Num grupo de mulheres em rede social, de repente, a polêmica - racismo e violência policial. Ânimos se exaltam e Maria ameaça sair do grupo. Ágil no teclado, Eurídice pondera.
"A violência policial é uma aberração no processo civilizatório. A polícia deve proteger e não ameaçar a cidadania. São servidores públicos, pagos com impostos arrecadados na sociedade."
Mas tragicamente, sabemos, não há milagres possíveis para a conquista desta forma legítima e qualificada de atuar.
E a formação policial, tanto lá como cá - aqui muito mais, até - é para o ataque caracteristico da guerra. Ou seja, é matar ou morrer. Aqui, a polícia militar é força auxiliar do Exército. Uma anomalia, decorrente do nosso processo histórico, da “ Revolução” de 64.
A polícia tem que ter natureza essencialmente civil e seguir as regras estritas dos pactos sociais, traduzidos nas Constituições.
Os policiais que atuam dentro da legalidade - e são muitos - sofrem também, absurdamente, com a atuação criminosa dos que assim se portam.
Sim, sofrem porque aumenta o estigma contra eles/elas. Aqui no Brasil, ganhando mal e tendo que morar em áreas onde habita a marginalidade, frequentemente têm que esconder sua condição de policial.
Enfim, quando acontece uma tragédia como a que vimos agora nos EUA, é esperado que a argumentação racional perca qualquer espaço.
O ato criminoso nos EUA - revoltante em sua singularidade - passou a representar a convergência da revolta pela violência praticada no dia a dia pelo trabalho policial abusivo e aviltante.
Perde-se, neste contexto, repito, qualquer vínculo com as nuances do crime praticado.

George Floyd, entre seus irmãos de fé religiosa, no Texas, empunha a Bíblia. Depois, em Minneapolis, onde trabalhava como segurança. Preso e algemado, é asfixiado por policial até à morte. (Fotos da internet).
Ele, o crime, passa a virar símbolo de uma situação que agride a todas/todos nós, pessoas comprometidas com valores humanitários.
E acabamos assim, cegos de legítima revolta, a não aceitar qualquer argumento que trate o ato criminoso pelo viés do exame racional de algumas de suas variáveis.
Repito, este crime - mais um horroroso - virou símbolo da nossa revolta. Mas também afirmo - com a memória de quem já atuou na área de segurança pública nos últimos 20 anos - há muiiiita gente trabalhando para reverter o quadro da violência policial.
Por fim, Maria, ouso dizer que se sair do debate, estará contribuindo e não ajudando a enfrentar a causa da violência policial. Fique entre nós!
Eurídice Nóbrega Vidigal, avó de Guilherme e Helena, foi Secretária de Estado da Segurança Cidadã no Maranhão (Governo Jackson Lago).
Um comentário:
Brilhante!
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