Moraes diz haver 'verdadeira organização criminosa' que faz 'negociação espúria' para tentar intimidar o STF
O ministro Alexandre de Moraes, em sessão plenário do STF / Crédito: Antonio Augusto/STF
Alvo de sanções do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou, durante a abertura do segundo semestre do ano do Judiciário, que vai “ignorar as sanções aplicadas” e continuar trabalhando, em referência à tramitação das ações penais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado, em 2022. Moraes manteve o tom de que o STF, a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR) não se “vergarão” às ameaças e que os grupos golpistas são traidores da pátria que mantém a mesma forma de operação.
“Brasileiros traidores da pátria continuam a incentivar, instigar, auxiliar a prática de atividades e atos hostis ao Brasil”, disse.
O ministro disse que brasileiros processados pela Procuradoria-Geral da República, ou investigados pela Polícia Federal, “agem de maneira covarde e traiçoeira com a finalidade de tentar submeter o funcionamento deste Supremo Tribunal Federal ao crivo de um estado estrangeiro”, em alusão aos réus das ações golpistas e outros investigados, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Na análise de Moraes, trata-se de uma “verdadeira organização criminosa jamais anteriormente vista em nosso país” e que existe uma “negociação espúria” para tentar intimidar o Supremo Tribunal Federal.
O ministro criticou o fato de bolsonaristas chamarem para si a autoria da crise diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos, com penalidades econômicas ao país e sanções à autoridades públicas visando mudar os rumos da tramitação de um processo judicial. “Como se glória houvesse na traição”.
Além de anunciar a aplicação de tarifas de 50% a produtos brasileiros, o governo de Donald Trump sancionou o ministro Alexandre de Moraes com a Lei Magnistky, que prevê o bloqueio de todos os bens e interesses em bens dentro da jurisdição dos Estados Unidos.
Moraes lembrou que as penalidades não afetam apenas contra o STF, mas contra o Congresso e as instituições brasileiras. “Com a única exclusiva finalidade de obter um súbito inexistente, inconstitucional arquivamento imediato de ações penais”.
O ministro defendeu a condução da ação penal. “Eu aqui afirmo, sem medo de errar, não há, não houve no mundo, uma ação penal com tanta transparência e publicidade com essa ação penal. Nenhum país do mundo transmite interrogatórios, oitiva de testemunhas, para toda imprensa e sociedade acompanharem”, disse. “É o Supremo Tribunal Federal atuando dentro da Constituição, dentro dos princípios republicanos e garantindo o devido processo legal”, acrescentou.
O ministro reafirmou que não há espaço para “pressões, coações no sentido de querer obter, repito, entre aspas, expõe o arquivamento imediato dessas ações penais sob pena de se prejudicar a economia brasileira, o sustento das pessoas, o trabalho dos brasileiros e das brasileiras”.
“A ousadia criminosa parece não ter limites. Com as diversas e contínuas postagens em redes sociais e declarações da imprensa, declarações atentatórias à soberania nacional, à independência do Congresso Nacional e à independência do Poder Judiciário”.logo-jota
Flávia Maia, a autora, é Analista de Judiciário do JOTA em Brasília. Antes foi repórter dos jornais Correio Braziliense e Valor Econômico e assessora de comunicação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). É graduada em Direito no IDP. Publicado dm 01.08.25
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