Os sete passos para seguir em frente em meio às dolorosas perdas do momento
Resiliência pode ser conquistada ao longo da vida Foto: André Mello/ Editoria de Arte
Nova alta de casos de Covid-19. Volta ao home office. Como lidar com os problemas que têm se mantido nesses dois anos e seguir em frente? Uma maneira é recorrer a uma característica milenar que nos permite enfrentar a adversidade: a resiliência. Resiliência é a capacidade de lidar com os golpes.
— Se você for frágil, você quebrará — disse Pauline Boss, professora emérita da Universidade de Minnesota e autora do livro recém-publicado nos Estados Unidos “The Myth of Closure”.
Boss, terapeuta, educadora e pesquisadora, é mais conhecida pelo trabalho pioneiro sobre “perda ambígua”, que também é o título de seu livro de 1999 que descreve perdas físicas ou emocionais não resolvidas e muitas vezes insolúveis.
— Com tudo o que aconteceu durante a pandemia, não podemos esperar voltar ao normal que tínhamos — afirmou Boss que, aos 87 anos, passou por várias reviravoltas, a começar pela Segunda Guerra Mundial.
Em uma entrevista, ela me disse:
— As coisas estão sempre mudando, e se você não muda, você não cresce. Nunca mais seremos os mesmos. A pandemia é épica, um poder maior que nós, e temos que ser flexíveis, resilientes o suficiente para sobreviver. E vamos sobreviver, mas nossas vidas serão mudadas para sempre.
A resiliência nos permite adaptar-nos ao estresse e encontrar equilíbrio diante da adversidade:
— Quando as pessoas resilientes são confrontadas com uma crise que tira sua capacidade de controlar suas vidas, elas encontram algo que podem controlar — afirma Boss. — No início da pandemia, as pessoas podiam organizar a casa, assar um pão, arrumar as gavetas dos armários, cuidar dos parentes próximos. Eram mecanismos de enfrentamento funcionais.
Agora o cenário é outro. Muitas pessoas não conseguem se adaptar a um problema que não podem resolver, e essa realidade cresceu durante a pandemia. As soluções absolutas não existem mais.
Embora a resiliência seja frequentemente vista como um traço de personalidade inerente que as pessoas têm ou não, estudos mostraram que é uma característica que pode ser adquirida. As pessoas podem adotar comportamentos, pensamentos e ações que ajudam a construir resiliência, em qualquer idade.
Boss costuma afirmar aos pais para ficarem tranquilos nesse aspecto, em especial a questões relacionadas à pandemia — medos, insegurança, isolamento.
— As crianças são naturalmente resilientes e serão mais fortes por terem sobrevivido a essa coisa ruim que aconteceu com elas. Eles vão se recuperar e crescer com isso — afirma.
Mais do que nas crianças, “precisamos nos concentrar nos adultos”, diz.
— Não estou dizendo que o cenário é semelhante ao de uma Guerra Mundial ou represente uma ameaça global. Mas temos de nos preocupar muito com os adultos — diz Boss.
Ela se preocupa que alguns pais possam estar protegendo demais seus filhos, o que pode corroer sua capacidade natural de resolver problemas e lidar com a adversidade.
Em seu novo livro, a pesquisadora oferece diretrizes para aumentar a resiliência de uma pessoa para superar as adversidades e viver bem apesar de experiências dolorosas. Ela cita o Viktor E. Frankl, um neurologista, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, que escreveu:
— Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.
Ela recomenda que as pessoas usem cada diretriz conforme necessário, em nenhuma ordem específica, dependendo das circunstâncias.
Ninguém se torna resiliente do dia para noite. Trata-se de um exercício e de um esforço contínuo. A seguir, alguns caminhos que podem ajudar.
Rumo à resiliência
Encontre significado
A orientação mais desafiadora para muitas pessoas é encontrar significado, dar sentido a uma perda e, quando isso não for possível, realizar algum tipo de ação, como buscar justiça, trabalhar por uma causa ou tentar corrigir um erro. Quando o irmão mais novo da pesquisadora morreu de poliomielite, sua família, com o coração partido, foi de porta em porta para arrecadar dinheiro para financiar a pesquisa de uma vacina contra a doença. E isso não só ajudou às pesquisas, como os confortou.
Não controle seus sentimentos
Em vez de tentar controlar a dor da perda, deixe a tristeza fluir, continue o melhor que puder e, eventualmente, os altos e baixos serão menos frequentes.
— Não temos poder para destruir o vírus, mas temos o poder de diminuir seu impacto sobre nós — afirma Boss.
Reconstrua sua identidade
É útil adotar uma nova identidade mais em sintonia com as circunstâncias atuais. Quando o marido de Boss ficou doente terminal, por exemplo, sua identidade foi mudando de esposa para cuidadora e, após sua morte em 2020, gradualmente ela foi tentando se considerar viúva.
Aceite a ambivalência
Quando você não tem clareza sobre uma perda, é normal se sentir ambivalente em relação às situações. Ter dúvidas. E não paralise frente a elas.
— É melhor tomar decisões não tão perfeitas do que não fazer nada. A vida não pode esperar — diz Boss.
Não tenha medo de mudar, mas vá com calma
Se tiver que romper com uma condição ou um propósito, faça isso gradualmente e reconstrua aos poucos sua vida de uma nova maneira, com um novo senso de propósito. Mudanças são importantes, elas impactam a mente, dão novo sentido à vida, trazem novos amigos, novos projetos.
Descubra uma nova esperança
Comece a esperar por algo novo que permita seguir em frente com sua vida de uma nova maneira. Depois, pare de esperar, aja e busque novas conexões que possam minimizar o isolamento e promover o apoio que, por sua vez, nutre sua resiliência.
Talvez o conselho mais valioso da pesquisadora, no entanto, seja esse:
— O que precisamos esperar não é voltar ao que tínhamos, mas ver o que podemos criar agora e no futuro. Espere por algo novo e com propósito que o sustente e lhe dê alegria pelo resto de sua vida.
Jane E. Brody, do NYT. Publicado no Brasil pelo O Globo, em 03/02/2022.
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