domingo, 14 de março de 2021

Bolsonaro deve demitir Pazuello nesta semana, dois cardiologistas são cotados o ministério da Saúde

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu trocar o seu ministro da Saúde. O general Eduardo Pazuello deverá ser demitido entre segunda e terça-feira, conforme duas fontes do Planalto relataram ao EL PAÍS. Oficialmente, a exoneração será a pedido e o militar deverá alegar que se afastará para cuidar de sua saúde. 

General Eduardo Pazuello, Ministro da Saúde

Na prática, será uma demissão porque o presidente tem se sentido pressionado a mudar sua política no combate ao coronavírus em um momento que a pandemia recrudesceu, o número diário de mortes ultrapassa as 2.000, o sistema de saúde está colapsando em boa parte dos Estados e a vacinação caminha a passos lentos. Bolsonaro quer deixar de ser considerado o principal responsável por essa condução equivocada e espera que a troca no comando da Saúde passe um sinal positivo para a opinião pública e para o mercado financeiro.

Apesar de ser especialista em logística, o general não conseguiu distribuir testes para covid-19 em todo o país, falhou em negociar e comprar vacinas com antecedência, assim como foi ineficaz no fornecimento de oxigênio para a cidade de Manaus (AM), quando diversas pessoas contaminadas com a doença e internadas em UTIs morreram por falta de ar. Por esta última razão, ele está sendo investigado pelo Ministério Público Federal. Todas as ações do ministro sempre tiveram o suporte do presidente.

Dois nomes têm sido sondados para assumir o cargo: Ludhmila Abrahão Hajjar e Marcelo Queiroga. Ambos são médicos cardiologistas. Hajjar é professora da Associação de Cardiologia da Faculdade de Medicina da USP. Queiroga preside a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Em entrevista recente à Forbes, a médica disse ser fã de Angela Merkel por entender que a primeira ministra alemã é “uma líder que cuida de seu povo, valoriza a ciência e está à frente do seu tempo”.

Em se confirmando a demissão, essa será a terceira troca no Ministério da Saúde em menos de dois anos. Os outros dois demitidos foram o ex-deputado Luiz Henrique Mandetta e o oncologista Nelson Teich. Ambos discordavam da política negacionista de Bolsonaro com a pandemia. Os dois também rejeitavam referendar as práticas do presidente, que se demonstrou contrário às medidas de isolamento social e não estavam de acordo com a defesa do uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid-19, como cloroquina e ivermectina.

A troca de Pazuello tem sido chamada em Brasília de efeito Lula. Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recuperou seus direitos políticos e sinalizou que pode concorrer com Bolsonaro na eleição de 2022 o mandatário tem sido orientado a mudar de atitude. Ele sabe que o petista seria o seu principal adversário nas urnas e com altas chances de vitória.

A iminente queda de Pazuello também alimenta os anseios do Centrão, o fisiológico grupo de deputados de centro-direita que sustenta o Governo Bolsonaro e é comandado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Em princípio, esses políticos queriam indicar para o cargo os deputados Ricardo Barros (PP-PR) ou Luiz Antônio Teixeira Júnior (PP-RJ), o Dr. Luizinho. Porém, foram convencidos de que seria melhor indicar um técnico e que o ideal era manter Barros na Câmara, onde é o líder do Governo e tem participado das negociações dos principais projetos de interesse do Executivo. Por ora, Lira apoia a indicação da cardiologista Hajjar.

A decisão de substituir Pazuello foi tomada no sábado quando o presidente debateu o assunto primeiro com Lira e depois com o próprio ministro da Saúde e com outros três generais que são membros do primeiro escalão, Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Fernando Azevedo (Defesa). Azevedo teria ido ao encontro para apresentar possibilidades de remoção de Pazuello, já que ele ainda é um general da ativa.

Publicado originalmente pelo EL PAÍS, em 14.03.2021

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