terça-feira, 14 de junho de 2022

Golpe transformará Bolsonaro em fantoche dos militares

Presidente e o vice general vão às eleições com as mãos sujas do sangue de Dom e Bruno


Os comandantes das Forças Armadas em março de 2021; o almirante Almir Garnier, o ministro Braga Netto, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e o brigadeiro Almeida Baptista Jr. - Pedro Ladeira/Folhapres

O que diz o ministro da Defesa, tão preocupado com as urnas eletrônicas, sobre a nova tentativa de golpe programada para Sete de Setembro —a 26 dias das eleições? Paulo Sérgio Nogueira sente-se prestigiado a participar de ataques aos ministros do STF e TSE? O general mandará às ruas tanques fumacentos? Comandará a retirada de oxigênio da população para manter a liberdade fardada?

Havendo golpe para invalidar a votação desfavorável a Bolsonaro, será um movimento militar. O presidente se transformará num mito banal. Um ditador de mentira (tudo a ver, para quem sempre viveu mentindo), que poderá ser descartado a qualquer momento. Para a eventualidade, haverá um vice-presidente que é general, óbvio. Na chapa que concorre com as bênçãos do centrão e as mãos manchadas com o sangue de Dom Phillips e Bruno Pereira, o escolhido é Walter Braga Netto, que deixou o cargo de ministro da Defesa.

A articulação golpista abrange um plano com a presença de militares no governo até 2035. Se valer o primeiro mandato de Bolsonaro, serão 16 anos. Um tempo até modesto, levando-se em conta que o Golpe de 64 produziu uma ditadura de 21 anos.

A busca por informações falsas sobre as urnas vem desde 2019 —quando já havia sinais de rejeição ao governo e de que Lula, fora da prisão, voltaria ao páreo— e envolve os generais Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria da Presidência, e Augusto Heleno, que controla o Gabinete de Segurança Institucional e a Abin. Na época, Bolsonaro começou a desferir ataques ao sistema eleitoral. A partir da live-bomba de 2021 —investigada no inquérito das fake news—, eles foram intensificados.

Sem qualquer pudor, Bolsonaro se compara a Jeanine Áñez, que se autodeclarou presidente da Bolívia com uma Bíblia na mão e foi condenada a dez anos de prisão por tramar um golpe de Estado. Só para constar: também foram condenados o ex-comandante das Forças Armadas e o ex-chefe da polícia.

Alvaro Costa e Silva, o autor deste artigo, é Jornalista. Atuou como repórter e editor na Folha de S. Paulo. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro". Publicado originalmente na edição impressa, em 13.06.22.

Nenhum comentário: