terça-feira, 3 de agosto de 2021

Horizonte de investigação do TSE é amplo e pode inviabilizar reeleição de Bolsonaro

Caso o corregedor produza provas de crimes ou abusos na esfera eleitoral, caberá ao MP Eleitoral iniciar processo, agora ou no período eleitoral de 2022. Michael Mohallem, Professor de Direito e Advogado especialista em Direito Público analisa a decisão do TSE.

A investigação aberta pela Justiça Eleitoral contra Bolsonaro é uma novidade importante. O inquérito administrativo no TSE abre novo flanco de enfrentamento jurídico em instituição que pode inviabilizar sua tentativa de reeleição.

Se a via da PGR para investigar crimes comuns parece estar obstruída pela fidelidade do Procurador-Geral e a via da Câmara dos Deputados para apurar crimes de responsabilidade sempre mais improvável com a adesão completa do PP ao governo Bolsonaro, o caminho da Justiça Eleitoral pode se tornar oportuno para assuntos de sua competência.

O inquérito no TSE se assemelha ao inquérito das fake news no STF – a fundamentação jurídica de abertura é, inclusive, a mesma. Ambas são investigações atípicas por serem abertas de ofício e dependerão de outros atores para produzirem resultados jurídicos definitivos. Os inquéritos, porém, têm escopos bastante amplos e podem revelar fatos ou produzir provas robustas que constranjam a ação até mesmo do PGR, sabidamente aliado do presidente. Os inquéritos podem conter o presidente enquanto estão abertos, mas também podem oferecer provas para processos judiciais que deles derivem.

O horizonte de investigação do TSE é amplo. Buscará evidências que vão do abuso do poder político até corrupção, sem deixar de avaliar se o presidente fez uso indevido dos meios de comunicação. E para isso poderá realizar perícias, ouvir autoridades e quebrar sigilos dentre outras medidas. Mas cada evidência produzida só terá utilidade no seu respectivo foro. Caso o corregedor do TSE produza provas de crimes ou abusos na esfera eleitoral, caberá ao MP Eleitoral iniciar processo, agora ou no período eleitoral de 2022, cujo resultado poderá ser a inelegibilidade de Bolsonaro. É possível que até seus maiores aliados políticos hoje vejam com bons olhos essa medida que abriria caminho definitivo para uma nova força eleitoral do campo conservador.

Publicado originalmente n'O Estado de São Paulo, em 03.08.2021


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