sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Amarelo Piscando

Repare bem no pássaro engaiolado por tanto tempo e um dia veio alguém e o soltou.

De tão acostumado que estava com a quietude daquele exíguo espaço pareceu que já nem sabia o que fazer com as suas asas. 

Geralmente aprisionam os pássaros porque sendo raros em suas plumagens e cantos logo despertam a cobiça e a inveja, sentimentos negativos próprios dos que não conseguem sedimentar com bons princípios as suas ambições. 

Faz lembrar o Cartola, ainda é cedo amor, mal começastes a conhecer a vida... 

Sim, é legítimo ter ambições. E precisamos mantê-las despertas, acenando-lhes com as esperanças mais verdes encontráveis nos brejais mais sonhados. Ambições, mas só daquelas do dizer do poeta, as mais nobres e as mais lúcidas!   

O que leva alguns de nós a se interessar, por exemplo, pela política e a ter ambições políticas? O bem comum, é a resposta primeira que desponta logo querendo calar a todos.  

O bem comum, hão de questionar, não pode ser alcançável sem que se tenha que fazer, obrigatoriamente, as nem sempre limpas travessias da política.  

Quando perguntaram a Tancredo, querendo constrange-lo, se ele iria mesmo para aquela farsa do Colégio Eleitoral, submetendo-se às regras da ditadura, só para ser nomeado Presidente, ele respondeu que iria, sim, tapando com um dedo o nariz e com um lenço à boca para travar as náuseas.    

Havia um objetivo maior, a volta da democracia, a remoção de todos os resquícios do autoritarismo, as liberdades civis. 

Um dia, enfim, seremos todos cidadãos.  

E quando houver cidadania plena, as pessoas inteiras, conscientes não só dos seus direitos, também dos seus deveres para com os outros, a sociedade será dona, ela sim, dos seus movimentos e das suas aspirações.  

O paternalismo de Estado que, sem resolver as questões estruturais, se dana a querer inventar enganosamente soluções paliativas e o clientelismo político que se ocupa sempre em distribuir agrados que só retardam a explosão da bomba ao mesmo tempo em que outras vão sendo feitas, terão que desaparecer.  

Esses dois grandes defeitos, paternalismo de Estado e clientelismo político, que só deformam a democracia, perderão adeptos quando a cidadania for plena na consciência das pessoas e os princípios mais sólidos inspirarem as ações mais firmes. 

Quando os movimentos sociais se apresentarem mais unidos nos seus propósitos e mais fortes em sua organização será possível fazer as travessias da política com todas as certezas de que as ações dos políticos, em verdade mesmo, terão como destinação única o bem comum. 

A política, então, só terá espaços para os melhores do meio do Povo, e não apenas para os ricos, ou aqueles oportunistas, ou os carreiristas, ou os outros que se submetem a tudo, pagando pela ambição desvairada qualquer preço, o que o diabo quiser, o sangue ou a alma. 

Estar acostumado com o espaço exíguo da gaiola e depois ser tirado para fora mas sem saber o que é efetivamente a liberdade, tantos foram os anos de alpiste e de assobios, em movimentos que nem chegaram a ser voos, tão exíguos os espaços, é como estar livre que nem um pássaro desengaiolado, que solto no tempo nem tentou alçar-se um pouco acima do chão.  

Isto porque não sabendo há tempos o que era a liberdade já nem sabia mais o que fazer com as próprias asas.

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