As autoridades alertam para um risco muito alto de novos deslizamentos de terra após as chuvas, que já deixaram pelo menos 104 mortos. "Vai ser difícil encontrar alguém vivo", avisa um vizinho
Equipes de resgate carregam corpos de vítimas do deslizamento de terra em Petrópolis, em 16 de fevereiro. (Ricardo Moraes / Reuters)
As equipes de resgate mobilizadas na cidade brasileira de Petrópolis ainda procuram pelo menos 140 vítimas depois de terem localizado até quinta-feira os corpos de mais de uma centena de pessoas mortas pela tempestade que na noite de terça-feira trouxe terror, desolação e devastação a este município serrano próximo Rio de Janeiro. “No momento, registramos 104 mortes. E também há 24 resgatados com vida”, explicou a Defesa Civil. Cinquenta bombeiros retomaram as tarefas de resgate ao amanhecer em busca de vítimas na lama, enquanto as autoridades alertam para o risco muito elevado de novos deslizamentos devido às fortes chuvas previstas para esta quinta e sexta-feira.
Petrópolis é uma cidade muito turística, localizada a 70 quilômetros do Rio de Janeiro, que com seu clima frio atraiu o imperador Pedro II, que se instalou ali quando fazia muito calor na então capital. O antigo palácio de verão agora abriga o Museu Imperial.
O Exército aderiu à operação com soldados e equipamentos para liberar as ruas. Alguns vizinhos também colaboram na busca das vítimas. “Fui criado aqui, conheço todo mundo. Eu vim para ajudar a equipe (de resgate). É surreal. Infelizmente, será difícil encontrar alguém vivo", explicou Luciano Gonçalves, 26 anos, à Agence France Presse, enquanto procurava, com a enxada na mão, a lama que tomou conta de grande parte da cidade.
As equipes de resgate trabalham no que o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, descreveu a princípio como um teatro de guerra. Os bombeiros vasculham a lama com tratores, cães, barcos e até aeronaves. A polícia também enviou cerca de 200 agentes nesta cidade de 300.000 habitantes para coletar e cruzar informações sobre pessoas cujo paradeiro é desconhecido para elaborar uma lista oficial. Antes da atualização desta quinta-feira de manhã, havia 35 desaparecidos.
Especialistas concordam que catástrofes dessa magnitude se devem a uma combinação de fatores. Nesse caso, eles apontam para as fortes chuvas, a topografia da região e, como em outras tragédias semelhantes que chocam periodicamente o Brasil, a fragilidade das favelas construídas ilegalmente em áreas íngremes por famílias que não têm condições de morar em outros lugares. As autoridades registraram em Petrópolis mais de 300 deslizamentos de terra, além de enchentes e quedas de árvores.
Na noite de terça-feira, as nuvens descarregaram sobre a cidade o volume de água esperado para todo o mês de fevereiro. Foi uma tempestade histórica. O governador Castro garantiu que foi “a pior chuva desde 1932”. De qualquer forma, esta cidade e outras vizinhas sofreram uma tragédia ainda maior há pouco mais de uma década. Uma tempestade em 2011 na mesma época, no meio da estação chuvosa, matou mais de 900 pessoas na região.
Desde dezembro, o Brasil sofreu outras tragédias menores devido às chuvas extremas nos estados da Bahia, São Paulo e Minas Gerais.
Naiara Galarraga Gortazar, a autora deste artigo, é correspondente do EL PAÍS no Brasil. Anteriormente, foi vice-chefe da seção Internacional, correspondente para as Migrações e enviada especial. Trabalhou nas redações de Madri, Bilbao e México. Durante uma pausa em sua carreira no jornal, foi correspondente em Jerusalém da Cuatro/CNN+. É licenciada e mestre em Jornalismo (EL PAÍS/UAM). Publicado originalmente em 17.02.22.
Nenhum comentário:
Postar um comentário