quarta-feira, 6 de maio de 2020

Banco Central surpreende e corta Selic em 0,75 ponto

Taxa básica de juros da economia cai pela sétima vez consecutiva e vai a 3% ao ano, a nova mínima histórica; Copom indica que fará mais uma redução

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a sua política monetária de trajetória descendente dos juros e reduziu pela sétima vez consecutiva a Selic, a taxa básica da economia brasileira. 

O corte anunciado nesta quarta-feira, 6, foi de 0,75 ponto percentual e surpreendeu boa parte dos economistas, que esperavam uma redução menor. A Selic está agora no nível de 3% ao ano, a nova mínima histórica. 

O ajuste monetário ocorre em um momento em que a economia brasileira, e a mundial, enfrenta uma das piores crises da história, causada pela pandemia do novo coronavírus, que levou ao isolamento social e paralisou as atividades no planeta. “Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 3,00% ao ano. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021”, informou a autoridade monetária, em comunicado.

A economista-chefe do banco Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro Nacional e ex-secretária-executiva do Ministério da Fazenda no governo Michel Temer, afirma que o corte realizado pelo Copom nesta quarta-feira vem em linha com o espaço que existe para a redução da taxa de juros. “Entendemos que esse passo tem de ser cauteloso e prudente, até em função do balanço de riscos que tem de ser observado”, completa. Neste momento, mesmo a Selic estando no menor patamar da história, ela sozinha não conseguirá estimular a economia, mas será útil para quando a economia começar a ensaiar uma recuperação. “Todos os atores da economia, que estão neste momento com dificuldades de produzir, de vender e de consumir, vão ganhar tempo com os juros baixos e não terão a evolução de seus passivos de forma tão rápida ao ponto de inviabilizar a empresa. O juro baixo concede tempo para esperar a crise passar e reorganizar a economia”, explica Vescovi.

A decisão do Copom foi baseada no impacto recessivo da Covid-19 sobre a economia, o que tem reduzido os índices de inflação neste momento. Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, foi de 0,07%, a menor taxa para o mês desde 1995. Economistas já começaram a rever fortemente a previsão de alta dos preços deste ano para cerca de 2%, bem abaixo do centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 4%. Com o cenário de inflação baixa, especialistas preveem mais uma redução, ao menos, da Selic neste ano, na próxima reunião, que acontecerá em 17 de junho. E o Banco Central deixou claro no comunicado que fará um novo ajuste: “Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19″.

Entretanto, o BC vê alguns pontos que podem pressionar a inflação no futuro, permanecendo fatores de risco em ambas as direções. “Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso a pandemia provoque aumentos de incerteza e de poupança precaucional e, consequentemente, uma redução da demanda agregada com magnitude ou duração ainda maiores do que as estimadas. Por outro lado, políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”, explica o Copom, em seu comunicado.

No mercado financeiro, as apostas para um corte mais profundo da Selic aumentaram ao longo da semana. Nesta quarta, os contratos de maio e junho de 2020 de Depósitos Interbancários (DI) fecharam com uma taxa de juros de 3,07% e 2,97% ao ano, respectivamente. Isso indicava que alguns analistas macroeconômicos de corretoras e bancos previam um corte de 0,75 ponto percentual, e não apenas de 0,5 ponto percentual.

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A Selic é usada como referência para todas as outras taxas de juros do mercado brasileiro e serve como instrumento de política monetária para controlar a inflação e estimular o consumo. Com a Selic em baixa, o crédito pode ficar mais barato, estimulando compras e, assim, aquecendo a economia. A sequência de cortes começou em julho de 2019, após a taxa ficar estável em 6,5% ao ano durante 18 meses.

Por Alessandra Kianek, de VEJA - Atualizado em 6 maio 2020, 19h32 - Publicado em 6 maio 2020, 18h15

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