sábado, 3 de julho de 2021

De Xuxa ao PSTU, protestos contra Bolsonaro atraem aliados improváveis e buscam crescer com a crise política

Movimentos de diferentes ideologias convergem nos atos que serão realizados neste sábado nas grandes capitais de todo país, em um momento em que a pressão aumenta para o presidente. Vem para a Rua apoia movimento, mas disse que não é hora ainda de ir aos atos por causa da pandemia


Protestos contra o presidente Jair Bolsonaro dia 30 de junho,em Brasília. (JOÉDSON ALVES /  

Um post, à primeira vista tímido, da ex-apresentadora Xuxa Meneghel em sua rede social chamando para os protestos contra o presidente Jair Bolsonaro deste sábado, e a resposta do roqueiro, assumidamente reacionário, Tico Santa Cruz, dão o tom do que parece ser o início de um diálogo nas ruas entre improváveis aliados nas manifestações deste final de semana: “Vamos derrubar o genocida corrupto! Não se trata de ideologias, se trata de salvar vidas! TMJ”. 

Em todo o país, movimentos sociais somam forças com partidos de esquerda e centrais sindicais para aumentar a pressão sobre o Governo federal e já contam com a simpatia —não necessariamente apoio— de antigos opositores, como o diretório municipal do PSDB de São Paulo e o movimento Vem Pra rua.

“O diretório municipal de São Paulo é o que tem maior base e militância política de rua, temos 19 secretários e é unânime a indignação com o que está acontecendo no país. Por isso decidimos aderir às manifestações e somos a favor do impeachment”, afirmou o presidente do diretório paulistano Fernando Alfredo, deixando claro que ele não fala pelo PSDB Nacional, que ainda não se posicionou sobre o pedido de afastamento do presidente. 

Para Alfredo, tirar Bolsonaro do cargo é uma questão de “garantir a preservação da vida e da democracia”, mesmo se a estrutura que o sustenta hoje, baseada no apoio de militares, seja mantida com um eventual impeachment. “O presidente isolou o vice. Mourão sabe da responsabilidade dele”, justifica.

Já o Vem pra Rua, que nasceu como um antagonista dos governos de esquerda, não fez convocação desta vez, mas se diz simpático ao movimento. “Ainda estamos muito preocupados com a pandemia. Acompanhando o calendário de vacinação, acredito que em 45, 50 dias já será possível ir à rua com mais segurança. 

Entendemos que é muito importante, não criticamos quem decide ir agora”, afirma Luciana Alberto, porta-voz do Vem pra Rua, que acredita na possibilidade de diálogo com a esquerda, porque há uma convergência entre diferentes ideologias na pauta do impeachment. Segundo ela, é um equívoco acreditar que o movimento deu apoio específico a Bolsonaro nas últimas eleições. “Apoiamos a renovação política”, afirma. 

No entanto, as primeiras medidas do atual Governo já demonstraram um certo distanciamento das promessas de campanha, como combate à corrupção. O Vem pra Rua ―que a representante define como um “movimento de centro mais liberal, mais à direita”―, protocolou seu próprio pedido de impeachment contra Bolsonaro, listando 130 crimes de responsabilidade que teriam sido cometidos em seu Governo.

REGIANE OLIVEIRA, de S. Paulo para o EL PAÍS, em 02.07.21

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