quinta-feira, 1 de março de 2012

A Saúde no Maranhão

O SR. PRESIDENTE (Júlio Delgado) - Concedo a palavra ao Deputado Domingos Dutra. S.Exa. dispõe de 5 minutos, improrrogáveis.

O SR. DOMINGOS DUTRA (PT-MA. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, senhores servidores, assistentes da TV Câmara e do programa A Voz do Brasil e aqueles que nos acompanham pela Internet, trago neste momento situações inusitadas que, com certeza, só ocorrem no Maranhão, Estado dominado há mais de 40 anos pelo Sr. José Saddam Mubarak Sarney.

Todos os presentes podem ver o que tenho nas mãos: maxixe. Isto aqui todos conhecem: é mamona. Apesar de raquítica, esta é uma melancia. Isto aqui, no Maranhão, nós chamamos de melão-de-são-caetano, planta que se espalha pelo chão. E ainda sobrou um canapu.

V.Exas. devem estar se perguntando se eu venho de uma feira ou de uma exposição agrícola. Nada disso. Estes produtos — melancia, maxixe, mamona, canapu, melão-de-são-caetano, fedegoso, mata-pasto, cansanção branco — eu e o Deputado Simplício Araújo, do PPS, descobrimos em prédios que deveriam ser hospitais no Maranhão.

Eu explico melhor de que se trata. A Governadora Roseana Sarney, 4 meses após a cassação de Jackson Lago, resolveu abrir três concorrências para a construção, Deputada Janete Capiberibe, de 75 hospitais no Maranhão: 64 hospitais de 20 leitos; 8 hospitais de 50 leitos; 2 hospitais de 100 leitos;e 1 hospital de 150 leitos, perfazendo 2.300 leitos, de uma lapada só. Nem o Estado de São Paulo ousou construir 2.300 leitos de uma vez só!

A licitação para a construção desses hospitais ocorreu em setembro de 2009, com prazo de 270 dias. Os prédios deveriam estar prontos até agosto de 2010.

A Governadora Roseana Sarney, num programa de televisão, ao mostrar uma maquete azul, disse que em dezembro de 2010 entregaria os hospitais. Já estamos em março de 2012 e, dos 64 hospitais de 20 leitos, entregaram apenas 3; dos 8 hospitais de 50 leitos, entregaram 1, em Grajaú; e dos outros hospitais, nenhum.

O Deputado Simplício Araújo e eu resolvemos fazer uma diligência na sexta-feira e no sábado em algumas regiões. Andamos na região do Mearim, no lote 3, onde estava prevista a construção de 11 hospitais. Em Matões do Norte, o prédio está pronto, mas dentro do mato e sem equipamento. Lá, encontramos uma plantação de maxixe — isto aqui é só uma parte. Chegamos a Alto Alegre do Pindaré, encontramos um hospital de 50 leitos. Tocaram fogo numa parte, há vigilância, mas está equipado parcialmente.

Dez quilômetros depois, em Peritoró, um prédio de 50 leitos está pronto, há alguns equipamentos, mas não há vigilância.

Em Bernardo do Mearim, um prédio com 20 leitos está pronto, mas cheio de mato; lá, eu encontrei uma plantação de melancia. Em Lago dos Rodrigues, o hospital está funcionando, e a população está satisfeita.

Em Lago do Junco, o hospital está quase pronto, mas está dentro do mato; lá, eu encontrei mamona para a plantação de biodiesel e canapu. Em Bela Vista, está sendo semiocupado. Em Olho dÁgua das Cunhãs, o prédio está pronto, mas abandonado, sem vigilância; lá, encontrei melão-de-são-caetano. Em Lago Açu, a situação é mais absurda. O prédio está depredado, a empresa não pagou os salários. Em novembro, a empresa foi lá e disse: Se em 30 dias não voltarmos, vocês podem vender o que quiserem.

Como não voltaram, venderam todas as portas, aparelhos sanitários e ainda botaram uma placa grande: Vende-se material.

Lá, além de cachorro e gato, encontramos uma jumenta buchuda dentro do hospital — uma jumenta buchuda! (Risos.) V.Exas. estão rindo, mas a coisa é séria.

Ontem estivemos no Ministério Público, entregamos as fotos e um vídeo.

Primeiro, pedimos desta tribuna que a Sra. Roseana Sarney, que está aqui em Brasília, contrate imediatamente uma vigilância para proteger o patrimônio público. São 60 prédios que estão dentro do mato, e boa parte deles, que está concluída, está sendo depredada.

Segundo, pedimos ao Ministério Público que faça, imediatamente, o ajuste de conduta, para que as construções sejam concluídas e os hospitais, entregues. Terceiro, que seja aberto inquérito civil e administrativo para apurar as responsabilidades.

Talvez seja por isso que o Maranhão continue ostentando os piores indicadores sociais.

Portanto, melancia, maxixe, mamona, melão-de-são-caetano, canapum e jumenta buchuda só no Estado do Maranhão, em locais que deveriam ter saúde pública.

Muito obrigado.

Um comentário:

Camila disse...

É para rir mesmo... porque chorar, o povo maranhense já cansou: "quero chorar, não tenho lágrimas..."

É Muito descaso com a coisa pública, com a saúde e a vida das pessoas. Nunca acabaremos com essa oligarquia?
E revoltante. O Poder, a que se refere a CF/88 não deveria emanar do bolso...