terça-feira, 20 de abril de 2021

Sputnik V: o que se sabe sobre a vacina russa que tem efetividade de 97,6%, de acordo com novo estudo

Hoje, 62 países, com uma população de 3 bilhões de pessoas, já autorizaram o uso emergencial ou concederam o registro da Sputnik V.

O uso da Sputnik já foi autorizado em 51 países, que reúnem uma população somada de 1,3 bilhões de pessoas (Crédito da foto: Reuters)

A vacina russa Sputnik V teve até agora uma efetividade de 97,6%, de acordo com um anúncio feito na segunda-feira (19/04) pelo Instituto Gamaleya, responsável por seu desenvolvimento.

A taxa é baseada em um estudo realizado a partir do acompanhamento de 3,8 milhões de russos que já receberam as duas doses do imunizante.

Esses resultados são ainda melhores do que os primeiros estudos de eficácia divulgados anteriormente.

A efetividade é a taxa atestada no mundo real, com a aplicação em massa.


No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está analisando um pedido de uso emergencial da Sputnik V feito pela farmacêutica União Química, que fechou um acordo com o Gamaleya para fabricação e distribuição da vacina russa localmente.

Dezenas de milhões de doses já foram compradas pelo governo federal, Estados e municípios do país, que agora aguardam o aval da agência para começar a aplica-la.

Entenda a seguir o que se sabe sobre esse imunizante até o momento.

O que apontaram os testes feitos na Rússia?

Sputnik V foi registrada na Rússia antes mesmo de ter eficácia comprovada em testes (Crédito da foto: Reuters).

As duas primeiras fases dos estudos clínicos da Sputnik V começaram na Rússia no final de junho, quando foi investigado se a vacina, que é aplicada em duas doses com diferença de 21 dias entre elas, é segura e leva à produção de anticorpos. Cada fase teve 38 participantes.

Publicados no periódico The Lancet, os resultados apontaram que só foram registrados eventos adversos leves e nenhum grave, e que todos os participantes desenvolveram uma resposta imunológica capaz de combater o coronavírus e impedir a infecção por ele.

A Sputnik V foi aprovada nesses testes e partiu para a terceira e última etapa do estudo, para verificar se ela realmente conseguiria proteger contra a covid-19.

Os resultados preliminares desta fase foram publicados no The Lancet em 2 de fevereiro e revelam uma taxa de eficácia de 91,6%. A eficácia contra casos moderados e graves da doença foi de 100%.

A pesquisa, feita com 20 mil voluntários, continua em andamento para avaliar a proteção ou possíveis efeitos colaterais em longo prazo. O objetivo é chegar a 40 mil participantes.

Outra importante observação do artigo publicado no The Lancet foi o fato de a Sputnik V ter funcionado bem em indivíduos acima dos 60 anos. Na análise de um subgrupo de 2 mil idosos, a eficácia também ficou na casa dos 91%.

Agora, um estudo realizado com 3,8 milhões de pessoas que já tomaram duas doses da vacina, entre 5 de dezembro e 31 de março, apontaram uma efetividade de 97,6%.

Desse grupo, 0,027% foram infectados pelo novo coronavírus a partir de 35 após a data da aplicação da primeira dose. O índice foi de 1,1% entre adultos que não foram vacinados.

A pesquisa ainda não foi publicada, mas isso será feito em maio, de acordo com o Gamaleya.

Como funciona a Sputnik V?

Vacina russa usa a mesma tecnologia do imunizante de Oxford (Crédito da foto: Reuters)

Essa vacina usa uma tecnologia conhecida como vetor viral não replicante, que já é pesquisada há décadas pela indústria farmacêutica e é a mesma da vacina de Oxford.

Esse tipo de vacina usa outros vírus inofensivos para simular no organismo a presença de uma ameaça mais perigosa e que se deseja combater para gerar uma resposta imune.

No caso da vacina russa, ela é feita com adenovírus que causam resfriados em humanos. Eles foram modificados para não serem capazes de se replicar depois que entram nas células humanas.

Os cientistas inseriram neles as instruções genéticas para a produção de uma proteína característica do novo coronavírus, a espícula.

Uma vez injetados no organismo, eles entram nas células e fazem com que elas passem a produzir e exibir essa proteína em sua superfície.

Isso alerta o sistema imunológico, que aciona células de defesa e, desta forma, aprende a combater o Sars-CoV-2, o que protegerá uma pessoa se ela for infectada pelo vírus.

Onde a vacina já foi aprovada?

A Sputnik V tornou-se em 11 de agosto a primeira vacina a ser aprovada registrada no mundo por uma autoridade sanitária — no caso, a agência da própria Rússia — antes msmo de os testes de eficácia serem concluídos.

Desde então, o país imunizante já recebeu autorização de uso emergencial ou teve seu registro definitivo concedido em mais 61 países.

São eles (em ordem alfabética): Angola, Antígua e Barbuda, Argélia, Argentina, Armênia, Azerbaijão, Bahrein, Belarus, Bolívia, Bósnia e Herzegovina, Camarões, Cazaquistão, Congo, Djibouti, Egito, Emirados Árabes, Eslováquia, Filipinas, Gabão, Gana, Guatemala, Guiana, Guiné, Honduras, Hungria, Índia, Ilhas Maurício, Irã, Iraque, Jordânia, Laos, Líbano, Macedônia do Norte, Mali, Marrocos, México, Mianmar, Moldávia, Mongólia, Montenegro, Namíbia, Nicarágua, Panamá, Palestina, Paquistão, Paraguai, Quênia, Quirguistão, República da Guiné, República do Congo, San Marino, São Vicente e Granadinas, Seicheles, Sérvia, Síria, Sri Lanka, Tunísia, Turcomenistão, Uzbequistão, Venezuela e Vietnã.

E no Brasil?

Em março, um consórcio de nove governos do Nordeste anunciou a compra de 37 milhões de doses da Sputnik V, e o governo federal divulgou a aquisição de mais 10 milhões de doses.

O Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Brasil Central, formado pelo Distrito Federal e os Estados de Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins, também divulgou que negocia a compra de cerca de 30 milhões de doses.

O Consórcio Nacional de Vacinas das Cidades Brasileiras, que representa 2,5 mil municípios, divulgou a intenção de comprar 30 milhões de doses.

Vários outros Estados e cidades também já disseram ter a intenção de comprar a vacina russa. Mas isso depende do aval da Anvisa.

A agência está analisando um segundo pedido de uso emergencial feito pela União Química. O primeiro havia sido entregue em janeiro, mas foi devolvido pela agência por não apresentar os requisitos mínimos para análise, e acabou sendo cancelado.

A empresa deu entrada em uma segunda solicitação em 26 de março. Uma vez feito o pedido de uso emergencial, a agência tem 30 para analisar a solicitação e emitir seu parecer. A Anvisa informa que um imunizante "precisa ter demonstrado um mínimo de 50% de eficácia, além de segurança bem estabelecida" para ser aprovado.

De acordo com o site da agência sobre o andamento destes pedidos, 15,48% da documentação necessária ainda não foi enviada e que 63,75% ainda precisa ser complementada. O restante já foi analisado ou está em análise.

Além do pedido de uso emergencial, 11 Estados (Acre, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia e Sergipe) pediram à Anvisa autorização para importar o imunizante.

Em uma reunião com os governadores no início de abril, a agência se comprometeu a buscar ativamente informações para avaliar o pedido de importação junto à Organização Mundial de Saúde (OMS) e à Agência Europeia de Medicamentos (EMEA).

A Anvisa tem até 30 dias para analisar esse pedido. Se não o fizer, o autor da solicitação fica autorizado a importar e distribuir o imunizante. A decisão foi referente a um pedido do governo do Maranhão, feito em 29 de março.

A agência também enviou uma equipe à Rússia para inspecionar as fábricas da vacina russa, que não é um requisito para importação, mas é uma exigência para a autorização de uso emergencial feito pela União Química.

Anteriormente, a farmacêutica havia informado ter capacidade de fabricar e distribuir 150 milhões de doses do imunizante até dezembro de 2021. A empresa tem um acordo com o Gamaleya para transferência de tecnologia.

Rafael Barifouse, de S. Paulo para a BBC News Brasil em, 23 janeiro 2021

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