quarta-feira, 31 de março de 2021

No Brasil, 25 estados têm mais de 80% de UTIs ocupadas

Levantamento da Fiocruz mostra que Amapá e Mato Grosso do Sul estão com capacidade de terapia intensiva 100% esgotada; há 16 estados com lotação acima de 90%

UTI do Hospital de Campanha AME Barradas, em Heliópolis (SP), lotada de pacientes com Covid-19 Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

O Brasil registrou na terça-feira 3.668 mortes por Covid-19 em um único dia, uma marca sem precedente na pandemia e que ocorre quando 25 das 27 unidades da federação têm taxa de leitos de UTI com ocupação acima de 80%.

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O quadro da epidemia, descrito como “extremamente crítico” pela Fiocruz, já exibe dois estados (Amapá e Mato Grosso do Sul) com capacidade de terapia intensiva 100% esgotada. Há 16 estados com lotação acima de 90%, incluindo São Paulo (92%), que teve terça sozinho o recorde de 1.209 mortes em 24 horas.

O Brasil acumula 317.936 óbitos pela Covid-19, segundo dados do boletim do consórcio de veículos de imprensa. Na terça, o país teve 86.704 pessoas diagnosticadas com infecção pelo novo coronavírus, totalizando 12.664.058 casos até agora.

O grupo Observatório Fiocruz Covid-19, que monitora os números da capacidade de atendimento do sistema de saúde em todo o país, afirma que a elevação do número de mortes está em um novo patamar.

“Se Manaus e o Amazonas, com o colapso do seu sistema de saúde, constituiu um alerta do que poderia ocorrer em outros estados, a situação hoje de São Paulo e capital é um alarme do quanto esta crise pode ser mais profunda e duradoura do que se imaginava até então”, afirmaram os pesquisadores do grupo em comunicado nesta noite.

“As medidas de restrição de mobilidade, adotadas nos últimos dias por diversas prefeituras e estados, ainda não produziram efeitos significativos sobre as tendências de alta de todos os indicadores”, diz o grupo, que conclui: “Esses indicadores sempre estão defasados no tempo, e o crescimento do número de casos na última semana epidemiológica (21 a 27 de março) pode ser resultado de exposições ocorridas em meados de março”.

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No documento, os pesquisadores sugerem que os estados que se encontram em situação crítica adotem “lockdown”, medidas de contenção duras, por duas semanas ou até que o número de casos se reduza “em torno de 40%”.

Segundo a epidemiologista Margareth Portela, da Fiocruz, que participou do levantamento nacional sobre a ocupação de leitos, a margem pequena de ocupação que resta aponta um risco iminente de colapso.

— Pode haver variação de forma muito rápida. De 88% passa para 93% rapidinho, até porque o crescimento da pandemia é exponencial. Um dia de crescimento mais expressivo, potencialmente, consome essa folga de alguns leitos — afirmou a cientista.

Escalada rápida

A média móvel de sete dias do número diário de mortes no país agora está em 2.728, o que representa aumento de 34% nas últimas duas semanas. Os três estados com maior aumento percentual no número de mortes ao longo da última quinzena são Espírito Santo (118%), Distrito Federal (100%) e Mato Grosso do Sul (68%). A ocupação hospitalar também cresce nesses locais.

— Não há dúvidas de que no estágio em que a gente está é preciso interromper a transmissão de forma significativa — diz Portela, que completa: — O sistema de saúde não está dando conta, tem que interromper porque o Brasil está colapsado. A gente tem que parar. Eu estou muito apavorada.

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Segundo a pesquisadora, não há um sinal muito claro ainda de estabilização da situação, mesmo com as medidas um pouco mais rígidas tomadas em alguns estados.

O número de diagnósticos positivos registrados por dia, caso não esteja subdimensionado, está se estabilizando, mas devagar, e ainda está crescendo. Aumentou 7% em relação à quinzena anterior, quando tinha aumentado 14%.

Os números de vacinação contra o coronavírus estão avançando, mas devagar. O Brasil conseguiu aplicar a primeira dose até agora em 16.937.084 pessoas (8% da população), e 4.946.579 já receberam a segunda dose, o que representa uma cobertura vacinal completa de 2,34% no país.

Aflição paulista

Segundo o governo de São Paulo, a situação é difícil, mas o recorde de mortes no estado se deve em parte a um acúmulo de notificações de dias anteriores, que acabaram sendo processadas apenas ontem.

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O pico anterior de mortes por Covid-19 no estado tinha sido registrado na última sexta-feira (26): 1.193 óbitos em 24 horas. No mesmo dia, o governo de São Paulo prorrogou a fase de emergência em todo o estado até 11 de abril.

Inicialmente, as regras valeriam até ontem, mas o Centro de Contingência considerou ser importante alocar mais tempo para que as medidas de restrição resultem em uma significativa diminuição das hospitalizações.

— São Paulo estar onde está, vivendo esse caos, é muito assustador, e a região Sul do país também — diz Portela. — São Paulo reúne recursos e tem um sistema de saúde mais estruturado. A região Sul tem histórico de ser bem estruturada e também colapsou.

Constança Tatsch e Rafael Garcia, de O Globo, em 31.03.2021, às 4:30 hs. (Colaborou Ana Letícia Leão)

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