quarta-feira, 8 de abril de 2020

Como o Brasil destrói sua relação com a China

Depois de Eduardo Bolsonaro, foi a vez do ministro Abraham Weintraub ofender a China. Estratégia de desviar a atenção de um governo de resultados fracos é clara, mas poderá trazer prejuízos à economia e custar vidas.

A estratégia do presidente Jair Bolsonaro já se tornou bem conhecida: basta ele estar sob pressão política para um de seus filhos ou ministros alinhados lançar uma acusação especialmente absurda ou um ataque pelas redes sociais.

O objetivo é desviar a atenção de um governo de resultados fracos e mobilizar os apoiadores do presidente. Isso pode ser observado sobretudo no caso do coronavírus, no qual o presidente age de forma cada vez mais errática e fica cada vez mais isolado, tanto no Brasil como no exterior.

Um exemplo dessa manobra de distração foi dado pelo filho presidencial Eduardo, quando ele atribuiu à China a culpa pela crise mundial causada pelo coronavírus. Agora foi a vez de o ministro da Educação, Abraham Weintraub, num post infantil e racista, acusar a China de lucrar com a propagação do vírus.

O embaixador chinês no Brasil exigiu desculpas, assim como exigira no caso de Eduardo, mas Weintraub respondeu que só fará isso se a China enviar aparelhos médicos a preço de custo para o Brasil. Ao contrário de Eduardo, que não tem cargo no governo e é deputado, Weintraub é ministro de Bolsonaro. Ele fala em nome do governo e também em nome do seu chefe, se este não o repreender. O que não aconteceu.

Em Brasília, a indignação é grande. "Meu medo é o efeito cumulativo da ofensa", afirmou Marcos Azambuja, diplomata de carreira e conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), ao jornal Valor Econômico. "O Brasil tem atirado com grande perfeição em seu próprio pé."

Ele destacou que a relação bilateral entre os dois países era livre de impasses. "Onde havia uma estrada fluida e limpa agora há um campo um pouco minado por causa das tolices ditas por nós", disse Azambuja.

Para Azambuja, ofender a China pode ser – também literalmente – fatal para o Brasil. "Estamos em um caminho inexplicável de ofender a China e os chineses, num momento em que o país adquire uma importância crescente para o mundo e para nós, sobretudo no fornecimento de equipamentos de saúde de emergência", observou.

A China é, no momento, uma das poucas grandes nações em condições de oferecer e enviar conhecimento sobre o vírus e como combatê-lo, equipamentos médicos e, não menos importante, dinheiro para ajudar a aliviar o sofrimento.

Todas as outras grandes nações enfrentam, elas mesmas, uma situação de emergência, que deverá se estender para um futuro próximo, e não estão em condições de enviar ajuda.

Só que as chances de a China considerar o Brasil na hora de distribuir seus limitados recursos são cada vez menores devido às ofensas vindas de Brasília. A China é pragmática na sua política externa, mas ofensas de cunho racista são intoleráveis.

A campanha contra a China, levada a cabo por Bolsonaro, também prejudica a economia no longo prazo. Essa briga sem sentido, iniciada unilateralmente, reduz a capacidade do Brasil de se recuperar depois que a crise do vírus passar: nos últimos meses, a China se tornou ainda mais importante como mercado para os produtos agrícolas brasileiros.

Do superávit brasileiro – exportações menos importações –, 77,9% vêm do comércio com a China. No primeiro trimestre deste ano, o crescimento do superávit nas exportações para a China foi de quase 50%. Em quase todas as outras regiões do mundo, as exportações brasileiras caíram ou estagnaram. Ou seja, em meio à crise, as exportações de alimentos para a China são uma das poucas fontes estáveis de divisas em dólar para o Brasil.

A China já anunciou que vai comprar mais produtos agrícolas dos Estados Unidos. A justificativa é que a cadeia de fornecimento brasileira não é segura devido à crise do coronavírus e pode falhar. O presidente dos EUA, Donald Trump, festejou a notícia diante de fazendeiros do Meio-Oeste americano: os chineses, como prometido, vão comprar mais produtos agrícolas dos EUA, anunciou.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, resumiu bem a situação, também em declarações ao Valor. "A crise cria uma situação em que o país precisa dançar conforme a música, e ainda estamos pisando no pé da dançarina."

DW - A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

"O presidente de um país não pode confrontar a ciência"

Postura de Bolsonaro durante pandemia virou motivo de chacota internacional e deve afastar investidores, afirma fundador da principal consultoria de risco político do mundo. Demitir Mandetta seria um "desastre", diz

No início de março, Ian Bremmer, presidente e fundador da Eurasia Group, considerada a principal consultoria de risco político do mundo, reconheceu ter enviado a seus clientes a previsão de curto prazo mais problemática que escreveu desde a fundação da Eurasia, em 1998.

Em meio à pandemia do novo coronavírus, o relatório trazia um cenário de instabilidade social no horizonte, com rebeliões no sistema prisional dos EUA por falta de medicamentos e o aumento do nacionalismo e da xenofobia no âmbito internacional.

Atento a todas as partes do globo, o analista foi surpreendido pela postura do presidente Jair Bolsonaro perante o avanço da covid-19, a doença provocada pelo coronavírus, no país. No Twitter, o analista classificou Bolsonaro como o líder mais ineficaz do mundo democrático para lidar com a crise.

Em entrevista à DW Brasil, Bremmer afirma que a Eurasia baixou as projeções e expectativas para o Brasil em função do cenário atual. "O presidente de uma nação não pode confrontar a ciência e o bem-estar de seus cidadãos. Além disso, ele está minando a sua própria popularidade e causando divisões dentro da base de apoio à agenda de reformas econômicas no Congresso Nacional, o que pode conduzi-lo ao impeachment. No plano internacional, ele virou motivo de chacota", critica.

Postura de Bolsonaro durante pandemia virou motivo de chacota internacional e deve afastar investidores, afirma fundador da principal consultoria de risco político do mundo. Demitir Mandetta seria um "desastre", diz

"Postura de Bolsonaro na pandemia é pior que dano à imagem do Brasil provocado por incêndios na Amazônia", diz analista

No início de março, Ian Bremmer, presidente e fundador da Eurasia Group, considerada a principal consultoria de risco político do mundo, reconheceu ter enviado a seus clientes a revisão de curto prazo mais problemática que escreveu desde a fundação da Eurasia, em 1998. Em meio à pandemia do novo coronavírus, o relatório trazia um cenário de instabilidade social no horizonte, com rebeliões no sistema prisional dos EUA por falta de medicamentos e o aumento do nacionalismo e da xenofobia no âmbito internacional.

Atento a todas as partes do globo, o analista foi surpreendido pela postura do presidente Jair Bolsonaro perante o avanço da covid-19, a doença provocada pelo coronavírus, no país. No Twitter, o analista classificou Bolsonaro como o líder mais ineficaz do mundo democrático para lidar com a crise.

Em entrevista à DW Brasil, Bremmer afirma que a Eurasia baixou as projeções e expectativas para o Brasil em função do cenário atual. "O presidente de uma nação não pode confrontar a ciência e o bem-estar de seus cidadãos. Além disso, ele está minando a sua própria popularidade e causando divisões dentro da base de apoio à agenda de reformas econômicas no Congresso Nacional, o que pode conduzi-lo ao impeachment. No plano internacional, ele virou motivo de chacota", critica.

'Líderes que assumem o comando da situação têm registado alta de popularidade", diz Ian Bremmer

DW Brasil: O senhor afirmou no Twitter que Bolsonaro é o líder mais ineficaz do mundo democrático para lidar com a pandemia do novo coronavírus. Como a postura do presidente impacta a imagem do Brasil na comunidade internacional?

Ian Bremmer: Obviamente, há prejuízos. É muito pior do que o dano à imagem do Brasil provocado pelos incêndios florestais na Amazônia e os comentários absurdos feitos pelo presidente na ocasião. Todos sabemos que ele é um causador de problemas, um populista que gosta de dizer coisas inapropriadas e, por isso, é chamado de "Trump dos trópicos". Contudo, nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump não está em confronto com seus próprios médicos. Nesta segunda-feira (06/04), Bolsonaro esteve muito perto de demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o que seria um enorme desastre.

O presidente de uma nação não pode confrontar a ciência e o bem-estar de seus cidadãos. Além disso, ele está minando a própria popularidade e causando divisões dentro da base de apoio à agenda de reformas econômicas no Congresso Nacional, o que pode conduzi-lo ao impeachment. No plano internacional, ele virou motivo de chacota. É verdadeiramente lamentável, pois seu governo reunia condições para realizar as maiores reformas econômicas do mercado emergente nos últimos anos. Quando confrontado com o coronavírus, porém, sua ação foi desastrosa.

As atitudes de Bolsonaro afastam investidores estrangeiros do Brasil?

Com certeza. Nós rebaixamos nossas projeções e expectativas para o Brasil em função da crise pandêmica. As principais razões são a condução de Bolsonaro, associada ao risco de que não consiga levar adiante a agenda de reformas econômicas e, em vez disso, volte-se para a sua base populista, mais ligada aos temas de segurança. Isso criaria muitas divisões no país. São elementos que abrem espaço para um impeachment após esta crise. Mas devemos nos questionar se existe, no Brasil, um alinhamento dos parlamentares para aprovar continuamente as reformas necessárias. É muito imboprovável que haja, na minha opinião.

A crise do coronavírus não afeta só o Brasil. É horrível para todos. A resposta exige muitos recursos, e a doença á altamente perigosa para a população. Por essas razões, os mercados emergentes serão atingidos com mais força. Os sistemas de saúde não são tão bem estruturados, há maior dificuldade de implementar o distanciamento social, e os governos são mais fracos, com menos recursos para combater o problema. Para piorar, o impacto de paralisar a economia é mais profundo. Não bastassem essas grandes dificuldades, o Brasil tem um líder afirmando que é tudo mentira, que o isolamento não é necessário, e atacando os governadores.

Qual é o cenário mais provável para a economia mundial após a crise pandêmica: mais protecionismo ou mais globalização? São os Estados ou as corporações que sairão mais fortes?

Claramente, teremos mais nacionalismo e menos globalização. Estamos observando que uma cadeia de produção just-in-time (sob demanda) é muito eficiente e leva ao crescimento, mas não é muito resiliente em momentos de crise, quando você precisa de maior armazenamento. Iremos observar um grande desemprego, ao passo que os governos serão chamados a fazer resgates, estímulos e nacionalizações. Em contrapartida, deverão exigir que sejam contratados mais pessoas de seus países.

Essas razões se somam à guerra comercial que já estava sendo travada por EUA e China, motivada pela disputa tecnológica em torno do 5G. Haverá mais e mais processos de regionalização, com maior atenção às fronteiras e diferenciação entre as políticas econômicas nacionais. Devemos esperar também movimentos internos contrários ao livre mercado e à abertura de fronteiras. Obviamente, isso implica que os Estados se tornarão mais poderosos, ante um enfraquecimento das corporações.

Corporações de todas as áreas da atividade econômica?

Com exceção do setor tecnológico, cujas empresas serão muito fortalecidas, mas por estarem alinhadas aos governos. Isso já está ocorrendo na China e irá ocorrer nos EUA. Vamos precisar que essas companhias trabalhem em estreita colaboração com os governos, para garantir a possibilidade de rastrear as pessoas: saber se já tiveram a doença, por onde viajaram, em que bairros estiveram, se foram testadas, se estão assintomáticas. As empresas de tecnologia serão vistas como estratégicas e, por consequência, mais alinhadas aos governos.

Devemos esperar um fortalecimento do populismo nacionalista? 

Acho que veremos um forte populismo em vários países. Mas é importante frisar que observamos uma ascensão do nacionalismo populista quando a economia global vivia o mais longevo bull market (expressão do mercado financeiro para um momento favorável) desde a Grande Depressão. Havia muito crescimento, mas também uma desigualdade em alta, especialmente no mundo desenvolvido. Essas disparidades serão acentuadas pela crise atual.

Os CEOs vão querer que suas empresas sejam mais eficientes e tenham menos empregados. A economia do conhecimento possibilita a distância social e o home office. Porém, os trabalhadores mais pobres serão expostos a maiores riscos, adoecerão mais e terão maior dificuldade para voltar ao trabalho. Além disso, não haverá muito apoio disponível dos Estados. São razões que irão impulsionar o populismo.

Como o atual cenário pode impactar a campanha à reeleição de Donald Trump?

É uma pergunta interessante. Por um lado, Trump tem uma aprovação de 46%, a maior desde o início do mandato. O recorde é de George W. Bush, que alcançou 92% após o 11 de setembro, o dobro. Jamais será possível para Trump ter uma aprovação majoritária, acima dos 60%. O resultado atual vem a reboque da atuação na pandemia. Nesta crise, os americanos querem um líder. Mas vale lembrar que na França, Itália, Alemanha e Coreia do Sul, o salto de aprovação que os líderes tiveram foi maior do que nos EUA. Acredito que a maré positiva na aprovação de Trump não se sustente por muitos meses.

Ele terá em mãos uma economia com muitos problemas, que vai precisar de muito apoio, com um nível de desemprego alto. Isso irá reduzir sua aprovação, o que dificulta uma vitória nas urnas.

Como o senhor vê a condução geopolítica da China durante a pandemia?

Definitivamente, a China está usando a pandemia para aumentar sua influência geopolítica. O surto veio da China, eles mentiram sobre isso e não permitiram a entrada de agentes do CDC (Centro de Controle de Prevenções e Doenças) dos EUA, da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Em meados de janeiro, não se sabia exatamente o que acontecia dentro do país. Eles esconderam da própria população e do restante do mundo. Mais de 5 milhões de chineses viajaram a partir de Wuhan, e 400 mil saíram do país. Por essa razão é que há epidemia na Itália, Irã e EUA. Eles foram totalmente responsáveis pela origem do surto.

Mas, desde então, a China vem respondendo de forma muito efetiva, com uma quarentena rígida e vigilância completa. A cadeia de produção da economia estará operando em máxima capacidade em maio, enquanto EUA e União Europeia estarão paralisados. Isso os fortalece. Além disso, os chineses são responsáveis pela cadeia de suprimentos de saúde e não faltará quem precise desses equipamentos desesperadamente. Ainda por cima, eles estão fazendo doações, inclusive de profissionais de saúde, que estão levando para diversos países, inclusive a Itália.

Os EUA não estão fazendo nada disso, e têm dificuldades para responder à crise internamente. O país está abdicando de liderança, não está coordenando ações com seus aliados e outras nações.

Deverá haver pressão para que empresas dos EUA saiam da China, ou retaliações contra a tecnologia 5G do país asiático?

Definitivamente, haverá retaliações sobre o 5G. Esta briga está crescendo, e virão sanções mais durascontra os chineses. Os americanos irão pressionar ainda mais os aliados para que fiquem longe do 5G. A questão é se isso será efetivo, com tantos países que não confiam em Trump e não sentem que ganham muito com os EUA no momento. Portanto, vejo uma guerra fria tecnológica entre EUA e China, com potencial de expansão para os setores de serviços e manufaturas, à medida que empresas americanas forem reduzindo sua presença na China. Mas não tenho certeza de quantos países ao redor do mundo seguirão os EUA.

Na Alemanha, o governo da chanceler Angela Merkel viu sua popularidade aumentar durante a pandemia, enquanto a extrema direita teve ligeira queda na aprovação. Como o senhor vê esse resultado?

É fruto do bom trabalho que a Merkel vem fazendo. Ela é uma cientista de formação, agiu rápido, conduziu testagem massiva, é confiável. Está no cargo há muito tempo, é uma líder forte e estável em um período de crise. O resultado não me surpreende. Todos os líderes que assumem o comando da situação têm registado alta de popularidade. Na Alemanha, vimos um salto bem maior do que Trump teve nos EUA.

O senhor afirmou no Twitter que Bolsonaro é o líder mais ineficaz do mundo democrático para lidar com a pandemia do novo coronavírus. Como a postura do presidente impacta a imagem do Brasil na comunidade internacional?

Obviamente, há prejuízos. É muito pior do que o dano à imagem do Brasil provocado pelos incêndios florestais na Amazônia e os comentários absurdos feitos pelo presidente na ocasião. Todos sabemos que ele é um causador de problemas, um populista que gosta de dizer coisas inapropriadas e, por isso, é chamado de "Trump dos trópicos". Contudo, nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump não está em confronto com seus próprios médicos. Nesta segunda-feira (06/04), Bolsonaro esteve muito perto de demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o que seria um enorme desastre.

O presidente de uma nação não pode confrontar a ciência e o bem-estar de seus cidadãos. Além disso, ele está minando a própria popularidade e causando divisões dentro da base de apoio à agenda de reformas econômicas no Congresso Nacional, o que pode conduzi-lo ao impeachment. No plano internacional, ele virou motivo de chacota. É verdadeiramente lamentável, pois seu governo reunia condições para realizar as maiores reformas econômicas do mercado emergente nos últimos anos. Quando confrontado com o coronavírus, porém, sua ação foi desastrosa.

As atitudes de Bolsonaro afastam investidores estrangeiros do Brasil?

Com certeza. Nós rebaixamos nossas projeções e expectativas para o Brasil em função da crise pandêmica. As principais razões são a condução de Bolsonaro, associada ao risco de que não consiga levar adiante a agenda de reformas econômicas e, em vez disso, volte-se para a sua base populista, mais ligada aos temas de segurança. Isso criaria muitas divisões no país. São elementos que abrem espaço para um impeachment após esta crise. Mas devemos nos questionar se existe, no Brasil, um alinhamento dos parlamentares para aprovar continuamente as reformas necessárias. É muito imboprovável que haja, na minha opinião.

A crise do coronavírus não afeta só o Brasil. É horrível para todos. A resposta exige muitos recursos, e a doença á altamente perigosa para a população. Por essas razões, os mercados emergentes serão atingidos com mais força. Os sistemas de saúde não são tão bem estruturados, há maior dificuldade de implementar o distanciamento social, e os governos são mais fracos, com menos recursos para combater o problema. Para piorar, o impacto de paralisar a economia é mais profundo. Não bastassem essas grandes dificuldades, o Brasil tem um líder afirmando que é tudo mentira, que o isolamento não é necessário, e atacando os governadores.

Qual é o cenário mais provável para a economia mundial após a crise pandêmica: mais protecionismo ou mais globalização? São os Estados ou as corporações que sairão mais fortes?

Claramente, teremos mais nacionalismo e menos globalização. Estamos observando que uma cadeia de produção just-in-time (sob demanda) é muito eficiente e leva ao crescimento, mas não é muito resiliente em momentos de crise, quando você precisa de maior armazenamento. Iremos observar um grande desemprego, ao passo que os governos serão chamados a fazer resgates, estímulos e nacionalizações. Em contrapartida, deverão exigir que sejam contratados mais pessoas de seus países.

Essas razões se somam à guerra comercial que já estava sendo travada por EUA e China, motivada pela disputa tecnológica em torno do 5G. Haverá mais e mais processos de regionalização, com maior atenção às fronteiras e diferenciação entre as políticas econômicas nacionais. Devemos esperar também movimentos internos contrários ao livre mercado e à abertura de fronteiras. Obviamente, isso implica que os Estados se tornarão mais poderosos, ante um enfraquecimento das corporações.

Na Alemanha, o governo da chanceler Angela Merkel viu sua popularidade aumentar durante a pandemia, enquanto a extrema direita teve ligeira queda na aprovação. Como o senhor vê esse resultado?

É fruto do bom trabalho que a Merkel vem fazendo. Ela é uma cientista de formação, agiu rápido, conduziu testagem massiva, é confiável. Está no cargo há muito tempo, é uma líder forte e estável em um período de crise. O resultado não me surpreende. Todos os líderes que assumem o comando da situação têm registado alta de popularidade. Na Alemanha, vimos um salto bem maior do que Trump teve nos EUA.

Fonte: DW - Deutsche Welle

Segundo maior avião do mundo pousa em Brasília com 40 toneladas de máscaras

O cargueiro Antonov pousou no aeroporto de Brasília na madrugada desta quarta (8/4) com equipamentos de proteção a Covid-19. A carga foi comprada (na China) por uma empresa privada.

O cargueiro Antonov 124-100, considerado o segundo maior avião do mundo, pousou na madrugada desta quarta-feira (8/4) no aeroporto de Brasília. Aeronave trazia cerca de 40 toneladas de máscaras faciais para a prevenção contra a Covid-19. A carga é particular e seguiu para o Estado de Goiás via terrestre.

A carga pertence à empresa Nutriex, que investiu aproximadamente R$ 160 milhões de reais em máscaras  faciais.  São cerca de 6 milhões de unidades, que foram encaminhadas para o Estado de Goiás. A Nutriex é uma empresa de importação e distribuição de cosméticos e produtos hospitalares, com sede em Goiânia

Em visita rara, o avião chama a atenção pelo seu tamanho. O Antonov 124 tem 65 metros de comprimento e 21 metros de altura. A última vez que o cargueiro pousou na capital federal foi em setembro de 2018, quando a aeronave fez um pouso técnico no terminal do aeroporto para abastecimento e descanso da tripulação. A outra aparição foi em 2009.

A aeronave decolou da China e fez duas paradas antes de chegar a Brasília. O cargueiro foi recebido com todos os cuidados de higiene e precauções necessárias para evitar contaminação pela COVID-19. O avião gigante parte para Luanda, em Angola, nesta quinta-feira (9/4) de madrugada.

CB Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 10:33 / atualizado em 08/04/2020 11:22

Após Mandetta, Braga Netto se torna o novo alvo do gabinete do ódio

Ao tomar a frente das ações contra o vírus e influenciar na permanência de Mandetta, Braga Netto entra na mira da ala ideológica do governo

O ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto, entrou na mira da ala ideológica do governo depois de tomar as rédeas das ações federais na crise do novo coronavírus e de convencer o presidente Jair Bolsonaro a não demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A projeção do general tem desagradado ministros ligados ao escritor Olavo de Carvalho e também o chamado gabinete do ódio, como é conhecido o grupo de assessores palacianos ligados ao filho 02 do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

Braga Netto passou a ser alvo de uma série de ataques de perfis bolsonaristas nas redes sociais, à semelhança do que já vinha sendo feito contra Mandetta. O titular da Saúde, mesmo tendo reiterado que permanece no governo, continua com o cargo ameaçado, por não sucumbir às pressões do presidente para relaxar as medidas de distanciamento social, recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o avanço da pandemia.

Braga Netto, que ficou conhecido por comandar a intervenção da Segurança Pública no Rio de Janeiro, em 2018, assumiu a Casa Civil com a missão de ser uma espécie de gerente do governo, encarregado de coordenar as ações dos ministérios.

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O convite foi feito após um acordo entre vários ministros, incluindo os militares. Estes últimos, internamente, têm tratado Braga Netto como “chefe do Estado-maior do Planalto” e “presidente operacional” do Brasil, encarregado de cuidar do dia a dia da máquina do governo em um momento de grave crise.

O general é o mais novo colaborador a ofuscar a imagem de Bolsonaro dentro do governo, após o mesmo papel ter sido desempenhado por Mandetta e pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Em 30 de março, quando inaugurou o novo formato das entrevistas diárias sobre as ações federais contra o coronavírus, Braga Netto disse a que veio ao assegurar que “não existe essa ideia de demissão do ministro Mandetta”, antecipando-se a responder uma pergunta dirigida ao titular da Saúde.

Na segunda-feira, Braga Netto e outros ministros militares conseguiram, pelo menos por enquanto, demover Bolsonaro da ideia de exonerar Mandetta. Pesou o argumento de que uma eventual demissão fortaleceria governadores que travam uma queda de braço com o presidente por manterem as medidas de distanciamento social, principalmente os de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), maiores desafetos do chefe do Executivo.

A ala ideológica do governo e o gabinete do ódio sempre rejeitaram o poder concedido aos militares na equipe, e os ataques a Braga Netto nas redes sociais são reflexo dessa oposição. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada ontem, o general disse que não se incomoda com as agressões e que continua trabalhando normalmente, gerenciando as ações do governo.

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, criticado com frequência por Carlos Bolsonaro nas redes sociais, saiu em defesa do chefe da Casa Civil. Ele negou que Braga Netto tenha enquadrado o presidente ao convencê-lo a não demitir Mandetta.

“Ele não está enquadrando ninguém, mas apenas fazendo a verdadeira governança. Assim, a Casa Civil passa a atuar como um verdadeiro centro de governo”, disse Mourão, ao jornal paulista. “Braga Netto está fazendo o que sabemos: colocar ordem na casa, coordenando as ações ministeriais, de modo que haja sinergia, cooperação e, como consequência, os esforços do governo sejam mais eficazes.”

Jorge Vasconcellos, do Correio Braziliense
postado em 08/04/2020 06:00

Meirelles defende 'imprimir dinheiro' contra crise do coronavírus: 'Risco nenhum de inflação'

Grande defensor do controle de gastos públicos, o secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo, Henrique Meirelles, não tem dúvida de que é hora do governo federal aumentar fortemente suas despesas para conter o impacto do coronavírus sobre a saúde e a economia.

Em entrevista à BBC News Brasil, ele diz que isso deve ser feito inclusive com a criação de moeda pelo Banco Central (BC) e com a captação de recursos pelo Tesouro Nacional por meio da emissão de dívida.

Na visão de Meirelles, a retração da economia agora será tão brutal que não existe risco de inflação caso a autoridade monetária emita moeda, por exemplo, para o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 concedido a brasileiros de baixa renda por ao menos três meses.

"O Banco Central tem grande espaço de expandir a base monetária, ou seja, imprimir dinheiro, na linguagem mais popular, e, com isso, recompor a economia. Não há risco nenhum de inflação nessa situação", disse.

Presidente do BC durante a crise financeira internacional de 2008, no governo Lula, Meirelles diz que turbulência atual é mais imprevisível por depender da duração da pandemia. Ele, que há duas semanas, acreditava em uma retração do PIB brasileiro de 3% em 2020, agora já espera queda de mais de 5%.

Embora apoie a emissão de moeda e o aumento de dívida, Meirelles não abraça a proposta de vender parte das volumosas reservas internacionais que o Brasil começou a acumular justamente quando ele presidia o BC, pois considera que elas são um importante seguro para o país.

A venda é defendida por alguns economistas porque a reversão das operações para compra das reservas em dólar reduziria o endividamento público, compensado o aumento da dívida para custear o pacote anticrise.

Meirelles, porém, diz que é melhor deixar o endividamento subir, mesmo que possa sair do atual patamar de 76% do PIB para próximo de 90%.

"Olha, dos males o menor. Qual é a alternativa (ao aumento de dívida)? A alternativa é um colapso econômico", alerta.

"É uma despesa que tem começo, meio e fim", diz ainda, em referência aos gastos emergenciais contra a atual crise. "Acabou a pandemia, acabou isso, nós voltamos à normalidade, pode voltar à austeridade fiscal", ressaltou.

Mas, apesar da forte defesa das despesas nesse momento, o secretário não vê condições de o Brasil fazer gastos da mesma dimensão que a Alemanha, que já anunciou mais de 30% do PIB em medidas contra os impactos do coronavírus.

Como ministro da Fazenda do governo Temer, Meirelles liderou a adoção de um teto de gastos no país. À BBC News Brasil ele refuta que o mecanismos tenha limitado os gastos com Saúde, deixando  o País mais vulnerável para enfrentar  coronavírus.

BBC News Brasil - O senhor disse em 25 de março que o PIB brasileiro iria recuar 3% neste ano por causa da pandemia do coronavírus. O banco Itaú divulgou na segunda-feira que prevê queda de até 6,4%. A economista Monica de Bolle fala em retração entre 5% e 9%. O senhor acredita que a contração da economia será ainda pior do que previa antes?

Henrique Meirelles - Sim. Pela evolução da pandemia no Brasil, não há dúvida que pode aumentar esse número (de queda do PIB) pelo próprio aumento da duração da crise. Por exemplo, quando se vê, na primeira página de um jornal, uma fotografia de pessoas caminhando no calçadão (da praia) do Leblon (na zona sul do Rio de Janeiro), não há dúvida de que não está havendo aí uma disciplina necessária (de isolamento social).

Por razões diversas, seja por opiniões do presidente (Jair Bolsonaro), seja a própria falta de disponibilidade das pessoas, seja a preocupação de ordem objetiva de não receber (rapidamente) a ajuda do governo federal dos R$ 600 e as pessoas ficarem preocupadas com a sobrevivência e ir para a rua (trabalhar) para ganhar alguma coisa, trabalho informal, etc. Em resumo, por razões diversas, o fato resultante é que possivelmente teremos uma extensão maior de tempo (da pandemia) e em consequência a queda deve ser maior que o previsto inicialmente.

BBC News Brasil - Diante do quadro extraordinário de crise gerado pela pandemia, economistas brasileiros e estrangeiros estão defendendo que os bancos centrais imprimam dinheiro e transfiram para indivíduos e empresas. Jim O'Neill, economista britânico que criou o acrônimo Brics, disse, em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, que isso inclusive se aplica ao Brasil. É preciso radicalizar na resposta à crise e imprimir dinheiro?

Meirelles - Não há dúvida. Evidentemente que a expressão "imprimir dinheiro" muitas vezes é uma expressão forte que pode preocupar as pessoas. Existem maneiras mais técnicas de dizer isso: "expandir ou recompor a base monetária". Não é exatamente (imprimir) dinheiro no sentido de dinheiro físico. Ele expande a moeda porque a expansão se dá principalmente em contas correntes, das empresas, dos bancos, é distribuído isso (por meio das contas bancárias). Então, é na realidade uma expansão contábil.

O Banco Central está sempre calibrando isso (a quantidade de dinheiro circulando). Quando a atividade econômica atinge o máximo da capacidade, os preços começam a subir, você tem inflação. Muito bem, aí houve a inflação, o Banco Central sobe a taxa de juros, retira dinheiro de circulação. Isso aí faz com que a atividade econômica volte por equilíbrio.

Vamos supor que você tem uma recessão. Aí você corta a taxa de juros, você incentiva, injeta liquidez na economia, e isso faz com que a economia se recupere. Só que agora o que nós temos? Uma brutal recessão.

Com isso, diminui o meio de pagamento (quantidade de dinheiro circulando), então o Banco Central tem grande espaço de expandir a base monetária, ou seja, imprimir dinheiro, na linguagem mais popular, e com isso recompor a economia. Não há risco nenhum de inflação nessa situação.

BBC News Brasil - Isso não provocaria aumento de inflação num primeiro momento porque a economia está desaquecida, como o senhor disse. Mas num segundo momento isso poderia ter algum implicação de aumento de endividamento? O Banco Central teria que tomar alguma ação depois para ajustar isso?

Meirelles - Não há aumento necessariamente de endividamento porque o Tesouro Nacional não está tomando recursos, emitindo títulos no mercado (na operação de "impressão de dinheiro" do Banco Central).

No momento em que o Banco Central emite (moeda), ele está simplesmente expandindo (a base monetária). Ele tem a capacidade de emissão sem contrair dívida. E isto é como distribuir (esse dinheiro emitido pelo BC). Se o governo distribui, por exemplo, através do auxílio emergencial de R$ 600 (criado para proteger brasileiros de baixa renda durante a crise do coronavírus), não há aumento nenhum de endividamento.

Agora, evidentemente que, no final do processo (de medidas econômicas em reação à crise do coronavírus), haverá um aumento da dívida pública. Independentemente de alguma capacidade de emissão (de dinheiro) do Banco Central sem necessariamente passar pelo Tesouro (emitindo dívida).

Por exemplo, esses R$ 40 bilhões que foram para o BNDES (para uma linha de crédito emergencial com juros subsidiados para empresas durante a crise), o Tesouro emitiu títulos e isto foi para o BNDES, o BNDES repassou (em empréstimos para as empresas). Então essa operação aumentou a dívida pública. Ou se o Tesouro fosse ao mercado e vendesse papéis (emitisse títulos da dívida para captar recursos), aumentaria a dívida, sim. Mas, isso tem que ser feito.

A prioridade, hoje, é evitar a depressão. Fazer com que a economia continue a funcionar. Porque, se não, será a pior solução possível: se as empresas forem destruídas, processo massivo de (pedidos de) recuperação judicial, desmantelamento dos parques industriais, quando acabar a crise as empresas não terem condições de retomar as atividades, você não só terá desemprego, você não só terá recessão, não vai ter arrecadação (de impostos pelo governo) também, porque as empresas vão estar, muitas delas, desestruturadas.

Portanto, é fundamental hoje manter o parque produtivo. Antes disso, (o governo deve pagar) auxílio para as pessoas se manterem, é o passo número um. Passo número dois, preservar as empresas para preservar o parque produtivo do país. E, a partir daí, sim, organizar, depois, a retomada. Então é necessário expansão da dívida do Tesouro e a expansão monetária do Banco Central.

BBC News Brasil - Durante sua gestão como presidente do Banco Central, o Brasil iniciou um processo de forte acúmulo de reservas internacionais. Essa operação de compra exigiu emissão de títulos públicos pelo Tesouro, o que aumentou a dívida pública. Agora, economistas como Braúlio Borges, da FGV, defendem que parte dessas reservas seja vendida, reduzindo o endividamento público e abrindo espaço para novas dívidas para financiar as ações anticrise agora. Ele estima que o Banco Central poderia vender US$ 127 bilhões dos cerca de US$ 350 bilhões que temos hoje em reservas internacionais, um cálculo que ele faz a partir do indicador do FMI que mede o volume prudencial de reservas. Como o senhor vê essa proposta?

Meirelles - Não há dúvida de que o Brasil tem reservas mais do que suficientes. Tem hoje US$ 340 bilhões ou um pouco mais (em reservas internacionais), já teve US$ 376 bilhões, tá ótimo. Agora, o problema de você vender reservas é que, ao contrário do que nome pode sugerir, que é dinheiro líquido em caixa que você tem lá e etc, isso não é exatamente assim.

O Banco Central, exatamente para controlar a inflação, controlar os meios de pagamento (quantidade de dinheiro em circulação), na época que foi comprando reservas, ele não imprimiu dinheiro para comprar reservas. O Banco Central tomou dinheiro emprestado no mercado, as chamadas operações compromissadas (em que o BC capta dinheiro vendendo títulos da dívida pública com compromisso de recompra no futuro), e assim comprou as reservas (comprou dólares).

Em março, o Brasil viu a cotação do dólar atingir valores recordes, diante do colapso dos preços do petróleo e de temores econômicos relacionados ao coronavírus.

No momento em que o Banco Central vende essas reservas (internacionais) e diminui as operações compromissadas, significa que ele vende a reserva, retira dinheiro (os reais) das pessoas, das empresas, ou dos bancos que compraram (os dólares) e, para diminuir a dívida, ele faz o quê? Ele coloca novamente o dinheiro (os reais que recebeu pela venda dos dólares) no mercado (recomprando títulos da dívida pública).

Então, do ponto de vista de incentivo da atividade econômica, é uma questão que não teria um efeito direto. Por exemplo, se fosse uma coisa líquida, o Banco Central vendesse isso (as reservas) no exterior, gerasse dinheiro para gastar aqui no Brasil, mas não é o caso, não é essa a operação.

Então, o que acontece, resumindo a história: nós chegamos a uma questão de dizer, "muito bem, mas o Brasil não precisa de ter um nível tão elevado de reserva e, no final do processo, um nível tão elevado de dívida pública; se você diminui um pouco as reservas, por outro lado, você diminui também a dívida". O efeito, na visão desses economistas, é positivo, porque (na visão deles) a diminuição da dívida tem um impacto na percepção de risco do país maior do que a diminuição das reservas tem na piora (da percepção de risco).

Eu acho que é uma tese que não necessariamente será vista assim porque a reserva (internacional) é uma das coisas que fez com que o Brasil enfrentasse, por exemplo, essa recessão enorme de 2015, 2106. Nós tínhamos amplas reservas. Essa é uma coisa que dá segurança ao país, ao contrário de alguns (países) vizinhos que têm problemas graves aí por falta de dólar. Então, essa questão de reservas tem que ser mexida com um certo cuidado. E eu acho que a solução atual adotada (para enfrentar a crise provocada pelo coronavírus), de aumento do endividamento do Tesouro, etc, é hoje a medida mais adequada, sem estarmos fazendo experiências agora num momento de crise.

BBC News Brasil - Para que fique mais claro para o leitor não especializado em economia, essa operação compromissada que o senhor explicou do Banco Central para enxugar os reais na economia quando ele comprou os dólares justamente envolveu a emissão de títulos da dívida pelo Tesouro, é por isso que houve o aumento da dívida pública. A venda das reservas internacionais significaria a reversão dessas operações com a redução do endividamento, correto?

Meirelles - Exato.

BBC News Brasil - A dívida bruta pública do Brasil está num patamar de 76% do PIB e muitos economistas consideram que, se isso subir para 90% do PIB, aumentaria muito a percepção de risco do país, tendo efeitos negativos sobre a taxa de juros. Por isso, parte deles defende a venda das reservas, para assim compensar o aumento da dívida provocado pelos gastos emergenciais contra a atual crise. O senhor, então, devido ao contexto extraordinário que estamos vivendo, não vê problema da dívida subir para patamares até próximos de 90% do PIB?

Meirelles - Olha, dos males o menor. Qual é a alternativa (ao aumento de dívida)? A alternativa é um colapso econômico, que é pior, porque aí nós teremos aumentos posteriores da dívida. Porque aí inclusive o PIB cai, e a dívida como percentual do PIB já aumenta matematicamente. Fora a questão do desemprego e da capacidade da economia de gerar emprego e renda no futuro e evidentemente a arrecadação pública (que também cai quando há recessão).

Então, entre as duas alternativas, não há dúvida de que, a essa altura, a alternativa da emissão de títulos, isso é, do aumento da dívida, é melhor. Além do que, isto é um ponto importante (as medidas contra a crise provocada pelo coronavírus), é uma razão de aumento de dívida que todos compreendem e acham que está certa.

Uma coisa é quando o governo está gastando (com) o pagamento de aposentadorias, algumas de muito alto valor, (para) magistrados, funcionários públicos, etc. Pessoas que trabalharam muito, bons profissionais, mas o país tem dificuldade (de arcar com essas aposentadorias). Então, no momento em que a dívida estava aumentando por estas razões, o Brasil se aposentando mais cedo, muito mais cedo do que a expectativa de vida, estas despesas gerando aumento da dívida, evidentemente (isso) era insustentável.

Agora, com tudo isso, a reforma da Previdência feita, a reforma administrativa (para mudar regras de progressão salarial dos servidores públicos) em andamento, que deverá ser concluída, e o Teto de Gasto (norma constitucional que limita aumento de despesas), todos olham e dizem: "não, essa (despesa emergencial contra a crise) é uma despesa necessária, fundamental, tem que ser feita para preservar as pessoas e a economia brasileira e é pontual". Tem começo, meio e fim. Acabou a pandemia, acabou isso, nós voltamos à normalidade, pode voltar à austeridade fiscal.

BBC News Brasil - Temos visto outros países fazendo grande esforço fiscal contra a crise gerada pela pandemia. O pacote de medidas da Alemanha já supera 30% do PIB alemão. No Brasil, estaria girando em torno de 4% do PIB. O senhor acha que o governo brasileiro tem condições e deveria fazer um gasto da magnitude do governo alemão, de 30% do nosso PIB?

Meirelles - Olha, infelizmente são situações diferentes. A Alemanha pode conviver com uma dívida pública enorme porque ela tem uma tradição de décadas e décadas e décadas de austeridade fiscal, pagamento de dívidas (em dia), etc. No Brasil, nós já tivemos, infelizmente, um histórico de hiperinflação, depois de calote (da dívida em 1987). Então precisamos ser realistas. Um país como a Alemanha, que é um país rico, que tem um parque produtivo enorme, etc, tem condições depois de pagar essa dívida pública com maior capacidade. A realidade é que se o Brasil gasta a mesma coisa do que a Alemanha, possivelmente nós teremos aí um aumento de percepção de risco, de juros, etc., que será negativo para o país.

Então, cabe ao governo federal ir testando o limite. Talvez 4% (do PIB em medidas anticrise) seja pouco, mas não podemos pressupor que o limite do Brasil é igual o da Alemanha. Porque nem os países do sul da Europa têm a capacidade que a Alemanha tem de gerar recursos e crescer, a capacidade industrial alemã, por exemplo. Como é que nós vamos achar esse limite? Tem que ir testando e nós temos excelentes técnicos do Tesouro Nacional para fazer isso.

BBC News Brasil - Quando essa crise acabar, o endividamento e os gastos do governo estarão em patamares mais altos. Têm aumentado no Congresso propostas de aumento de alguns impostos, como taxar dividendos, taxar grandes fortunas. O senhor acha que isso pode entrar nas medidas de ajuste fiscal após a crise?

Meirelles - Olha, tem uma série de medidas que são inquestionáveis, relacionadas à volta da austeridade fiscal. Então, volta-se à aplicação rígida do teto de gastos, é necessário fazer uma reforma administrativa extremamente rigorosa. Isto é, cortar o patamar de despesas do país. Agora, o aumento de impostos, ele é uma possibilidade, não há dúvida. O problema é que nós temos que separar a visão ideológica da visão econômica.

A visão econômica é o seguinte: qual a capacidade que nós temos de aumentar impostos na economia brasileira, mantendo a capacidade de produção da economia? Nós precisamos olhar isso com calma, versus a visão ideológica que diz "tem que taxar isso e aquilo, aumentar e muito a tributação sobre lucro de empresas, etc", porque, veja você, a palavra lucro já é maldita por definição.

Nós temos que ir, mais uma vez, testando esses limites, pra verificar até quanto nós temos capacidade de aumentar os impostos sem prejudicar a retomada do emprego. Porque nós vamos sair dessa crise com as companhias fragilizadas. Nós temos que preservar ao máximo isso pra depois recuperar, gerar emprego e renda. Se nós sobrecarregarmos esse parque produtivo com uma taxação que prejudica a eficiência do processo, aí será ruim.

Agora, não estou eu dizendo "não, não tem campo pra aumentar nada (de imposto)". Estou dizendo que nós temos que olhar isso, mais uma vez, com uma visão racional. Não vamos olhar isso aí como o bezerro de ouro que nós vamos lá arrancar dinheiro dessa turma. Calma! Nós estamos falando aqui do parque produtivo nacional que nós temos que voltar a botar pra produzir, né? E isso é que é importante, isso é o que o país vai precisar: emprego e renda.

BBC News Brasil - O Brasil é muito desigual economicamente e tem um sistema tributário regressivo. Então há um certo consenso hoje em dia da necessidade de rever essa estrutura. O senhor acha que dentro de uma reforma mais ampla que buscasse um sistema mais progressivo de tributação seria positivo taxar grandes fortunas e dividendos?

Meirelles - Vamos separar duas questões aqui. Uma coisa é o sistema brasileiro regressivo, né? E nós temos que pensar num momento de fazer com que exista uma maior distribuição de renda. A questão que se coloca, no entanto, no Brasil, é a seguinte: quando se pensa na distribuição de renda, você pensa em taxar mais quem tem mais, (que) é um raciocínio simplista, e o governo distribuir pra quem tem menos. Calma. Essa não é a melhor forma de distribuir a renda.

A melhor forma de distribuir a renda é o emprego. Por exemplo, eu estive no Banco Central de 2003 a começo de 2011, no governo Lula. Houve uma maciça distribuição de renda do governo taxando (mais)? Não. O Brasil, de fato, cresceu muito. Naquela época nós geramos quase onze milhões de empregos no Brasil, cinquenta milhões saíram da miséria e entraram na classe média. Como foi feito isso? Geração de emprego. Estabilizamos a inflação, estabilizamos o câmbio, o país pôde crescer. O Bolsa Família ajudou aquelas pessoas que estavam totalmente fora do mercado de trabalho, mas não foi este o grande fator (que distribuiu renda).

À medida em que tem emprego, tem renda. Então, nós temos condições de ir treinando, qualificando as pessoas. Em resumo: problemas de distribuição de renda existem e são importantes sim, mas não é isso (taxar dividendos e grandes fortunas) que vai resolver o problema da grande maioria dos brasileiros. A grande maioria dos brasileiros precisa de emprego.

BBC News Brasil - Embora tenha havido queda durante o governo Lula, a concentração de renda permanece em patamares altíssimos no Brasil. Não pode haver concomitante à geração de emprego um sistema tributário mais progressivo, que taxe mais os de maior renda e redistribua essa renda? Afinal, a forma como o governo arrecada e gasta é um instrumento muito forte de distribuição ou concentração de renda.

Meirelles - De novo, eu acho que nós não podemos, ideologicamente, nos agarrar nisso. Se taxar as pessoas de renda mais elevada e distribuir através de programas sociais, o governo vai usar esse dinheiro como pra beneficiar a população? Vai distribuir, aumentar o Bolsa Família, etc. O que eu acho é que não existe história de país que resolveu seu problema social assim. Problema social é resolvido com criação de emprego em massa. E pra isso a capacidade produtiva do Brasil tem que aumentar e nós temos que gerar crescimento. Políticas que gerem crescimento e isso gera emprego e gera renda. Isto é o que é absolutamente fundamental. Se quisermos aí aumentar um pouco a tributação, tudo bem. Mas não é isso que vai resolver o problema da distribuição de renda no Brasil. Não é o Governo distribuindo um pouco mais, seja aumentando, dobrando, triplicando o Bolsa Família, é que vai resolver o problema.

BBC News Brasil - O teto dos gastos foi adotado no governo Michel Temer quando o senhor era Ministro da Fazendo. Alguns críticos desse mecanismo dizem que ele limitou a expansão de gastos com saúde e agora o SUS (Sistema Único de Saúde) está subfinanciado pra enfrentar essa crise grave do coronavírus. O senhor reconhece que o teto de gastos pode ter deixado o país mais vulnerável nesse momento?

Meirelles - Não. A resposta clara é não. Por que? O que o teto de gastos teve como efeito é forçar a reforma da Previdência, acabar com as altas aposentadorias, gente se aposentando com 50 anos de idade pra ganhar R$ 30 mil. Isso sim foi o grande efeito do teto de gastos.

O teto de gastos não colocou teto pra Saúde, nem colocou teto pra Educação. Lê o artigo da Constituição, ele estabeleceu um piso mínimo pra investimento em Saúde, um mínimo pra investimento em Educação. Então não é o teto (específico em Saúde e Educação). É muito o contrário: o teto dos gastos, forçando a reforma da Previdência e agora a reforma administrativa, (reduz despesas com aposentadorias e salários de servidores e) gera recursos para aplicação em Saúde e Educação.

Não há dúvida de que a Saúde no Brasil sempre foi mal servida, não foi uma prioridade. Quais eram as grandes prioridades? Manifestação lá em Brasília ocupando o Congresso, ocupando a Esplanada, o que que era? Aposentadoria, aposentadoria, aposentadoria. Era isso que gerou grandes manifestações populares, valor de aposentadoria, principalmente daqueles que ganham mais. Nunca houve grandes manifestações pra ter aumento de gastos em Saúde.

Agora, com uma crise dessas, não tem que nem olhar pra teto. Já tem a previsão na Constituição pra que em crises como essa o teto possa ser totalmente sobrepujado. O importante é que tem piso (de gasto mínimo) pra Saúde e piso pra Educação, não tem teto (específico para essas áreas).


BBC News Brasil - Mas com o mecanismo do teto de gastos esse piso tem subido agora num ritmo menor que antes.

Meirelles - Não. Não reduziu. O piso (agora) é uma proporção do produto do país. Ele não é uma proporção dos gastos públicos.

BBC News Brasil  - Antes o piso para gasto mínimo em Saúde e Educação era uma proporção da receita corrente líquida do governo. Não houve uma diferença de cálculo que acaba reduzindo esse piso?

Meirelles - Imagina agora (na crise do coronavírus, em que a arrecadação deve cair bruscamente) se fosse uma proporção da receita corrente líquida. Agora, com a queda brutal da receita (do governo) numa crise, a despesa de Saúde iria cair.

BBC News Brasil - Essa mudança de cálculo do piso reduziu em R$ 9 bilhões a despesa em Saúde no ano passado, segundo cálculo do próprio Tesouro Nacional.

Meirelles - Nós podemos aumentar os gastos em Saúde, como estamos aumentando agora. E com a reforma da Previdência aprovada e aprovando a reforma administrativa (ainda não enviada pelo governo ao Congresso), eu acho que nós temos que investir maciçamente na Saúde e na Educação.

BBC News Brasil - O senhor arriscaria uma projeção para o PIB deste ano, ou é difícil estimar quanto pode ser a queda?

Meirelles - Olha, é difícil, mas nós podemos sempre fazer uma estimativa. Nossa estimativa inicial era uma queda que podia ser de 10% no segundo trimestre e de 3% no ano. Hoje, isso já está claramente subestimado. E nós já estamos pensando aí em algo acima de 5% no ano e uma queda obviamente maior no trimestre, uma queda forte.

Quando nós entramos na crise de 2008, a causa era muito objetiva. Isto é, os bancos internacionais tinham entrado em colapso, as linhas de crédito para o Brasil tinham entrado em colapso, isso gerou uma crise séria. Então, no Banco Central, nós tínhamos um diagnóstico claro de qual era o problema e o que era necessário pra resolver. E aplicamos agressivamente as medidas.

Agora não, a causa é a Saúde, uma pandemia. Então, a duração da recessão vai depender do quê? Da duração da pandemia. Vai depender do sucesso desse confinamento, adotar isso rigidamente, conter a pandemia, ganhar tempo. Porque hoje, se a doença expande-se muito rapidamente, congestiona o sistema de saúde, não tem leito, aí o problema piora de uma forma dramática.

Mariana Schreiber - @marischreiber
Da BBC News Brasil em Brasília

terça-feira, 7 de abril de 2020

Mandetta, em reunião com Bolsonaro: ‘Só saio do governo demitido ou morto’

De acordo com relatos obtidos por VEJA, ministro diz que Brasil virará Equador se governo ignorar orientações da OMS.

Protagonista da mais recente crise política do governo, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta traçou um horizonte fúnebre na reunião ministerial desta segunda-feira, 6, e disse ao presidente Jair Bolsonaro que o Brasil, se não seguir à risca as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), corre o risco de enfrentar um cenário parecido com o do Equador. Em Guayaquil, a maior cidade equatoriana, vítimas fatais da Covid-19 se aglomeram nas casas de parentes, corpos são deixados nas ruas, o sistema funerário local está em completo colapso e, com a falta de caixões suficientes, as pessoas estão sendo enterradas em grandes caixas improvisadas, feitas de papelão.

Nesta segunda-feira, no horário reservado para a entrevista coletiva diária do governo sobre o avanço dos casos de coronavírus no Brasil, o presidente convocou uma reunião geral com todos os integrantes do primeiro escalão. Nela, além de afirmar que o Brasil poderia fazer companhia aos equatorianos em um caos funerário, Mandetta voltou a afirmar que não irá pedir demissão. Segundo relatos obtidos por VEJA, o ministro disse que só deixa o governo “demitido ou morto”.

O chefe da pasta da Saúde tem sido o alvo preferencial da chamada ala ideológica do governo, que tenta emplacar um nome mais alinhado a teses como a do isolamento vertical e do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, defendidas pelo presidente, para lidar com a pandemia do novo coronavírus. Conforme revelou VEJA, Bolsonaro ameaçou demitir o ministro, mas por ora concordou em manter o auxiliar.

Ao relatar que pretendia resistir às pressões dos que o querem fora do Executivo federal, Luiz Henrique Mandetta citou ensinamento do pai, o também médico ortopedista Hélio Mandetta, segundo o qual “não abandona paciente em nenhuma hipótese antes da cura”, e fez uma defesa ampla de métodos científicos para lidar com a doença que já matou mais de 78.000 pessoas no mundo.

Após a exposição do ministro, o ministro da Casa Civil, general Braga Netto, discutiu reservadamente a permanência de Mandetta no governo e ponderou ao presidente que seria prudente prosseguir com as orientações dadas pela OMS. Segundo interlocutores ouvidor por VEJA, a atuação do general e o cenário macabro descrito por Mandetta foram decisivos para que a demissão do ministro da Saúde fosse postergada.

Por Laryssa Borges - Atualizado em 7 abr 2020, 14h35 - Publicado em 7 abr 2020, 14h05

Brasil tem 667 mortes por coronavírus, segundo Ministério da Saúde

Foram 1.661 casos confirmados e 114 óbitos apenas nas últimas 24 horas; foi o maior aumento de vítimas no País em um só dia até agora.

O número de casos confirmados de covid-19 no Brasil saiu de 12.056 para 13.717, conforme os dados oficiais desta terça-feira, 7. Foram 1.661 novos casos notificados nas últimas 24 horas. As mortes provocadas pelo novo coronavírus chegaram a 667. Até segunda-feira, 553 vidas haviam sido vidas perdidas. Foi o maior número de novas confirmações de vítimas em um só dia, com mais de cem registros.

Há pessoas infectadas em todos os estados brasileiros. Só Tocantins não registrou morte por covid-19 até este momento. Com base na comparação entre infecções e mortes, o índice de letalidade do vírus está em 4,9%. O balanço foi divulgado pelo Ministério da Saúde na tarde desta terça, com totais atualizados até 14 horas.

Apesar dos números em ascensão, o total de pessoas infectadas no País é ainda maior. O País enfrenta problemas de oferta de testes que comprovam a contaminação pelo vírus mesmo para os casos considerados suspeitos, e o governo reconhece a subnotificação.

Na entrevista coletiva realizada nesta terça, o ministério deve detalhar a estratégia de transição do isolamento social amplo para o isolamento social seletivo. No último boletim epidemiológico da pasta, divulgado na segunda, a medida foi inserida como recomendação para regiões que não comprometeram mais da metade da capacidade de atendimento.

O ministério passou a defender que cidades com diferentes situações de epidemia devem ter estratégias diferentes para o enfrentamento. Mesmo assim, tem reiterado que o isolamento social é a única medida disponível para que o total de infecções não cresça de maneira descontrolada e leve o sistema de saúde a um colapso.

Embora o risco de complicações pela doença seja maior entre os mais velhos, o Brasil já registrou morte de adolescentes pela covid-19. A Secretaria da Saúde de Pernambuco confirmou na segunda-feira, 6, a morte de um adolescente de 15 anos pelo novo coronavírus. O jovem é a vítima mais nova registrada no Estado, que na análise do governo caminha para a fase de “aceleração descontrolada” da doença.

Já em São Paulo, Estado mais afetado pela doença até agora, boletim divulgado na segunda, 6, no site da Secretaria Estadual de Saúde indica que, do total de mortes, duas foram de pessoas entre 10 e 19 anos de idade, sendo que uma delas não tinha nenhum fator de risco associado.

Tensão

A decisão sobre como enfrentar o avanço da doença no País gerou desgastes entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Enquanto Mandetta defende medidas de isolamento social, Bolsonaro já incentivou manifestações, passeou por Brasília e fala em favor da reabertura do comércio.

Em meio à tensão e a desentendimentos públicos, ficou posta em dúvida a permanência de Mandetta no cargo. No domingo, Bolsonaro disse, sem mencionar o subordinado, que "algo subiu na cabeça" de pessoas de seu governo, mas que a "hora deles vai chegar".

Sob "fritura" e depois de ter as gavetas limpas, Mandetta anunciou na noite de ontem que permanece no cargo, e reiterou que "médico não abandona paciente." Sem citar diretamente Bolsonaro, ele reclamou de críticas que, em sua visão criam dificuldade para seu trabalho à frente da pasta.

Vinícius Valfré e Julia Lindner, O Estado de S.Paulo
07 de abril de 2020 | 17h04

Cortes no orçamento da ciência comprometem resposta ao coronavírus no Brasil

Pandemia atinge país em meio a cenário de falta de verbas e corte de bolsas, que deixam laboratórios obsoletos e levam à fuga de cérebros. Dependência da importação de equipamentos também dificulta combate ao vírus.

Recentes cortes interromperam um ciclo de expansão de investimentos em ciência e tecnologia no Brasil

A fila de 16 mil testes para covid-19 no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, expõe a vulnerabilidade de um país que escolheu não investir em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) nos últimos anos. A pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil em meio a um cenário de cortes de bolsas de pesquisa, defasagem tecnológica dos laboratórios e desmoralização das universidades.

O gargalo de testes em São Paulo é resultado da falta de reagentes químicos e de profissionais capacitados para realizar os exames. A pandemia de covid-19 – a doença respiratória causada pelo novo coronavírus, o Sars-Cov-2 – levou a uma corrida internacional por insumos e equipamentos médicos, em que países com maior poderio econômico têm vantagem competitiva. Nos últimos dias, os EUA intensificaram uma postura agressiva de aquisições, o que motivou críticas por lideranças de diferentes países, como Alemanha, Canadá e França.

"Fica evidente que é uma questão de segurança nacional", constata o médico imunologista Mauro Teixeira, professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Dependente da importação de insumos e demais equipamentos médicos e hospitalares, o Brasil vê sua capacidade de resposta à pandemia ameaçada já no curto prazo.

"Com todos os países precisando, aqueles que investiram em CT&I conseguem, de alguma forma, ter mais armas. Israel é do tamanho do Sergipe e consegue fazer 5 mil testes por dia", afirma Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia. "Países que investiram pesadamente nessa área conseguiram sair da crise mais rapidamente que outros. É o caso da Coreia dos Sul, que testou milhares de pessoas logo que a pandemia chegou ao país."

Chebabo é diretor-médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Há alguns dias, ele e sua equipe foram surpreendidos pelo cancelamento da compra de um videolaringoscópio, aparelho utilizado na intubação de pacientes. A razão, desta vez, não foi a habitual falta de recursos, mas a proibição de exportação do equipamento pelo governo do Reino Unido, sede da fabricante.

Fuga de cérebros

A disparidade de investimentos em CT&I também tem intensificado um processo conhecido como fuga de cérebros: cientistas que deixam o país para atuar em centros de pesquisa com melhores condições de trabalho. Consequentemente, são reduzidas as chances de o Brasil desenvolver, internamente, tecnologias e abordagens inovadoras.

Os sucessivos cortes de financiamento e o descrédito do pensamento científico foram as principais razões que levaram Marcelo Lima, de 34 anos, a deixar o país. Pós-doutor em Biomedicina, ele trocou a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) pela Universidade de Keele, na Inglaterra, em maio do ano passado.

"No Brasil atual, a academia é literalmente demonizada, e o conhecimento científico passou a ser refutado por ‘especialistas' de mídia social", diz o cientista. Com experiência internacional no Reino Unido, Itália e EUA, ele conta nunca ter conhecido um laboratório com a infraestrutura de que dispunha na Unifesp.

São Paulo detém condições privilegiadas de fomento à pesquisa pelo apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), cujo orçamento independe de decisões políticas, por ser diretamente vinculado à arrecadação tributária estadual. Apesar desse cenário, os laboratórios paulistas têm sofrido com o subfinanciamento federal.

No laboratório elogiado por Marcelo, há cinco equipamentos, avaliados em 1 milhão de euros cada, parados por falta de verbas para manutenção. Há dois anos, o grupo de pesquisa em que atuava, chefiado pela professora Helena Nader, ganhou um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) que permitiria o reparo de um dos aparelhos. Até hoje, a verba não chegou.

"Com incentivo institucional, burocracia reduzida e um sistema eficiente de laboratórios multiusuários, a pesquisa aqui é bem mais eficiente. É comum esperarmos meses por um reagente no Brasil. Aqui, conseguimos efetuar a compra e recebemos no dia seguinte. Há um cuidado e proteção maior ao sistema de CT&I", avalia Marcelo. Nos últimos três anos, seis colegas dele, de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, seguiram o movimento de deixar o país.

Cortes interrompem ciclo de expansão

Até o fim de outubro, as universidades e instituições de pesquisa brasileiras tinham perdido quase 18 mil bolsas de estudo apenas em 2019. Em maio passado, o governo federal contingenciou 42% das despesas do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Foi o ápice de um trajetória de sucessivos cortes no orçamento do ministério, iniciada no cenário de crise econômica do segundo governo de Dilma Rousseff, que rompeu um ciclo de expansão de investimentos iniciado durante o governo de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Dados da National Science Foundation (NSF), dos EUA, mostram que o Brasil teve um salto de 69,4% no número de artigos científicos publicados entre 2008 e 2018. Em 11º lugar no ranking de publicações científicas, o país estava à frente de Canadá, Espanha, Austrália e Irã.

"[O atual] é um cenário totalmente diferente do da epidemia do vírus zika, quando tínhamos laboratórios bem equipados, supridos de reagentes e muitos estudantes com bolsa", afirma Amílcar Tanuri, virologista e professor da UFRJ.

Em 2015, o Brasil liderou a descoberta da relação entre o zika e o aumento de casos de microcefalia e outras alterações em bebês. O protagonismo científico brasileiro foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que, na época, ressaltou a rapidez nas investigações conduzidas pelo Brasil.

Reconhecido internacionalmente por seus trabalhos sobre a genética de vírus, Tanuri esteve na África em 2014, no auge da pior epidemia de ebola do continente. Agora, ele coordena uma força-tarefa com cerca de 50 pesquisadores voluntários na UFRJ para investigar a resposta imune dos pacientes ao vírus no Brasil.

Uma delas é a bióloga Liliane Tavares, de 29 anos. Sua bolsa de pós-doutorado, concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), está vinculada a um projeto do Laboratório Nacional de Computação Científica que termina em julho. Sem perspectivas de renovação, ela espera encontrar oportunidades fora da área acadêmica ou em outro país. "Pensar que dediquei 11 anos à pesquisa e posso ter que mudar de área traz bastante aflição", diz a cientista.

Mudanças nos critérios da Capes

Quando a pandemia do novo coronavírus começava a reverberar no Brasil, a comunidade científica foi surpreendida por uma portaria da Capes que alterava a metodologia para o financiamento da pós-graduação no país. Os parâmetros escolhidos para orientar a nova política foram qualidade, produtividade e desenvolvimento social.

Os critérios, elogiados por entidades científicas, não parecem ter sido seguidos na implementação da política. Programas de qualidade mediana tiveram aumentos vertiginosos na quantidade de bolsas (até 500%), enquanto outros, de alta qualificação, tiveram reduções abruptas.

Os dois maiores programas de pós-graduação em Física do Brasil, sediados no Instituto de Física e no Instituto de Física de São Carlos, ambos da Universidade de São Paulo (USP), tiveram cortes de 40% a 50% nas bolsas de doutorado. Ambos obtiveram a nota máxima de qualidade aferida pela Capes.

"É um desastre. Se o objetivo do MEC é desmantelar o sistema de pós-graduação, ele está conseguindo", afirma Carlos Menck, coordenador da área de Ciências Biológicas 1 na Capes e professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

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Fonte: DW -  Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. 

"Pandemia marca o fim da dominância americana", diz especialista

Para analista, crise revela peso geopolítico da China no cenário global, além da fragilidade social e política dos EUA. Kevin Casas-Zamora afirma ainda que Brasil pode sofrer por atitudes de Bolsonaro.

A pandemia do novo coronavírus expõe a fragilidade social e política dos Estados Unidos e o peso geopolítico da China, avalia Kevin Casas-Zamora, ex-vice-presidente e ex-ministro do Planejamento da Costa Rica. Para o doutor em ciências políticas pela Universidade de Oxford, o surto marcará o fim da influência americana no mundo e terá consequências profundas também para as democracias na América Latina.

Em entrevista à DW, Casas-Zamora afirma que as populações do Brasil e do México poderão sofrer se, respectivamente, Jair Bolsonaro e Andrés Manuel López Obrador continuarem rejeitando a ciência e isso teria um impacto em toda a região.

"A demografia pode ser favorável, mas as capacidades [dos sistemas de saúde brasileiro e mexicano] são muito limitadas", diz Casas-Zamora, que é secretário-geral do Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (Idea International), de Estocolmo. "O número de leitos hospitalares por habitante, por exemplo, é muito menor do que na Europa. Qualquer pico epidêmico se transforma uma catástrofe."

Na entrevista, Casas-Zamora fala ainda sobre a situação na Venezuela e medidas para conter o avanço da pandemia que ameaçam as democracias na América Latina.

DW: Quais são os cenários dessa epidemia para a América Latina? 

Kevin Casas-Zamora: A intensidade de propagação dessa doença é diretamente proporcional ao nível de globalização das diferentes regiões. E ela está apenas começando na América Latina. Acredito que a intensidade da pandemia dependerá muito da qualidade de liderança e da força do Estado em cada país. Na América Latina, nem todos os Estados conseguem controlar todo seu território; isso depende também da coordenação entre diferentes instituições e da qualidade dos recursos. Outro ponto fraco é a quantidade de recursos fiscais disponíveis.

Então a América Latina sairá mal desta crise? 

Países com Estados mais robustos, como Uruguai, Costa Rica e possivelmente Chile, vão se sair melhores. Países do Triângulo Norte da América Central, que têm Estados muito frágeis, poderão sair terrivelmente mal. Algo interessante que aconteceu nesses dias é que o presidente do Peru, que não tem um Estado forte, se mostrou muito bom, competente e levou essa crise a sério.

E como você vê o desempenho, até agora, de países maiores como Brasil e México, que têm sido fortemente criticados por não tomarem medidas mais rigorosas? 

Na reação do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, e do Brasil, Jair Bolsonaro, há uma característica comum: a rejeição das evidências e da ciência. É algo que os populistas partilham, independentemente de serem da direita ou da esquerda. No entanto, existem diferenças. A fragilidade de Bolsonaro é maior do que a de López Obrador. Bolsonaro controla uma coalizão heterogênea e tem poucos aliados no Congresso. Já López Obrador tem um controle mais forte do sistema político. Mas se eles continuarem sendo reticentes à ciência, seus povos sofrerão e, como estamos falando dos dois maiores países da América Latina, isso seria uma catástrofe para toda a região.

Contudo, suas atitudes não são totalmente irracionais. Eles apostam fortemente que suas populações são jovens, suas economias são frágeis e vão se sair melhor com uma estratégia mais gradual e não tão drástica...

A demografia pode ser favorável, mas as capacidades [dos sistemas de saúde brasileiro e mexicano] são muito limitadas. O número de leitos hospitalares por habitante, por exemplo, é muito menor do que na Europa. Qualquer pico epidêmico se transforma uma catástrofe.

Estados mais frágeis, como Honduras, Guatemala e El Salvador, tomaram medidas mais drásticas, impuseram quarentenas duras, têm se militarizado e até reduziram as liberdades fundamentais. Isso não é preocupante do ponto de vista democrático?

Estamos vendo uma tendência de aplicar e estender os poderes de emergência. Em situações como essa, as pessoas buscam o abraço paternal da figura autoritária para se sentirem protegidas. Por isso, é tão importante ter instituições que diminuam a incerteza, como os Estados de Bem-Estar Social que possuem uma rede de proteção social ou instituições capazes de controlar a violência, que é uma fonte de ansiedade muito grande.

Se as democracias são incapazes de controlar a ansiedade social, a tentação autoritária se torna muito forte. O problema é que as restrições às liberdades fundamentais tendem a ficar num contexto onde existe uma cultura autoritária.

Por que a opção autoritária é tão tentadora?

O caminho autoritário é mais fácil do que o democrático, porque este último envolve resolver questões complicadas, como impostos. Não é possível ter um Estado forte sem receitas e isso implica também fortalecer o Estado de Direito. São mudanças muito grandes, mas o caminho democrático é mais bem-sucedido a longo prazo. O risco é muitos países optarem pelo atalho, e isso seria uma tragédia depois de todo o progresso feito na democratização.

Quais são os fatores que vão pesar na balança? 

A cultura democrática conta muito. Eu não vejo perigo de um retrocesso das liberdades no Uruguai e na Costa Rica, apesar das restrições momentâneas. Mas, em outros países, essa cultura não existe. Um fator-chave é a sociedade civil que não se deixa vencer pelo medo e que está consciente da importância de proteger as liberdades democráticas. O México, por exemplo, tem uma sociedade civil altamente mobilizada e que é um peso importante diante de qualquer pretensão autoritária.

Qual é a sua opinião sobre a situação da Venezuela? Há muito tempo, o país tem o sistema de saúde em colapso e uma população com um elevado grau de vulnerabilidade, além da luta pelo poder entre Nicolás Maduro e a oposição...

O maior perigo na América Latina é que o vírus saia do controle na Venezuela. Mas não sei se isso terá consequências políticas. Uma das consequências da globalização é a possibilidade de se migrar mais facilmente. A Venezuela está em crise há muito tempo e há três opções nesse tipo de situação: sair, expressar sua discordância ou se conformar. Em grande parte, os venezuelanos optaram por emigrar. E isso se tornou uma válvula de segurança para o governo. Se houver um agravamento da situação sanitária no país, milhões de pessoas continuarão partindo.

Maduro não tem dinheiro, os preços do petróleo caíram e ele pediu recentemente um crédito ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que foi rejeitado. O novo coronavírus pode forçar Maduro a negociar?

A Venezuela atingiu o fundo do poço há um tempo. Se o FMI não der dinheiro ao país, a Rússia ou a China o farão. Não me parece que a dinâmica irá mudar fundamentalmente e não vejo como provável um diálogo entre os dois grupos. 

Como a geopolítica na região mudará após o novo coronavírus? 

Este é o fim do século americano. Quando a poeira baixar em alguns anos, ficará evidente que o ator internacional dominante é a China. Essa crise revela a terrível fragilidade social e política dos EUA, e veremos as consequências na América Latina. Mesmo com todas as críticas que se possam fazer, como o fato de os Estados Unidos terem apoiado muitas ditaduras, a expansão global da democracia no último meio século tem relação com o fato de o ator dominante no mundo ter sido uma democracia liberal. Em breve não será mais o caso e isso terá consequência para todos.

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A DW - Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Bolsonaro não vai mais demitir Mandeta, "por enquanto"

Militares do Palácio como os Ministros Braga Neto, da Casa Civil e Luis Eduardo Ramos, Secretário de Governo, estão entre os que, mais uma vez, poderaram a Bolsonaro a graviudade do erro que cometeria se demitisse, como chegou a anunciar hoje, o Ministro da Saúde, Henrique Mandeta, no auge da pandemia do coronavírus.

O Deputado Osmar Terra, ex-Ministro da Cidadania e do Bolsa Família, demitido há algumas semanas por Bolsonaro, tem sido interlocutor do Presidente nos últimos dias.

Contrário ao isolamento  horizontal preconizado pela Organização Mundial da Saúde cujas diretrizes são seguidas pela maioria dos países mais bem sucedidos no enfrentamento do coronavírus, incluindo o Brasil sob a gestão de Henrique Mandeta, o ex-Ministro Terra se aliado a Bolsonaro na adoção da cloroquina como remédio contra o vírus.

A cloroquina como remédio contra o coranavírus ainda não tem eficácia comprovada cientificamente, havendo até aqui apenas constatações isoladas. Certeza mesmo é quanto aos seus efeitos colaterais - terrivelmente danosos para o sistema circulatório.

Henrique Mandeta reuniu-se esta tarde com o Vice Presidente Mourão e também com o próprio Bolsonaro. Ainda como Ministro da Saúde.

Chefe de Governo do Reino Unido piora e é levado às pressas para UTI

Alinhado a Donald Trump e a Jair Bolsonaro contra o isolamento horizontal, ou seja, a favor de que apenas idosos e outras pessoas em situação de maior risco não saiam de casa enquanto durar a pandemia do cotonavírus, o Primeiro Ministro da Inglaterra, Boris Johnson, sentiu moleza no corpo e resolveu se isolar até da namorada, que está grávida, ficando assim 8 dias num quarto da Residencia Oficial, na  Downing Street nº10, de onde saiu com febre para exames hospitalres. 

Àquela altura, o Imperial College de Londres já havia divulgado um estudo avisando que, pelo menos, 250 mil pessoas iriam morrer se nada da fosse feito imediatamente. A recomendação foi pelo recolhimento total da população, a exemplo de quase todos os paises que estão vencendo o coronavírus.

Nesta tarde o estado de saúde da Boris Jonhson se agravou e, por isso, antes de ser internado na Unidade de Terapia Intensiva, transferiu as funções de Governo para o Secretário de Relações Exteriores, Dominc Raab, que no parlamentarismo inglês equivale a um Vice Primeiro Ministro..

O The Guardian, um dos jornais mais influentes do Reino Unido, informou que já foram regsitrados 51.608 casos, dentre eles 3.802 apenas nas últimas 24 horas. Ao todo, o número de mortes no país é de 5.373. Representando quase 85% da população britânica, a Inglaterra é o país mais atingido pela Covid-19 no Reino Unido, que também é integrado por Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Os ingleses respondem por mais de 80% dos casos reportados em solo britânico.

Bolsonaro decidido a demitir Mandeta ainda hoje

O presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir ainda nesta segunda-feira o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em meio à crise do novo coronavírus. O ato oficial de exoneração de Mandetta está sendo preparado nesta tarde no Palácio do Planalto. 

A expectativa é que a decisão seja publicada em edição extra do Diário Oficial da União após reunião do presidente com todos os ministros, entre eles Mandetta, convocada para as 17h. A informação sobre a exoneração de Mandetta foi confirmada ao GLOBO por dois auxiliares do presidente da República.

O presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em coletiva no Planalto Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Quando usar máscara era bom exemplo (Foto - Agencia Globo)

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania, é o mais cotado para substituí-lo. Ele almoçou com Bolsonaro e os quatro ministros que despacham do Palácio do Planalto nesta segunda: Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

Mandetta admite:  'Não sei até quando ficarei ministro'

A ala militar do governo defende o nome da imunologista Nise Yamaguchi para assumir o Ministério da Saúde. A avaliação é de que o nome dela seria aceito pela população, que hoje admira Mandetta, já que Nise tem mais de 40 anos de experiência, é médica do Hospital Israelita Albert Einstein e atuou em diversas áreas da saúde no Brasil. Há uma tendência de que o nome dela não sofra rejeição pela bagagem de conhecimento e também por ser mulher. Nise defende o uso de cloroquina em pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Em reunião com integrantes do Ministério Público nesta segunda-feira, o mnistro da Saúde admitiu a dificuldade que encontra no cenário político e que não sabe "até quando ficará Ministro da Saúde". A reunião pode ter sido um dos últimos compromissos de Mandetta no cargo.

O diagnóstico entre auxiliares do presidente é que a permanência de Mandetta no cargo se tornou insustentável após uma série de críticas do presidente à sua atuação no enfrentamento à Covid-19. Ele foi acusado por Bolsonaro de falta de humildade, em entrevista na última quinta-feira, e contrariou o presidente ao defender o isolamento e o distanciamento social para combater a disseminação da Covid-19.

No domingo, Bolsonaro havia dito, sem citar nomes, que "algumas pessoas" do seu governo "de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos" e que ele não teria medo nem "pavor" de usar a caneta contra eles.

Mandetta vem negando que pediria demissão e disse que só sairia do governo por decisão do presidente. Na sexta-feira, após as críticas de Bolsonaro, afirmou que não iria "abandonar o paciente".

Terra, que é médico, manteve sua posição de apoio ao governo e pela flexibilização do isolamento, o que agradou Bolsonaro.

Na última quarta-feira, o presidente teve três audiências com a participação de Terra no Palácio do Planalto, a primeira com o ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, e as outras duas com dez médicos, para discutir o uso da hidroxicloriquina no tratamento de infectados com a Covid-19. Mandetta, por sua vez, não foi convidado para as reuniões com os médicos.

Pesquisa de opinião:  Aprovação do Ministério da Saúde dispara e é mais do que o dobro da de Bolsonaro, indica Datafolha

Também na semana passada, o ministro da Saúde chamou Terra de "Osmar Trevas" em um grupo de WhatsApp do DEM, seu partido, após o compartilhamento de uma notícia sobre a reunião com os médicos. Foi a única vez que ele se pronunciou no grupo da sigla em toda a crise.


Aumentam as mortes por infecção pelo vírus no Brasil

O número de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus no Brasil subiu para 12.056 e o total de mortes chega a 553. 

Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde na tarde desta segunda-feira. No último balanço do governo, no domingo, o total de infectados chegava a 11.130 e 486 mortes confirmadas.

Confira o número de casos e mortes por estado:

Casos

Região Norte

Acre - 50

Amazonas - 532

Amapá - 34

Pará - 102

Rondônia - 14

Roraima - 42

Tocantins - 17

Região Nordeste

Alagoas - 31

Bahia - 431

Ceará - 1013

Maranhão - 133

Paraíba - 35

Pernambuco - 223

Piauí - 23

Rio Grande do Norte - 246

Sergipe - 32

Região Sudeste

Espírito Santo - 194

Minas Gerais - 525

Rio de Janeiro - 1461

São Paulo - 4866

Região Centro-Oeste

Distrito Federal - 473

Goiás - 119

Mato Grosso do Sul - 66

Mato Grosso - 76

Região Sul

Paraná - 458

Rio Grande do Sul - 481

Santa Catarina - 379

Número de mortes

Região Norte

Acre - 0

Amazonas - 19

Amapá - 2

Pará - 3

Rondônia - 1

Roraima - 1

Tocantins - 0

Região Nordeste

Alagoas - 2

Bahia - 10

Ceará - 29

Maranhão - 2

Paraíba - 4

Pernambuco - 30

Piauí - 4

Rio Grande do Norte - 7

Sergipe - 4

Região Sudeste

Espírito Santo - 6

Minas Gerais - 9

Rio de Janeiro - 71

São Paulo - 304

Região Centro-Oeste

Distrito Federal - 10

Goiás - 5

Mato Grosso do Sul - 1

Mato Grosso - 1

Região Sul

Paraná - 11

Rio Grande do Sul - 7

Santa Catarina - 10 Coronavírus 06/04

Menos mortes por coronavírus na Europa sinalizam eficácia de restrições

Itália, França e Espanha mostram desaceleração no número de óbitos por covid-19. Governo italiano afirma que "curva iniciou seu declínio", e Madri começa a considerar quando poderá reativar a economia.

Funcionários médicos na Espanha aplaudem população que também os aplaude em agradecimento pelo trabalho para conter a pandemia do coronavírus. Tributo é realizado todos os dias no hospital La Fe em Valencia.
Funcionários de hospital em Valência agradecem apoio da população

Nos últimos dias, Itália, França e Espanha vêm mostrando desaceleração no número de mortes em decorrência da covid-19, trazendo esperança de que as restrições nacionais implementadas para conter o avanço do coronavírus estejam começando a dar resultado.

Na segunda-feira (06/04), os mercados de ações começaram a mostrar recuperação ligada a esse movimento. As bolsas da Itália e da França subiram, respectivamente, 3,1% e 3,3%, após a Itália apresentar o número de mortes mais baixo em duas semanas no domingo, e A França também registrar menos mortes e internações em UTIs.

Na Itália, Silvio Brusaferro, principal autoridade de saúde no país, disse que "a curva está iniciando seu declínio, e o número de mortes começou a cair". Ele acrescentou que a próxima fase pode ser um afrouxamento gradual de uma quarentena obrigatória que já está em vigor há um mês em todo o território italiano.

O país é o terceiro em número de infecções (atrás de EUA e Espanha), mas o primeiro em fatalidades, que totalizam 15.887. Mais de 21.800 pessoas se recuperaram na Itália. De sábado para domingo, o número de mortes por coronavírus registrado no país foi de 525, cifra diária mais baixa desde 19 de março. O saldo representa uma redução de 25% em relação às mortes anunciadas na véspera (681), segundo dados oficiais.

A França registrou neste domingo 357 mortes por coronavírus em hospitais nas últimas 24 horas, o menor número diário em uma semana, elevando a cifra de óbitos pela covid-19 no país para 8.078. O governo apontou um aumento diário de pessoas internadas em UTIs de 140, o que também representa o número mais baixo em dias. Desde 17 de março, a França vive sob regime de isolamento social.

Na Espanha, a taxa de mortes e de contaminação vem desacelerando. No domingo, o país registrou 6.023 novas infecções, fazendo os casos registrados aumentarem para 130.759. Esse aumento é menor do que o do dia anterior, de 7.026. O número de mortes relacionadas ao coronavírus registradas num dia também caiu para 674 no domingo. Foi a primeira vez que o número diário de novas mortes ficou abaixo de 800 em mais de uma semana.

De domingo para segunda, as fatalidades decorrentes de infecções pelo coronavírus aumentaram em 637, segundo informações do Ministério da Saúde espanhol. Foi o quarto dia consecutivo de queda e a menor taxa de mortes em 13 dias. Autoridades alertaram, porém, que pode haver distorções na contabilização das mortes por um registro mais lento dos casos no fim de semana.

Segundo a Universidade Johns Hopkins, a Espanha tem pouco mais de 13 mil fatalidades registradas relacionadas com o coronavírus. É o segundo país com mais óbitos no mundo, atrás da Itália, com 15,8 mil, e o segundo em número de infecções, com cerca de 135.000, atrás dos EUA (quase 334 mil). A Espanha também reportou nesta segunda o menor número diário de novas infecções em duas semanas: 4.273.

O governo espanhol começou a considerar quando poderá reativar a economia, que foi paralisada para impedir a propagação do vírus e fez com que centenas de milhares de espanhóis perdessem seus empregos. Por enquanto, porém, o primeiro-ministro Pedro Sánchez disse que pedirá ao Parlamento que estenda o estado de emergência vigente no país por mais duas semanas, até o dia 26 de abril.

Embora haja sinais de esperança na Europa, os Estados Unidos se preparam para enfrentar "a mais difícil e triste semana da vida da maioria dos americanos", segundo o vice-almirante Jerome Adams, chefe da Saúde Pública do país. De acordo com a Universidade Johns Hopkins, os EUA têm atualmente 337.646 casos confirmados de infecção pelo coronavírus, 9.648 mortes e 17.582 pacientes recuperados.

Fonte: Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha produzindo jornalismo independente em 30 idiomas.

Coronavírus: Brasil tem mais 54 mortes e total vai a 486

Todos os Estados do país já têm casos confirmados de coronavírus.

O Ministério da Saúde divulgou neste domingo (05/04) que o número de mortos pelo novo coronavírus no país chegou a 486. Foram 54 óbitos confirmados nas últimas 24 horas.

A taxa de letalidade média no Brasil chegou a 4,4% e total de casos confirmados de covid-19 atingiu 11.130.

Em número de casos confirmados, continuam liderando os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. A distribuição pelo país é a seguinte:

Sudeste: ES (166); MG (498); RJ (1.394); SP (4.620)
Nordeste: AL (28); BA (401); CE (823); MA (96); PB (34); PE (201); PI (23); RN (242); SE (32)
Sul: PR (438); RS (418); SC (357)
Centro-Oeste: DF (468); GO (115); MS (65); MT (60)
Norte: AC (48); AM (417); AP (29); PA (86); RO (12); RR (42); TO (17)

Em número de mortes pelo novo coronavírus, também lidera o Sudeste (351), seguido por Nordeste (78), Sul (26), Norte (19) e Centro-Oeste (12). Apenas o Estado de São Paulo tem 275 óbitos registrados e o Rio, 64, segundo os dados reunidos pelo ministério. Em seguida, vem o Ceará, com 26 mortes confirmadas.

Desde 19/03, a pasta deixou de divulgar a quantidade de casos suspeitos e, desde o dia 21, passou também a considerar que há casos de transmissão comunitária do vírus em todo o país.

A transmissão comunitária ocorre quando há casos em que não é mais possível identificar a cadeia de infecção. Isso significa que o vírus está circulando livremente na população. A situação é diferente de quando há apenas casos importados ou de transmissão local, em que é possível identificar a origem da infecção.

De acordo com uma análise da Organização Mundial da Saúde (OMS) baseada no estudo de 56 mil pacientes, 80% dos infectados desenvolvem sintomas leves (febre, tosse e, em alguns casos, pneumonia), 14% sintomas severos (dificuldade em respirar e falta de ar) e 6% doença grave (insuficiência pulmonar, choque séptico, falência de órgãos e risco de morte).

Nos casos importados, os pacientes se infectaram em viagens ao exterior. Nos casos de transmissão local, os pacientes se infectaram pelo contato próximo com casos do novo coronavírus.

Estados anunciam medidas

Em todo o país, os estados adotaram medidas para atender as recomendações do ministério. Passaram a ser proibidos eventos de lazer, culturais e esportivos para evitar aglomerações.

Diversas universidades e escolas pelo país suspenderam suas atividades nas redes públicas e particulares. Elas devem ser retomadas a partir do momento em que a situação da pandemia melhorar.

Também foram suspensas as visitas a pacientes internados por causa do novo coronavírus em hospitais públicos e privados e a detentos de unidades prisionais, assim como o transporte de presos para a realização de audiências.

Ainda haverá uma redução do atendimento ao público nas repartições públicas.

Pandemia

Em 11 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou uma pandemia de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, que já infectou 292 mil pessoas e causou 12,7 mil mortes (segundo dados de 22 de março da OMS) em todo o mundo.

A OMS estima que 3,4% dos pacientes morrem por causa da Covid-19, a doença causada por este vírus. Mas especialistas estimam que essa taxa de letalidade gire em torno de 2% ou menos.

O Ministério da Saúde informou que estudos apontam que 90% dos casos do novo coronavírus apresentam sintomas leves e podem ser tratados nos postos de saúde ou em casa.

Mas, entre aqueles que são hospitalizados, o tempo de internação gira em torno de três semanas, o que gera um impacto sobre os sistemas de saúde, de acordo com a pasta, já que os leitos de unidades de tratamento intensivo (UTI) ficam ocupados por um longo tempo. Por isso, o governo vai buscar ampliar o número de leitos de UTI disponíveis.

Os casos

O primeiro registro do coronavírus no Brasil foi em 24 de fevereiro. Um empresário de 61 anos, que mora em São Paulo (SP), foi infectado após retornar de uma viagem, entre 9 e 21 de fevereiro, à região italiana da Lombardia, a mais afetada do país europeu que tem mais casos fora da China.

De acordo com o Ministério da Saúde, o empresário de 61 anos tinha sintomas como febre, tosse seca, dor de garganta e coriza. Parentes dele passaram a ser monitorados. Dias depois, exames apontaram que uma pessoa ligada ao paciente também estava com o novo coronavírus e transmitiu o vírus para uma terceira pessoa. Todos permaneceram em quarentena em suas casas, pelo período de, ao menos, 14 dias.

Após o primeiro caso, outros diversos registros passaram a ser feitos no Brasil. Muitos vieram de países com inúmeros casos do novo coronavírus, mas depois foram registrados casos de transmissão local e, por fim, comunitária.

Duas semanas depois, foi anunciado que o empresário de 61 anos está curado da doença provocada pelo novo coronavírus.

A primeira morte no Brasil, de um idoso de 62 anos, foi confirmada em 17 de março. Ele morava em São Paulo (SP).

Pacientes com coronavírus deverão ficar em quarentena

Cuidados

A principal recomendação de profissionais de saúde que acompanham o surto é simples, porém bastante eficiente: lavar as mãos com sabão após usar o banheiro, sempre que chegar em casa ou antes de manipular alimentos.

O ideal é esfregar as mãos por algo entre 15 e 20 segundos para garantir que os vírus e bactérias serão eliminados.

Se estiver em um ambiente público, por exemplo, ou com grande aglomeração, não toque a boca, o nariz ou olhos sem antes ter antes lavado as mãos ou pelo limpá-las com álcool. O vírus é transmitido por via aérea, mas também pelo contato.

Também é importante manter o ambiente limpo, higienizando com soluções desinfetantes as superfícies como, por exemplo, móveis e telefones celulares.

Para limpar o celular, pode-se usar uma solução com mais ou menos metade de água e metade de álcool, além de um pano limpo.

BBC News Brasil