sábado, 15 de maio de 2021

Bolsonaro desfila a cavalo em protesto de ruralistas e reclama de soltura de Lula

Presidente também discursou contra ‘arbitrariedades’ de governadores e prefeitos

Bolsonaro desfila a cavalo em ato na Esplanada dos Ministérios Foto: Reprodução / Twitter

O presidente Jair Bolsonaro participou neste sábado de uma manifestação organizada por ruralistas para apoiar o governo e criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e a CPI da Covid. Depois de cavalgar na frente dos manifestantes usando um chapéu de boiadeiro na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro subiu em um carro de som e, sem citar nominalmente o STF, fez discurso afirmando que "tiraram um canalha da cadeia". Segundo ele, um político solto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula, que também não teve no nome citado, quer ganhar a eleição por meio de fraude. Bolsonaro repete o discurso da campanha de 2018 e, sem apresentar provas, alega que só o voto impresso é capaz de garantir a lisura das eleições.

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— Quem prepara a terra e planta, é porque quer colher alguma coisa lá na frente. Se tiraram da cadeira o maior canalha da História do Brasil, se para esse canalha foi dado o direito de concorrer, o que me parece é que se não tivermos o voto auditável, esse canalha ganha as eleições do ano que vem — disse Bolsonaro, em referência a Lula.

Sem usar máscara, Bolsonaro caminhou entre os manifestantes, que criticavam tanto os ministros do Supremo quanto os membros da CPI da Covid. Bolsonaristas também se reuniram neste sábado na Avenida Paulista, em frente ao prédio da Fiesp, em São Paulo, para defender pautas do governo. O ato foi organizado pela Marcha da Família.

Ao som de gritos de "eu autorizo, eu autorizo”, uma referência ao discurso em tom de ameaça do próprio Bolsonaro de que esperava um pedido do povo para adotar medidas contra as medidas de isolamento social na pandemia, o presidente afirmou que não se pode “assistir passivamente tantos desmandos”:

— Não podemos assistir passivamente tantos desmandos, tantas arbitrariedades que vocês bem viram ao longo do último ano. Parece que tínhamos que passar por isso para dar valor à nossa liberdade.

O presidente disse que "direitos" estão sendo "suprimidos" e que "acabou esse tempo":

— Não queremos o confronto com ninguém. Mas não ousem confrontar ou roubar a liberdade do nosso povo. Vocês tem todo o direito de ir e vir, o direito à crença, o direito de trabalhar. E, sem qualquer critério, esses direitos foram suprimidos de vocês. Acabou esse tempo. Isso não voltará a acontecer. Afinal de contas, esse dispositivo constitucional é um dever de todos nós respeitar.

Bolsonaro destacou que muitos apoiadores querem "solução rápida para tudo", mas afirmou que todos os seus ministros tem o mesmo propósito de "servir à sua pátria" e "preservar a nossa liberdade".

Diversos ministros do governo federal estiveram presentes, como Walter Braga Netto (Defesa), Anderson Torres (Justiça), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Tezera Cristina (Agricultura), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

Bolsonaro também falou em "reunião de vagabundos" — repetindo o termo usado por um dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), para se referir ao relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL) — e disse que não iria dar "palanque".

— Você falou a palavra "súcia". Alguém sabe o que o significado de súcia? É a reunião de vagabundos. É a turminha deles. Mas não vamos dar palanque. Todo mundo já conhece quem é esse cara e qual o seu papel.

Antes da chegada de Bolsonaro, dois helicópteros da Presidência sobrevoaram a manifestação em Brasília, por volta das 15h, para observação. Depois de darem duas voltas, as aeronaves retornaram para o Palácio da Alvorada. Pela manhã, o presidente avisou nas redes sociais que estaria “com o povo” na Esplanada.

Dois atos diferentes estavam marcados para este domingo na capital federal: um de religiosos, pela manhã, e outro de produtores agropecuários, de tarde. Na prática, no entanto, houve uma mistura entre os dois grupos.

O STF foi um dos principais alvos dos manifestantes, seja em cartazes ou em gritos nos carros de som. Uma faixa, por exemplo, dizia que os ministros da Corte estão “demitidos”. Outra pedia uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o tribunal.

Outro ponto muito citado foi o chamado "voto impresso auditável". A presidente da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ), Bia Kicis, autora de uma proposta sobre este tema, discursou no carro de som e pediu para os manifestantes gritarem alto o suficiente para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, escutar.

Ataques a Renan na Paulista

Em São Paulo, cerca de 200 pessoas fizeram orações por Bolsonaro, também defenderam a aprovação do uso do voto impresso nas eleições de 2022 e fizeram diversos ataques a desafetos do presidente. Renan Calheiros foi alvo de coros de "Renan vagabundo", uma repetição da ofensa proferida por Flávio Bolsonaro. A CPI da Covid, que investiga possíveis crimes do governo federal no combate à pandemia, foi chamada de "farsa".

A manifestação contou com dois representantes do baixo escalão do governo. Quirino Cordeiro Jr, secretário de Cuidados e Prevenção às Drogas, do Ministérios da Cidadania, e Angela Gandra, secretária nacional da Família, ligada ao ministério de Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), discursaram do carro de som.

Numa barraca atrás da aglomeração, onde muitas pessoas não usavam máscaras, militantes bolsonaristas coletavam assinaturas para a criação do Aliança pelo Brasil, partido em construção ligado à família Bolsonaro. Enquanto Angela fez defesa das políticas públicas do governo voltadas à família, Quirino afirmou que o "Brasil vive o maior risco de legalização das drogas na história". No discurso de outros militantes, a esquerda foi associada ao "demônio" e à maconha.

O deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP) participou da manifestação de cima do carro de som. Estavam presentes também grupos como Aliança Jovem Conservadora, Família Cristã pela Liberdade e Movimento Pra Frente Brasil.

Daniel Gullino e Guilherme Caetano / n'O Globo, em 15/05/2021 - 15:43 / Atualizado em 15/05/2021 - 18:44

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