segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Procuradores buscam candidatos ao Planalto para defender lista tríplice na escolha de PGR

Entidade de integrantes do MPF quer diálogo com candidatos, tem dificuldade para se aproximar de Bolsonaro e só recebeu sinalização positiva de Simone Tebet

O presidente da ANPR, Ubiratan Cazetta, afirma que tem procurado os presidenciáveis para tratar de temas de interesse do Ministério Público.  Foto: Divulgação/Associação Nacional dos Procuradores da República

Para tentar evitar futuras indicações à Procuradoria-Geral da República com base em critérios políticos, como ocorreu com Augusto Aras, integrantes do Ministério Público Federal vão entregar um documento em defesa da lista tríplice aos candidatos ao Palácio do Planalto. Preocupados, procuradores abriram diálogo especialmente com aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto.

O petista tem se esquivado de dizer se resgatará, caso eleito, uma tradição a que ele mesmo deu início, no primeiro mandato, de indicar um nome votado pela carreira. A lista para PGR não está prevista em lei e a escolha é uma prerrogativa do presidente, mas, desde os anos 2000, a Associação Nacional dos Procuradores da República realiza eleições e entrega aos chefes do Executivo os três nomes mais bem colocados na disputa no MPF.

Em junho de 2021, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a indicação de Augusto Aras para um mandato de mais dois anos no comando da procuradoria-geral da República.

Em junho de 2021, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a indicação de Augusto Aras para um mandato de mais dois anos no comando da procuradoria-geral da República. Foto: Dida Sampaio / Estadão

O documento será levado aos candidatos em meio ao segundo mandato de Aras, que foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) sem integrar a lista da entidade. Integrantes do MPF fazem críticas, reservadas e abertas, ao que chamam de alinhamento do PGR com o atual governo.

O presidente da ANPR, Ubiratan Cazetta, afirma que tem procurado os presidenciáveis para tratar de temas de interesse do Ministério Público. Segundo ele, um dos principais assuntos é a lista tríplice, que, na sua avaliação, torna a escolha mais transparente. “Com ela, não tem candidaturas tiradas do peito ou do bolso do paletó”, diz o procurador.

De acordo com Cazetta, os três mais bem votados “são pessoas cujas histórias de carreira passam a ser avaliadas por um número grande de membros” do MPF. Após a indicação do presidente, cabe ao Senado a realização da sabatina e a aprovação do indicado.

Neste momento, os procuradores estão abordando todos os candidatos à Presidência. Até agora, apenas a senadora Simone Tebet (MDB) disse que vai escolher um dos nomes da lista da ANPR. Com Ciro Gomes (PDT), a reunião foi adiada em razão de um desencontro de agendas.

Bolsonaro também deve ser procurado, mas os integrantes do MPF enfrentam dificuldades para identificar um interlocutor. Sob reserva, eles dizem que a conversa será dura, posto que o presidente ignorou a lista por duas vezes.

Tratativas

Sobre Lula e entorno, as investidas se intensificaram mais recentemente, porém, desde 2021, a diretoria da APNR já dialoga com o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), o ex-presidente do PT Rui Falcão e o ex-ministro Eugênio Aragão, que defende a legenda durante a eleição. Dos três nomes, procuradores afirmam ao Estadão que Falcão foi o mais receptivo ao respeito da lista tríplice.

Já Aragão, que foi subprocurador-geral da República, é o mais refratário ao rito da ANPR. O ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff (PT) era próximo do ex-procurador-geral Rodrigo Janot, mas a amizade acabou em meio à Operação Lava Jato. Petistas reclamam da atuação de Janot à frente da PGR, quando o partido foi alvo de inquérito por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.

Investigado, condenado e preso, mas solto por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) de reverter o cumprimento da pena após a segunda instância e de anular suas sentenças por erros processuais, Lula não descartou, segundo apurou o Estadão, a lista como critério de escolha, mas pode deixar de indicar o primeiro colocado. O ex-presidente Michel Temer (MDB), por exemplo, escolheu Raquel Dodge, segunda colocada. Pessoas próximas dizem que o petista tem adiado o debate para evitar o assunto na campanha eleitoral.

Luiz Vassallo e Pedro Venceslau / O Estado de S. Paulo, em 01.08.22

Nenhum comentário: