E há os que não
suportando mais tanta exposição pública sonham com o dia em que possam andar
imperceptíveis ao ar livre das ruas, ainda que só por algumas horas, mesmo
correndo o risco de serem assaltados ou vaiados.
Não seria bem
uma síndrome porque tanto aqueles que fazem de tudo para serem notados como se
fossem celebridades quanto os que seguram as ânsias que os aprisionam querendo o
anonimato – uns e outros padecem de um mesmo mal decorrente de uma mesma causa.
A solidão.
Deixando de
lado os que não habitam o País das pessoas comuns e algumas delas se acham
aiatolás e até imortais, vejamos o que se passa, por exemplo, nos macambúzios
palácios de Brasília impregnados de uma solidão enorme, a solidão do poder.
Muitos
atravessam aquele tempo de quase nirvana para só depois perceberem que aquelas
mesuras todas não eram por sua causa, mas por causa do poder transitório que
detinham.
No poder
costumam gozar aquela saúde do verso de Fernando Pessoa, a grande saúde não
perceber coisa nenhuma.
A nossa atual
Presidenta parece viver no extremo limite da tolerância. Moça de boa família
criada à luz de princípios cristãos e rígidos valores morais, educada em bons
colégios, não consegue lidar no dia a dia com o que ela mesma chama de
malfeitos da política na sua administração.
Como se fosse
fadada à tortura, ontem nos calabouços da ditadura, hoje nos desvãos da
República, a Presidenta sofre muito.
Quem a inveja
nessa de ter que aguentar tanta proposta indecente todo dia? Ora, se para um
homem com cabeça de homem é inconcebível, imagina o quanto soa afrontoso para
uma mulher.
Ninguém parece
compreender que o tom agressivo, muitas vezes autoritário, com que, dizem, a
Presidenta trata as pessoas, em especial seus auxiliares e os políticos em
geral, apenas reflete as dores da sua solidão.
E no seu caso
não só por estar no poder como alguém cumprindo de certo modo uma pena de
quatro anos numa espécie de regime semiaberto, mas também por não se conformar
com as coisas como estão e ela ter a consciência de que para muda-las não basta
apenas a força da sua vontade, a solidão é fera.
Pode ser que
por isso, quando lhe é possível, dá as suas escapadinhas. Presidente ou
Presidenta, afinal, é gente feita de carne e osso. Com cabeça, tronco e
membros.
A primeira
escapadinha da Presidenta, dentre as que se soube, foi quando em meio a uma
solenidade pública daquelas muito chatas ela saiu de fininho e montou na garupa
de uma motocicleta pilotada por um burocrata de confiança e partiu em alta
velocidade respirando o ar livre do anonimato.
Tivemos um
Presidente que ao cheiro de Povo disse preferir o dos seus cavalos. Quando
estava próximo do fim do mandato a sua obsessão pelo anonimato foi tamanha que
pediu solenemente que o esquecessem. Foi atendido.
A história
ainda checa se foi verdade ou apenas folclore politico desses atribuídos ao Nery
a escapadinha, que ainda hoje se conta em Brasília, de um então Presidente.
Crente que
conseguira, afinal, alguns momentos de anonimato viu todo seu entusiasmo
murchar quando a moça que o esperava perguntou manhosa e faceira– como quer o
senhor que eu lhe chame, Presidente?
Melhor fez o
Fernando Henrique. Passada a quarentena da viuvez, casou com uma intelectual do
seu tope sem avisar a ninguém.
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