quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Alinhado aos EUA, Brasil pode deixar de vender US$ 1 bi ao Irã este ano

O Brasil corre o risco de perder cerca de US$ 1 bilhão em exportações para o Irã este ano, por ter apoiado publicamente os Estados Unidos na crise causada pelo assassinato, no Iraque, do general iraniano Qassem Soleimani. A estimativa é de  Romana Dovganyuk, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Irã.

Segundo ela, com o aumento das encomendas de produtos como milho, soja, carne bovina, café e outras commodities agrícolas, a balança comercial brasileira registraria um superávit recorde acima de US$ 3 bilhões em 2020. Isso significa que, ao contrário do que disse esta semana o presidente Jair Bolsonaro, que iria manter o comércio com o Irã, haverá perdas econômico-comerciais por motivos políticos.

- Vamos perder mercado por causa de uma decisão política. Se o lado americano é mais confortável, o governo brasileiro deveria ser neutro nessa questão, e não tomar partido - afirmou Romana ao GLOBO.

Ela alertou que os importadores iranianos têm como mercados alternativos a Ucrânia, a Rússia e o Cazaquistão. São países fornecedores de alimentos que poderiam substituir o Brasil.
Segundo técnicos do governo brasileiro, o desapontamento de Teerã com a posição de Bolsonaro - divulgada em uma nota do Itamaraty na última sexta-feira - pode tornar o intercâmbio comercial mais complicado do que já é.

Um exemplo de dificuldade ocorreu no ano passado, quando dois navios iranianos carregados de milho ficaram dias atracados no porto de Paranaguá (PR), impedidos de zarpar pela Petrobras. A petroleira se negou a fornecer o combustível às embarcações, sob a justificativa de que elas estariam em uma lista de sanções dos EUA.

Dados do Ministério da Economia mostram que, de janeiro a novembro de 2019,  o Brasil exportou US$ 2,1 bilhões para o Irã e importou US$ 88 milhões. A maior parte das compras do Irã é ureia - insumo importante para a fabricação de fertilizantes agrícolas. O Irã é o maior importador de milho brasileiro e o quinto de soja.

De acordo com Marcos Jank, professor e pesquisador sênior de agronegócio global no Insper, de forma global, o Irã é o quinto mercado de destino de produtos agropecuários do Brasil. Fica atrás apenas de China, União Europeia, EUA e Hong Kong.

- O Brasil vem ganhando cada vez mais importância como fornecedor. Tornou-se o maior exportador de milho e soja do mundo, devido à redução nas safras americanas - afirmou.
Jank enfatizou que o Iraque também é um mercado importante. Do total de US$ 9 bilhões exportados pelo Brasil para o Oriente Médio, US$ 2,5 bilhões foram comprados por iranianos e iraquianos.

- Temos que ter prudência neste momento. São mercados importantes.

Um estudo concluído nesta quarta-feira pelo Insper mostra que, ao longo desta década, o Oriente Médio importou entre US$ 90 bilhões e US$ 100 bilhões por ano. Os principais compradores foram Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Turquia, Irã, Iraque e Israel. O Brasil foi o principal fornecedor para a região, seguido por Índia, EUA, Rússia e Ucrânia.

(Texto de Eliane Oliveira, repórter de O Globo, em Brasília. Publicado originalmente em oglobo.globo.com às 15:26  horas e atualizado às 17:11 de hoje, 08.01.2010).

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