sábado, 11 de junho de 2022

Bolsonaro se comprometeu com Biden a respeitar resultado da eleição, diz Departamento de Estado

A porta-voz do departamento de Estado dos EUA, Kristina Rolases, afirmou nesta sexta (10/6), que o presidente americano, Joe Biden, disse ao brasileiro Jair Bolsonaro em conversa bilateral em Los Angeles que "os Estados Unidos não toleram, nem aceitam intervenção no sistema eleitoral em nenhum lugar" e que o governo americano confia nas instituições eleitorais brasileiras e espera que o resultado eleitoral obtido com esse sistema seja respeitado.

Segundo autoridades brasileiras, o clima do encontro entre Biden e Bolsonaro foi amistoso (Itamaraty)

"A gente entende muito bem que há eleições no Brasil em outubro, nos próximos meses. Entendemos muito a preocupação do povo brasileiro com esse tema. Tanto que na reunião, o próprio presidente Bolsonaro falou que ele respeita a democracia, que vai respeitar o resultado. A gente vai levar a sério essa declaração que foi feita pelo presidente Bolsonaro ontem", afirmou Rosales.

Bolsonaro tem repetido que as urnas eletrônicas não são auditáveis e já sugeriu que pode não aceitar o resultado do pleito em outubro.

Na declaração inicial que fez diante de Biden ontem, na abertura da bilateral, Bolsonaro voltou a dizer que " temos eleições no Brasil, e nós queremos eleições limpas, confiáveis e auditáveis, para que não haja nenhuma dúvida após o pleito".

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desmente as declarações de descrédito eleitoral de Bolsonaro e diz que o sistema é verificável e seguro, e que nunca houve provas de fraudes significativas. Bolsonaro disse ainda que "tenho certeza que serão realizadas (as eleições) neste estilo democrático. Cheguei pela democracia e tenho certeza que quando deixar o governo, também será de forma democrática".

Segundo Rosales, os americanos tomaram essa última declaração como um compromisso de Bolsonaro. "A gente, obviamente, leva a sério as palavras que saem da boca do presidente", disse Rosales.

Ela disse ainda que ao ouvir as declarações de Biden sobre o sistema eleitoral, Bolsonaro "ouviu e respeitou". "Não tem nada sendo dito por trás das costas (de Bolsonaro)", disse Rosales.Bolsonaro se disse "maravilhado" após a conversa bilateral com Biden. Perguntada sobre como o presidente americano se sentiu depois do encontro, Rosales evitou usar o mesmo termo. "Eu diria que o presidente Biden ficou muito satisfeito com a conversa", afirmou Rosales. Segundo ela, o diálogo abre nova fase nas relações EUA-Brasil, mas ainda não há previsão de quais serão os próximos passos.

'Desconfiança'

Após as declarações da porta-voz, no entanto, o presidente voltou a dizer que o TSE precisa avaliar as sugestões das Forças Armadas sobre o processo eleitoral. Nesta sexta, o Ministério da Defesa enviou um ofício ao TSE em que pede que o tribunal facilite a auditagem das urnas por partidos políticos, como quer Bolsonaro.

"Não podemos ter eleições sob o manto da desconfiança. E dá tempo. Não se fala no ofício em voto impresso, questões técnicas apenas, uma muito importante, que foi da sugestão de uma apuração simultânea. Não sei porque não aceitam isso. Se eu sou o presidente do TSE eu aceito todas as sugestões, vamos discutir e chegamos num denominador comum", disse o presidente, um pouco antes de embarcar de Los Angeles para a Flórida, onde encontra com apoiadores neste sábado. 

Questionado sobre as declarações da porta voz do Departamento de Estado, que afirmou que os dois presidentes conversaram sobre o sistema eleitoral e que Bolsonaro havia se comprometido a aceitar os resultados eleitorais, ele disse que "conversei por alto" com Biden sobre isso. "Não estou aqui trazendo problemas do Brasil para cá. Não vou entrar nessa discussão", disse. 

"Todos nós queremos, como a grande parte do TSE quer, eleições limpas, transparentes e auditáveis", acrescentou. Bolsonaro também criticou o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, que havia dito que as eleições não eram assunto para as Forças Armadas.

"Fomos convidados, eu sou o chefe das Forças Armadas, colocamos à disposição da justiça eleitoral o que tinha de melhor lá no comando de defesa cibernética, levantamos centenas de vulnerabilidades, apresentamos novas sugestões, e depois disso o TSE sempre se negou a discutir o corpo técnico dele com o nosso", disse Bolsonaro, que acrescentou.

"Pode ser até que o TSE esteja certo, mas depois o Fachin declarou que eleições se trata com forças desarmadas, não armadas. Então porque nos convidaram?"

Mariana Sanches, Enviada Especial da BBC News Brasil a Los Angeles, em 10.06.22

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