM, cada ponto porcentual de redução nos índices de evasão escolar equivale a 550 homicídios a menos por ano.

O mais alarmante, contudo, é que os problemas da defasagem e da evasão escolar devem aumentar ainda mais. Entre outros motivos, porque as pesquisas em andamento sobre o impacto da pandemia de covid-19 sobre crianças e jovens já detectaram que 28% pensam em não voltar para a escola quando acabar o confinamento e 49% dos estudantes que planejam fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cogitam desistir da prova. Além disso, desde o início do governo Bolsonaro a área de ensino básico está praticamente abandonada pelo Ministério da Educação (MEC).

Estudos como esse, que envolvem a colaboração de diferentes setores da sociedade, são fundamentais para subsidiar políticas públicas de qualidade. Mas, para que produzam efeitos concretos, é preciso que os dirigentes governamentais da área da educação tenham não só um mínimo de seriedade, mas, igualmente, competência para compreender a importância das colaborações que estão recebendo. Infelizmente, nos últimos 18 meses o MEC não foi chefiado por quem tivesse essas qualidades.
 
Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
16 de julho de 2020 | 03h00