quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Eduardo Bolsonaro diz que trabalha por mais sanções de Trump e que pode passar décadas “exilado”

“Ou tenho 100% de vitória, ou 100% de derrota. Ou saio vitorioso e volto a ter uma atividade política no Brasil ou vou viver aqui décadas em exílio”, disse Eduardo Bolsonaro em entrevista a Bela Megale, de O Globo

O deputado federal Eduardo Bolsoaro em entrevista à coluna por videoconferência — Foto: Bela Megale/ O GLOBO

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) disse que continua a atuar nos Estados Unidos pelo aumento das sanções contra o Brasil após seu pai, Jair Bolsonaro, ter a prisão domiciliar decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Em entrevista à coluna, (de Bela Megale n'O Globo) o parlamentar falou que só deixará os EUA se conseguir provocar a saída de Moraes do STF. Disse ainda que não vai renunciar ao seu mandato e que enviará um ofício à Câmara se colocando como alvo de "perseguições".

O deputado também falou do plano de ser candidato à Presidência da República se tiver o apoio do pai e reforçou os elogios a Trump sobre o tarifaço imposto ao Brasil, afirmando que "há um sacrifício a ser feito". Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Hoje começa o tarifaço imposto por Trump. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o PIB brasileiro pode ter um impacto negativo de R$ 19 bilhões e que as exportações brasileiras podem cair US$ 54 bilhões. Vale a pena o Brasil pagar esse preço em nome da anistia do presidente Bolsonaro?

- O presidente Trump colocou que essa era uma questão envolvendo a perseguição a Jair Bolsonaro, seus familiares e apoiadores. Ele apontou para uma crise institucional. Para resolver essa crise, a gente tem que dar uma sinalização aos americanos. A melhor maneira, na minha sugestão, é a anistia ampla, geral e irrestrita. Isso colocaria o Brasil numa boa condição na mesa de negociações junto ao governo dos EUA. Não sou eu que levo a mensagem que sou responsável por essas tarifas, mas sim o conjunto da obra feito no Brasil que é liderado pelo ministro Alexandre de Moraes.

O senhor chegou a fazer alguma gestão junto ao governo dos EUA para tentar reverter ou amenizar esse tarifaço?

- A gente leva um pouco dessa perspectiva econômica, mas não me sinto na posição de desautorizar o Trump. Entendo que ele é muito mais qualificado do que eu para escolher quais armas utilizar nessa briga, até porque tem uma carreira de muito êxito empresarial, é um excelente negociador. Mesmo como político, ele tem tido sucesso em 100% das empreitadas em que exigiu um bom resultado para os Estados Unidos. Dou graças a Deus que ele voltou suas atenções para o Brasil. Acho que tem valido a pena.

O senhor não recebeu queixas do agronegócio, que é um dos mais prejudicados pela medida, ou críticas de outros segmentos por sua atuação nos EUA?

- Até agora nenhum fazendeiro ou produtor agrícola me ligou para dizer que eu deveria parar com as minhas ações. Pelo contrário. Tenho recebido parabéns e tido muito apoio nas redes sociais. As pessoas entendem que há um sacrifício a ser feito e que o pior mal é essa ditadura de toga comandada pelo ministro Alexandre de Moraes. Confesso que antes disso tudo acontecer, eu e (o ex-apresentador de Jovem Pan) Paulo Figueiredo, que tem me acompanhado nessas reuniões, assumimos o risco de talvez até, momentaneamente, aumentar o prestígio do Lula, aumentar a sua popularidade. Mas o que a gente viu, de acordo com as pesquisas, foi uma oscilação do Lula. E a gente tem certeza que, quando o resultado definitivo vier, com a anistia, isso vai ser revertido a nosso favor em termos de popularidade. Mas isso daí é secundário. Nosso cálculo não é eleitoral.

O senhor trabalha para que os EUA aumentem as sanções sobre o Brasil após a prisão domiciliar de Bolsonaro?

- Trabalho sim, neste sentido. Estou levando a prisão ao conhecimento das autoridades americanas e a gente espera que haja uma reação. Não é da tradição do governo Trump receber essa dobrada de aposta do Alexandre de Moraes e nada fazer. O que eles vão fazer, eu não sei. Não sei se isso vai passar pela mesa do Trump ou pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Espero que haja uma reação nos próximos momentos.

Vê chances dos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, serem incluídos em algum tipo de sanção por parte do governo americano?

- Uma vez que não é pautado o impeachment do ministro Alexandre de Moraes no Senado, uma vez que o presidente da Câmara não pauta uma anistia, eles estão entrando no radar das autoridades americanas. As pessoas que estão em posição de poder têm responsabilidades e estão sendo observadas pelas autoridades americanas. Todos eles estão no radar.

Pensa em retornar ao Brasil ou teme ser preso?

- Se eu retornar, sei que vou ser preso. Primeiramente, tenho que tirar o Alexandre de Moraes dessa equação, anular ele, isolá-lo. A gente tem que aprovar uma anistia para que alcance todos os perseguidos por Moraes. Os meus planos aqui são: ou tenho 100% de vitória, ou 100% de derrota. Ou saio vitorioso e volto a ter uma atividade política no Brasil, ou vou viver aqui décadas em exílio. É o que eu estou assumindo, estou aceitando esse risco, porque eu acho que vale a pena.

Qual tipo de visto ou autorização do governo americano o senhor possui que lhe permite ficar por tanto tempo nos EUA?

- Não vou entrar nos detalhes, para me proteger a mim e minha família. O que posso dizer é que eu e minha família temos condição de ficar legalmente aqui nos EUA durante um bom tempo. Meu visto é algo que não me preocupa.

Como pretende manter seu mandato como deputado federal vivendo no exterior?

- Estou rascunhando um ofício para mandar para o presidente da Câmara, Hugo Motta, sobre a impossibilidade de eu retornar ao Brasil, devido a uma clara perseguição. Vou apresentar e, se eles decidirem por não reconhecer os meus argumentos, será mais uma demonstração de que eu sou vítima desse sistema. Posso garantir que eu não vou renunciar. Se for necessário, se alguém for tomar alguma medida para que eu perca o mandato, vai ser aí do Brasil, vai ser do STF ou do Congresso. Acho, inclusive, que existe margem para, por exemplo, ser acatada a sugestão de mudança de regimento para eu possa fazer as votações por meio eletrônico.

Quais os seus planos para 2026? Com Bolsonaro inelegível, gostaria de concorrer à Presidência?

- Essa é uma decisão que passa pelo presidente Bolsonaro. Mas, antes, tenho que ter sucesso nessa questão de resgate da normalidade democrática no Brasil e no isolamento do Alexandre de Moraes, na anistia, em todas essas pautas. Porque isso daria tranquilidade para eu voltar ao Brasil sem ser preso. Se, nesse cenário, Jair Bolsonaro quiser me apoiar, eu sairia candidato a presidente da República.

O senhor chegou a fazer críticas públicas a expoentes da direita como o governador Tarcísio de Freitas e o deputado Nikolas Ferreira. Como está a relação com eles?

- Eu conversei com o Nikolas por uma chamada de telefone intermediada pelo Paulo Figueiredo. Prefiro nem falar muito para não dar mais pano pra manga. Não é o foco. O foco aqui é o Alexandre de Moraes e combater essa crise institucional.

E sobre o Tarcísio?

- Com relação ao Tarcísio, cada um tire suas conclusões. O Tarcísio ainda acredita numa estratégia de diálogo, de colocar panos quentes e ver se consegue extrair alguma benesse disso. Eu não acredito, porque foi infrutífero no passado. O caso mais notório é aquela cartinha do (Michel) Temer, sugerida pelo ex-presidente depois do 7 de setembro (de 2021) onde, teoricamente, dizem, havia um acordo. Não sei, porque eu não participei. Mas, esse acordo não foi respeitado. O Moraes dobrou a aposta e continuou perseguindo. Por que eu vou sentar com um cara desse? Por isso que eu tenho sido muito ácido na minha crítica ao Moraes, colocando ele na prateleira de um psicopata. Não coloco nessa mesma prateleira os outros ministros do STF. Acredito que existe um caminho onde dá para resgatar a normalidade do Brasil, em que pese haver diversas discordâncias em decisões dos ministros, mas que dá para garantir uma normalidade mínima apenas tirando Moraes do tribunal.

O senhor vê alguma chance de diálogo com o STF? Já existiu alguma tentativa de construir pontes?

- Vejo espaço para isso. Nos bastidores, tem gente falando a todo momento. Isso nunca parou. Agora está um pouquinho mais complicado, porque eu estou aqui nos EUA e não posso ir ao Brasil. E várias autoridades brasileiras não podem vir para cá. Mas se deixarem o Congresso votar uma anistia, eu tenho certeza que passa. Mais de 300 deputados federais já colocaram sua assinatura em apoio ao requerimento de urgência do projeto de lei. Se isso ocorrer, eu tenho certeza que o Brasil pode até entrar numa boa mesa de negociação para reduzir as tarifas impostas pelo governo dos EUA. Não quero destruir o STF. Eu não quero queimar a floresta inteira. Eu não quero acabar com tudo. Estou utilizando um passo a passo para pressionar as autoridades a recobrar a consciência.

A pesquisa do Datafolha apontou que 61% dos eleitores dizem que não votariam em um candidato que prometesse livrar de qualquer pena Jair Bolsonaro e seus aliados acusados de planejar um golpe contra a democracia e os condenados pelo 8 de janeiro. Mas, nos EUA, o senhor apresenta essa pauta aos americanos como se fosse uma unanimidade nacional.

- Não confio em nada do Datafolha, tá? Mas, independentemente disso, é uma questão de justiça, não é uma questão de você fazer uma pesquisa popular. Se eu estivesse tão impopular assim, minhas redes não estariam crescendo tanto. Ganho 100 mil seguidores a cada dois, três dias. Há pouco tempo, eu tinha 6,4 milhões de seguidores no Instagram. Agora estou com 6,8 milhões. E isso de um tempinho antes da Lei Magnitsky para cá. Acho que a gente está no caminho certo.

Seu último salário como deputado foi recebido em março. Como se mantém nos EUA com sua família?

- Não dependo só do meu salário. Como não tem dinheiro público vindo para mim, então eu não tenho mais o que publicizar nesse sentido. Aceito discutir publicamente só dinheiro público.

O STF considerou o envio de R$ 2 milhões feito pelo ex-presidente ao senhor como um indício concreto de que haveria uma articulação para interferir na atuação do Supremo. O senhor recebeu esses R$ 2 milhões de Bolsonaro?

- Ele fez uma transferência para mim de R$ 2 milhões e isso não é crime nenhum. Ele desejava ajudar o filho num momento depois de meses aqui em exílio, nos EUA. O último salário que eu recebi pela Câmara foi em março. Falar que isso é um financiamento de uma atividade ilícita? Qual atividade ilícita? Se eu estou fazendo alguma coisa errada aqui é com o respaldo das autoridades americanas. É incoerente Moraes querer me colocar no inquérito e não colocar, por exemplo, Marco Rubio e o presidente Trump.

Quem são seus interlocutores na Casa Branca?

- Falar dessas pessoas não é conveniente, elas podem acabar sendo expostas. Sei que vai ter gente que vai querer queimar a ponte. O que eu posso comentar é aquilo que já é público, como as reuniões com os parlamentares como María Elvira Salazar, Richard McCormick e Chris Smith. Com o (ex-estrategista político de Trump) Steve Bannon, eu posso falar, porque fui ao programa dele algumas vezes de maneira virtual e, uma vez, pelo menos, presencialmente. Bannon não está dentro do governo, mas conhece todo mundo. Já participou do primeiro mandato de Trump, da sua estratégia eleitoral de 2016. Ele vive nesse meio político, conhece as pessoas, sabe dos temperamentos, sabe como falar com cada um e tem ajudado bastante dentro desse nível de soft power.

Com que frequência o senhor vai à Casa Branca?

- Desde que eu estou aqui, quase toda semana. Posso falar isso tranquilamente.

Bela Megale, Jornalista, obteve e editou esta entrevista exclusiva para O Globo, onde atua cobrindo as áreas de investigações criminais, bastidores do poder e a vida política de Brasília. Publicado originalmente em 06.08.25.

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