quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Relógio do apocalipse permanece a 100 segundos da meia-noite

Também chamado de relógio do fim do mundo, ele simboliza a iminência de um cataclismo planetário e foi criado em 1947. 


Imagem do ‘Relógio do apocalipse’ divulgada em 20 de janeiro, em Washington DC — Foto: The Hastings Group / AFP

Prazo atual iguala recorde batido em 2020; riscos representados pela proliferação nuclear, mudanças climáticas e pandemia foram exacerbados este ano por 'um ecossistema de informação disfuncional que prejudica a tomada de decisões racional'.

O relógio do apocalipse, que simboliza a iminência de um cataclismo planetário, se manteve nesta quinta-feira (20) a 100 segundos da badalada final, sem observar qualquer melhora desde este recorde estabelecido em 2020.

Os riscos representados pela proliferação nuclear, mudança climática e pela pandemia foram exacerbados este ano por "um ecossistema de informação disfuncional que prejudica a tomada de decisões racional", afirma a ONG que, desde a Guerra Fria, faz essa alegoria da nossa exposição a perigos globais.

(O que é o Relógio do Apocalipse, e por que ele indica que desde 1953 nunca estivemos tão perto de uma catástrofe global. (Veja após o final desta, matéria da BBC News, publicada em 14.07.2017)

"Estamos presos em um momento perigoso, que não traz nem estabilidade nem segurança", disse a acadêmica Sharon Squassoni, uma das editoras do Boletim de Cientistas Atômicos, que administra este relógio.

Também chamado de relógio do fim do mundo, este indicador metafórico foi criado em 1947 devido ao crescente perigo nuclear e ao aumento das tensões entre os dois blocos.

Desde então, os membros dessa organização com sede em Chicago ampliaram os critérios para incluir, este ano, "a Covid-19, a proliferação nuclear, a crise climática, as campanhas estatais de desinformação e as tecnologias disruptivas".

"O relógio do fim do mundo continua flutuando sobre nossas cabeças, nos lembrando do trabalho necessário para garantir um planeta mais seguro e saudável", disse a presidente da organização, Rachel Bronson.

Publicado originalmente pela Agência France Press. Reproduzido no Brasil por G1, 20.01.2022.

O que é o Relógio do Apocalipse, e por que ele indica que desde 1953 nunca estivemos tão perto de uma catástrofe global

Criado há 70 anos para medir risco de acidente nuclear, relógio sugere que fim da humanidade está mais próximo desde chegada de Donald Trump à presidência dos EUA.

Existe um relógio que, em vez de medir a passagem do tempo, indica o quão perto o planeta está de ser destruído. Atualmente, seus ponteiros marcam dois minutos e meio para meia-noite, horário previsto para o fim do mundo.

É o chamado Relógio do Apocalipse, criado em 1947 pelo Boletim dos Cientistas Atômicos (BPA, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.

Não se trata de um objeto, mas de uma ilustração simbólica. Os ponteiros do relógio não se movem por meio de uma medida científica, mas de acordo com o parecer dos integrantes do conselho de ciência e segurança do BPA, que se reúne duas vezes por ano para determinar o quanto falta para meia-noite.

"É um símbolo que representa o quão perto ou longe estamos de uma catástrofe global. O que queremos mostrar com isso é o quão próximos estamos de destruir a vida na Terra como a conhecemos", explica Rachel Bronson, diretora-executiva e editora do boletim.

O último ajuste nos ponteiros aconteceu em janeiro deste ano, logo após a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Na ocasião, o relógio foi adiantado em meio minuto.

Apenas em 1953 os ponteiros estiveram mais adiantados do que agora, marcando dois minutos para meia-noite, após os EUA e a antiga União Soviética testarem bombas termonucleares.

Para os responsáveis pelo relógio, eventos recentes - como o lançamento de um míssil balístico intercontinental pela Coreia do Norte e a decisão de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas - acendem um alerta.

"Não estamos nos movendo na direção certa", diz Bronson à BBC.

Quando o Relógio do Apocalipse foi criado, em 1947, simbolizava a preocupação dos cientistas com o risco de um conflito nuclear diante da corrida armamentista no início da Guerra Fria.

Desenhado pela pintora Martyl Langsdorf, mulher do físico Alexander Langsdorf, do Projeto Manhattan (projeto de pesquisa e desenvolvimento que produziu as primeiras bombas atômicas durante a 2ª Guerra Mundial), o relógio marcava sete minutos para meia-noite em sua primeira aparição na capa do boletim.

Desde então, a posição dos ponteiros foi ajustada 22 vezes para frente ou para trás.

Do rock à ONU

As referências ao relógio vão muito além da ciência e da política. Bandas de rock - como Iron Maiden e Smashing Pumpkins - já dedicaram músicas a ele ("2 minutes to Midnight" e "Doomsday Clock", respectivamente).

O Relógio do Apocalipse também apareceu em um episódio da série Doctor Who, produzida pela BBC.

Atualmente, o relógio reflete, juntamente com o risco nuclear, a preocupação dos cientistas com os efeitos da mudança climática e novas tecnologias, como a inteligência artificial e a biologia sintética.

Em março, Kim Won-soo, representante da ONU para assuntos de desarmamento, alertou que o Relógio do Apocalipse tinha atingido sua pior marca em 64 anos.

"A necessidade de avançar no desarmamento nuclear poucas vezes foi tão urgente como é hoje", disse Kim Won-soo.

O relógio está mais adiantado do que se encontrava durante a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, quando marcava sete minutos para meia-noite, embora muitos acreditem que o horário deveria ter sido ajustado, na ocasião.

Bronson explica que isso aconteceu porque a Crise dos Mísseis foi tão rápida que os especialistas não chegaram a se reunir para ajustar o relógio. Quando se encontraram, os EUA e a então União Soviética já tinham assinado acordos para controle de armas.

Em 1991, com o fim da Guerra Fria e novos acordos firmados entre Washington e Moscou para redução de armas, o relógio chegou a indicar 17 minutos para meia-noite, sua melhor marca.

Mas o alívio sentido na época contrasta com o risco apontado agora.

'Mais perigoso'

Bronson explica que o último ajuste do relógio Apocalipse, em janeiro, refletiu uma crescente falta de consideração no mundo em relação ao conhecimento especializado, como comentários imprudentes em diferentes países sobre a questão nuclear.

"O presidente Trump e seu governo são grandes motivos de preocupação. Mas não são os únicos", declara.

"E (Trump) continua a fazer declarações que podem ser vistas - não sabemos se ele tem essa intenção - como uma ameaça velada ao uso de armas nucleares, o que é muito assustador", acrescenta Bronson.

Gestão de Donald Trump é um dos motivos de preocupação dos cientistas — Foto: Reuters/Jonathan Ernst

A cientista afirma que tem sido questionada se o relógio será acelerado novamente, diante do teste de míssil balístico intercontinental realizado pela Coreia do Norte na semana passada.

Mas, segundo ela, um novo ajuste não está sendo cogitado por enquanto, uma vez que o adiantamento dos ponteiros em janeiro já antecipou "que o mundo se tornaria mais perigoso" e é isso que está acontecendo.

Bronson admite, no entanto, que a situação pode mudar e o boletim se reserva ao direito de mover o relógio se for preciso.

"O importante é a tendência. Isso me preocupa muito. Estamos chegando mais perto ou nos afastando da meia-noite? Acreditamos que não está tão perigoso quanto em 1953, mas estamos caminhando para isso", conclui.

Por BBC, em 14/07/2017 16h05  Atualizado há 4 anos.

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