terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Mourão diz que democracia fica comprometida se Forças Armadas forem ‘indisciplinadas ou ideológicas’

Vice minimizou declaração de Bolsonaro de que as Forças Armadas seriam as responsáveis por decidir se há democracia ou ditadura num país.

Um dia após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que as Forças Armadas são as responsáveis por decidir se há democracia ou ditadura em um país, o vice-presidente Hamilton Mourão minimizou a declaração. Segundo o vice, que é general da reserva do Exército, a democracia fica comprometida quando as forças militares são "indisciplinadas" ou têm "projetos ideológicos", o que não é o caso do Brasil.

"O presidente (Bolsonaro) já tocou nesse assunto várias vezes e, é óbvio, se tiver Forças Armadas indisciplinadas ou comprometidas com projetos ideológicos, a democracia fica comprometida”, disse em conversa com jornalistas na chegada ao Palácio do Planalto nesta manhã. "Não é o caso aqui do Brasil, obviamente, mas nós temos nosso vizinho, a Venezuela, que vive uma situação dessas."

O vice-presidente, Hamilton Mourão Foto: Gabriela Biló/Estadão

A declaração de Bolsonaro, ontem, repercutiu mal. O tom ideológico do presidente ocorre no momento em que aumentam protestos contra o governo, com panelaços, sua popularidade cai nas redes sociais e há pressão para o impeachment diante do atraso na distribuição de vacinas contra a covid-19.

Não é a primeira vez que Bolsonaro diz que a democracia depende da vontade dos militares, mas, nos últimos tempos, subiu o tom dessa narrativa. A ameaça vai na contramão da Constituição. Pela Carta de 1988, as Forças Armadas estão subordinadas ao poder civil e não têm autonomia para decidir os rumos políticos do País.

Na entrevista de hoje, Mourão também minimizou os problemas logísticos do Ministério da Saúde, liderado pelo general Eduardo Pazuello, na entrega das doses da Coronavac. Segundo o vice, "não deu errado", uma vez que o prazo anterior anunciado era de "dois a três dias" para a chegada do imunizante nos Estados. O calendário foi antecipado em reunião ontem entre o ministro e governadores.

"O que aconteceu é que ficou aquela expectativa que da noite para o dia ia chegar no Acre e no Rio Grande do Sul ao mesmo tempo. É complicado. Vamos lembrar o que ele tinha falado anteriormente, tanto que a linha de ação é que a vacinação só começasse amanhã", disse.

Emilly Behnke, O Estado de SãoPaulo, em 19 de janeiro de 2021 | 13h42

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