terça-feira, 7 de setembro de 2021

Presidente diz que não vai cumprir decisões tomadas por Moraes

PSDB diz que se reunirá para discutir impeachment de Bolsonaro. Ao discursar na Esplanada dos Ministérios, presidente falou em “ultimato” ao se referir ao presidente do STF, Luiz Fux. O ex-assessor da família Bolsonaro Fabrício Queiroz é festejado em protesto no Rio de Janeiro. Enquanto isso, a crise sanitária segue com tendência de queda. O país se aproxima de 584.000 mortes por covid-19; siga

“Ou o chefe desse Poder [Luiz Fux] enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”, discursou Jair Bolsonaro para um mar de apoiadores na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em referência ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O presidente discursava ao lado de alguns ministros, como Braga Netto, da Defesa, Onyx Lorenzoni, do Trabalho, e Damares Alves, dos Direitos Humanos. O tom usado pelo mandatário levou o PSDB a anunciar que discutirá nesta quarta-feira sua posição sobre o impeachment de Bolsonaro. Horas depois, Bolsonaro repetiu o discurso para a plateia da avenida Paulista, acrescentando apenas o nome do ministro do STF Alexandre de Moraes, que ele não tinha mencionado na capital federal, e críticas sobre o sistema eleitoral brasileiro.

O 7 de Setembro nem havia começado quando os apoiadores do presidente conseguiram forçar a entrada na Esplanada dos Ministérios. Ao contrário do que estava planejado pela Polícia Militar do Distrito Federal, caminhões, entre outros veículos, circularam pelas vias do centro de Brasília, após os manifestantes romperem a primeira barreira estabelecida pela PM. 

Os atos desta terça são vistos no exterior como “insurreição” que coloca em perigo a democracia do Brasil e ex-presidentes e políticos de 26 países assinaram uma carta em alerta à situação. Enquanto isso, a crise sanitária segue com tendência de queda enquanto avança a vacinação. O Brasil registrou mais 9.154 casos e 182 mortes por covid-19 nesta segunda. 

Com isso, soma 20,89 milhões de infectados e 583.810 óbitos desde o começo da pandemia. Os dados são do Ministério da Saúde e são impactados pelas equipes reduzidas nos laboratórios durante o fim de semana. A média móvel de mortes por covid-19 no país segue em queda, com cerca de 600 registros diários.

MDB se une ao coro dos críticos a Bolsonaro: "Parece tentar desviar dos problemas reais"

"É lamentável o presidente da República usar o Dia da Independência para afrontar os outros Poderes. Parece tentar se desviar dos problemas reais: inflação de alimentos, combustíveis, crise fiscal, hídrica, desemprego e baixo crescimento", diz em nota o MDB. O partido diz respeitar "divergências programáticas", "mas se aferra à Constituição que determina a independência harmônica entre os poderes. Contra isso, o próprio texto constitucional tem seus remédios em defesa da democracia, que é sinônimo da vontade do povo", completa a nota.

Camilo Santana: "Ameaças de tom golpista tentam demonstrar força, mas só revelam a fraqueza e o desequilíbrio de quem as faz"

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), também repercutiu os atos com pauta antidemocrática e em apoio ao presidente Bolsonaro nesta terça-feira. "Essas ameaças de tom golpista tentam demonstrar força mas, ao contrário, só revelam a fraqueza e o desequilíbrio de quem as faz. Mostram desprezo às leis e à Constituição. Tentam provocar o caos para tirar o foco dos reais problemas do país e da total incapacidade de resolvê-los", afirmou o petista pelo Twitter.

Em São Paulo, Bolsonaro diz abertamente que não cumprirá decisões do Supremo tomadas por Alexandre de Moraes

Ao iniciar seu segundo discurso do dia, desta vez em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro falou sobre a pandemia de covid-19 e, mais uma vez, criticou as autoridades estaduais e municipais que adotaram medidas restritivas para tentar frear o contágio do coronavírus. "Tinha de esperar um pouco mais para que a população fosse se conscientizando do que é um regime ditatorial. Pior do que o vírus foram as ações de alguns governadores e prefeitos", afirmou. 

Depois, adotou o tom já usado pela manhã, em Brasília, e voltou a criticar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), citando nominalmente, pela primeira vez, Alexandre de Moraes, magistrado que tem adotado decisões contrárias aos aliados do presidente. Segundo ele, Moraes "açoita a democracia" e "desrespeita a Constituição". 

"Ou Alexandre de Moraes se enquadra ou ele pede para sair!", repetiu Bolsonaro, sob gritos de apoios da multidão e foi ainda mais categórico do que na capital do país: "As ordens de Alexandre de Moraes, esse presidente não obedecerá mais". 

Diante de apoiadores pedindo "liberdade", o presidente disse que defende a democracia, mas que não pode aceitar participar de uma "eleição que não oferece qualquer segurança". Sem mencionar nominalmente o ministro Luís Roberto Barroso, disse ainda que o sistema eleitoral não pode ser definido por uma única pessoa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Não posso mais participar de uma farsa patrocinada pelo presidente do TSE", acrescentou, fazendo alusão ao voto impresso, uma das pautas dos atos deste 7 de Setembro. 

Dória: "Bolsonaro afronta a Constituição, desafia a democracia e empareda a Suprema Corte brasileira"

O governador de São Paulo, João Doria, defendeu nesta terça o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Ele diz que não integra a Executiva nacional do PSDB e, portanto, não vai participar da reunião marcada para esta quarta para discutir a questão, mas defendeu que os tucanos marquem oposição ao presidente e se coloquem favoráveis ao impedimento. "A nossa posição é pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Eu até hoje nunca havia feito uma manfestação pró-impechment, quero deixar claro. Me mantive na neutralidade, entendendo que até aqui os fatos deveriam ser avaliados e julgados pelo Congresso Nacional. Mas depois do que assisti hoje e ouvi em Brasília, sem sequer estar ouvindo o que pronunciará aqui o presidente Jair Bolsonaro, ele afronta a Constituição, desafia a democracia e empareda a Suprema Corte brasileira", declarou em entrevista coletiva na capital paulista. 

Eduardo Leite: "Foi um erro colocar Bolsonaro no poder. Está cada vez mais claro que é um erro mantê-lo lá".

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, diz que foi um erro colocar Bolsonaro no poder. "Está cada vez mais claro que é um erro mantê-lo lá", postou no Twitter. "Inflação, desemprego, apagão de energia, desmatamento da Amazônia, pandemia… Esses deveriam ser os inimigos do PR do Brasil, e não outros brasileiros. Mas Bolsonaro se engana: nossas cores e nosso país não têm dono. Iremos defender os brasileiros e a democracia que ele ataca", afirma o tucano. Leite apoiou o presidente nas últimas eleições gerais e agora seu nome é cotado como um dos pré-candidatos ao Planalto. Seu partido, o PSDB,  informou nesta terça que discutirá a abertura de impeachment contra Bolsonaro.

EL PAÍS, em 07.09.2021

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