sexta-feira, 19 de junho de 2020

Enquanto isso, coronavírus: Brasil ultrapassa 1 milhão de casos


Segundo dados do Conass, nas últimas 24 horas foram registrados 54.771 casos, o que configura um novo recorde; total chegou a 1.032.913



Movimentação da região da 25 de Março no centro de São Paulo após a reabertura do comércio na cidade Kaio Lakaio/VEJA

Nesta sexta-feira 19, o Brasil ultrapassou oficialmente a marca de 1 milhão de casos confirmados por coronavírus. De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), nas últimas 24 horas foram registrados 54.771 casos. É o maior número diário registrado até hoje e representa um aumento de 140,5%, em comparação com os dados de quinta-feira, 18. No total o país tem a 1.032.913.

No mesmo período, foram registradas 1.206 mortes, redução de 2,6% em relação aos novos casos registrados no dia anterior. O total de óbitos no país chegou a 48.954. Os dados foram confirmados pelo Ministério da Saúde em seguida.

É provável que esse grande número de casos confirmados tenha ocorrido no estado de São Paulo. Segundo o governo do estado, nos últimos três dias houve problema para incluir os dados no sistema e-SUS, controlado pelo Ministério da Saúde. Dessa forma, houve acúmulo e, apenas nesta sexta-feira, foram confirmados 19.030 casos no estado.

Com o novo número, o Brasil se junta aos Estados Unidos no patamar de países que ultrapassaram 1 milhão de casos de Covid-19. O recorde foi alcançado na mesma em que o Ministério da Saúde disse que parece haver uma estabilização da epidemia no país. Atualmente, os EUA são líderes absolutos no ranking mundial de casos e óbitos por coronavírus, mantido pela Universidade Johns Hopkins. São 2.212.000 casos e 118.967 mortes. O Brasil vem em seguida, nas duas classificações.

A incidência da doença em todo o país é de 491,5 pessoas a cada 100 mil habitantes. O número de pacientes recuperados da doença chegou a 507.200 e 476.759 permanecem em acompanhamento. A taxa de letalidade está em 4,7% e taxa de mortalidade de 23,3 por 100 mil habitantes.

Fonte: VEJA.

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Enquanto isso, o Brasil tem 1.204 mortes por coronavírus em 24 horas; são 47.869 no total

Pelo 3º dia consecutivo, país tem mais de 1,2 mil mortes no período de 24 horas; é apenas a segunda vez que isso ocorre desde o início da pandemia. Região Sudeste concentra quase metade do total de óbitos.

O Brasil teve 1.204 novas mortes registradas em razão do novo coronavírus em 24 horas, mostra levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de Saúde. Com isso, são 47.869 óbitos pela Covid-19 até esta quinta-feira (18) no país.

Veja os dados, consolidados às 20h:

47.869 mortes; eram 46.665 até as 20h de quarta (17), uma diferença de 1.204 óbitos

983.359 casos confirmados; eram 960.309 até a noite de quarta, ou seja, houve 23.050 novos casos

Pelo 3º dia consecutivo, o país teve mais de 1,2 mil mortes registradas no período de um dia. É apenas a 2ª vez que isso acontece desde o início da pandemia. Antes, houve registros acima desse patamar por 3 dias seguidos em 2, 3 e 4 de junho – neste último dia, aliás, foi registrado o recorde até agora: 1.470 óbitos.

A região Sudeste concentra quase metade do total dos óbitos: 22.051 vítimas.

Consórcio de veículos de imprensa

Os dados divulgados nesta quarta (17) foram obtidos após uma parceria inédita entre G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL, que passaram a trabalhar de forma colaborativa desde o dia 8 para reunir as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal.

O objetivo é que os brasileiros possam saber como está a evolução e o total de óbitos provocados pela Covid-19, além dos números consolidados de casos testados e com resultado positivo para o novo coronavírus.

A parceria entre os veículos de comunicação foi feita em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia da Covid-19. Personalidades do mundo político e jurídico, juntamente com entidades representativas de profissionais e da imprensa, elogiaram a iniciativa.

Mudanças feitas pelo Ministério da Saúde na publicação de seu balanço da pandemia reduziram por alguns dias a quantidade e a qualidade dos dados. Primeiro, o horário de divulgação, que era às 17h na gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta (até 17 de abril), passou para as 19h e depois para as 22h. Isso dificultou ou inviabilizou a publicação dos dados em telejornais e veículos impressos. “Acabou matéria no Jornal Nacional”, disse o presidente Jair Bolsonaro, em tom de deboche, ao comentar a mudança.

A segunda alteração foi de caráter qualitativo. O portal no qual o ministério divulga o número de mortos e contaminados foi retirado do ar na noite da quinta-feira (4). Quando retornou, depois de mais de 19 horas, passou a apresentar apenas informações sobre os casos “novos”, ou seja, registrados no próprio dia. Desapareceram os números consolidados e o histórico da doença desde seu começo. Também foram eliminados do site os links para downloads de dados em formato de tabela, essenciais para análises de pesquisadores e jornalistas, e que alimentavam outras iniciativas de divulgação.

Entre os itens que deixaram de ser publicados estão: curva de casos novos por data de notificação e por semana epidemiológica; casos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica; mortes por data de notificação e por semana epidemiológica; e óbitos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica.

No domingo (7), o governo anunciou que voltaria a informar seus balanços sobre a doença. Mas mostrou números conflitantes, divulgados no intervalo de poucas horas.

Apenas na terça (9) o ministério voltou a divulgar os dados completos, obedecendo a ordem do STF.

Nesta quinta (18), o órgão publicou um novo balanço. Segundo a pasta, houve 1.238 novos óbitos e 22.765 novos casos, somando 47.748 mortes e 978.142 casos desde o começo da pandemia – números totais menores que os apurados pelo consórcio.

Fonte: G1
18/06/2020 20h00  Atualizado há 24 minutos

"Não me lembro de Governo mais despreparado", diz Senador Jereissati sobre Boolsonaro







Senador Tasso Jereissati (PSDB-CE)


Prisão de Queiroz em casa de Wassef leva crise ao Planalto

Operação liga politicamente a Presidência da República a negócios privados de um filho do presidente; em ocasiões passadas, situações como essa corroeram as bases do governo e o levaram à queda

Queiroz preso

O ressurgimento de Fábrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) preso por ordem da Justiça, abrigado em uma casa de propriedade do advogado Frederick Wassef leva a crise para dentro do gabinete de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Liga politicamente à Presidência da República a negócios privados de um filho do presidente em investigação por organização criminosa, peculato (desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro. Em ocasiões passadas – 1954, 1992 –, houve curtos-circuitos semelhantes. Neles, elementos da crônica policial se conectaram à intimidade do chefe do Executivo. Corroeram as bases do governo e o levaram à queda.

Hoje, o presidente ainda está longe disso, mas, político experiente, provavelmente percebe a rápida mudança de cenário. Até então, podia-se alegar que Queiroz era um caso do passado, ocorrido no Legislativo do Rio, sem conexão direta com o Planalto. A prisão do ex-assessor em uma casa de Wassef, advogado de Flávio e amigo da família com trânsito liberado nos palácios e acesso direto ao chefe do Executivo, transformou a investigação em caso do presente. Agora, é algo do governo Bolsonaro, está em andamento e muito próximo do mandatário.

Casa onde Queiroz foi preso tem cartaz citando AI-5

Jair Bolsonaro ocupou-se, nas últimas semanas, com disputas com o Supremo Tribunal Federal (STF). Para a plateia de devotos que diariamente o espera na porta do Palácio da Alvorada, fez críticas às ações da Corte nos inquéritos sobre fake news e manifestações antidemocráticas contra as instituições. Reagiu com acusações de ilegalidade e abuso contra as liberdades. Manteve o tom exaltado mesmo em relação às prisões de extremistas que ameaçaram ministros do Supremo – caso de Sara Fernanda Giromini, em prisão temporária.

Queiroz preso

O ex-assessor Fabrício Queiroz após ser preso na casa do advogado do senador Flávio Bolsonaro em Atibaia, no interior de SP, nesta quinta, 18 Foto: EFE/Sebastião Moreira
A captura de Queiroz sob proteção de Wassef – quando supostamente tentava atrapalhar as investigações – também muda esse ambiente inviabiliza esse discurso para o caso que envolve Flávio e lhe dá molho político. A apuração, iniciada antes das eleições presidenciais, mostrou indícios de rachadinha com os salários dos assessores de Flávio, na época deputado estadual. As suspeitas foram apontadas tecnicamente em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), na Operação Furna da Onça, sobre corrupção na Casa. Nele, destacaram-se movimentações atípicas de servidores. Um deles era Queiroz, um suboficial da PM nomeado em cargo de confiança pelo parlamentar – por indicação do pai Jair.

Todo mês, em datas posteriores e próximas à do pagamento dos salários na Alerj, segundo o MP, Queiroz recebia, em sua conta, o repasse de boa parte dos vencimentos de seus colegas no gabinete de Flávio. Promotores viram na prática – que resultou em movimentação de R$ 1,2 milhão em 13 meses, incompatível com os ganhos do PM – indícios de que o dinheiro era recolhido e repassado a Flávio. Transações imobiliárias com valores estranhos ao mercado e a operação de uma franquia da rede Kopenhagen no Barra Shopping, da qual o hoje senador é sócio, reforçaram suspeitas de lavagem de dinheiro.

Também foi detectado repasse de R$ 24 mil de Queiroz para uma conta da primeira-dama, Michele Bolsonaro. Na época, ela era assessora do então deputado federal Jair Bolsonaro. O presidente disse que era pagamento de uma dívida com ele, que o então assessor fizera na conta de Michele.

Queiroz e Flávio sempre negaram irregularidades. O ex-assessor alegou ganhar dinheiro por fora, com comércio de carros usados. Depois, afirmou que, sem conhecimento de Flávio, recolhia o dinheiro dos colegas para redistribuí-lo e contratar mais gente, ampliando a rede de contatos do político. O parlamentar por muito tempo repetiu que o problema era do ex-PM, não dele. Recentemente, elogiou Queiroz em vídeo. Nesta quinta, 19, reagiu à prisão do ex-assessor com um argumento antigo: o da perseguição contra o pai.

“Encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje”, afirmou no Twitter. “A verdade prevalecerá! Mais uma peça foi movimentada no tabuleiro para atacar Bolsonaro. Em 16 anos como deputado no Rio nunca houve uma vírgula contra mim. Bastou o Presidente Bolsonaro se eleger para mudar tudo! O jogo é bruto!”

Crimes

Há outros elementos inquietantes no Caso Queiroz. Quando ainda na PM, em 2003, ele foi acusado
de envolvimento na morte de um homem, durante operação na Cidade de Deus, comunidade pobre na zona oeste carioca. Com ele, era investigado no processo um colega, Adriano da Nóbrega, que seria expulso da corporação em 2014. Durante o mandato de Flávio na Alerj, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher Danielle Mendonça ocuparam cargos de confiança no gabinete de Flávio na Assembleia. Foi uma indicação de Queiroz, como ele mesmo admitiu.

Mais recentemente, “Capitão Adriano”, como era conhecido, era investigado pela Operação Intocáveis da Polícia Civil e do MP do Rio. O alvo era a milícia Escritório do Crime, que domina as comunidades da Muzema e de Rio das Pedras, na zona oeste da capital. Ronnie Lessa, um dos acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, era integrante dessa milícia. Adriano era apontado como um de seus chefes. Procurado pela Policia pelas acusações de vinculação à quadrilha, fugiu para a Bahia. Lá, foi morto por policiais em Esplanada, em fevereiro de 2020.

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O senador fluminense Flávio Bolsonaro Foto: Wilton Junior/Estadão

A investigação da rachadinha no gabinete de Flávio na Alerj já dura cerca de dois anos. Parou algumas vezes, por determinação da Justiça a pedido da defesa de Flávio, a cargo de Wassef. Mas a apuração sempre acabou retomada. Agora, parece chegar perto de um desfecho. O avanço da apuração, ao longo dos meses, pode explicar parte da inquietação do presidente.

Recentemente, Jair Bolsonaro repetiu uma queixa antiga, contra o que afirmou ser uma possível operação da Polícia do Rio contra seus filhos, com provas que seriam forjadas, mas nunca ocorreu. Citou-a como um dos motivos de divergência com Sérgio Moro quando este chefiava o Ministério da Justiça, porque o ex-juiz se recusou a interferir. O interesse do presidente na mudança da chefia da Polícia Federal – tanto o diretor-geral como o superintendente do Rio – estaria ligado ao interesse do presidente em investigações sobre seus filhos.

Uma das mais importantes batalhas políticas do presidente envolveu o Coaf. Bolsonaro se empenhou para tirá-lo do Ministério da Justiça e ligá-lo ao Banco Central. O órgão desde então teve atuação discreta, como parte do que parece ser uma tentativa de blindagem jurídica. O exílio de Queiroz em uma discreta casa em Atibaia só aumenta as suspeitas de que as diferentes ações teriam o mesmo objetivo.

Wilson Tosta, O Estado de S.Paulo
18 de junho de 2020 | 15h55

Weintraub se tornou integrante do grupo ‘biológico’, o dos filhos de Bolsonaro

De saída do MEC, economista, que deixou rastro de destruição na Educação, é indicado para cargo de pompa no Banco Mundial

O economista Abraham Weintraub deixa um rastro de destruição na sua passagem pelo MEC. Seja por ação, por omissão ou pelo estado de permanente desassossego em que manteve a comunidade acadêmica e científica. Como se pode constatar, a gota d’água, ou melhor, a tromba d’água que finalmente o derrubou, nada tinha a ver com Educação, mas com o comportamento esdrúxulo. Da Educação, não chegou a tratar.

O presidente pode aplicar o modelo da Saúde e insistir em deixar um ministro interino manobrável. Porém, no caso Weintraub há uma particularidade: vai para o Banco Mundial, de onde poderá manter sua cidadela de ação nas redes sociais, com muito mais tempo disponível, e poderá provocar à vontade, fazer campanha eleitoral, e atuar em dobradinha com o guru Olavo de Carvalho. Conseguiu um cargo de pompa e circunstância porque tornou-se um forte integrante do grupo “biológico”, o dos filhos Bolsonaro, impropriamente apelidado de “ideológico”, pois a ideologia passou longe de todos eles.

Em atrito com militares, Weintraub dizia que era alvo do STF e de ‘intrigas palacianas’

Pode-se dizer que o ministro caiu de sua própria estatura. Não se elevou à grandeza dos desafios da Educação. A reforma do ensino médio, aguardada por vinte anos e aprovada no governo Temer, ficou no papel. Os gargalos do Enem não foram rompidos. A qualidade do ensino básico deu marcha à ré. O processo de valorização do magistério fez uma curva de 360 graus. A universidade foi oprimida, criticada e financeiramente asfixiada. A autonomia, ameaçada.

Ala ideológica do Planalto articula para emplacar sucessor de Weintraub

Ala ideológica do Planalto articula para emplacar sucessor de Weintraub

Weintraub e o presidente Jair Bolsonaro; ministro oficializa saída do MEC Foto: Dida Sampaio/Estadão

A pesquisa e a ciência, desprezadas. A crise sanitária mundial atingiu frontalmente a Educação, e o ministro da área não tomou conhecimento da principal saída imposta à área pela circunstância, o ensino à distância.

A facilidade e a insistência com que conjuga o verbo odiar revelaram o seu fascínio pela beligerância gratuita.

Weintraub caiu não por falta de saídas para o seu desastre. Alguns educadores tentaram socorrê-lo e viram em Weintraub talento analítico, raciocínio, conhecimento de números. No entanto, sempre se mostrou incapaz de capitalizar esses possíveis trunfos. Pelo contrário. Sua linguagem chula e sua avaliação tola foram tão agressivas e grosseiras que ele próprio se desqualificava.

Weintraub não entrou para o governo como economista, condição que agora lhe serve de salvação. Sai, contudo, sem esclarecer o enigma sobre as razões que o levaram a inviabilizar o exercício do imenso espaço de poder que é o MEC.

Como tudo no governo é ambíguo, não está claro o que mais pesou na demissão e na transferência para Washington. Se um gesto de piedade para socorrer um companheiro ou solidariedade a uma liderança em apuros, para ser mais tarde reabilitado. Hipótese nada absurda num governo absurdo. Weintraub pode ter cavado o espaço de candidato a 05.

Rosângela Bittar, O Estado de S.Paulo
18 de junho de 2020 | 18h50

Delegada da PF viu “risco desnecessário” e quis abortar operação contra bolsonaristas

Pedido de Denisse Dias Rosas Ribeiro foi visto como afronta à PGR e ao ministro Alexandre de Moraes

A delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro, da Polícia Federal, se opôs à realização de uma operação de busca e apreensão, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que mirou aliados bolsonaristas. Em ofício encaminhado ao Supremo, a delegada apontou que a realização da operação no início das investigações representaria um “risco desnecessário” à “estabilidade das instituições”. A resistência de Denisse às medidas levou a Procuradoria-Geral da República (PGR) a pedir o seu afastamento do caso.

O pedido da delegada da PF foi visto como estranheza entre procuradores e como o motivo do atraso na realização da operação, que estava prevista para a primeira semana de junho. O relator do inquérito que investiga a organização e o financiamento de atos antidemocráticos, ministro Alexandre de Moraes, autorizou a realização da operação de busca e apreensão no final do mês passado.

“Pela postergação do cumprimento ou pelo recolhimento das ordens já emanadas, a fim de que o direcionamento dos recursos da Polícia Federal seja inicialmente empregado na obtenção de dados de interesse e no preenchimento das diversas lacunas das hipóteses criminais aqui apresentadas”, pediu Denisse a Moraes.

Denisse integra um grupo de quatro delegados que auxilia os trabalhos de Alexandre de Moraes nessa investigação e no inquérito sobre ameaças, ofensas e fake news disparadas contra integrantes do STF e seus familiares. As investigações são conduzidas por Igor Romário de Paula, que integrou a Lava Jato em Curitiba, e é tido como um aliado do ex-ministro Sérgio Moro.

Depois que Moro acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na PF, Alexandre de Moraes decidiu blindar a equipe e impedir que os delegados fossem trocados em meio à substituição no comando da corporação.

Em 2017, a mesma delegada já havia faz uma série de observações sobre problemas enfrentados pelos investigadores da operação Zelotes. Entre os problemas citados estava a falta de foco de órgãos parceiros na investigação que, segundo ela, resulta em uma apuração “genérica e difusa”.

Procurada, a PF informou que não vai se manifestar.

Operação. A operação, autorizada por Moraes em 27 de maio, foi realizada apenas nesta semana,  quando a Polícia Federal (PF) cumpriu 21 mandados de busca e apreensão contra um parlamentar, políticos ligados ao Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro pretende criar, além de blogueiros e youtubers que apoiam o governo federal.

Segundo a PGR os investigados teriam agido para “financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas como crime pela Lei de Segurança Nacional”. O objetivo deste inquérito é descobrir quem está por trás de manifestações que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo, além da volta do AI-5, medida mais dura da ditadura militar. Em 19 de abril, Bolsonaro chegou a discursar em um ato do tipo, em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília.

Moraes também determinou que YouTube, Facebook e Instagram informem se as páginas mantidas pelos alvos da operação recebem algum tipo de pagamento por postagem. Se tiverem acesso a esses dados, os investigadores poderão saber se as convocações para os atos e as postagens contra as instituições são ou não remuneradas.

O cerco a apoiadores de Bolsonaro ligados a manifestações envolve ainda um dos principais articuladores da criação do Aliança pelo Brasil: o empresário Luís Fernando Belmonte. Ele auxiliou na organização de ao menos um dos atos antidemocráticos realizados em Brasília. Como revelou o Estadão em maio, ele serviu de ponte para os diferentes grupos se organizassem. Em entrevista na época, Belmonte disse que não colocou nenhum centavo no evento. “Coloquei eles em contato, chamei um, chamei outro. Fiz a questão de dizer que precisaria ter dois tipos de procedimento. Primeiro, que se limitasse a apoio ao presidente Bolsonaro e que não (tivesse) fora (Rodrigo) Maia ou fora Congresso”, afirmou na ocasião.
     
Breno Pires e Rafael Moraes Moura/ BRASÍLIA
18 de junho de 2020 | 19h28

A caravana passa

Quando o presidente cobra do STF observância à democracia e à Constituição, como tem feito, obviamente não é por reverência nem a uma nem à outra, já que jamais as respeitou

À medida que o cerco judicial se fecha em torno das ilegalidades do movimento bolsonarista, com o avanço da investigação contra os camisas pardas das redes sociais e a quebra de sigilo bancário de parlamentares que integram a tropa de choque de Jair Bolsonaro no Congresso, o presidente da República demonstra crescente nervosismo – talvez por perceber que os rosnados bolsonaristas não têm sido suficientes para intimidar o Judiciário e fazê-lo dobrar-se a seu projeto de poder.

“Eles estão abusando”, disse o presidente um dia depois da operação da Polícia Federal para desbaratar a máquina bolsonarista de destruição de reputações na internet, em investigação no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), e da ordem do Supremo, a pedido da Procuradoria-Geral da República, para apurar o suposto envolvimento de parlamentares bolsonaristas no fomento de manifestações golpistas.

O Supremo e o Ministério Público não fizeram nada além de sua obrigação, especialmente ante a escalada fascistoide protagonizada pelos bolsonaristas, sob inspiração do presidente. É preciso demonstrar a esses liberticidas, de maneira cabal, que a democracia tem seus mecanismos de defesa, especialmente uma democracia que surgiu da trágica experiência de duas décadas de ditadura. Os saudosos daquele período de exceção, inconformados com a redemocratização, devem saber que seus devaneios autoritários encontrarão intransponível obstáculo na Constituição.

Isso não significa que o bolsonarismo esmorecerá. Bolsonaro não conhece outro comportamento que não seja o do confronto. Trata opositores não como adversários políticos, mas como inimigos a serem aniquilados. A democracia, que pressupõe o embate civilizado de ideias, no âmbito das instituições, lhe é estranha. Quando deputado, em 1999, defendeu o fechamento do Congresso e disse que a ditadura deveria ter fuzilado 30 mil dissidentes, inclusive o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Não consta que tenha se retratado dessa e de outras declarações de teor semelhante nesse tempo todo.

Ou seja, Bolsonaro nunca deixou de ser Bolsonaro – e a faixa presidencial só lhe acentuou o cesarismo. Quando o presidente cobra do STF observância à democracia e à Constituição, como tem feito nos últimos dias, obviamente não é por reverência nem a uma nem a outra, já que jamais as respeitou. O que ele pretende é confundir a opinião pública, convencendo-a de que o único exegeta legítimo da Constituição é ele próprio, por ser alegadamente a encarnação da vontade popular.

Seu discurso não deixa margem para dúvidas. “Queremos acima de tudo preservar a nossa democracia. (...) Nada é mais autoritário do que atentar contra a liberdade de seu próprio povo”, disse Bolsonaro, referindo-se à ação judicial e policial contra seus sabujos. “É o povo que legitima as instituições, e não o contrário. Isso sim é democracia”, continuou o presidente, sugerindo que o Supremo, ao investigar bolsonaristas, está atentando contra o “povo”. Por fim, depois de dizer que não pode “assistir calado quando direitos são violados e ideias são perseguidas”, o presidente anunciou que tomará “todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros” – como se estas estivessem ameaçadas não pelos arreganhos bolsonaristas, mas pelo STF.

Bolsonaro reivindica, assim, a guarda da Constituição, embora a própria Carta atribua essa função ao Supremo. E o presidente o faz em nome dos militares, como quando, apresentando-se como comandante supremo das Forças Armadas, informou que “nós (os militares) jamais aceitaríamos um julgamento político para destituir um presidente democraticamente eleito”. Ou seja, como bem observou o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann em artigo na Folha de S.Paulo, Bolsonaro elevou as Forças Armadas, sob seu comando, “à condição de intérprete e árbitro final de disputas entre os Poderes da República”, o que “não é previsto em nenhum dos artigos da atual Constituição”. Pior: o presidente considera que cabe às Forças Armadas, e não ao Judiciário, decidir sobre a inobservância das leis.

Com base nesses pressupostos absurdos, o presidente advertiu: “Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”. É o que o Supremo está fazendo.
     
Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
18 de junho de 2020 | 03h00

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Enquanto isso, o Brasil tem 45.585 mortes por coronavírus

Levantamento de consórcio de veículos de imprensa aponta que país tem 934.769 casos confirmados. 

Na terça, o país teve o 2º maior registro de óbitos em 24 horas desde o início da pandemia.

O Brasil tem 45.585 mortes por coronavírus confirmadas até as 13h desta quarta-feira (17), aponta um levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde.

O consórcio divulgou na terça (16), às 20h, o nono balanço, com os dados mais atualizados das secretarias estaduais naquele momento. Desde então, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Roraima e Tocantins divulgaram novos dados.

Veja os dados atualizados às 13h desta quarta-feira (17):

45.585 mortes

934.769 casos confirmados


(Na terça, 16, às 20h, o balanço indicou: 45.456 mortes, 1.338 nas últimas 24 horas; e 928.834 casos confirmados. Esse foi o 2º maior registro de mortes divulgadas pelas secretarias estaduais de Saúde em 24 horas desde o início da pandemia. O recorde anterior foi de 1.470 mortes no dia 4 de junho)

Os dados foram obtidos após uma parceria inédita entre G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL, que passaram a trabalhar de forma colaborativa para reunir as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal.

O objetivo é que os brasileiros possam saber como está a evolução e o total de óbitos provocados pela Covid-19, além dos números consolidados de casos testados e com resultado positivo para o novo coronavírus.

A primeira morte por Covid-19 no Brasil completou três meses nesta terça-feira (16). A vítima foi um homem de 62 anos que estava internado em São Paulo.

Parceria

A parceria entre os veículos de comunicação foi feita em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia da Covid-19. Personalidades do mundo político e jurídico, juntamente com entidades representativas de profissionais e da imprensa, elogiaram a iniciativa.

Mudanças feitas pelo Ministério da Saúde na publicação de seu balanço da pandemia reduziram por alguns dias a quantidade e a qualidade dos dados. Primeiro, o horário de divulgação, que era às 17h na gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta (até 17 de abril), passou para as 19h e depois para as 22h. Isso dificultou ou inviabilizou a publicação dos dados em telejornais e veículos impressos. “Acabou matéria no Jornal Nacional”, disse o presidente Jair Bolsonaro, em tom de deboche, ao comentar a mudança.

A segunda alteração foi de caráter qualitativo. O portal no qual o ministério divulga o número de mortos e contaminados foi retirado do ar na noite de 4 de junho. Quando retornou, depois de mais de 19 horas, passou a apresentar apenas informações sobre os casos “novos”, ou seja, registrados no próprio dia. Desapareceram os números consolidados e o histórico da doença desde seu começo. Também foram eliminados do site os links para downloads de dados em formato de tabela, essenciais para análises de pesquisadores e jornalistas, e que alimentavam outras iniciativas de divulgação.

Entre os itens que deixaram de ser publicados estão: curva de casos novos por data de notificação e por semana epidemiológica; casos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica; mortes por data de notificação e por semana epidemiológica; e óbitos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica.

No dia 7 de junho, o governo anunciou que voltaria a informar seus balanços sobre a doença. Mas mostrou números conflitantes, divulgados no intervalo de poucas horas.

Nesta terça-feira (17), mais uma vez o Ministério da Saúde divulgou os dados completos, obedecendo a ordem do STF. Segundo a pasta, houve 1.282 novos óbitos e 34.918 novos casos, somando 45.241 mortes e 923.189 casos desde o começo da pandemia – números totais menores que os apurados pelo consórcio.

Fonte: G1
17/06/2020 13h00  Atualizado há 3 horas

Bolsonaro e o Dia de São Nunca

As atenções do Congresso para o combate aos efeitos da pandemia deram ao presidente o pretexto ideal para deixar as reformas para o Dia de São Nunca

Um governo que trabalha apenas para dar sobrevida política ao presidente da República dificilmente será capaz de propor as reformas de que o Brasil urgentemente precisa e, mais, de articular sua aprovação no Congresso. Mesmo antes da presente crise, quando a continuidade do mandato de Jair Bolsonaro não estava em questão e não havia a emergência nacional causada pela pandemia de covid-19, a agenda de reformas não era tratada com a devida seriedade pelo governo. Nada mudou de lá para cá – com a agravante de que a monopolização das atenções do Congresso para o combate aos efeitos da pandemia deu a um presidente tão desinteressado nas reformas que prometeu o pretexto ideal para deixá-las para o Dia de São Nunca.

Não surpreende assim que o presidente Bolsonaro tenha informado na segunda-feira, em entrevista à TV Band News, que a reforma administrativa, prometida por ele no ano passado e de novo no início deste ano, “com toda a certeza” ficará para 2021. “É um desgaste muito grande”, disse o presidente, argumentando que o maior obstáculo à reforma administrativa é uma suposta campanha da imprensa contra seu governo. “Eu não estou preocupado com reeleição, mas nós devemos nos preocupar com o brasileiro de forma honesta, justa, e não ser massacrado pela opinião pública por uma coisa que você não fez e não propôs. Então, a guerra da mídia é importante, por isso o atraso no envio da reforma administrativa”, disse Bolsonaro.

Para o presidente, portanto, a reforma administrativa só será enviada quando houver um “bom trabalho de mídia” para convencer os funcionários públicos de que eles não perderão sua estabilidade. “Senão, chega para os 12 milhões de servidores públicos que estou acabando com a estabilidade deles. Eu não estou preocupado com reeleição, mas temos que ouvir nossos eleitores”, disse o presidente. Ou seja, a obsessão de Bolsonaro, preocupadíssimo com a reeleição, é não contrariar sua base eleitoral. Logo, se vier, a reforma administrativa tem tudo para ser apenas um arremedo.

Já a reforma tributária é, nas palavras de Bolsonaro, “complicada”. Deve ser mesmo. Em 23 de setembro de 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a proposta de reforma tributária seria enviada pelo governo “na semana que vem”. Pouco menos de seis meses depois, em 5 de março deste ano, o mesmo ministro disse que a proposta de reforma tributária seria enviada “na semana que vem”.

Aparentemente essa tal “semana que vem” vai demorar ainda mais para chegar, pois Bolsonaro informou que quer uma reforma “que possa ser aprovada”. Em outras palavras, o governo está longe de elaborar uma proposta politicamente factível.

Assim, a exemplo do que aconteceu com a reforma da Previdência, o Executivo, preocupado somente em evitar desgaste eleitoral, tende a deixar para o Congresso o protagonismo da reforma tributária. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já avisou que essa reforma é prioridade do Legislativo, a partir de projetos apresentados pelos próprios parlamentares.

A boa notícia, portanto, é que o País parece depender cada vez menos da iniciativa de um governo tão perdido. Embora seja no mínimo excêntrico que, num regime presidencialista, o debate político esteja ocorrendo sem a participação do presidente – que, desde a posse, se dedica exclusivamente a causar tensão e criar instabilidade –, parece haver um bom clima para tocar adiante as reformas quando a pandemia arrefecer. E as reformas são ainda mais importantes diante da perspectiva sombria para as contas nacionais.

Nesse cenário de incerteza, teme-se, com razão, que a anunciada saída do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, espécie de guardião dos limites fiscais, sinalize afrouxamento da agenda de controle dos gastos públicos. Mas essa agenda, mais do que nunca, não pode ficar na dependência dos humores de um ou outro funcionário do Ministério da Economia, do ministro Paulo Guedes ou, pior, do presidente Bolsonaro. O esforço de manutenção dos mecanismos de responsabilidade fiscal e de aprovação das mudanças necessárias para adequar os gastos públicos à real capacidade do País depende fundamentalmente da mobilização da sociedade – esta sim, a avalista indispensável das reformas.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
17 de junho de 2020 | 03h00

Promotor de instabilidade, Trump está em declínio

"O presidente alienou os militares em sua resposta divisiva aos protestos antirracismo."

Pesquisador Sênior do Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center para Scholars, em Washington,DC, o Jornalista Paulo Sotero analisa em artigo para O Estado de São Paulo as repercussões para o Brasil de uma eventual, e provável, derrota de Donald Trump nas próximas eleições presidenciais.

A pandemia fez evaporar o argumento econômico – crescimento forte com baixo desemprego – da campanha à reeleição de Donald Trump. O Federal Reserve, o banco central dos EUA, projeta recuperação lenta e desemprego próximo de 10% em dezembro. Faltando quatro meses para as eleições, as sondagens sugerem vitória do candidato democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden. Elas são apenas um dos dados negativos para Trump. Se a tendência se confirmar até o pleito de 3 de novembro, o atual ocupante da Casa Branca entrará para a História como o quarto presidente a não se reeleger na dúzia de pleitos realizados desde 1976.

Com 80% dos americanos a dizer nas pesquisas que o país está no rumo errado, as dissidências ganham espaço no Partido Republicano – antes solidamente aliado a Trump – e reforçam a percepção de que o personalíssimo populismo encarnado pelo empresário e ex-animador de programas de reality television tem data de validade próxima a expirar. Outros indícios estão nos detalhes de várias pesquisas, que mostram perdas significativas de apoio em dois segmentos, o das eleitoras brancas de certa idade e o dos muito ricos, que negaram votos à democrata Hillary Clinton em 2016 e garantiram o inesperado triunfo de Trump, por uma ínfima margem de menos de 80 mil votos no colégio eleitoral em três Estados, depois de perder por 3 milhões a eleição popular. Interessados acima de tudo em estabilidade e previsibilidade, qualidades opostas à aposta no caos que Trump alimenta com seus tuítes, esses dois grupos de eleitores migraram para Biden.

É evidente também a perda de espaço por Trump nos dois temas que dominam as preocupações dos eleitores: os efeitos da pandemia, que tornou evidente o despreparo e a incompetência do presidente para lidar com uma crise de saúde pública que já custou mais de 120 mil vidas e custará muitas mais e jogou o país na recessão, e a questão racial, que ganhou enorme espaço com a divulgação das imagens do linchamento do negro George Floyd, asfixiado na rua pela polícia de Minneapolis depois de ser preso e algemado.

A arrogante e incompetente reação de Trump aos protestos desencadeados pelo assassinato de Floyd fez aumentar a repulsa nacional causada pelo injustificado abuso da polícia e mobilizou contra o presidente outro grupo influente na opinião pública que tradicionalmente se abstém de participar da política: os militares. Nada menos que quatro ex-chefes do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, o atual ocupante do posto e mais de uma dúzia de ex-generais de quatro estrelas desassociaram-se da presepada que Trump montou no início de junho na praça em frente à Casa Branca empunhando uma Bíblia, depois de o lugar ter sido esvaziado com uso de gás lacrimogêneo contra os manifestantes.

O primeiro ministro da Defesa de Trump, o condecoradíssimo ex-general do Corpo de Fuzileiros Navais James Mattis, fez a crítica mais contundente à tentativa do presidente de militarizar a resposta aos protestos. “Donald Trump é o primeiro presidente da minha vida que não tenta unir o povo americano – e nem sequer pretende tentar”, escreveu Mattis. “Estamos assistindo às consequências de três anos desse esforço deliberado”, continuou ele, conclamando os americanos a se unirem “sem ele, captando energia” da sociedade civil e recusando tentativas de criar uma divisão artificial entre militares e civis.

A tendência de rejeição a Trump é reforçada por projeções que apontam a manutenção de folgada maioria dos democratas na Câmara dos Representantes e uma possível mudança do mando no Senado, hoje sob controle dos republicanos por uma margem de três em cem cadeiras.

A se confirmarem, as implicações do atual panorama eleitoral são obviamente negativas para o governo Bolsonaro, que julga ter em Trump um aliado ao quem devota uma lealdade capacha, não correspondida. Diante disso, o que esperar de um governo Biden? Membros da assessoria internacional do candidato democrata mal disfarçam sua repulsa ao presidente brasileiro e ao que ele representa em dois temas, nos quais o País se isolou de seus aliados tradicionais nas democracias da Europa e das Américas: 1) democracia e direitos humanos e 2) preservação da Amazônia e política climática. A postura americana ficou visível na carta que a maioria democrata da Comissão de Orçamento da Câmara dirigiu recentemente à Casa Branca fechando a porta a acordos comerciais com o Brasil.

Eleito Biden, a postura da Casa Branca certamente será moderada pelos interesses políticos e econômicos dos EUA, que incluem a preocupação de não alienar o Brasil na disputa pelo poder global que Washington trava com Pequim. Na prática, isso significa privilegiar relações com governos estaduais, entidades cívicas, associações empresariais, universidades e as relações entre empresas, especialmente nas áreas de saúde, educação e tecnologia. Mas o Brasil ficará no fim da fila enquanto Bolsonaro estiver no Planalto.

Bolsonaro usa ‘povo’ como escudo na briga com Supremo

Presidente prepara reação contra decisões da Corte consideradas desfavoráveis ao governo, informa Vera Rosa em artigo para O Estado de São Paulo

A cerimônia de posse do ministro das Comunicações, Fábio Faria, nesta quarta-feira, 17, serviu para o presidente Jair Bolsonaro usar novamente o escudo do “povo”, na tentativa de blindar o governo. No dia do julgamento da validade do inquérito das fake news e 24 horas depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizar a quebra de sigilo bancário de dez deputados e um senador bolsonaristas, o presidente fez um discurso com endereço certo.

“Não são as instituições que dizem o que o povo deve fazer. É o povo que diz o que as instituições devem fazer”, afirmou ele, sob aplausos, em solenidade no Palácio do Planalto. Sentado a poucos metros de Bolsonaro, o presidente do STF, Dias Toffoli, foi o único ali que não aplaudiu de início, mas acabou se rendendo.

Do outro lado da Praça dos Três Poderes, naquele momento, Alexandre de Moraes votava pela legalidade do inquérito das fake news, aberto em março de 2019 para investigar a disseminação de ofensas, calúnias e notícias falsas contra magistrados da Corte. “Liberdade de expressão não se confunde com ameaça, com coação, com atentado. Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, (...) não é liberdade de destruição da democracia, das instituições e da honra alheia”, argumentou Moraes.

Bolsonaro diz haver “perseguição de ideias”, fala em “abusos” e lança ameaças, sempre usando o carimbo das Forças Armadas, que ainda desfrutam de boa imagem na sociedade. O Estadão apurou que a reação preparada por Bolsonaro será um recurso da Advocacia Geral da União (AGU) contra decisões do Supremo consideradas desfavoráveis ao governo.

Bolsonaro usa ‘povo’ como escudo na briga com Supremo

O presidente Jair Bolsonaro e o presidente do STF, o ministro Dias Toffoli, durante posse do novo ministro das Comunicações, Fábio Faria Foto: Gabriela Biló/Estadão

“Eu não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. (...) Então, está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”, insistiu o presidente, também nesta quarta, ao se reunir com apoiadores  no Palácio da Alvorada. O comentário foi feito antes da posse de Fábio Faria.

Diante de uma plateia formada por autoridades com máscaras, o novo ministro das Comunicações chegou a pregar um “armistício patriótico”, sob o argumento de que é preciso deixar a “arena eleitoral” para 2022 e focar no combate à pandemia do coronavírus. “É hora de pacificar o País”, disse Faria, sob olhares atentos de Toffoli e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também presente à cerimônia.

Os discursos, porém, contrastam com as ações de Bolsonaro e da ala ideológica do governo. Agora, o próprio presidente define como “problema” o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que chamou ministros do Supremo de “vagabundos”.  Nesta quarta, por 9 votos a 1, a Corte decidiu manter Weintraub na mira do inquérito das fake news, o que faz sua permanência na equipe ter os dias contados.

Os generais querem a saída de Weintraub para “pacificar” o ambiente, mas os filhos de Bolsonaro e o escritor Olavo de Carvalho ainda buscam uma saída honrosa para o amigo militante.

No meio da balbúrdia, termo usado pelo próprio Weintraub em passado não muito distante, Renan Sena,  ex-funcionário terceirizado do Ministério dos Direitos Humanos, defendeu aos berros o titular da Educação. Em ato nas imediações do MEC, nesta terça, o militante bolsonarista disse que o general Braga Netto, chefe da Casa Civil, precisa “calar a boca” e  Eduardo Pazuello, ministro interino da Saúde, deveria “puxar uma carroça”.

“Nos deixem salvar essa Nação do comunismo, dessa ditadura comunista do Judiciário”, esbravejou o homem que foi detido após ser identificado como autor dos disparos de fogos de artifício na direção do Supremo, no sábado, 13. Naquela noite, o bolsonarista se referiu aos magistrados como “bandidos” e aos parlamentares como  “vagabundos” do Congresso. Em maio, Renan  também xingou enfermeiras e empurrou uma delas durante ato em homenagem a profissionais de saúde mortos pelo coronavírus. Detalhe: a expressão “ditadura comunista” citada pelo ex-funcionário do governo é usada com frequência pelo presidente.

Com as investigações cada vez mais fechando o cerco sobre o Planalto, o que mais surpreendeu Bolsonaro, nos últimos dias, foi a ação do procurador-geral da República, Augusto Aras, nome que recentemente figurou até mesmo na sua lista de cotados para ocupar uma cadeira no Supremo. Foi a pedido da PGR que Moraes autorizou a quebra do sigilo bancário de aliados do chefe do Executivo.

A medida abrange um período amplo, podendo chegar às fake news da campanha de 2018.  Atualmente, há oito ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para cassar a chapa Jair Bolsonaro-Hamilton Mourão e 35 pedidos de impeachment contra o presidente, na Câmara. Diante de tanta crise, o Centrão atuará como poder moderador?

Vera Rosa, O Estado de S.Paulo
17 de junho de 2020 | 15h08

"As Forças Armadas não são milícias do presidente da República", diz Gilmar Mendes

Para ministro do STF, militares estão fazendo autocrítica em meio a "desgastante" crise de saúde e podem vir a se distanciar publicamente de Bolsonaro. Instituições vivem "estresse" inédito desde 1988, avalia.

   
Gilmar Mendes

"Bolsonaro é uma alma torturada", disse Gilmar Mendes em entrevista à DW Brasil

A aproximação entre os militares e o governo federal promovida pelo presidente Jair Bolsonaro começa a dar sinais de desgaste para as Forças Armadas, e integrantes da caserna preocupados com seu papel institucional já percebem o fenômeno e começam a fazer uma autocrítica interna. A avaliação é do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que se reuniu na última semana com o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, para "abrir um canal de conversa".

Em entrevista à DW Brasil concedida em seu gabinete nesta terça-feira (16/06), o ministro disse considerar possível que militares do Alto Comando venham a público afirmar seu distanciamento do governo. "Saíram pesquisas que indicam que está havendo uma identificação entre as Forças Armadas e o governo Bolsonaro, em tom negativo. Acho que isso vai se perceber. No caso da Saúde, está sendo altamente desgastante", diz. "Tenho dito que as Forças Armadas não são milícias do presidente da República, nem de força política que o apoie."

Ao mesmo tempo, Mendes colocou em dúvida a autoridade do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, para falar em nome dos militares. Na última sexta-feira, Bolsonaro divulgou uma nota, também assinada por Azevedo e pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmando que as Forças Armadas "não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos" – há ações sob análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pedem a cassação da chapa eleita em 2018 e diversos pedidos de impeachment do presidente foram apresentados à Câmara.

"O que há de impróprio nessa nota é invocar as Forças Armadas, cujos comandantes não têm falado, e quando sugerem alguma ação, não é nesse sentido. […] A mim parece que aqui há uma impropriedade quando dizem que as Forças Armadas não farão nenhuma intervenção, mas, ao mesmo tempo, eles falam em nome das Forças Armadas. Com que autoridade? [...] Muitas das interpretações que foram dadas pelo Ministério da Defesa não parecem que são subscritas pelas Forças Armadas", diz.

Questionado se as instituições brasileiras atravessam uma fase de degradação, Mendes afirma que elas estão funcionando normalmente, ainda que sob "estresse" inédito desde a Constituição de 1988. "O governo tem dificuldade de dialogar, não só conosco, mas com o próprio Congresso Nacional. E gostaria que as coisas funcionassem a partir de uma certa atemorização. Mas isso não funciona", afirma.

Segundo Mendes, o presidente do STF, Dias Toffoli, tentou construir um diálogo amistoso com o governo desde o final de 2018 para evitar "rusgas" entre Executivo e Judiciário, mas percebeu a necessidade de ser mais enfático após o ataque com fogos de artifício realizado por apoiadores de Bolsonaro contra o prédio do Supremo no último sábado.

DW Brasil: As instituições brasileiras passam por um processo de degradação ou estão funcionando normalmente?

Gilmar Mendes: Estamos vivendo momentos de estresse que não tínhamos experimentado sob a Constituição de 88. Passamos por várias crises, dois impeachments presidenciais, julgamentos complexos como o mensalão, mas não tivemos um estresse tão intenso como este. Isso decorre das peculiaridades do governo eleito.

O presidente se elegeu numa onda, que somou pessoas da direita, talvez da centro-esquerda, todos aqueles que queriam derrotar o PT, e também alguns extremistas, que tinham mensagens de volta à ditadura, de intervenção militar. Esse grupo tem sido um elemento perturbador. Cobra do presidente, e o presidente os considera porque são ativistas da rede. Neste ano, depois da pandemia, os atritos se agravaram muito, [assim como] a presença do presidente em manifestações antidemocráticas.

Temos cumprido nosso papel, fazendo o controle de constitucionalidade, aprovamos muitas medidas, também reprovamos algumas relevantes. Tem havido também algum problema com o Congresso, como a medida provisória que permitia a nomeação de reitores temporariamente enquanto durasse [a pandemia], devolvida pelo presidente do Congresso.

Há uma decisão da qual o presidente reclama muito, que é a questão do papel da União no concerto federativo [para o combate à pandemia]. O Supremo sugeriu que houvesse um trabalho conjunto, como já acontece hoje com o SUS, e enfatizou que a responsabilidade em cada local seria dos governadores e dos prefeitos. Isso levou o presidente a dizer que "vocês estão esvaziando a minha caneta", porque a preocupação dele era a ideia de voltar com a economia, encerrar com o isolamento. Isso explica muitos dos ataques que o tribunal têm sofrido, mas foi fundamental porque foi o que ajudou a manter, ainda em grau razoável, o isolamento.

Temos também o inquérito das fake news, que vem desde o ano passado e cujo responsável pela condução está tomando providência. Isso bate em fraturas existentes no governo, na base governamental e no partido do governo, porque sugere-se que há práticas de fake news, financiamentos, indevidos de fake news e coisas do tipo.

O sr. não vê degradação então?

As instituições estão funcionando, com esse permanente estresse: ataques, manifestações, acampamentos, o episódio dos fogos, a história das tochas. Mas estamos funcionando na normalidade. As ordens judiciais estão sendo cumpridas. O Congresso Nacional tem aceito medidas e rejeitado medidas. As instituições não se atemorizaram por conta de ameaças, e os órgãos de controle estão exercendo as suas funções.

O sr. tem postado mensagens no Twitter com a hashtag #DitaduraNuncaMais. O sr. vê hoje alguma ameaça à democracia?

Porque a toda hora nesses grupamentos há a defesa da intervenção militar, artigo 142 [da Constituição]. Está no texto constitucional que os militares podem atuar para preservar a lei e a ordem a pedido de qualquer dos poderes. E isso tem sido utilizado ao longo dos anos, se você olhar nas crises com as polícias dos estados, greves, motins. Agora, eles passaram a dar uma interpretação do artigo 142 que tem a ver com uma abordagem que não se coloca. O [ex-]presidente Fernando Henrique [Cardoso], que foi autor, junto com o senador [José] Richa, desse texto, diz que não tem nenhuma conotação de permitir que as Forças Armadas sejam árbitro no conflito entre Poderes. Mas se usa isso para tentar amedrontar e constranger as instituições. Houve aquele episódio em que o presidente foi a uma manifestação em frente ao quartel-general [do Exército] e, em função disso, abriu-se um inquérito no Supremo Tribunal Federal. E hoje o ministro Alexandre [de Moraes] tomou medidas nesse sentido, quebrou o sigilo, está fazendo busca e apreensão.

Os alvos de buscas e apreensões desta terça são pessoas próximas do presidente, que o apoiam e financiam o partido que ele pretende criar. Qual a opinião do sr. sobre a participação do presidente em atos considerados antidemocráticos?

Já tive oportunidade, numa conversa que tive com ele, de dizer que ele não deveria comparecer a essas manifestações que ecoam mensagens antidemocráticas, como de fechamento do Congresso ou do Supremo Tribunal Federal. Mas ele acaba comparecendo, como vimos naquela em que ele veio de helicóptero, desceu, tomou um cavalo da polícia para andar. Ele faz para manter esse jogo de ambiguidade, de alguma forma quer cultivar os seus aliados. Essas manifestações vêm tendo participação reduzida. Acaba tendo repercussão na mídia porque o presidente participa, mas, a rigor, estão cada vez mais esvaziadas. Por outro lado, estão surgindo movimentos de defesa da democracia, como nós vimos há duas semanas em São Paulo, movimentos expressivos. Entendo que as instituições são resilientes e vão se fortalecer. Mas é inegável que há esse elemento de estresse.

Em decisão recente, o ministro Fux afastou a interpretação de que o artigo 142 autorizaria as Forças Armadas a atuarem como Poder Moderador. Depois disso, na sexta-feira (12/06), Bolsonaro divulgou uma nota, também assinada pelo vice-presidente, Hamilton Mourão, e pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, afirmando que as Forças Armadas "não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos". Como o sr. interpretou essa nota?

Tenho a impressão de que se tenta constranger os Poderes, mas isso não tem inibido nenhuma ação. Ainda há pouco, o ministro [Luís Roberto] Barroso, que preside o TSE, disse que o TSE fará o que tem que fazer. Não vejo nenhum efeito. O que há de impróprio nessa nota é invocar as Forças Armadas, cujos comandantes não têm falado, e quando sugerem alguma ação, não é nesse sentido. Tenho dito que as Forças Armadas não são milícias do presidente da República, nem de força política que o apoie. A mim parece que aqui há uma impropriedade quando dizem que as Forças Armadas não farão nenhuma intervenção mas, ao mesmo tempo, eles falam em nome das Forças Armadas. Com que autoridade?

O Ministro da Defesa foi um dos que assinaram essa nota.

Pois é. Mas já tivemos casos em que o ministro da Defesa assinou nota em nome das Forças Armadas e depois teve que dizer que estava fazendo em nome próprio.

O sr. se encontrou na semana passada com o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol. Como foi a conversa?

Me preocupei porque há versões entre os militares de que as instituições impedem o presidente de governar. Me preocupei em explicar as decisões e por que têm sido tomadas. Temos uma relação com os militares há muitos anos, e era importante explicar, por exemplo, sobre a questão federativa, e abrir um canal de conversa nesse sentido. Muitas das interpretações que foram dadas pelo Ministério da Defesa não parecem que são subscritas pelas Forças Armadas.

Essa foi a impressão do sr. dessa conversa?

A impressão geral é essa. O governo tem dificuldade de dialogar, não só conosco, mas com o próprio Congresso Nacional. E gostaria que as coisas funcionassem a partir de uma certa atemorização. Mas isso não funciona. O país é muito complexo e tem uma economia muito diversificada. E tem instituições fortes que vêm funcionando ao longo de anos, de uma maneira normal.

Há cerca de três mil militares atuando no governo. Como o senhor avalia essa aproximação das Forças Armadas com o Executivo?

Num primeiro momento, isso era um pouco natural, porque o Bolsonaro vocalizava os pleitos corporativos dos militares, era natural que fosse buscar nos quadros das Forças Armadas pessoas para ajudar a compor o governo. Em todos os governos temos tido militares, mas não nessa dimensão, como hoje na cúpula do Ministério da Saúde. Isso obviamente passa a ser um problema e traduz um tipo de identidade. No caso do Ministério da Saúde há uma questão muito séria, o presidente teve dois ministros substituídos, tem este que é provisório, general da ativa, que estava cumprindo ordens como a de retirar as informações básicas sobre o número de mortes a cada dia, que acabaram tendo que ser restabelecidas, por ordem judicial do Supremo.

Além do ministro interino da Saúde, o general Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, também é da ativa. Nos Estados Unidos, o chefe do Estado Maior, general Mark Milley, pediu na semana passada desculpas por ter participado de um ato com Donald Trump, e deixou claro que as Forças Armadas não devem se envolver na política interna daquele país. Devemos esperar que os generais da ativa no Brasil façam o mesmo?

Acho que isso vai ocorrer, acho que que os próprios militares estão percebendo isso. Estão fazendo uma autocrítica. Recentemente saíram pesquisas que indicam que está havendo uma identificação entre as Forças Armadas e o governo Bolsonaro, em tom negativo. Acho que isso vai se perceber. No caso da Saúde, está sendo altamente desgastante. O governo federal está tendo uma atuação claudicante no que diz respeito ao combate à covid-19, e a responsabilidade irá para quem tem a gestão, para o próprio presidente da República e para os militares que lá estão. Certamente aqueles que têm a preocupação com o papel das Forças Armadas, com seu papel institucional, estão vendo criticamente esse desenvolvimento.

O cientista político Christian Lynch, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, afirmou em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta terça-feira (16/06) que os militares no governo em breve se darão conta de que o projeto que defendem só será viável sem Bolsonaro, e que, quando isso acontecer, negociarão com parlamentares e juízes uma saída que passará pelo vice Mourão. O sr. acha que isso pode acontecer?

Não sei se isso é cogitável. O nosso esforço é no sentido de uma normalização institucional, redução dos conflitos. Vários autores que estudam a ciência política dizem que Bolsonaro substituiu o chamado presidencialismo de coalizão por um presidencialismo de colisão, de conflito. E isso tem que ser reduzido.

Há relação entre a Operação Lava Jato e a eleição de Bolsonaro?

As operações de combate à corrupção afetaram o sistema político como um todo, e a Lava Jato teve papel de centralidade. Permitiu que houvesse uma disputa entre o PT, que continuou forte e orgânico, contra isto que se consolidou. A vitória de Bolsonaro se explica nesse sentido, ele acabou galvanizando os grupos que já representava, mas certamente todos aqueles que repudiavam o PT, os métodos, a corrupção. E é notório que o próprio juiz [Sergio] Moro tomou medidas, por exemplo a revelação de depoimentos do [Antonio] Palocci. A Lava Jato tomou partido. E se faltasse alguma explicação, Moro veio a integrar o governo Bolsonaro. Se há um candidato do lava-jatismo, certamente é Bolsonaro.

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo publicada no sábado (13/06) que a vitória de Bolsonaro foi resultado do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas também da decisão do sr. que impediu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumisse a Casa Civil em 2016.

Ele está totalmente equivocado em relação a isso. É o famoso "se" na história. Se Lula tivesse se tornado ministro, ele teria conseguido reverter o impeachment? Ninguém sabe, muito provavelmente não. Mas depois tivemos um governo bastante normal do presidente [Michel] Temer, até de ampla coalizão, que sofreu ataques dessas forças de combate à corrupção, da repressão, o episódio [Rodrigo] Janot, Joesley [Batista]. Mas que no ambiente político aprovou uma PEC que colocou um limite para os gastos, normalizou a economia, solucionou o problema da depressão econômica. Foi um governo que conseguiu que o país voltasse a um estado de normalidade em termos econômicos e políticos. Tem muito "se" na história. [Por exemplo] a facada. O Bolsonaro tinha um minuto de televisão [por dia], talvez menos, e passou a ter 24 horas com a facada.

Como o sr. avalia hoje essa decisão que tomou sobre Lula?

Foi a decisão correta tendo em vista as informações distribuídas naquele momento, de que se estava nomeando o ex-presidente para lhe dar o foro. Tem aquela conversa que é divulgada da Dilma com o Lula, dizendo que sua posse estava sendo antecipada. Essa foi a apreensão que se teve, que era notório que se estava usando a nomeação para protegê-lo do processo criminal.

A presidência do ministro Dias Toffoli no Supremo termina em setembro. Desde o final de 2018, ele fez movimentos para se aproximar dos militares e do governo. Um deles foi nomear o general da reserva Fernando Azevedo como seu assessor, que depois se tornou ministro da Defesa, e recentemente sobrevoou a Praça dos Três Poderes ao lado do presidente, em um helicóptero, para saudar uma manifestação com bandeiras antidemocráticas. Mas no último domingo (15/06) Toffoli divulgou uma nota dura, dizendo que "integrantes do próprio Estado" estão estimulando ataques à Corte e que o Supremo "jamais se sujeitará" a nenhum tipo de ameaça. Como o sr. avalia esses movimentos do presidente do Tribunal?

O ministro Toffoli tentou ter esse diálogo desde o início, e tanto quanto possível evitar rusgas, estresse. Mas nesses últimos tempos o estresse aumentou, e o próprio ministro Toffoli se viu na contingência de ter que ser mais enfático. Certamente ele vinha tendo conversas de bastidores, levando sua preocupação, porque ninguém está interessado num estado de conflito permanente.

Eu mesmo estive com o presidente em março, quando fiz um reparo sobre uma manifestação contra o isolamento social. E ele reclamou da politização do debate, reclamou dos governadores. Ele estava atordoado. Tinha um governo que aparentemente estava caminhando para um crescimento econômico e se viu abalroado. Achava que o remédio, que era o isolamento social, matava o doente. Eu o achei uma alma torturada, um indivíduo que parecia muito só.

Fonte: Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha. Jornalismo independente em 30 idiomas.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Entenda inquérito do STF sobre manifestações antidemocráticas

Ministro do STF Alexandre de Moraes mandou instaurar investigação após protesto contra o Supremo, o Congresso e em defesa da ditadura militar. Apoiadores de Bolsonaro foram alvos de busca e apreensão, e integrantes de grupo que fez protestos foram presos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu em em 21 de abril, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, um inquérito para apurar a organização de atos contra a democracia no país. Em 16 de junho, a PF foi às ruas para cumprir 26 mandados de busca e apreensão em 5 estados e no Distrito Federal.

Dentre os alvos, estavam o publicitário Sérgio Lima e o empresário Luís Felipe Belmonte. Os dois são ligados ao Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro quer criar. O deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), bolsonarista, também foi alvo.

Também em 16 de junho, Alexandre de Moraes determinou a quebra dos sigilos bancários de dez deputados e um senador bolsonaristas. São os seguintes:

Alê Silva, deputada (PSL-MG)
Aline Sleutjes, deputada (PSL-PR)
Arolde de Oliveira, senador (PSD-RJ)
Bia Kicis, deputada (PSL-DF)
Carla Zambelli, deputada (PSL-SP)
Caroline de Toni, deputada (PSL-SC)
Daniel Silveira, deputado (PSL-RJ)
General Girão, deputado (PSL-RN)
Guiga Peixoto, deputado (PSL-SP)
Junio Amaral, deputado (PSL-MG)
Otoni de Paula, deputado (PSC-RJ)

No dia anterior, em 15 de junho, como parte da investigação, a extremista Sara Giromini, chefe do grupo 300 do Brasil, também de apoio a Jair Bolsonaro, foi presa.

O que motivou a abertura do inquérito

O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a abertura da investigação após atos realizados em 19 de abril em todo o país. Os protestos tinham entre os manifestantes defensores do fechamento do Congresso, do STF e da reedição do AI-5, o ato institucional que endureceu o regime militar.

O caso tem deputados federais entre os alvos, o que justifica a competência do STF para a apuração. O próprio presidente Jair Bolsonaro discursou em um dos protestos, em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Bolsonaro, no entanto, não está entre os alvos definidos pela PGR.

Esta investigação é diferente do que ficou conhecido como "inquérito das fake news", que apura "notícias fraudulentas", ofensas e ameaças que "atingem a honorabilidade e a segurança" do STF, de seus membros e de familiares.

Investigação busca quem financia protestos

Ao determinar a abertura do inquérito sobre os atos antidemocráticos, o ministro Alexandre de Moraes informou ser “imprescindível a verificação da existência de organizações e esquemas de financiamento de manifestações contra a Democracia". Ele também citou entre as ilegalidades investigadas a "divulgação em massa de mensagens atentatórias ao regime republicano, bem como as suas formas de gerenciamento, liderança, organização e propagação".

Mandados de busca e apreensão

Um dia após a prisão de Sara Giromini e mais 5 pessoas por suspeita de captação de recursos para realizar atos antidemocráticos e de crimes contra a Lei de Segurança Nacional, a Polícia Federal deflagrou operação para cumprir 21 mandados de busca e apreensão.

Os mandados foram cumpridos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina e Distrito Federal. Dentre os alvos, estavam o publicitário Sérgio Lima e o empresário Luís Felipe Belmonte. Os dois são ligados ao Aliança pelo Brasil, partido que o presidente Jair Bolsonaro pretende criar.

Também foram alvos o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), aliado do presidente Jair Bolsonaro, e Allan Santos, dono do canal Terça Livre na internet, também apoiador do presidente.

Captação de recursos para atos

Em 15 de junho, quando Sara Giromini e outras 5 pessoas foram presas, a investigação os apontava como suspeitos de organizar e captar recursos para atos antidemocráticos e de crimes contra a Lei de Segurança Nacional. Todos são integrantes do grupo 300 do Brasil.

O que é o grupo 300 do Brasil

Acampamento de apoiadores de Jair Bolsonaro em Brasília, em foto de maio de 2020 — Foto: Afonso Ferreira/G1

Acampamento de apoiadores de Jair Bolsonaro em Brasília, em foto de maio de 2020 — Foto: 
Afonso Ferreira/G1

O 300 do Brasil é uma organização formada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que estava entre os que realizaram protestos de cunho antidemocrático nos últimos meses no país. O grupo chegou a formar um acampamento na Esplanada dos Ministérios, que foi desfeito em ação do governo do Distrito Federal. Policiais militares chegaram a usar spray de pimenta para retirar os manifestantes do local.

O Ministério Público do Distrito Federal havia solicitado que o acampamento fosse desmontando, alegando que o movimento se tratava de uma "milícia armada". A Procuradoria citou reportagem da BBC na qual Sara Giromini reconhece a existência de armas entre os participantes que estavam no local. Segundo a reportagem, Sara afirmara que o armamento se prestaria à “proteção dos próprios membros do acampamento”.

O MP apontou em ação civil pública ajuizada para desmobilizar o acampamento do 300 do Brasil que as mensagens postadas pelo grupo para a convocação de manifestações remetem à "inafastável conclusão de que se está diante de uma organização paramilitar, independente do nome que se lhe queira dar".

A Promotoria citou como exemplo as seguintes mensagens postadas pelo grupo em redes sociais:

“Você não é mais um militante, você é um militar...”; “Traga o que você levaria para uma guerra na selva. Te esperamos para a guerra!”; “Vista roupa adequada para um treinamento físico de combate!”. Também foi citada a confissão da existência de armas dentro do acampamento.

Manifestações antidemocráticas

Sara Giromini durante ato 'Chamas da Liberdade', do grupo 300 do Brasil, em frente ao Supremo Tribunal Federal, Brasília, em 30 de maio — Foto: Wallace Martins/Futura Press/Estadão Conteúdo

Sara Giromini durante ato 'Chamas da Liberdade', do grupo 300 do Brasil, em frente ao Supremo Tribunal Federal, Brasília, em 30 de maio — Foto: Wallace Martins/Futura Press/Estadão Conteúdo

Nos últimos meses, várias manifestações de cunho antidemocrático foram realizadas pelo país. Em 13 de junho, cerca de 30 apoiadores do presidente Bolsonaro lançaram fogos de artifícios contra o prédio do STF. Na ação, que durou menos de cinco minutos, foram feitos xingamentos contra ministros da Corte, inclusive o presidente Dias Toffoli. Em tom de ameaça, perguntavam se os ministros tinham entendido o recado e mandaram que eles se preparassem.

Em 31 de maio, manifestantes haviam feito atos segurando tochas e máscaras brancas, também em frente ao STF. Em redes sociais, internautas lembraram que tochas e máscaras são elementos marcantes em atos do grupo supremacista branco Ku Klux Klan, também conhecido como KKK, nos Estados Unidos.

Outros atos antidemocráticos que se espalharam pelo país ocorreram em diferentes fins de semana e incluíam carreatas e passeatas com faixas que continham frases contra o Supremo, o Congresso e em defesa de uma intervenção militar. O presidente Bolsonaro participou de alguns desses atos, contrariando, inclusive, as recomendações de autoridades internacionais de distanciamento social em meio à pandemia do novo coronavírus.

Em 31 de maio, Bolsonaro sobrevoou de helicóptero uma manifestação em Brasília e acenou para os manifestantes. Em seguida, ele andou a cavalo entre os manifestantes, que defendiam o seu governo. Em 19 de abril, ele discursou em ato do mesmo tipo, também em Brasília, no Setor Militar Urbano.

Fonte: G1
15/06/2020 12h35  Atualizado há uma hora

Enquanto isso, o Brasil tem 44.657 mortes por coronavírus

A primeira morte por Covid-19 no Brasil completa 3 meses nesta terça-feira (16). País passa de 900 mil casos confirmados da doença.

O Brasil tem 44.657 mortes por coronavírus confirmadas até as 13h desta terça-feira (16), aponta um levantamento feito pelo consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde.

O consórcio divulgou na segunda (15), às 20h, o oitavo balanço, com os dados mais atualizados das secretarias estaduais naquele momento. Depois desse balanço, CE, DF, GO, MG, MS, PE, RR e SP divulgaram novos dados.

Veja os dados atualizados às 13h desta terça-feira (16):

44.657 mortes
904.734 casos confirmados
(Na segunda, 15, às 20h, o balanço indicou: 44.118 mortes, 729 nas últimas 24 horas; e 891.556 casos confirmados. Depois disso, CE, DF, GO, MG, MS, PE, RR e SP divulgaram novos dados)

Os dados foram obtidos após uma parceria inédita entre G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL, que passaram a trabalhar de forma colaborativa para reunir as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal.

O objetivo é que os brasileiros possam saber como está a evolução e o total de óbitos provocados pela Covid-19, além dos números consolidados de casos testados e com resultado positivo para o novo coronavírus.

A primeira morte por Covid-19 no Brasil completou três meses nesta terça-feira (16). A vítima foi um homem de 62 anos que estava internado em São Paulo.

Parceria

A parceria entre os veículos de comunicação foi feita em resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia da Covid-19. Personalidades do mundo político e jurídico, juntamente com entidades representativas de profissionais e da imprensa, elogiaram a iniciativa.

Mudanças feitas pelo Ministério da Saúde na publicação de seu balanço da pandemia reduziram por alguns dias a quantidade e a qualidade dos dados. Primeiro, o horário de divulgação, que era às 17h na gestão do ministro Luiz Henrique Mandetta (até 17 de abril), passou para as 19h e depois para as 22h. Isso dificultou ou inviabilizou a publicação dos dados em telejornais e veículos impressos. “Acabou matéria no Jornal Nacional”, disse o presidente Jair Bolsonaro, em tom de deboche, ao comentar a mudança.

A segunda alteração foi de caráter qualitativo. O portal no qual o ministério divulga o número de mortos e contaminados foi retirado do ar na noite da quinta-feira (4). Quando retornou, depois de mais de 19 horas, passou a apresentar apenas informações sobre os casos “novos”, ou seja, registrados no próprio dia. Desapareceram os números consolidados e o histórico da doença desde seu começo. Também foram eliminados do site os links para downloads de dados em formato de tabela, essenciais para análises de pesquisadores e jornalistas, e que alimentavam outras iniciativas de divulgação.

Entre os itens que deixaram de ser publicados estão: curva de casos novos por data de notificação e por semana epidemiológica; casos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica; mortes por data de notificação e por semana epidemiológica; e óbitos acumulados por data de notificação e por semana epidemiológica.

No domingo (7), o governo anunciou que voltaria a informar seus balanços sobre a doença. Mas mostrou números conflitantes, divulgados no intervalo de poucas horas.

Nesta segunda-feira (16), mais uma vez o Ministério da Saúde divulgou os dados completos, obedecendo a ordem do STF. Segundo a pasta, houve 627 novos óbitos e 20.647 novos casos, somando 43.959 mortes e 888.271 casos desde o começo da pandemia – números totais menores que os apurados pelo consórcio.

Fonte: Por G1
16/06/2020 13h00  Atualizado há 4 horas

Ministro do Supremo quebra sigilos de dez deputados e um senador, todos bolsonaristas

Decisão foi tomada no último dia 27 no âmbito da investigação que corre no Supremo Tribunal Federal para apurar a organização e financiamento de atos antidemocráticos

       

Os deputados federais Daniel Silveira (PSL-RJ), Junio do Amaral (PSL-MG), Otoni de Paula (PSC-RJ), Caroline de Toni (PSL-SC), Carla Zambelli (PSL-SP), Alessandra da Silva Ribeiro (PSL-MG), Beatriz Kicis (PSL-DF), General Girão (PSL-RN), José Guilherme Negrão Peixoto (PSL-SP) e Aline Sleutjes (PSL-PR). Fotos: Reprodução/Câmara dos Deputados

Dez deputados e um senador, todos bolsonaristas, tiveram os sigilos fiscais quebrados por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no inquérito que apura a organização de financiamento de atos antidemocráticos. A informação foi obtida pela Estadão nesta terça, 16. A decisão do ministro, que conduz as investigações, foi tomada no dia 27 de maio.

Moraes também determinou que YouTube, Facebook e Instagram prestem informações se as páginas mantidas pelos alvos da operação recebem algum tipo de pagamento por cada postagem. Um dos objetivos da investigação é apurar se as convocações de atos antidemocráticos e as postagens contra as instituições são ou não remuneradas.

Veja a lista:

Daniel Silveira, deputado federal (PSL-RJ)

Junio do Amaral, deputado federal (PSL-MG)

Otoni de Paula, deputado federal (PSC-RJ)

Caroline de Toni, deputada federal (PSL-SC)

Carla Zambelli, deputada federal (PSL-SP)

Alê Silva, deputada federal (PSL-MG)

Beatriz Kicis, deputada federal (PSL-DF)

General Girão, deputado federal (PSL-RN)

José Guilherme Negrão Peixoto, deputado federal (PSL-SP)

Aline Sleutjes, deputada federal (PSL-PR)

Arolde de Oliveira, senador (PSC-RJ)


O senador Arolde de Oliveira (PSC-RJ), que também teve o sigilo quebrado por determinação de Alexandre de Moraes. Foto: Reprodução/Senado Federal

As diligências do inquérito, aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), começaram a andar na segunda-feira, 15, quando a Polícia Federal deu início ao cumprimento de seis mandatos de prisão contra integrantes do grupo bolsonarista ‘300 do Brasil’. Uma de suas lideranças, a extremista Sara Fernanda Giromini, foi presa ontem.

De acordo com a PGR, uma linha de apuração é que os investigados teriam agido articuladamente com parlamentares para “financiar e promover atos que se enquadram em práticas tipificadas como crime pela Lei de Segurança Nacional”.

Nesta terça, uma força-tarefa voltou às ruas para fazer buscas e apreensões em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina e no Distrito Federal. Entre os alvos da ação de hoje estão o deputado federal bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), que está na lista dos que tiveram sigilo fiscal quebrado, o blogueiro Allan dos Santos, o empresário e advogado Luís Felipe Belmonte, principal operador político do Aliança pelo Brasil, o publicitário Sérgio Lima, marqueteiro do partido que o presidente Jair Bolsonaro tenta criar, e o investidor Otavio Fakhoury, financiador do site Crítica Nacional. A ofensiva mira ainda youtubers bolsonaristas.

Alexandre de Moraes também é responsável por um outro inquérito, que se debruça sobre ameaças, ofensas e fake news disparadas contra integrantes do STF e seus familiares. Como Moraes é relator dos dois processos, um inquérito está subsidiando as investigações do outro.

Ao determinar a abertura do inquérito em abril deste ano, Moraes alegou que é imprescindível a “verificação da existência de organizações e esquemas de financiamento de manifestações contra a democracia e a divulgação em massa de mensagens atentatórias ao regime republicano, bem como as suas formas de gerenciamento, liderança, organização e propagação que visam lesar ou expor a perigo de lesão os direitos fundamentais, a independência dos poderes instituídos e ao Estado Democrático de Direito, trazendo como consequência o nefasto manto do arbítrio e da ditadura”.

Na época, ao encaminhar à Corte o pedido de investigação, o procurador-geral da República, Augusto Aras, mencionou os nomes dos deputados federais Daniel Silveira (PSL-RJ) e Junio Amaral (PSL-MG). A apuração foi aberta após a realização de uma série de atos antidemocráticos em abril, que contaram inclusive com a participação do presidente Jair Bolsonaro.

Facebook e Instagram informaram ao Estadão que ainda não foram notificados.

COM A PALAVRA, ALÊ SILVA

“Fui surpreendida. Eu nem sabia que eu estava envolvida nessa investigação. Jamais pensei que estaria envolvida. Fiquei sabendo através da imprensa, não tenho nenhuma informação concreta sobre isso. Sou uma pessoa muito simples, tenho vivido exclusivamente do meu salário, pago as minhas continhas, tenho ajudado entidades assistenciais. Sei dizer exatamente cada centavo que entrou e saiu da minha conta, acho até que eles não precisavam ter quebrado sigilo, era só pedir. Estou bem tranquila”, disse a deputada.

COM A PALAVRA, BIA KICIS

“Mesmo com dengue e recomendação médica de repouso, estou há horas recebendo ligações de jornalistas pedindo minha manifestação sobre uma quebra de sigilo bancária por ordem do ministro Alexandre de Moraes, da qual não fui notificada. Se é real, como a imprensa sabe e eu e meus advogados não?”, questionou Bia Kicis no Twitter.

COM A PALAVRA, CARLA ZAMBELLI

“A assessoria de imprensa da deputada federal Carla Zambelli esclarece que a defesa da parlamentar não foi intimada a respeito de suposta quebra de sigilo bancário da deputada, não sabendo sequer em qual procedimento a referida decisão pode ter sido ultimada. Carla Zambelli afirma que “se alguém espera encontrar algo que me comprometa, terá uma grande decepção”.

COM A PALAVRA, JUNIO AMARAL

“Soube pela imprensa que meu sigilo bancário estaria sendo quebrado por haver indícios de financiamento a ‘atos antidemocráticos’. Eu pouco importo para o que verão lá, mas chegamos no extremo. Direitos e garantias fundamentais garantidos, salvo se apoiador do presidente”, disse o parlamentar.

COM A PALAVRA, OTONI DE PAULA

“Os ministros do STF atuam para tentar atingir todos aqueles que defendem o presidente Jair Bolsonaro. Não cometi nenhuma irregularidade e nenhum ato antidemocrático. A quebra dos meus dados bancários vai mostrar aos ministros do STF que não tenho nada a esconder, minha vida é pautada pela legalidade”, disse o deputado em nota enviada pela assessoria de imprensa.19:30 16/06/2020

Fonte: O Estado de São Paulo - Rayssa Motta e Fausto Macedo/SÃO PAULO, 
Rafael Moraes Moura e Camila Turtelli/BRASÍLIA - 16 de junho de 2020 | 17h38

Ordens absurdas

Bolsonaro é contra ‘ordens absurdas’, mas são dele as ordens e declarações mais absurdas. Leia aqui o artigo de Eliane Cantanhede, publicado n'O Estado de São Paulo hoje

Tem um probleminha a mais na nota em que o presidente Jair Bolsonaro fala em nome das Forças Armadas e avisa que elas não cumprem “ordens absurdas”: é exatamente dele, do presidente da República, que partem as ordens, os projetos, as decisões e as declarações mais absurdas.

Na campanha de 2018, o então deputado do baixo clero já exigia que a realidade e as pesquisas se adaptassem às suas vontades. Se não confirmavam o que ele achava que tinha de ser, acusava os institutos de fraude e só parou de brigar com eles quando a realidade e a sua vontade convergiram e sua candidatura disparou.

Na eleição, Bolsonaro e seu entorno disseram, ameaçadoramente, que só havia uma alternativa: a vitória ou a vitória. Só respeitariam o resultado se ele ganhasse; se perdesse, seria roubo. Um ano depois, já presidente, Bolsonaro fez algo nunca visto no mundo: acusou de fraude a eleição que ele próprio venceu. Acusou, mas não comprovou.

No governo, Bolsonaro manteve a toada. O desmatamento não é o que ele quer? Demite o presidente do Inpe. O desemprego não é conveniente? Cacetada no IBGE. Uma extensa pesquisa mostra que não há uma “epidemia de drogas” no País? Manda a Fiocruz engavetar. Atenção! Estamos falando de Inpe, IBGE e Fiocruz, orgulhos nacionais. 

A “ordem absurda” de Bolsonaro que mais teve consequências foi a demissão do diretor-geral da PF, para ele bisbilhotar diretamente as investigações contra filhos, amigos e aliados. Foi por dizer “basta!” e não acatar essa ordem que o ex-juiz Sérgio Moro saiu do governo e deixou uma investigação do Supremo contra Bolsonaro.

Dúvida: se as FA não cumprem “ordens absurdas”, o que dizer do general da ativa Eduardo Pazuello diante dos achismos do presidente na Saúde? O isolamento social salva vidas, mas não se fala nisso. A cloroquina foi descartada para a covid-19 até pela FDA dos EUA, mas no Brasil pode-se usar à vontade – inclusive os dois milhões de doses imprestáveis para americanos. Só faltava o presidente dar uma ordem absurda – e criminosa – para invadirem hospitais de campanha e mostrar que, ao contrário do que dizem a realidade e os governadores, estão vazios. Não falta mais! 

E que tal mudar a metodologia, e até o horário, de divulgação dos dados da pandemia (agora quase 45 mil mortos e um milhão de contaminados)? O presidente acha mais de mil mortos em 24 horas muito ruim para ele e a reeleição. Então, melhorem-se os números. O Brasil chocou o mundo, mas STF, Congresso, mídia e a comunidade médica e científica não engoliram o que Pazuello engoliu a seco. E o governo recuou.

Outra “ordem absurda”: para Abraham Weintraub passar por cima da Constituição e da autonomia universitária e nomear 25% dos reitores federais durante a pandemia. Ou seja: passar uma boiada, fazer caça às bruxas e acabar a “balbúrdia” nas universidades. Mas também não funcionou. As instituições gritaram, o Senado disse não e Bolsonaro revogou a MP relâmpago.

Na sequência, o governo divulgou o balanço da violência em 2019 e excluiu, ora, ora, os dados referentes à polícia, que crescem ano a ano. A alegação foi “inconsistência”, o que, ok, pode acontecer, mas o passado condena. O governo esconde números incômodos e os policiais são da base eleitoral e alvo de cooptação por Bolsonaro. Depois de desmatamento, desemprego, covid-19, emprego... foi só um erro técnico?

Bolsonaro está em meio agora a “ordens absurdas” com efeito bumerangue: foi ele quem nomeou Weintraub, que não trouxe nenhuma solução, só problemas. E foi ele quem deu a ordem para as FA não seguirem “ordens absurdas” e “julgamentos políticos” de outro Poder, o que remete ao imperial: “A Constituição sou eu”. Há controvérsias. E resistência.