quinta-feira, 9 de julho de 2015

Dinheiro sujo, voto limpo?

Não há poder sem autoridade nem autoridade sem legitimidade. Não basta que alguém seja autorizado pela maioria a exercer o poder se a autoridade que se lhe outorga com a investidura não se revestir de um valor maior – a legitimidade.
A Constituição da República tutela dois valores indissociáveis nas eleições – a normalidade e a legitimidade.
Assim, o processo eleitoral há que se realizar sob as normas legais sem discrepâncias, com peso igual para todos.
A legitimidade decorre da certeza absoluta de que nenhuma regra do processo deixou de ser cumprida, desde a convenção partidária à proclamação dos resultados e diplomação dos eleitos.
O abuso do poder politico e o abuso do poder econômico são como células cancerígenas, umas detectáveis mediante conhecidos exames, outras que quase imperceptíveis porque incubadas demandam mais tempo para o diagnostico e em muitos casos já irrompem em metástase.
Os antídotos prescritos pela Constituição da República para esses vírus são, em primeiro, as desincompatibilizações e, em seguida, as inelegibilidades – ambas tendo por fim a proteção da probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, aferível mediante aplicação da lei da ficha limpa.
A convenção partidária que, sem observância das regras estatutárias ou legais, lança candidatos ou faz coligações, impedindo o exercício da democracia interna, proclamando decisões sujeitas às vontades dos donos dos partidos, inocula vírus no processo eleitoral que diagnosticados a qualquer tempo são causas de cassação dos registros dos candidatos ou dos diplomas dos proclamados eleitos.
Configura-se nessa hipótese violação ao principio constitucional da normalidade por abuso de poder das direções partidárias. Na maioria dos casos, o que move essas ações ilícitas é o poder econômico a corromper convencionais e dirigentes partidários.
Na campanha eleitoral então, como já lecionou a Dilma, é que se faz o diabo. Não havendo teto para as despesas, os gastos dos comitês dos candidatos extrapolam as previsões iniciais e a justiça eleitoral candidamente autoriza os aumentos.
E se as doações ultrapassam os percentuais permitidos pela lei, recorre-se ao caixa 2 também conhecido como despesas eleitorais não contabilizadas.
Isso quando não fazíamos ideia da paleontologia a nos dar noticias sobre os fosseis do mensalão.
Convencidos de que dinheiro não tem carimbo, operou-se nas ultimas campanhas o que os economistas chamariam de  promiscuidade monetária – a mistura do dinheiro sujo com algum dinheiro limpo, talvez, passando tudo por uma lavanderia insuspeita conquanto ingênua ou desavisada chamada justiça eleitoral.
É simples a equação. Empresas com contratos vultosos no Governo federal superfaturavam os preços. Auferiam lucros escandalosos dos quais tiravam uma beirada para os partidos políticos e campanhas eleitorais dos que apadrinhavam os operadores desses malfeitos nos cargos estratégicos das empresas públicas.
Ora, até ai saber-se se as doações para as campanhas eleitorais, todas elas, feitas por essas  empresas ou pessoas, todas elas, encrencadas com a Policia Federal e com o Ministério Público Federal tinham como origem o lucro liquido formado por dinheiro limpo declarado em balanço ou se oriundas também das bilionárias propinas repassadas aos operadores dos partidos políticos e campanhas eleitorais dos seus candidatos, não é tarefa impossível de provar. Aliás, já se está provando.
O dinheiro sujo que tem atentado contra a normalidade e a legitimidade das ultimas eleições nacionais e estaduais contem potencialidade danosa suficiente para cassar os diplomas dos tenham recebido um centavo sequer, o suficiente para contaminar o processo eleitoral.

Julgada procedente a impugnação do mandato eletivo por abuso de poder politico ou de poder econômico, cassa-se a chapa por inteiro. Não mais assumem os segundo colocados. Aquilo foi arranjo vergonhoso quando foi para derrubar Governadores ou Prefeitos não alinhados como o fizeram com o Governador Jackson Lago, do Maranhão. 

Essa jurisprudência já foi revogada. Agora, convocam-se novas eleições diretas se a vacância dupla ocorrer nos dois primeiros anos do mandato. E eleições indiretas pelo Congresso Nacional se a vacância ocorrer nos dois últimos anos. Tudo na forma prevista pela Constituição da República.

terça-feira, 7 de julho de 2015

O deus Muu dança

"A questão central aqui é tratar da incapacidade evidente do governo Flávio Dino de ouvir críticas e das ações tomadas por este mesmo governo no sentido de tentar desqualificar, intimidar e agredir os que lhe apontam os erros. Nós estamos, desde sempre, ao lado dos que cobram do poder público e fazem a crítica necessária, pois sem cobrança e sem crítica, quem perde é a sociedade e a democracia; é o conjunto da população que sustenta o Estado. 

Flávio Dino está se comportando igual a José Sarney e Vitorino Freire no que se refere à desonesta política da calúnia, vivenciada no Maranhão ao longo de décadas. Dos pasquins à internet, seguimos no mesmo padrão. Ao tentar achincalhar, deslegitimar e ofender a reputação dos que lhe criticam, o atual governador revela-se ainda arrogante e autoritário, tal e qual os antigos oligarcas do estado, que viam no Maranhão algo a ser subjugado.

O caso ocorrido no final de junho, envolvendo o padre Roberto Perez Cordova e a Pastoral Carcerária é apenas mais um. Em reunião com o governador, no dia 26, onde participaram vários integrantes do governo e da sociedade civil, para tratar da criação do Comitê Estadual de Combate a Tortura, o padre reclamou da situação dos presídios maranhenses. Disse que os agentes do estado estariam agindo de maneira violenta com os apenados, “com uso de spray de pimenta e bala de borracha”.

Cordova tratou de questões que, também em junho, foram relatadas por um grupo de entidades que esteve em Pedrinhas, nos dias 9 e 10. São as mesmas organizações sociais que, em 2014, levaram a situação desta penitenciária maranhense até a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA; a Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos (SMDH), OAB, Justiça Global e Conectas Direitos Humanos. 

Após a visita ao presídio, membros das quatro entidades fizeram uma reportagem em conjunto, de três páginas, para a revista Carta Capital (01/07/15), intitulada “Quem se importa com Pedrinhas?”, onde eles disseram que “a Constituição e as normas internacionais de direitos humanos continuam peças de ficção por lá”. 


O relato das entidades revela que a situação continua caótica, dantesca, violenta, com denúncias de tortura e uma falta de assistência generalizada.

Pois Flávio Dino não gostou do que disse o padre. A Pastoral Carcerária criticou publicamente a reação do governador e, logo em seguida, começaram, via internet, os violentos ataques a Córdova.  Desta vez a repercussão do incidente foi maior por conta da reação de setores da Igreja Católica e porque a tentativa estúpida de desmoralizar o crítico foi iniciada pelo próprio Flávio Dino e não por um assessor.  

No dia 27 de junho, o governador usou as redes sociais (twitter e facebook) para acusar Córdova de ter “privilégios”, receber “mensalinho” e “benesses” no governo de Roseana. Falou em “chantagem”, disse que o governo atual “não distribui dinheiro público” “para comprar silêncios” e fez a pergunta: “qual a legitimidade da crítica de alguém que recebia dinheiro do Governo anterior e está irritado por que perdeu a benesse?”. No mesmo dia 27, o Governo do Estado divulgou uma nota oficial dizendo que o padre “recebia remuneração indevida”.

A reação veio logo.  No dia 28 de junho, o arcebispo metropolitano de São Luís, Dom José Belisário da Silva (junto com a Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz), foi em defesa do padre, desmentindo Flávio Dino. Segundo Belisário, Roberto Perez Cordova realmente prestou serviço no último governo de Roseana. 

Porém, em nota assinada, o arcebispo disse que tudo foi feito dentro da lei e com o conhecimento da Igreja.  Belisário colocou as coisas em outros termos, lamentou pelo “achincalhe”, esclarecendo que a função exercida por Cordova existia, que segue existindo e no atual governo está sendo ocupada por “um representante de outra igreja”. No dia seguinte, a

Sociedade Maranhense de Direitos Humanos lançou outra nota dizendo que o padre “foi injustamente atacado em sua honra e dignidade”, repudiando “a prática do achincalhe e desmoralização”, contra aqueles que “divergem da opinião oficial”.

No atual governo maranhense, o sucessor do padre Roberto Perez Cordova é o pastor Erasmo Antônio Alves de Sousa, nomeado por Flávio Dino para o cargo de Supervisor de Assistência Religiosa. No governo de Roseana, este pastor também ocupou funções na administração pública. Portanto, soa estranho ver Flávio Dino questionar a legitimidade política de alguém por ter exercido cargo em um governo de Roseana. Ele deveria respeitar um pouco mais seus auxiliares, seus aliados, além do próprio PCdoB, que fez parte de dois sucessivos governos de Roseana, entre os anos de 1995 e 2002.

Na república de José Reinaldo Tavares, Humberto Coutinho, Edivaldo Holanda, Dedé Macedo, Weverton Rocha, Camilo Figueiredo, Rogério Cafeteira, Rubens Pereira, Carlos Brandão, Raimundo Cutrim, Ted Lago, Waldir Maranhão, Othelino Neto, Telma Pinheiro, Neto Evangelista, AB Propaganda, BR Construções, Clara Comunicações, Suzano Papel e Celulose, do bem “nutrido” Conselho de Gestão Estratégica das Políticas Públicas, da soja, do eucalipto, dos madeireiros, da siderurgia, do carnaval da base aliada, do São João dos parlamentares submissos, da violência policial e dos contratos terceirizados, determinadas críticas ao novo governo do Estado são vistas como uma “declaração de guerra”, coisa de inimigo, que deve ser aniquilado junto à opinião pública. Uma situação inaceitável. 

Vivemos, no Maranhão, submetidos a uma cultura autoritária, onde muitos têm medo do poder. Apesar deste antigo ambiente de intimidação, houve aqueles que, ao longo da história, não silenciaram diante da violência e dos inúmeros abusos de Sarney e Vitorino. Com Flávio Dino não está sendo diferente. A “república da calúnia”, até o momento, não silenciou o Maranhão.  

A “mudança” precisa rever os seus conceitos.  Diante da política do achincalhe – prorrogada no primeiro semestre de 2015 – está claro que a “mudança” precisa mudar."


*Editorial e capa da edição nº 59 do Jornal Vias de Fato (julho de 2015).

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Os três patetas

Ao ser questionado por ter sustentado aquela guerra civil tão longa e sangrenta, Abrahão Lincoln lembrou que não poderia tomar posse se não jurasse antes a Constituição dos Estados Unidos da América.

A Constituição obrigava e ainda obriga o Presidente da República a manter a integridade do País e a defender a União dos Estados, independentemente dos pontos cardeais em que se localizem.

Naquele tempo, não só os homens públicos, como Lincoln, mas todas as pessoas, no geral, tinham respeito pela própria palavra. Eram incapazes de não honrar o que prometessem.

Lincoln, portanto, não assumiria compromisso tão solene para depois não cumpri-lo.

A mesma exigência vigora ainda hoje no Brasil. A posse de qualquer pessoa eleita para cargo público é indissociável do juramento à Constituição.

A regra que vale também para os magistrados e membros do Ministério Público deveria valer indistintamente para todos os servidores públicos civis e militares.

Lincoln nascido na pobreza lutara desde cedo contra a exclusão social. Autodidata, tornou-se advogado de sucesso e defendendo injustiçados granjeou respeito e confiança. Perdeu uma eleição para o Senado, foi eleito Deputado Federal uma única vez e Presidente da República duas vezes.

Lincoln sabia que a inobservância, por um descuido que fosse, a qualquer ditame constitucional, seria danoso, muito danoso, à estabilidade democrática e à organização social.

Quantos de nossos governantes ou representantes tem a consciência da supremacia da Constituição da República sobre tudo e todos?

Como dizia o Rui, tudo há quer feito dentro da lei porque fora da lei não há salvação.

Mas não faltam ainda hoje os ignorantes, enfermos de conhecimento e sadios de arrogância, para os quais a Constituição não é mais que um calhamaço que podem interpretar à luz da sua conveniência pessoal ou alterá-la consoante os seus mais inconfessáveis interesses.

Acompanhada da mais luzida comitiva, a Dilma voou para encontrar o Obama em Washington, na mesma casa onde morou Lincoln e de onde ele defendeu com o sacrifício da própria vida a Constituição dos Estados Unidos, especialmente quanto a liberdade dos escravos.

O atual Presidente norte-americano, ele próprio um afrodescendente, fez questão de levar a Dilma ao Memorial a Martin Luther King, o grande líder negro das lutas cruentas pelos direitos civis.

Quer gostemos ou não dos Estados Unidos, eles também escreveram belas historias de lutas por nobres direitos que lhes asseguram viver numa sociedade organizada em padrões democráticos e com garantias de oportunidades aos mais qualificados.

Na ausência da Dilma, ao Brasil não faltaram Presidentes. No Congresso, os dois mais influentes – o da Câmara, o Deputado Cunha e o do Senado, o Senador Renan.

No Planalto, o Michel, que sendo o Vice foi o substituto legal da musa da nossa mandioca. Correndo por fora, apareceu em Brasília o Lula fazendo reuniões e mais reuniões com o pessoal do PT.

Foi a Dilma quem lançou há pouco essa moda de relacionar fatos deste nosso Estado Democrático de Direito o com os da ditadura militar, quando ela, e eu também, fomos presos. Presos políticos, é sempre oportuno ressaltar.

Portanto, nada a ver, pelo amor de Deus, nada a ver, com o que ocorreu logo após o derrame cerebral do Marechal Costa e Silva, que incapacitado para as funções de governar, forças ostensivas não deixaram que ele fosse substituído pelo Vice Presidente, o Professor Pedro Aleixo.

Três Ministros do andar de cima, como diria o Élio, formando uma Junta Governativa, assumiram o poder, enquanto se resolvia quem seria o novo Presidente. Em público, eles apareciam sempre juntos. Uma foto em que os três desciam as escadas de um avião recebeu legenda maldosa de um jornal da imprensa alternativa – os três patetas. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Muiér sapiens

O Carlos foi dos primeiros a proclamar que com essa dieta do argentino a Dilma ficou não só mais magra como também mais bonita.
Mas o Carlos não é uma pessoa qualquer, é um cidadão consciente, um legalista, profissional do direito e, também, muito bem casado.
Pai de uma bem sucedida Procuradora, levada a onde está por méritos próprios aferidos em concurso público, o Carlos partilha com sua ex–parceira de armas e lutas as alegrias que recolhem todo avô e avó amorosos ao se reencontrarem com um neto ou neta. Gabriel, o neto, já beira os 5 anos de idade.
Quem vê a Dilma de hoje, pelo lado de fora das cercanias do Palácio, pedalando sua bicicleta, calçando tênis, óculos escuros e capacete especial, como ordenam os legisladores do Denatran, dificilmente se lembraria da antiga Dilma, a pedestre matinal da península sul, que percorria sem pressa o mesmo itinerário antes percorrido pelo Dirceu, depois pelo Palocci, depois pela Gleise.
Quando pelas mãos do Dirceu a Dilma saiu de Porto Alegre para a equipe de transição do primeiro Governo Lula, ela saiu-se tão bem nos preparatórios que o Lula não hesitou em nomeá-la para cuidar das Minas e das Energias.
Depois, com o Jefferson provocando um tremor no Palácio, a alguns pontos acima da escala Richter, o Dirceu voltou à Câmara e de lá saiu sem o mandato de Deputado e inelegível por oito anos. Começava a novela do mensalão.
Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma consolidou-se na confiança do Presidente até que, não havendo clima no Brasil para um terceiro mandato consecutivo como havia para o Chaves na Venezuela, o Lula em meio à gloria do seu maior pique de popularidade a catapultou, lançando-a candidata à sua sucessão.
No nordeste, onde o Governo transbordava boas noticias tanto quanto o sistema Cantareira dos inundáveis tempos, ninguém sabia quem era a Dilma. Não foi difícil associa-la ao Lula. E por isso ela virou a mulher do Lula.
- Em quem você vai votar?
- Ora, na mulher do Lula.
Numa região de tanto atraso politico votar na mulher do Presidente é normal. Tantos não já votaram na mulher do Governador, no filho do Presidente, na filha do Senador?
E como a mulher do Lula, a Dilma foi em frente improvisando seus discursos psicodélicos.
No Piauí um repórter estranhando seu jeitão desengonçado e tom de fala mais para o aumentativo, não mediu indiscrição. Ela respirou fundo, encarou o rapaz dizendo que era até avó. Depois da coletiva, iriam resolver isso lá fora. Quer dizer, chamou para o bogue.
- Eu tenho cara de poste?  A pergunta impressa sobre uma foto dela saiu numa capa da revista Época.
Com cara de poste ou não, amamentando com carinho o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ou não, a Dilma mãe do PAC foi eleita a primeira Presidenta.
Agora estamos aí, o Governo e, por via de consequência, todos nós, metidos nesse parangolé dos infernos e a Dilma nem pode falar em herança maldita porque tudo de ruim no testamento quem fez foi ela.
O que a Presidenta hoje pode falar e o faz com a segurança, firmeza, bom humor e desenvoltura de quem está mesmo por dentro do assunto tem a ver com suas ultimas incursões antropológicas.
Coisas que nem o Darci, que dedicou sua vida a amansar índio, jamais imaginou. Olha aqui em puro dilmês o Ode à Mandioca:
- Então, aqui, hoje, eu tô saudando a mandioca, uma das maiores conquistas do Brasil. Aqui tem uma bola (de folha de banana, presente de uma índia), uma bola que eu acho que é um exemplo. Ela é extremamente leve, já testei aqui, testei embaixadinha, meio embaixadinha... bom, mas a importância da bola é justamente essa, é símbolo que nos distingue.
- Nós somos do gênero humano, da espécie sapiens, somos aqueles que tem a capacidade de jogar, de brincar, porque jogar é isso aqui. O importante não é ganhar e sim celebrar.(...) Então, para mim, essa bola é o símbolo da nossa evolução, quando nós criamos uma bola dessas, nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens (nada a ver com homem sapo ou mulher sapo).
Com essa dieta argentina, que a Cristina ainda não sobretaxou, a Dilma – quer queira ou não o Lula – é hoje o nosso orgulho dietético e troféu de vingança contra a Alemanha. Eles tem lá educação de qualidade, segurança pública no melhor padrão, produto interno bruto lá em cima, inflação lá embaixo. Tudo isso e muito mais.
Nossa vingança por tudo, inclusive pelo 7 a 1 contra o Brasil no final da Copa do Mundo, é podermos ver agora com todo orgulho a nossa Presidenta nas fotografias dos G7, G8 ou G10 do planeta confrontando silhueta com a Chanceler deles lá, a borbulhante Angela Merkel.

E quem é hoje a coisinha mais bonitinha do Lulinha? A Dilminha, é claro.

sábado, 6 de junho de 2015

Olha a faca!

O olhar do menino parece expelir ódio. Mochila de pano pendurada no pescoço, o que ele carrega? Se tem o braço pronto para o arremesso, qual a sua arma? Pedra. 

É assim com pedradas que o garoto palestino reage às ofensivas do governo de Tel Abiv contra o seu território. A imagem da foto na parede é de fotograma de um filme. 

A pedra como arma de defesa e de ataque foi inscrita da história, ao que sabe, não por algum palestino, mas por um judeu jovem e magrelo, que seria mais tarde consagrado como um grande Governante, o Rei Davi - celebrizado por aquela vitória na memorável luta contra Golias, um galalau de mais de dois metros de altura e pouco mais de uns duzentos quilos de peso.

Desde então ficou claro que só a inteligência pode vencer a força bruta.

Depois o instinto defensivo ao mesmo tempo agressivo do homem transmudou a pedra em algo tão pesado quanto cortante.  Daí para o machado, a foice, a faca, foi um esmerilar nos avanços ditos civilizatórios.

Dificultada por lei a compra de armas de fogo, revólveres, pistolas, espingardas e quejandos, restando apenas para o Estado legalmente e para os bandidos – ninguém sabe como – a posse de armamentos até mais sofisticados, não deve ter ocorrido a ninguém, ou só a poucos, depois daquele plebiscito, a volta triunfal da faca aos cenários do crime.

Para os meliantes de carreira solo ou mesmo para os que atuam em dupla ficou mais fácil. Ora, em qual casa não há uma faca para cortar o que for? Na mão do chamado menor infrator é uma arma capaz de estragos tão mortais quanto os de uma bala.

Lampião e seus cabras usavam a faca para sangrar suas vítimas no gogo quando a luta era corporal. Só gastava bala em tiroteios com as volantes que o Governo do Marechal Hermes mandava persegui-los. Cangaceiros  atirando a esmo, gastando bala ao chegarem aos povoados, só no cinema. Atraiam para perto para enfiarem a faca. Como ainda fazem hoje alguns políticos, notadamente no Nordeste.

A faca anda solta por aí e não é de hoje. Nos pequenos assaltos que podem resultar em morte como foi o caso do doutor Gold, na Lagoa, no Rio de Janeiro. E até na música popular – “gritou o Teixeira / quem não tem  peixeira / briga no pé...” (Jackson do Pandeiro). 

A onda do momento é considerar crime – porte ilegal de arma - quem for pego na rua com uma faca. É a velha mania dos políticos sem imaginação criadora de quererem resolver tudo fazendo uma lei.

A OAB, pasmem, pediu a criminalização do uso de facas, canivetes e facões. Aquela foice parceira do martelo, orgulho dos camaradas comunistas, corre sério risco de voltar para a clandestinidade podendo o desfraldar da bandeira do partido ser enquadrado como apologia ao crime.

Então, vamos pensar juntos. Os pescadores, os magarefes, os vendedores de água de coco ou de laranjas descascadas, enfim, um sem número de trabalhadores que precisam de algum instrumento cortante, gente humilde nas trevas da ignorância por inépcia do Estado, que lhes sonega instrução escolar, quantos vão ter que andar com porte de arma só porque utilizam algo cortante como ferramenta de trabalho?

Ah, mas o cidadão precisa também se armar de alguma maneira, dizem uns. Fulano anda com uma faca, beltrano com um taco de beisebol, sicrano com uma barra de ferro imitando uma bengala ou um cabo de vassoura.

Uns mais influentes podem comprar de um algum muambeiro uma pistola de descarga elétrica como aquela da Polícia de Londres  usada para matar aquele rapaz brasileiro, o Charles. 

Muita gente fina vai andar com spray de pimenta, o popular refresco em se tratando dos olhos dos outros. E lembrando o garoto da Faixa de Gaza celebrizado no fotograma da parede na loja de molduras, não ficará pedra sobre pedra.

O Brasil, gente, segue sendo o País onde mais se paga imposto no mundo. É dinheiro muito. Tudo que ganhamos trabalhando, desde o primeiro dia deste ano até o último dia de maio último, foi só para pagar impostos para o Governo gastar, gastar, gastar. Impunemente.

A faca não é problema, gente. Ainda hoje é tipificada como contravenção penal, se comprovada a intenção do seu uso criminoso.

Temos questões mais sérias e inadiáveis para legislar.

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quinta-feira, 28 de maio de 2015

O coração do homem bomba

O que o Yussef já falou com a segurança de quem, ao final, ficará menos tempo na cadeia do que nas décadas que lhe seriam destinadas pela sentença terminativa não terá comparação nem de longe com o que o Ricardo anotou de cabeça e depois conferiu em documentos só para não perder o foco do que tem de mais novidades a dizer no longo depoimento  em que revelará as incríveis propinas e as audaciosas transações em favor de figuras aparentemente inimagináveis nessas possantes coalizações partidárias.
Dilma mandou abastecer o aero lula e depois de classificar a Petrobrás como a Pátria de mãos sujas de petróleo, querendo dar uma de Nelson Rodrigues para quem a seleção brasileira é a Pátria de chuteiras, embarcou para o México.
E do México, ao saber que mais uma medida provisória do seu pacote fiscal havia sido aprovada pelo Senado, mandou sair uma caipirinha, não se sabendo se de pinga de Minas ou se de tequila Juan Cuervo, soltando entre sorrisos a frase comemorativa – “O México me deu sorte!”.
- Pois vá ficando por aí, dona! – Bradou o carioca no Amarelinho da Glória, bem ali perto do Aterro do Flamengo, quando a viu dizer aquilo pela televisão. Todos acharam graça. Ninguém vaiou a Presidenta.
Em São Paulo, é diferente. Ultimamente tem sido perigoso a qualquer Ministro dos Governos do PT, tenha sido do Lula ou da Dilma, andar à rua ou sentar-se à mesa de um restaurante.
O Mantega, coitado, depois de passar quatro anos levando esporros e desmentidos da Dilma para no fim ser demitido pela televisão em plena campanha eleitoral dela, já não pode ser visto nem em lanchonete de hospital, nem em restaurante, mesmo já sendo noite.
Outro, o Padilha, que aceitou corajosamente ser candidato do PT a Governador do mais poderoso Estado do Brasil, tendo no fim que amargar humilhante derrota, saiu de um restaurante antes de esvaziar o prato, pedindo a conta às pressas, ante o clima de hostilidade em hora tão sagrada, a do almoço.
O País parece não se reconhecer em suas próprias incursões de intolerância politica. Ingrediente maior volta a ser esse silêncio com que a maioria das pessoas parece encarar a insuportável exploração do Estado ineficiente e em escalada totalitária sobre a sociedade brasileira.
O futebol, tido como um dos espetáculos mais populares,  expõe os clubes sempre sem dinheiro e dando prejuízos a técnicos e jogadores. Diferente do que se passa com a maioria  dos cartolas.
Não é de hoje que rolam pelo mundo enredos de corrupção das mais brabas envolvendo alguns cartolas do futebol brasileiro. Viram o FBI pegando o Marin? Fico a pensar no que leva um octogenário rico, que foi até Governador de São Paulo, a se envolver com essa banda do mundo imundo do submundo da FIFA e da CBF. Não deve ter gente mais nova do que o Marin nisso.
O coração do homem bomba está com pressão normal. O homem bomba, informam da Policia, está dormindo bem e acorda bem disposto. Cabeça de geneve, como se dizia em São Luis.
Quem está com batidas muito alteradas no coração, sem dormir bem e com a cabeça quente é o pessoal que está na lista do Ricardo por conta de doações entre aspas para suas campanhas eleitorais e, por que não dizer também, por conta das propinas.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Quem menos anda

Com partidos políticos artificiais e suas lideranças incipientes perde a democracia, por conseguinte, o Povo brasileiro.

O atual quadro partidário, nutrindo-se de dinheiro público sob o manto da Constituição e das leis em vigor, só amplia o fosso entre a sociedade e o poder estatal, resultando daí essa ilegitimidade da representação popular e a falta de credibilidade nos agentes políticos.

A vitrine de siglas desconhecidas teve acrescida em oferta na última eleição um partido nascido no interior de Goiás, o PROS. Servindo como janela para dissidentes de outras siglas, foi enriquecido com nomes de respeito como Miro Teixeira no Rio de Janeiro e mais recentemente Gastão Vieira, do Maranhão.

Segundo está publicado na revista Época desta semana, o fundador e Presidente nacional do PROS, Expedto Júnior, está sendo investigado sob a acusação de falsidade documental (três CPFs) e receptação - compra de coisas alheias oriundas de furtos.

sábado, 23 de maio de 2015

As voltas que o mundo dá

E ainda há quem diga pela aí que a terra é plana e não redonda, como garantiu Galileu, embora ante o poder da força e para escapar do mal que a força sempre faz, tivesse que voltar atrás.
O tempo foi se encarregando de provar que a terra é mesmo redonda e daí estarmos a cada dia mais certos quanto as voltas que esse nosso planeta girante dá.
Depois da noite vem o dia. Só se engana quem quer.
As primeiras tratativas para essas relações comerciais hoje tão festejadas sem retratos e sem bilhetes, mas com espetos de carnes da Friboi saltitando de mesa em mesa no Itamaraty, foram conduzidas por João Goulart, então Vice Presidente, por iniciativa de Jânio Quadros.
Nixon, o Presidente dos Estados Unidos, só apareceu por lá muito depois, por indução de Henry Kissinger, seu Secretário de Estado.
Por um dos acordos firmados por Jango, o Governo chinês enviaria, e de fato enviou, uma delegação composta por técnicos e dois jornalistas incumbidos das preliminares com vistas às futuras relações bilaterais.
Como neste nosso planeta girante nem sempre as coisas acontecem conforme se planeja, deu-se que ao deixar a China, Jango foi informado da renúncia de Jânio.
Jango não tinha ideia do furdunço que os militares, antigos cabeças do movimento tenentista e agora quase todos generais ou marechais, já haviam planejado – tudo para lhe impedir de tomar posse como Presidente constitucional.
O mundo estava ainda em plena guerra fria. Os que derrotaram o nazi-fascismo fazendo valer o regime das liberdades democráticas ratearam um mundo entre si como se os países vencidos dessem formato a um novo colonialismo.
A expressão “Guerra fria” foi inventada por Winston Churchill, chefe do Governo inglês e um dos quatro líderes dos países aliados – Estados Unidos, Reino Unido, União Soviética e França. Mas eles, em especial Churchill, não costumavam dar a De Gaulle o tratamento que ele, por suas razões de luta, efetivamente merecia.
Brizola, cunhado de Jango e então Governador do Rio Grande do Sul, fez uma onda danada pelas ondas do rádio, armou a população e prometeu reagir pra valer se a Constituição que assegurava ao Vice Presidente o direito de sucessão do Presidente fosse desrespeitada.
Tancredo sempre jeitoso e conciliador foi entrando devagarzinho no furdunço até que acalmando os golpistas conseguiu quase um ano depois do parlamentarismo de araque que Jango prestasse compromisso perante o Congresso como Presidente da República, Chefe de Estado e Chefe do Governo.
Não sei dizer agora se os nove chineses da missão pioneira, digamos exploratória, já estavam no Brasil quando Jango recebeu de volta todos os poderes presidenciais que lhe haviam sido surrupiados pelo golpe daquele parlamentarismo hermafrodita, como o definiu o Senador Aurélio Viana, do PSB.
Mas na primeira semana do golpe militar que depôs Jango e cassou mandatos, os chineses foram presos, torturados, expostos à execração nacional como agentes do comunismo internacional, processados e condenados a dez anos de prisão, sendo estrondosamente expulsos do Brasil após um ano de cadeia.
O Brasil já enxergava pelo olhar de Jânio e Jango as grandes possibilidades comerciais que se abririam. Geisel confirmou ao restabelecer o dialogo interrompido.
Agora estão aqui os novos chineses – quem iria imaginar - com seus grandes negócios apostando na baixa de um País cujo Governo nem se lembra de pedir desculpas ao Povo chinês e ao seu atual Governo pelas humilhações impostas aos nove chineses trazidos ao Brasil em razão de um acordo oficial bilateral.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Bala perdida

Preocupada com a possibilidade de rejeição de seu indicado Luiz Fachin para o Supremo Tribunal Federal, Dilma fez tudo ao seu alcance e conseguiu expressiva maioria favorável.

Ninguém cuidou da mesma proteção ao Embaixador Guilherme Patriota indicado para representante do Brasil na OEA, a Organização dos Estados Americanos, que agora volta a sua antiga importância política no continente.

O embaixador Patriota, irmão do ex-chanceler Antonio Patriota, já havia sido aprovado sem sobressaltos na Comissão de Relações Exteriores.

No fogo cruzado entre o Senado e a Presidência da República, o embaixador acabou rejeitado por um único voto de diferença. Foram 38 votos contra e 37 favoráveis. 

Dilma agora vai ter que indicar outro nome.

Nervos de aço

Um judeu concordou se encontrar com um palestino num bar na Faixa de Gaza. Ninguém matou ninguém. Os dois se mataram.

Feitos os descontos, foi o que aconteceu entre Roberto Jefferson e José Dirceu quando depois de irrevogáveis desentendimentos se encontraram pela última vez na Câmara dos Deputados. Aflorava o mensalão. Ambos foram cassados e ambos acabaram presos.

Agora ambos, fora da cadeia, cumprem pena em regime aberto. Ambos prestam serviços em escritórios de advocacia. 

Enquanto enfrentava Dirceu e era por Dirceu enfrentado, Jefferson ainda tinha tempo para entre amigos soltar seu vozeirão de tenor cantando a lá Pavarotti "nervos de aço", a predileta do seu repertório.

Para não disputar votos com a sua filha, Cristiane Brasil, que é Deputada Federal pelo Rio de Janeiro, Jefferson admite mudar-se para São Paulo e retornar à sua cadeira na Câmara.

Quanto a Dirceu, seu filho Zeca já é Deputado Federal pelo Paraná. Se tiver que concorrer à Câmara será também por São Paulo.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Fica para a próxima

Por 11 horas seguidas os Senadores da Comissão de Constituição e Justiça sabatinaram, por vezes até de forma severa, o Professor Luiz Fachin, indicado pela Dilma para Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Essas sabatinas, de algum modo, já não fazem tanto sentido porque a tendência hoje nos Tribunais é o compartilhamento cada vez mais frequente das decisões dos Ministros, e também dos Desembargadores, com os seus assessores, que assim vão se tornando mais influentes.
É raro hoje em dia um Ministro ou Desembargador receber um advogado em luta pelo direito que não o seja na companhia de algum assessor.
A justificativa para tanta delegação é o desumano acumulo de processos nos Gabinetes, o que tem feito com que os Ministros, e também os Desembargadores, acabem não se envolvendo de forma mais pessoal na maior parte das demandas. 
Até mesmo os votos que alguns apresentam em plenário na condição de Relatores são, na maioria, obras de sacrossantas doutrinas da inspiração divina de suas assessorias.
Exceções honrosas, como em toda regra, existem. São publicas e notórias, admiráveis e respeitáveis, essas exceções.
Daí que a primeira pergunta a ser feita a todo e qualquer sabatinado pela CCJ do Senado deve ser – quem serão os seus assessores? Depois da sabatina do candidato a Ministro por que não sabatinar então,  um por um por um, os seus futuros assessores?
Afinal, dessa engenharia jurídica é que saem muitas decisões equivocadas para não se dizer injustas, algumas vezes até constrangedoras para alguns magistrados novatos.
No exercício profissional da judicatura quanto na advocacia há fronteiras que não podem nem devem ser ultrapassadas. O respeito mútuo é para mim a principal delas.
Pense aqui só nesta cena num Tribunal de um Estado que em respeito ao seu Povo apenas indico no mapa onde fica - na região sul.
Enquanto o advogado fazia sustentação oral a presidenta da sessão, uma aparentemente provecta desembargadora, levantou-se inopinadamente deixando o recinto, no mais bem imitado estilo Dilma quando faz cara de poucos amigos. Nem transferiu a presidência a outro magistrado.
Minutos depois retornou sobranceira para advertir o advogado quanto ao tempo da sustentação. Não havia ali taquigrafia, nem gravadores, nem relógios visíveis. A desembargadora presidenta era ali a dona de tudo - da memória sem registros e do tempo sem horas aprisionado no divino conteúdo que a sua toga ocultava.
Não são poucos os donos de arrogâncias, as quais nunca se compatibilizam com o humor de quem exerce em qualquer nível uma função de autoridade.
A arrogância dos superiores contagia por escalas a toda hierarquia no sistema. Aquele conto do Artur Azevedo sobre o Chefe de Gabinete que levou um esporro do Ministro e, no fim, sobrou para o cachorro do porteiro, diz tudo.
Hoje em dia não é raro a gente ver pelos corredores dos tribunais ou no entra e sai dos gabinetes figuras emproadas que por vezes até lembram o dono da farmácia única de São Bento que toda tarde vestia um terno branco, pegava uma mala e ficava por trás do balcão andando o tempo do todo de um lado para o outro, isto porque sonhava um dia viajar para a Capital e pelo sim, pelo não, já estava treinando.
Melhor fez o Juruna, o índio saído das entranhas mais distantes do Xingu que, contestando maus costumes dos civilizados como não cumprir com a palavra, passou a andar pelos gabinetes de Brasília gravando tudo que os grandes falavam. Por influencias do Darci, acabou eleito Deputado Federal pelo pessoal da PUC e de Ipanema, mesmo sem  ter noção alguma do que era aquilo.
Na Câmara, criaram a Comissão Especial do Índio e Minorias Raciais e deram a Presidência ao Juruna. Quando recebia alguém numa audiência, fosse advogado ou doutor do que fosse, saia-se bem sempre com esta:
- Juruna não sabe dessas coisas. Quem fala por Juruna é assessor de Juruna...

domingo, 10 de maio de 2015

Nuvens no sossego

Não que o pai tivesse largado a mãe como quem, na canção popular, bate o portão sem fazer alarde com a leve impressão de que já vai tarde.

Nem chegou a conhecer o pai porque três meses antes de nascer ele havia morrido num acidente de carro.

Sem ter com quem deixar o menino, a jovem viúva, enfermeira por profissão, passou a leva-lo para os plantões a que era obrigada nos hospitais.

Filho único, cercado de amor materno por todos os lados, o menino foi crescendo suave, embalado pelas notas musicais ao derredor.

Na banda da escola revelou-se exímio saxofonista ancorado na ilusão de um dia formar sua banda de rock e ganhar o mundo tocando.

Os melhores alunos formavam um grupo que, uma vez por ano, era levado à capital podendo conhecer inclusive a casa do Presidente.

Passeavam pelo jardim da casa quando o Presidente passando casualmente viu aquele rapaz de pele vermelha, o rosto sardento, um tanto diferente dos demais, e lhe estendeu a mão num cumprimento.

De volta pra casa, falou para a mãe que mudara de ideia. Não queria mais ser roqueiro. Queria ser Presidente da República.

A seu favor, tinha o tempo. Trabalhou como office-boy e até como barmen sobrevivendo sabia a mãe como. Chegou ao topo nos estudos. Foi Advogado, Professor de Direito, Procurador do Estado, Governador, Presidente da República.

Nome da enfermeira – Virginia Cassidy Clinton. Mãe de William Jeferson Clinton, Presidente dos Estados Unidos por duas vezes.

Essa história tem a ver com o Dia das Mães? Também.

Entre nós, no Brasil, geralmente, quando se pergunta a um menino o que quererá ser quando crescer, os modelos não variam tanto – jogador de futebol, policial, empresário rico.

Já as meninas sonham em ser artista da novela ou modelo de desfiles de modas. São poucas as que sonham em serem médicas, dentistas ou enfermeiras.

Passada essa transição, liberados das ilusões da adolescência, não sei de ninguém que tenha dito à mãe ou a pai que vai estudar para ser Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Essa é uma ambição que, se latente, só revelará forte, sem freios, se por seus méritos o rapaz ou a moça se vir um dia, por exemplo, na condição de Ministro ou Ministra do Superior Tribunal de Justiça.

É do STJ o principal forno de onde costumam sair quentinhas as grandes vocações para a magistratura suprema. É chegar lá e logo se lhe acerca uma tentação divina para ficar peruando toda vaga a caminho.

E isso é horrível até pelo que vai aflorando em quebra da coesão interna indispensável à formação de juízos sossegados na reflexão para a mais prudente realização da Justiça não obstante o turbilhão de leis mal feitas.

Exaustos com a senhora outroramente cognominada a “mãe do PAC”, rejubilemo-nos agora a com o “Pai da PEC”. Sim, essa PEC da bengala. (O pai da ideia foi o Senador Pedro Simon, indignado com a aposentadoria compulsória do Ministro Paulo Brossard no STF quando com a saúde plena ainda tinha muito a contribuir em favor da Justiça no País).

Quanto sossego a partir de agora a sobrestar obsessões, conquanto nobres e lúdicas,  que em nada acrescentam à escalada republicana e democrática do País.

É sempre bom lembrar o poeta – “o mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha em poder conquista-lo. Ainda que tenha razão”. (Fernando Pessoa).

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Mais um rombo

Cerca de 70 mil empregados da ECT, a empresa estatal dos correios, estão sob a séria ameaça de ficarem sem suas aposentadorias. Ora, por que?

Simples explicar. O rombo por lá está na faixa dos 5 bilhões e 600 milhões. Para onde foi essa dinheirama toda não é difícil imaginar.

Vingou a Bengala

Congelada há anos na Câmara depois de aprovada pelo Senado, a proposta de emenda constitucional, conhecida como PEC da Bengala, aumentando para 75 anos o limite para aposentadoria compulsória, quer dizer, expulsória, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça,Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Militar e também Tribunal de Contas da União foi aprovada ontem à noite por expressiva maioria.

Logo será promulgada passando a valer de imediato.

Assim, a Dilma que tinha a expectativa – caso cumpra seu atual mandato até o fim – de nomear mais 6 Ministro para a suprema Corte e, mínimo, uns 10 para os outros tribunais manterá sua caneta, a partir de agora, bem longe dessas responsabilidades.

Da atual composição do STF apenas os Ministros José Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello não foram nomeados nos governos do PT – José Celso por Sarney e Marco Aurélio por Collor.

Enganoso

-“Se os órgãos de defesa do consumidor tivessem poder, o marqueteiro João Santana seria proibido de exercer a profissão pela propaganda enganosa que foi a campanha da doutora Dilma à reeleição”. – Elio Gaspari, Jornalista, com quem, nesta constatação, estamos todos de acordo. Nós aqui e a grande maioria do povo brasileiro.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Dizer, o que?

A multidão lotando as arquibancadas irrompia em vivas e aplausos como se o Vasco, o dono do estádio, tivesse feito mais um gol. Nada disso.

Era o Getúlio chegando num carro aberto. Baixinho, no banco de trás, precisava ficar em pé para ser visto pelo Povo. Completada a volta olímpica, agora no palanque:

- Trabalhadores do Brasil!

O estádio, até então o maior do Brasil, espocando alegrias, parecia ir abaixo, tamanhas as emoções que se espraiavam.

Quando, em sua anterior Presidência, deu aumento de 100% no salário mínimo, sofreu pressões militares por não ter estendido o mesmo percentual aos quarteis. Não havia reservas no caixa para isso. Sem outra saída para conter a crise, Getúlio preferiu renunciar. Voltava à Presidência da República agora pelo voto direto:

Eis-me aqui outra vez ao vosso lado para falar com a familiaridade amiga de outros tempos, para dizer que voltei a fim de defender os interesses mais legítimos do Povo e promover as medidas indispensáveis ao bem estar dos trabalhadores.

Foram os franceses, querendo que ninguém esquecesse o massacre que policiais e capangas de patrões fizeram em Chicago, Illinois, (USA), em 1886, contra trabalhadores que só pediam melhores condições de trabalho e salários justos, quem instituíram o 1º de maio como o Dia do Trabalhador.

Coincidentemente, era o Dia de São José, o operário carpinteiro, data que já estava na liturgia católica. Depois da França, seguiu-se a mesma celebração nos calendários mundo afora.

No Brasil, o Dia do Trabalho foi instituído pelo Presidente Artur Bernardes, aquele que diante de tantas pressões e crises governou por quase o mandato inteiro sob o estado de sitio (15-11-1922 a 15-11-1926).

Juscelino foi outro a brilhar unindo seu sorriso aos dos trabalhadores no 1º de maio no estádio do Vasco da Gama.

Jango, mesmo sem os seus poderes presidenciais , que nem a Dilma hoje, sob um parlamentarismo pra inglês ver, celebrou o Dia do Trabalho com os operários na Usina Siderúrgica de Volta Redonda.

A reforma eleitoral, disse Jango, impõe-se para formar cada vez mais autêntica a voz do Povo no Parlamento, evitando-se injunções estranhas e inadmissíveis – demagógicas ou financeiras – na formação das assembleias populares.

Até os generais de plantão na mais longa das ditaduras não se esquivaram a dizerem algumas coisas aos trabalhadores no 1º de maio.

O mais durão deles, o General Médici, por exemplo, se disse empenhado pelo fortalecimento do sindicalismo e pelo crescente bem estar da família operária.

Sob Figueiredo, o do prendo e arrebento quem for contra a abertura, foi que a direita dos quarteis aprontou o atentado do Rio Centro, onde havia uma celebração pelo Dia do Trabalho. Morreu um sargento em cujo colo a bomba explodiu, antecipadamente.

Getúlio profetizou que ‘um dia um de vocês, trabalhadores, chegará a este lugar onde hoje eu estou “ e esse dia chegou com Lula Presidente, ao qual nunca faltou o que dizer dia nenhum, principalmente no Dia do Trabalho.

Dou razão à Dilma.

No Brasil de agora, 61% das famílias estão endividadas. A renda do trabalhador caiu 2,8%, a maior nos últimos 12 anos. A inflação está em 8,3%, o que aumenta os preços dos alimentos e dos remédios e também os lucros dos supermercados e da indústria farmacêutica. Carestia de 3,2 pontos acima dos chamados reajustes salariais.

Não escapam nem as esperanças dos que sonham em ganhar na mega sena. A aposta mínima fica 40% mais cara a partir de hoje. Com isso o Governo que não cai com nada vai ter um ganho extra de mais de 1 bilhão de reais. Mais da metade do que precisa para pagar os juros da dívida externa.

Os juros para empréstimos e impostos parcelados estão na maior taxa desde 2008 (Selic em 13,25%) e os lucros dos bancos, como o Santander, indo a 31,9% no trimestre. E o Bradesco lucrando 4 bilhões e 200 milhões de reais líquidos nos últimos 90 dias. Muito mais que os 3 bilhões e 44 milhões do 1º trimestre do ano passado.

E as roubalheiras? Petrobrás, grandes sonegadores pagando propinas milionárias a conselheiros da receita, superfaturamentos em obras, serviços públicos de péssima qualidade, crianças e jovens sem escolas, ensino superior deficiente, zero em ciência, zero em tecnologia, zero em saúde, zero em segurança pública – ah ninguém aguenta mais ouvir essas coisas de todo o dia na nossa indignação.

Tem razão a Dilma, razão só pra ela, é claro, em não aparecer em lugar nenhum, nem mesmo na televisão, para saudar a magna data do trabalhador brasileiro. Se aparecer pessoalmente, vai ser vaia na certa. Se aparecer na televisão, vai ter panelaço nas janelas do País inteiro.

Ah coitada. Vai estar amanhã, 1º de maio, como o velho da canção do Chico, ah de novo o Chico – “e diga agora o que é que eu digo ao Povo / o que é tem de novo pra deixar? / nada, só a caminhada longa pra nenhum lugar” (...)

A Dilma não tem o que deixar e  nem o que dizer.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Olha quem fala

O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobrás. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder”.

“Isso é a sociedade dizendo para a gente. Ou vocês aprendem a nos respeitar, ou nós vamos sacanear vocês, porque vocês sacaneiam a gente. Essa é a minha leitura. Não é pesquisa. E se a gente não entender isso, assimilar isso, e dar a resposta, nós não vamos avançar. E para isso nós temos que ter uma organização que chegue nessa base da sociedade, e que ela entenda...

“Acho que a gente vai  levar um tempo, mas se a gente não acordar para isso daqui a pouco a população vai fazer como juiz de futebol. Vai dar cartão vermelho para a gente, para muitos já está dando.

“Tirou milhões da miséria, isso é bom pra caramba. O nordeste é outro, é verdade. Quem não vê isso é mentiroso, nojento. Eu tenho raiva deles. Mas criou também uma dependência. Eu vejo gente que não quer trabalhar para manter o Bolsa Família, isso está errado. O programa tem que ser instrumento para tirar da miséria, não para manter a miséria.

“Eu não vi ate hoje eles questionarem o modêlo econômico. Eu não vi até hoje eles dizerem que para tirar o Brasil da miséria, fazer um acordo para não pagar divida. Pelo contrário, eles estão preocupados com o superávit primário.

“A conversa com o PT, com o meu amigo Lula e com a presidente Dilma, é qual naco de poder que fica com cada um. Para mim, isso não basta. Eu não quero um pedaço de chocolate para brincar como criança que adoça a boca, eu quero ser sócio da fábrica, eu quero ajudar a fazer chocolate.

“A gente não quer ser rato, que foge do porão do navio quando entra a primeira agua, mas também não queremos ser o comandante do Titanic, que ficou no barco até ele afundar. 

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e ex-Ministro do Trabalho (Governos Lula e Dilma) em fala aos companheiros em S. Paulo, segundo o jornal o Estado de S. Paulo.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O Homem da Rua

Como dizia a doutora Maria Inês, uma das pioneiras do colunismo social na televisão – e agora vamos às notiças.

Era assim com cê cedilha por conta de um probleminha na dicção, mas que até soava normal. Na TV, o Governador da época só conseguia dizer – sinhoires tretespectadoires...

Os visitantes estrangeiros que aportavam em São Luís do Maranhão eram classificados pela doutora na categoria especial - turistas de fora.

Então, vamos às notiças, segundo os jornais matinais da televisão.

Oito mortos numa chacina em São Paulo. Homens foram mortos à queima roupa na sede da torcida do Corintians.

Em Porto Alegre três homens armados invadem um ônibus e o incendeiam.

Acidente em estrada no Paraná deixa oito mortos.

Casal e filho de oito meses morrem em acidente em estrada nas proximidades de Redenção do Norte, em São Paulo.

Dengue mata mais pessoas agora também no interior de Minas. Prefeitura de São Paulo vai chamar o Exército para o combate ao mosquito.

Médicos da rede municipal de saúde em Goiânia, Goiás, começam a greve geral.

Pesquisa encomendada pela Federação do Comercio de São Paulo mostra que os brasileiros estão lendo menos. Sete em cada dez não havia lido um livro no ano passado.

Cresce o pessimismo no mercado em relação à inflação nos próximos meses no País.

Dois adolescentes morrem afogados numa praia em Fortaleza.

Pesquisa indica que setenta e quatro por cento dos brasileiros não assistiram a qualquer filme no ano passado.

Não param de chegar carros apreendidos pela Policia Federal e não há mais onde guarda-los. Já são mais de cem carros de luxo.

(Preciso sair dessa editoria de catástrofes. Salto os canais. A mesma coisa. Desligo o som. Fico só com as imagens. Assistir televisão como cinema mudo é muito engraçado.

Se é um politico defendendo o atual Governo ou algum economista tentando explicar o atual Governo, mantenha o som em off e preste atenção na linguagem corporal.

Sim, o corpo fala e em ocasiões como essas o idioma bate de longe, em compreensão, o dilmês. Veja a emissão cursiva, o movimento labial, os argumentos enumerados pelo toque das pontas dos dedos de uma mão nas pontas dos dedos da outra mão.

O que é mais intragável num amanhecer? O desfile de notícias ruins em vozes femininas quase gritadas ou os comerciais dos feirões de eletrodomésticos ou de automóveis mostrando que os publicitários desses comércios nos tomam como uns brocos ou idiotas?

Classificada por Stanislaw Ponte Preta como maquina de fazer doidos, a televisão brasileira parece não haver encontrado ainda quem pudesse juntar talentos no nível de um Rubem Braga, de um Oto Lara Rezende, de um Paulo Mendes Campos, de um Nelson Rodrigues ou de uma Clarice Lispector para investir em editorias mais suaves que, contrastando com as imitações da vida mostradas nas novelas, apresentem em cada amanhecer noticias mais agradáveis, ainda que no formato de fábulas ou histórias infantis.

No tempo do seu começo, Chico Buarque fez um poema sobre a solidão de um homem que preferia ficar na rua até tarde sem companhia, mas pra casa não ia não.

Se bem me lembro, começa assim - "O homem da rua / Fica só por teimosia / Não encontra companhia / Mas pra casa não vai não / Em casa a roda / Já mudou, que a roda muda / A roda é triste,a roda é muda / Em volta lá da televisão".

Se naquele tempo já havia sofredor por isso, imagina...