Cena no STF mostrou também ministros incapazes de segurar o presidente e uma elite insensível
O presidente não sabe como funciona a relação entre os poderes. Isso ficou claro, mas a marcha sobre o STF mostrou também que não havia um único ministro capaz de convencer o presidente que não tivesse atitude tão insensata. Os empresários exibiram a pior face de uma parte da elite: a total insensibilidade social. E reforçaram o presidente porque atuaram como testemunhas das ideias do governo, que continua pressionando contra as medidas de isolamento social.
A situação só não está pior hoje porque a maioria dos prefeitos e governadores tem adotado medidas adequadas para enfrentar a pandemia. Mas eles enfrentam um bombardeio pesado do presidente da República, que ontem ganhou o auxílio dos empresários. O presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, falou com todas as letras no STF que um dos problemas era a queda grande da demanda, na opinião dele provocada pelas medidas de isolamento implantada pelos governadores. Ele consolidou o que o presidente vem dizendo.
O grupo também ecoou o governo ao usar termos médicos para tratar de empresas. Disseram que o CNPJ está indo para a UTI, e que depois disso irá para o cemitério. É uma analogia totalmente inadequada, demonstra uma ordem de valores que não pode existir. Esse tipo de ironia trágica não cabe, o Brasil tem contado mais de 600 mortos por dia essa semana. Já são 9.000 mortos pela Covid-19 no país.
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Aquela marcha do Palácio do Planalto para o STF foi uma crise da falta de noção do presidente, dos ministros que o acompanharam e dos empresários que o seguiram. Apurei que alguns integrantes do governo se sentiram constrangido, mas foram acompanhando o presidente. Ninguém segurou Jair Bolsonaro quando ele atravessou a Praça dos Três Poderes para pressionar o STF. Até visualmente a pressão indevida fica clara.
O episódio é emblemático. Ele mostra uma parte da elite que acha mais importante salvar suas empresas do que a vida humana. No governo, ninguém foi capaz de convencer o presidente, quando era evidente que aquela ação não deveria acontecer. Não será a Justiça que, por liminar, vai definir que o país voltará a normalidade.
Do presidente já não se espera muito. Mas a cena de quinta-feira foi muito ruim. Ela mostrou que Bolsonaro tem reforços nas suas loucuras.
Por Míriam Leitão, no seu blog
08/05/2020 • 10:27
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