Até cair em desgraça, João Santana era estrela do marketing político não apenas nacional, mas também da América Latina.
No tempo em que o dinheiro jorrava de empresas interessadas em agradar candidatos, compôs com Duda Mendonça o seleto grupo de magos das campanhas eleitorais, capazes de organizar estratégias e programas de TV que resultaram em vitórias memoráveis.
Enfrentando caciques como José Serra e Aécio Neves, conseguiu o prodígio de eleger e reeleger Dilma Rousseff — primeiro a desconhecida ministra, depois a temperamental presidente.
Santana conhece os caminhos das urnas; conhece a sociologia do voto nacional, a psicologia dos eleitores. Também conhece pontos fortes e vulnerabilidades
Ciro, Santana, Lupi, a nova cara do PDT (Reprodução/Twitter)
Santana conhece os caminhos das urnas; conhece a sociologia do voto nacional, a psicologia dos eleitores. Também conhece pontos fortes e vulnerabilidades dos adversários de seus futuros clientes. É duro e sabe bater forte.
Por tudo isso, Ciro Gomes e o PDT o contrataram. Não ignoram que 2022 pode ser a cartada definitiva de um candidato controverso que, em sua quarta tentativa, enfrentará gigantes como Jair Bolsonaro e Lula. E, antes, no campo delineado como centro, João Doria, Eduardo Leite; talvez, Tasso Jereissati. Melhor colocar destino em mãos profissionais.
Ano passado, entrevistado pelo programa Roda Viva, da TV Cultura, Santana demonstrou animação por uma chapa “Ciro/Lula”. É pouco provável que ocorra. Ciro tem destruído pontes, com sinais contraditórios: ora, de mãos postas, apela a Lula para que passe a vez; ora, iracundo, afirma que no hipotético segundo turno entre o petista e Bolsonaro, não hesitará em viajar, mais uma vez, a Paris.
Talvez o primeiro dos trabalhos de Santana seja regular essas oscilações de Ciro, torná-lo mais estratégico e perene em seus humores e objetivos; menos mercurial e, tanto quanto possível, plácido. Não será simples. Depois, fazê-lo ganhar tração eleitoral. Lula tem dito que, se querem que passe o bastão, será necessário, primeiro, que consigam correr à sua frente. Numa eleição, o tempo se esgota em átimos de segundo. Talvez Santana precise sussurrar em seu ouvido: “corra, Ciro, corra”.
Carlos Melo, cientista político, é Professor do Insper. Este artigo foi publicado originalmente n'O Estado de S. Paulo, em 24.04.2021.
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