quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Campanhas de Lula e de Bolsonaro preveem aperto financeiro no segundo turno

Enquanto PL procura doações de empresários e do agronegócio para bancar campanha, o PT trabalha com economia de gastos para dar conta de candidaturas nos estados

Presidenciáveis precisam dividir valores restantes com candidatos de seus partidos a governos estaduais, e buscam renovar doaçõesPresidenciáveis precisam dividir valores restantes com candidatos de seus partidos a governos estaduais, e buscam renovar doações (Arte O Globo)

Com o avanço da disputa presidencial ao segundo turno, as campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) têm feito contas para conseguir bancar os gastos nas próximas três semanas e meia. Do lado do presidente, com o fundo eleitoral do PL zerado na primeira etapa das eleições, a prioridade é intensificar a busca por doações de empresários e, principalmente, do agronegócio. No PT, mesmo com um caixa remanescente de R$ 51,3 milhões, o discurso também é de que será necessário um aperto, pois esse valor terá de ser dividido com os quatro candidatos da sigla a governos estaduais que se mantêm no páreo.

(Bela Megale: Empresários que integraram campanha de Simone Tebet apoiam voto de candidata em Lula)

Eleições 2022: Partidos ignoram uma a cada três mulheres na distribuição de verbas para a campanha

Segundo as prestações de contas divulgadas ao Tribunal de Superior Eleitoral (TSE), Lula já recebeu R$ 91,5 milhões para sua campanha, mais que o dobro do que Bolsonaro, que arrecadou R$ 42,4 milhões — incluindo doações. Mas o petista também gastou mais no primeiro turno: R$ 67 milhões, ante R$ 15 milhões em despesas declaradas pelo presidente.

A campanha de Bolsonaro, porém, ainda terá que devolver aos cofres públicos gastos com viagens eleitorais do presidente nos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), que só devem ser contabilizadas na prestação de contas final.

Com R$ 268 milhões do fundão para todas as campanhas eleitorais do PL, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, decidiu priorizar as candidaturas ao Legislativo, o que ajudou a legenda a conquistar uma superbancada na Câmara, com 99 deputados. O resultado, porém, é que não sobraram recursos para o segundo turno. Além da corrida presidencial, o PL ainda está na disputa pelo governo de Santa Catarina, com Jorginho Mello, e pelo do Rio Grande do Sul, com Onyx Lorenzoni.

Preocupados com a dificuldade financeira, interlocutores do PL passaram a se concentrar na arrecadação junto ao agronegócio. Empresários do ramo, como os agropecuaristas Oscar Luiz Servi e Hugo de Carvalho Ribeiro, foram os maiores doadores da campanha de Bolsonaro até agora.

— Noventa e cinco por cento do agronegócio está fechado e mobilizado com o Bolsonaro. São 5,5 milhões de produtores no Brasil — disse Nabhan Garcia, secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura.

Integrantes do PL reclamam, sob a condição de anonimato, que esperavam uma contribuição maior do PP e do Republicanos, que integram a coligação. Apenas o PP repassou R$ 1 milhão em setembro.

O sinal amarelo na campanha de Bolsonaro foi aceso antes mesmo do segundo turno. Ao GLOBO, o senador Flávio Bolsonaro, coordenador do projeto de reeleição do pai, declarou, em setembro, que estava “muito preocupado porque o dinheiro do partido acabou”.

Disputas nos estados

A campanha de Lula, por sua vez, tinha a estimativa de gastar R$ 44,5 milhões no segundo turno, mas, se esse valor for custeado apenas com o fundão, as candidaturas a governador do partido ficarão asfixiadas. Isso porque o fundo eleitoral de R$ 51,3 milhões ainda disponível terá que bancar também as disputas do segundo turno de Fernando Haddad (São Paulo), Jerônimo Rodrigues (Bahia), Décio Lima (Santa Catarina) e Rogério Carvalho (Sergipe).

O partido ainda não definiu quanto destinará para cada um, mas, segundo o tesoureiro da campanha de Lula, Márcio Macedo, a previsão é que o candidato a presidente receba um pouco mais da metade dos R$ 44,5 milhões previstos inicialmente. O restante terá de ser arrecadado em outras fontes, como doações.

(Ipec: Diferença entre reprovação e aprovação ao governo Bolsonaro cai para 7 pontos, a menor desde o início da campanha)

Integrantes da equipe petista dizem que, de qualquer forma, será necessário apertar os cintos. O ideal, dizem, seria ter segurado as despesas no primeiro turno para ter uma reserva agora.

Aliados do ex-presidente lembram que no segundo turno as campanhas costumam ter mais gastos, porque os programas do horário eleitoral são maiores e, em muitos estados, não é possível contar com a estrutura de candidatos a governador.

Uma das ideias discutidas internamente para diminuir os gastos seria trocar os tradicionais comícios por caminhadas encerradas com discursos do ex-presidente.

Eduardo Gonçalves, Daniel Gullino e Sérgio Roxo, de Brasília e São Paulo para O GLOBO, em 06.10.22, às 04h30

Nenhum comentário: