segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Quatro ex-presidentes latino-americanos exigem que a região isole o regime de Daniel Ortega

Fernando Henrique Cardoso, Laura Chinchila, Juan Manuel Santos e Ricardo Lagos pedem que governos ignorem resultados da eleição do domingo e suspendam a Nicarágua da OEA.


Nicaraguenses participam de uma manifestação contra as eleições presidenciais de seu país, no domingo, em San José, na Costa Rica. (Jeffrey Arguedas - EFE)

Daniel Ortega enfrenta o repúdio regional. Na noite de domingo, quatro ex-presidentes latino-americanos exigiram aos governos da América Latina que isolem o regime da Nicarágua e ignorem os resultados das eleições presidenciais deste domingo, em que Ortega concorreu sem adversários e se proclamou vencedor. O apelo foi assinado por Fernando Henrique Cardoso (Brasil), Laura Chinchilla (Costa Rica), Juan Manuel Santos (Colômbia) e Ricardo Lagos (Chile). Os ex-mandatários consideram que o pleito nicaraguense carece de legitimidade e que o financiamento de organismo internacionais ao Governo de Ortega deveria ser suspenso. Separadamente, o Governo da Costa Rica anunciou que não reconheceria os resultados eleitorais da nação vizinha.

“Neste 7 de novembro se registrou na Nicarágua uma jornada eleitoral marcada pela violação dos direitos dos cidadãos para escolher suas autoridades de maneira livre e democrática. O corrido é grave tanto para o futuro do povo nicaraguense como para o resto da América Latina, porque lá se aplicou rigorosamente o itinerário mediante o qual uma democracia se transforma em autocracia”, advertem os ex-presidentes. “Estas eleições tiveram lugar em um contexto de forte repressão, com todos os espaços de oposição democráticos fechados, carente das garantias básicas de integridade eleitoral e sem a presença de observadores internacionais confiáveis. O resultado foi o esperado: a reeleição ilegítima de Daniel Ortega para um quarto mandato e sua intenção de se perpetuar de maneira indefinida no poder”, alegam.

A eleição presidencial deste domingo foi considerada uma farsa pela oposição porque nos últimos meses Ortega mandou prender sete possíveis adversários que teriam chances reais de derrotá-lo. Além disso, desatou uma forte repressão e a detenção de vozes críticas, entre eles empresários, ativistas, feministas e jornalistas. Também tirou do jogo dois partidos políticos da oposição. Apesar disso, o Governo argumentou que as eleições foram transparentes e destacou a participação dos nicaraguenses, embora as imagens deste domingo mostrassem seções eleitorais desoladas e ruas vazias, num sinal de apoio à estratégia da oposição, que orientou a população a ficar em casa. “As condições sob as quais se convocou às urnas determinam a ilegitimidade destas eleições”, afirmam os ex-presidentes.

Os ex-mandatários solicitam que todos os governos do continente se recusem a reconhecer o resultado eleitoral e que a crise da Nicarágua seja tratada como prioridade na próxima Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, de 10 a 12 de novembro na Guatemala. Também defendem “aprofundar o isolamento internacional do regime”, o que pode incluir a suspensão da Nicarágua da OEA, e suspender todos os programas ou negociações das instituições financeiras internacionais com a Nicarágua “enquanto as condições mínimas de vigência da institucionalidade democrática não retornarem”.

Neste domingo, também o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se pronunciou sobre o processo eleitoral nicaraguense, que descreveu como uma pantomima, enquanto o Governo da Costa Rica, liderado pelo presidente Carlos Alvarado, afirmou que não reconhecerá os resultados por causa da ausência de garantias democráticas.

Em seu pronunciamento, os quatro ex-presidentes que assinam a carta fazem uma alusão à Revolução Sandinista de 1979, liderada pelo próprio Ortega, quando dizem que “há quatro décadas o povo do Nicarágua empreendeu um caminho de resgate da democracia após longos anos sob uma ditadura opressiva extrema”. “Hoje aqueles sonhos estão sufocados por um mandatário que, instalado no poder, assumiu o mesmo caminho e impede o seu povo de escolher com plena liberdade o devir do seu futuro. Perante isso, os povos e governos da América Latina não podem ser indiferentes”, pedem Cardoso, Chinchilla, Lagos e Santos.

Carlos Salinas Maldonado, da Cidade do México para o EL PAÍS, em  08 NOV 2021

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