sexta-feira, 19 de agosto de 2022

A campanha da mentira começou e Lula não está pronto para enfrentar Bolsonaro

Entre os candidatos democratas, é preciso ter uma máquina que saiba reagir à desinformação

Ex-presidente Lula e presidente Jair Bolsonaro são os favoritos na corrida ao Palácio do Planalto (Até agora, digo eu, o editor do blog)

O vídeo impressiona de tão bem editado. Renata Vasconcellos, âncora do Jornal Nacional, apresenta a pesquisa do Ipec anunciada na segunda. Quando corta para o gráfico, porém, os números contam uma história bem distinta daquela que realmente foi ao ar.

No vídeo que bomba no WhatsApp, o presidente Jair Bolsonaro (PL) lidera com 44%, seguido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 32%. O Ipec de verdade afirmou exatamente o contrário. Mas a edição do áudio é tão precisa que o receptor desavisado não perceberá nada. A máquina bolsonarista de fake news já está a toda. Começou o inferno que será esta eleição. E o principal adversário do presidente, Lula, está completamente despreparado para esta batalha.

A campanha do presidente trabalha de forma sofisticada a desinformação – há coordenação. O foco da semana foi um dos eleitores chaves desta eleição: o brasileiro evangélico.

A máquina bolsonarista de fake news já está a toda

Na publicidade oficial, Bolsonaro circulou calado enquanto a primeira-dama, Michelle, falava. Ele precisa conquistar mais mulheres, corte que dá imensa vantagem a Lula. Entre evangélicos, mulheres formam maioria. Por ser mulher, Michelle gera empatia. Ela também fala a língua dos louvores. Enquanto parte da elite olha constrangida, cheia de preconceitos , Michelle está num espaço em que se move à vontade

Enquanto ela falava de um Palácio do Planalto consagrado a Deus hoje, corriam informações absolutamente mentirosas no Zap. Por exemplo, a de que, se eleito, Lula mandaria fechar templos.

A vítima hoje é Lula – fossem Ciro Gomes (PDT) ou Simone Tebet (MDB) em primeiro, seriam ele ou ela. Mas enquanto o bolsonarismo atacava a credibilidade do petista, nos Zaps oficiais da campanha de Lula havia figurinhas do candidato. Nos grupos não-oficiais, o clima era um de indignação. Não com Bolsonaro, mas com quem se fiava em pesquisas que sugeriam uma eleição apertada.

Demorou quase uma semana para que um discurso de defesa contra esta linha de ataque começasse a aparecer.

Num mundo ideal, não haveria ameaça à democracia. Não haveria grupos de Zap de empresários bolsonaristas defendendo uma Ditadura. Num mundo ideal, um dos candidatos não teria uma máquina publicitária baseada exclusivamente na mentira. Mas não vivemos no mundo ideal.

Sobram os candidatos democratas – Lula, Ciro, Simone. Principalmente Lula, por estar na frente. É preciso ter uma máquina que saiba reagir à desinformação. Houve quatro anos para prepará-la.

Pedro Dória, o autor deste artigo, é Jornalista. Publicado originalmente n'O Estado de S. Paulo, em 18.08.22, às 17h26

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