quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

O maior inimigo do governo Lula

O presidente insiste em provocar danos com suas falas sobre economia

Foto de LulaVinícius Schmidt/Metrópoles

Bem ao contrário de seu antecessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem problemas de cognição. Muitíssimo ao contrário: Lula é um homem extremamente inteligente, esperto, safo. Também muito diferentemente do outro, Lula é bem preparado para a tarefa de administrar, resolver problemas, dirimir dissensões, liderar, delegar poderes. Governar, enfim.

Há mais uma diferença imensa, abissal entre os dois – e importantíssima: Lula não é preguiçoso, indolente. De forma alguma.

Em menos de um mês, o novo governo já ostenta um rol de realizações que é absolutamente admirável, nos mais diversos campos. Só os atos revogando absurdos cometidos ao longo do desgoverno passado já são uma imensa contribuição ao Brasil e aos brasileiros – desde a volta do controle de armamentos até a anulação da portaria do general Pazuello que praticamente impedia a realização do aborto legal, nos poucos casos permitidos pela legislação.

As prontas ações dos últimos dias de socorro à população ianomâmi são exemplares, de se aplaudir com entusiasmo – ao mesmo tempo em que revelam ao mundo o descaso premeditado, intencional, do desgoverno do antecessor, com a vida dos indígenas. Diante das imagens de homens, mulheres e crianças ianomâmis que fazem lembrar os presos encontrados nos campos de concentração nazistas ao fim da Segunda Guerra, é absolutamente inevitável que a palavra “genocida” volte a ser associada ao nome do Capitão das Trevas.

No âmbito das relações internacionais, então, é impressionante o que o governo Lula já realizou. De fato, o Brasil voltou a ser um ator importante na cena mundial, após anos em que foi tornado um pária.

Pois bem.

Mas por que Lula insiste em, dia sim e outro também, falar asneiras, sandices, idiotices sobre política econômica?

Por ue raios o presidente insiste em dinamitar o duríssimo trabalho de seus auxiliares, o ministro Fernando Haddad à frente?

“Nesse país (sic) se brigou muito para ter um Banco Central independente, achando que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer com a minha experiência, é uma bobagem achar que o presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente era que indicava.”

“Por que com um banco independente a inflação está do jeito que está?”

“Você estabelecer uma meta de inflação de 3,7%, quando você faz isso, você é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir aqueles 3,7%. […] O que nós precisamos nesse instante é o seguinte: a economia brasileira precisa voltar a crescer.”

“Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gasto não discutem a questão social do país? Por que o povo pobre não está na planilha da discussão da macroeconomia?”

“Para cumprir teto fiscal, geralmente é preciso desmontar políticas sociais e não se mexe com o mercado financeiro. Mas o dólar não aumenta ou a bolsa cai por causa das pessoas sérias, e sim dos especuladores.”

É sempre o mesmo script. Parece disco quebrado, que fica repetindo a mesma coisa sempre: Lula se sai com frases desse tipo, o dólar sobe, a Bolsa cai, os economistas, os analistas, os artigos e editoriais dos jornais criticam unanimemente, e duramente. O ministro Fernando Haddad tenta apagar o incêndio, dá entrevista em tom calmo, sereno, adequado – mas, diabo, em quem os agentes econômicos vão acreditar? No ministro ou no chefe dele?

Tem tanta coisa a ser feita. Há que serenar os ânimos depois do inédito, violento, criminoso ataque terrorista aos Três Poderes e à democracia. Dividido ao meio, o país precisa ser pacificado. E reconstruído, depois de quatro anos de destruição ampla, geral e irrestrita. Educação, saúde, meio ambiente, segurança pública, tecnologia – há que se investir em tudo, reconstruir, recomeçar.

E o presidente Lula vem falar de botar o BNDES para “ajudar o desenvolvimento dos países vizinhos”? Para concorrer com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento? E de criar moeda comum com a Argentina e quem mais quiser?

Aaaaaah!

É como estão dizendo: sur-real. Surreal.

Sérgio Vaz , o autor deste artigo, é jornalista (ex-Estadão, estado.com.br, Agência Estado, revistas Marie Claire e Afinal, Jornal da Tarde). Edita os sites 50 Anos de Filmes e 50 Anos de Textos. Publicado no Blog do Noblat / Metropóles, em 25.01.25

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