segunda-feira, 26 de julho de 2021

Bolsonaro indica que aceitará dobrar valor do fundão eleitoral

Após criticar texto aprovado pelo Congresso, presidente agora diz que vetará apenas "extra" do fundo para 2022. Presidente sinalizou que está de acordo com R$ 4 bilhões - o dobro do valor destinado em 2020.

Em 19 de julho, Bolsonaro disse que novo fundão não seria sancionado; agora, que vetará apenas "o excesso"

O presidente Jair Bolsonaro sinalizou nesta segunda-feira (26/07) que apoiará a destinação de cerca de R$ 4 bilhões para o fundão eleitoral, que financiará as campanhas dos candidatos às eleições de 2022. A quantia representa um aumento de 100% em relação ao destinado ao pleito de 2020, quando o fundo recebeu R$ 2 bilhões em recursos públicos.

Em 15 de julho, o Congresso aprovou as diretrizes do Orçamento de 2022 com a previsão de R$ 5,7 bilhões para o fundo eleitoral. O alto volume de recursos provocou reações negativas da sociedade e de alguns políticos, que consideraram o montante exorbitante – ainda mais enquanto o país e boa parte da sua população ainda enfrentam os efeitos da pandemia de covid-19.

A nova regra de cálculo do fundão teve apoio do Centrão, grupo de partidos sem bandeiras ideológicas definidas que se alinham com governos de diversas matizes de acordo com a ocasião, e não sofreu oposição de congressistas bolsonaristas - dois filhos do presidente até mesmo votaram a favor do aumento. Após a reação negativa, Bolsonaro declarou que "em respeito ao povo brasileiro, vetarei o aumento do fundão eleitoral".

Nesta segunda, porém, ao conversar com apoiadores em frente do Palácio do Alvorada, o presidente disse que iria vetar somente "o excesso do que a lei garante", sem esclarecer que fórmula utilizará, mas dando a entender que o fundo ficará em torno de R$ 4 bilhões. "O extra de R$ 2 bilhões vai ser vetado. Se eu vetar o que está na lei, eu estou incurso em crime de responsabilidade. Espero não apanhar do pessoal aí como sempre", afirmou.

A nova regra para o cálculo do fundão eleitoral foi incluída na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) pelo relator do texto, o deputado Juscelino Filho (DEM-MA). Ela estabelece que o fundo receberá a soma de 25% do valor das emendas de bancada dos dois últimos anos, acrescida dos recursos já destinados pelo Tribunal Superior Eleitoral, o que chegaria ao valor de R$ 5,7 bilhões. Além desse montante, os partidos receberão no ano que vem R$ 1 bilhão pelo fundo partidário.

Jogo de palavras

Entre os parlamentares que votaram a favor da LDO estavam diversos bolsonaristas proeminentes, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e as deputadas Carla Zambelli (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF). Tampouco houve articulação da base governista para apoiar um destaque apresentado pelo Partido Novo que tentava retirar do texto a previsão do aumento do valor.

Apesar disso, depois da aprovação, Bolsonaro e deputados bolsonaristas foram a público criticar o aumento do fundo. "É uma cifra enorme, que no meu entender está sendo desperdiçada, caso ela seja sancionada. Posso adiantar para você que não será sancionada", disse o presidente em 19 de julho. "Eu tenho a liberdade de vetar e vamos vetar", reafirmou no dia seguinte.

Pressionados pela má repercussão de sua participação no inchaço do fundo, parlamentares bolsonaristas também trataram de direcionar ataque ao vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), que presidiu a sessão na Câmara que votou a LDO.

"Pretendíamos votar para não ser esse fundão de R$ 6 bilhões, o que é uma excrescência. Infelizmente, Marcelo Ramos atropelou a votação e acabou a Lei de Diretrizes Orçamentárias sendo aprovada com esse fundão", disse Eduardo Bolsonaro.

O presidente também voltou suas baterias contra Ramos, afirmando que ele "botou lá dentro [da LDO] essa casca de banana, essa jabuticaba". Ele também chamou o deputado de "insignificante". "Agora cai para mim sancionar ou vetar. Tenho 15 dias úteis para decidir", disse.

Em resposta, Ramos acusou parlamentares bolsonaristas de hipocrisia e endureceu o tom contra o presidente. "O partido do deputado [Eduardo] Bolsonaro, o líder do governo do presidente Bolsonaro, nenhum deles protestou quando da orientação da votação simbólica do destaque do Novo. É muito fácil, depois da votação simbólica, ir para a rede social e dizer que votou contra e tentar transferir responsabilidade. Eu agi estritamente dentro das regras regimentais", disse.

Ele ainda acusou Bolsonaro de mentir e afirmou que o governo estava de acordo com o aumento do fundão. Em entrevista à BBC Brasil, ele afirmou desconfiar que a intenção de Bolsonaro desde o início era aumentar o fundo para R$ 4 bilhões, dobrando o valor original, e nunca de manter a verba em R$ 2 bilhões.

O governo do presidente está em um momento de fragilidade e depende cada vez mais do Centrão, que apoia o aumento do valor do fundão. Ao mesmo tempo, Bolsonaro tenta não se indispor com seus eleitores que o elegeram defendendo um discurso de "nova política".

Em janeiro de 2020, o presidente fez um jogo de palavras similar. Disse que vetaria o fundo de R$ 2 bilhões daquele ano, mas acabou sancionando o projeto.

Supremo deve se manifestar

Um grupo de congressistas ingressou com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal para anular a votação do Congresso que aprovou o novo fundão eleitoral. Eles afirmam que não houve tempo para analisar a matéria, pois o relatório da LDO ficou pronto apenas algumas horas antes da votação, e que o momento econômico do país não permitiria a elevação do montante destinado ao fundo.

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a Mesa Diretora do Congresso explique em dez dias as circunstâncias da aprovação da LDO. A decisão foi assinada na última quinta-feira (22/07) e divulgada nesta segunda. Devido ao recesso do Judiciário, Weber está atuando como ministra plantonista na Corte. De agosto em diante, a ação será encaminhada ao ministro Nunes Marques, sorteado relator para o mandado de segurança.

O fundo eleitoral

O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) foi criado em 2017, em reposta à decisão do Supremo que proibiu doações de empresas para campanhas políticas, na esteira do escândalo do Petrolão. Antes do chamado "fundão eleitoral", parte das campanhas já era financiada por recursos públicos, seja com recursos do fundo partidário ou com propaganda eleitoral nas TVs e rádios (que são pagas com abatimento de impostos).

Modelos de financiamento público de campanhas existem em mais de uma centena de países no mundo, inclusive na Alemanha, e mesmo defensores de fora do meio político apontaram que a medida pode diminuir a influência do dinheiro sujo nas candidaturas.

Mas a forma como o fundo foi desenhado provocou críticas desde o início por não vir acompanhada de um reforço da transparência e fiscalização de gastos dos partidos, ou incentivos para que os partidos barateassem as campanhas e buscassem mais recursos de doações de eleitores. Em 2018, primeiro ano de sua vigência, o fundo custou R$ 1,7 bilhão. Em 2020, R$ 2 bilhões.

Pelas regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma fatia minúscula do fundo é dividida entre todos os 33 partidos hoje existentes. Outra parte é repartida entre os partidos que contam com ao menos um deputado, na proporção do percentual de votos obtidos pela legenda na última eleição. Metade do valor total leva em conta o tamanho da bancada na Câmara, e uma última fatia considera a bancada no Senado. 

Em 2018, o MDB liderou a divisão, com R$ 234 milhões. Em seguida apareceram o PT e o PSDB, com R$ 212 milhões e R$ 186 milhões, respectivamente. No entanto, em 2022, a divisão será dominada pelo PT e PSL, que elegeram as maiores bancadas na Câmara, mesmo se o valor não for aumentado.

Em 2019, parlamentares já haviam proposto aumentar o fundo para R$ 3,8 bilhões, mas recuaram diante da má repercussão. Ainda assim, garantiram R$ 2 bilhões. 

Deutsche Welle Brasil, em 26.07.2021

Parlamentarismo e variantes

"Estamos mais uma vez discutindo o modelo eleitoral. Vai da discussão sobre a urna eletrônica, que — diga-se — tem funcionado muito bem, até o modelo presidencialista, seus defeitos e suas vulnerabilidades." Neste artigo José Sarney aponta a raiz da crise que, volta e meia, engolfa a governabilidade do País.

Responsabilizo por tudo isso a Constituição do 1988, cujos dispositivos sobre direitos fundamentais — civis e sociais — são impecáveis, mas com a ausência de uma ideia de constituição que fosse moderna e assegurasse no futuro estabilidade para as instituições e os governos.

Ulysses não quis receber o Projeto da Comissão Provisória, tida como Comissão de Notáveis, presidida pelo grande homem público Afonso Arinos, cujo objetivo era fazer uma constituição que recebesse a contribuição da sociedade civil organizada para que a nova Carta não fosse feita sem um projeto básico. Resultado: saiu uma Constituição híbrida, parlamentarista e presidencialista ao mesmo tempo. Deram poderes presidencialistas ao Parlamento e legislativos ao Executivo, cuja maior expressão foram as medidas provisórias, que mataram o poder de legislar do Parlamento — já foram editadas mais de mil medidas provisórias desde então.

Diante dessa dificuldade e deformação, o Parlamento fez um bypass e começou a utilizar emendas constitucionais, mais fáceis de aprovar do que um projeto de lei. Hoje, com 107 emendas fora as de revisão, mais que dobramos o tamanho da Constituição, tendo mais de 700 normas incluídas e de 300 alteradas.

Assim, quando, com grande elogio, digo que a Constituição de 88 assegurou o maior período de continuidade institucional no Brasil, tão sujeito a intervenções militares, eu faço a ressalva de que, nas crises, já tivemos dois impeachments para derrubar presidentes da República, que vivem em constante ameaça e são obrigados a fazer concessões que deformam o funcionamento normal do governo.

Do mesmo modo, agora, com a judicialização da política e a politização da Justiça, os impeachments passaram a recair e ameaçar os Ministros da Corte Suprema, o que também enfraquece a função da judicatura.

Para evitar esses males, devemos buscar a fórmula de um semipresidencialismo ou semiparlamentarismo que assegure que, nas crises, substitui-se o governo, mas não se submete o país e o governo à instabilidade do governante e à bagunça política. As fórmulas portuguesa e francesa, em que o comando das Forças Armadas é função presidencial, o presidente é eleito em eleições diretas, escolhe o primeiro-ministro, preside o conselho de ministros e tem o poder de dissolver a assembleia, tem dado certo. O Executivo é forte, mas compartilhado com o Parlamento.

O certo é que o atual modelo eleitoral brasileiro vai nos levar a um impasse que não sabemos como terminará.

E assim temos o complicador do voto proporcional uninominal, a proliferação de partidos e o modelo do financiamento público, que é impopular, pois tira dinheiro da Saúde, da Educação e pesa no bolso do contribuinte.

Em todas as legislaturas de que participei — foram treze —, houve discussão sobre reforma eleitoral, mas continuamos debatendo no Parlamento sobre a mesma temática.

Vamos sair desse dilema e procurar, com a experiência que acumulamos, colocar esse problema em nossa pauta prioritária.

José Sarney foi Governador do Maranhão e Presidente da República. Publicado originalmente n'O Estado do Maranhão, em 25.07.2021

Beatrix von Storch: quem é a líder da extrema-direita alemã que se reuniu com Bolsonaro

"Ao contrário do que diz a imprensa, ele é humilde, amável e bem humorado no trato pessoal." A descrição sobre o presidente Jair Bolsonaro foi feita pela líder da extrema direita alemã Beatrix Von Storch.

Beatrix von Storch, Bolsonaro ao centro e o marido dela posam para foto (CRÉDITO,ARQUIVO PESSOAL)

Em suas redes sociais, ela publicou na segunda-feira (26/7) fotos nas quais aparece abraçada ou em reunião com um sorridente Bolsonaro.

Neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler, Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ela é uma das principais expoentes do polêmico partido nacionalista-conservador Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão).

E esteve no Brasil nos últimos dias, segundo ela mesma, "para conquistar aliados para o AfD".

"Para enfrentar com êxito a esquerda, os conservadores também precisam se conectar melhor internacionalmente. O Brasil é uma potência emergente e, além dos Estados Unidos e da Rússia, pode ser um parceiro estratégico global que nos permita construir o futuro juntos", explicou von Storch.

Em Brasília, a deputada alemã se encontrou com a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e com o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), considerado o articulador internacional do pai com figuras da direita global, como o ex-estrategista de Donald Trump, Steve Bannon.

Em resposta à visita de von Storch a Bia Kicis, o Museu do Holocausto afirmou que "é evidente a preocupação e a inquietude que esta aproximação entre tal figura parlamentar brasileira e Beatrix von Storch representam para os esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e para nossa própria democracia".

Bolsonaro tenta estreitar relações com Israel e chegou a prometer a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém — um ato que os países árabes considerariam como afronta —, algo que jamais cumpriu.

O que pensa von Storch?

Eduardo Bolsonaro em jantar com o ex-estrategista de Trump Steve Bannon, o conservador britânico Nigel Farage e a âncora da Fox News Laura Ingraham, em 2020

Crítica do atual presidente americano, Joe Biden, e apoiadora de Trump, Von Storch já foi integrante do Parlamento europeu e, atualmente, ocupa uma cadeira no Congresso alemão.

Em sua trajetória política, ela se envolveu em episódios mundialmente rumorosos — alguns dos quais lhe renderam investigação por possível violação da lei contra crimes de ódio da Alemanha.

Em dezembro de 2017, sua conta na rede Twitter chegou a ser suspensa depois que ela questionou a decisão do Departamento de Polícia da cidade alemã de Colônia de postar saudações de fim de ano também em árabe.

"O que diabos há de errado com este país? Por que a página oficial da polícia tuíta em árabe? Eles estão tentando pacificar as hordas de homens bárbaros, muçulmanos e estupradores?", escreveu a parlamentar.

Em 2016, ela defendeu que a polícia alemã abrisse fogo contra imigrantes, incluindo mulheres e crianças, que tentassem entrar ilegalmente na Alemanha, algo que a chanceler Angela Merkel classificou como "absurdo".

Descendente do grão-ducado de Oldenburg, que mais tarde comporia a Alemanha, Von Storch é opositora do casamento homoafetivo e contrária à existência do bloco da União Europeia. Ela já advogou, em entrevista à BBC, em 2018, que seria um ato patriótico dos alemães ter mais bebês dada a baixa natalidade na nação.

"A Alemanha não é o único país com problemas demográficos na Europa. Se os outros países quiserem levar um, dois, quatro milhões de imigrantes ilegais africanos para os seus países para resolver o problema demográfico, façam isso. Nós não queremos. Nós não achamos que isso resolve nosso problema. Isso está nos causando problemas", afirmou a parlamentar alemã.


Para quais planos von Storch e o AfD precisam do Brasil como aliado?

Além de se reunir com o presidente brasileiro, von Storch esteve com os deputados Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis

Apesar de ter tido alta hospitalar poucos dias antes de receber von Storch no Planalto, o presidente Bolsonaro devotou à deputada alemã cerca de uma hora, tempo suficiente para que, nas palavras da líder política, ele a impressionasse "com sua compreensão clara dos problemas da Europa e dos desafios políticos do nosso tempo".

Em seu post, nas redes sociais, ela é mais clara sobre quais assuntos seriam esses. Em primeiro lugar, von Storch tem se mostrado uma crítica do processo alemão de substituição das formas de produção de energia elétrica mais poluentes, como a nuclear e a fóssil, para alternativas mais limpas, um esforço da atual gestão germânica para cumprir as metas de cortes nas emissões de CO² do país. Ela também costuma caracterizar ONGs que militam por causas ambientais, como o Greenpeace, como criminosas.

Sob pressão dos Estados Unidos para se comprometer com metas ambiciosas de redução do desmatamento, o governo brasileiro não apresentou até agora um plano para conter o problema — que assumiu ritmo acelerado na gestão atual.

Bolsonaro já disse que havia uma indústria de multas ambientais e que essas mesmas ONGs contra qual von Storch se manifesta "criam narrativas" para disputar o controle sobre o destino da floresta brasileira.

Von Storch mencionou ainda ter falado com o mandatário brasileiro sobre como movimentos sociais, tais quais Black Lives Matter ou Antifas, formam "redes internacionais para colocar os conservadores contra a parede".

Nisso, von Storch ecoa Trump, o maior aliado internacional de Bolsonaro até ser apeado da Casa Branca em janeiro de 2021 e que chegou a criminalizar movimentos por direitos civis negros e antifascistas.

Von Storch afirmou ainda compartilhar com Bolsonaro a oposição ao Pacto Global de Migração, um instrumento internacional lançado pela Organização das Nações Unidas e aprovado por 150 países em 2018 para facilitar processos de migração regular e garantir documentos e atendimento humanitário a migrantes irregulares.

Em 2019, o Brasil, que foi um dos signatários, deixou o pacto. O ex-chanceler brasileiro Ernesto Araújo afirmou que ele era "um instrumento inadequado para lidar com o problema (da imigração)". "A imigração não deve ser tratada como questão global, mas sim de acordo com a realidade e a soberania de cada país", disse Araújo.

A migração é um tema fundamental para a AfD já que catapultou eleitoralmente a legenda. O partido surgiu em 2013 e ficou de fora da representação no Parlamento alemão em sua primeira eleição, porque não chegou aos 5% de votação nacional necessária para compor o Legislativo.

E embora não tenha surgido como defensor de pautas da extrema-direita, a agremiação rapidamente adotou bandeiras contra a migração e o Islã, capturando um mal-estar na sociedade alemã, que passou a receber um grande influxo de marroquinos, argelinos, tunisianos, entre outros, a partir de 2015, em meio às agitações populares da Primavera Árabe.

Hoje, o AfD é a maior força de oposição no Parlamento alemão, com 86 cadeiras. O partido também construiu seu sucesso desafiando tabus e flertando com o racismo.

Alexander Gauland, co-presidente do AfD, já foi criticado por declarar que os alemães deveriam ter "orgulho" de seus soldados em ambas as guerras mundiais.

Embora as unidades SS, ramo militar do partido nazista alemão, fossem notórias pelas atrocidades alemãs na Segunda Guerra Mundial, as forças armadas regulares também cometeram muitos crimes de guerra.

Frauke Petry, outra das expoentes do partido, já tentou reabilitar o uso do termo da era nazista Völkisch, derivada da palavra alemã para povo e sequestrada pelo regime hitlerista para designar aqueles que eles viam como pertencentes à raça ariana.

Mariana Sanches - @mariana_sanches, de Washington, DC, para a BBC News Brasil, em 26.07.2021

domingo, 25 de julho de 2021

Do desgoverno ao golpismo

Justiça e Congresso repelem ameaças, enquanto Bolsonaro se entrega ao Centrão

Golpismo, desemprego, fome, inflação e milhares de mortes evitáveis, mas ainda causadas pela pandemia, são as grandes marcas, até agora, do terceiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro, o mais inepto e mais desastroso chefe de governo do Brasil independente. Chefe de governo, título hierárquico, é o rótulo mais adequado, porque governante ele nunca foi. Governar é atividade complicada e trabalhosa. Se algum dia tiver constado de sua agenda, logo deve ter sido riscada. Incompetente e omisso no enfrentamento da covid-19, Bolsonaro já ficaria na História pelos desmandos e erros cometidos enquanto se perdiam mais de meio milhão de vidas. Mas o destaque de sua folha corrida, ao lado de tantos fatos sombrios, será sua coleção de ameaças à democracia.

As ameaças bolsonarianas foram formuladas publicamente e são inegáveis. Mais de uma vez o presidente vinculou a realização das eleições de 2022 à adoção do voto impresso. Antes disso, apontou o risco de desordens se a votação eletrônica for mantida. Em 7 de janeiro, um dia depois da invasão do Congresso americano, incitada por Donald Trump, Bolsonaro apontou o risco de algo semelhante no Brasil, em caso de suspeita de fraude, uma hipótese fantasiosa, se o sistema for mantido.

Repetindo a fala trumpista, Bolsonaro falou em eleição fraudada nos Estados Unidos e insistiu na ideia de falsificação de resultados no País. Era essa a sua preocupação mais visível naquele momento, enquanto outros brasileiros, atentos à pandemia, torciam pelo início da vacinação. A primeira dose de vacina seria aplicada dez dias depois, em São Paulo, em evento no Hospital das Clínicas. O imunizante seria a Coronavac, introduzida no Brasil por meio da cooperação entre o Instituto Butantan e a fabricante chinesa Sinovac – aquela mesma apontada como indesejável “vachina” pelo presidente da República.

O começo da vacinação seria um dos poucos fatos positivos de janeiro, no Brasil. Dezenas de milhões de trabalhadores, naquele mês, haviam deixado de receber o auxílio emergencial. Condenados à extrema pobreza, passaram a depender de campanhas de solidariedade para comer e ter condições mínimas de sobrevivência. Nenhum centavo de ajuda federal seria recebido no primeiro trimestre, quando o contingente desempregado chegou a 14,8 milhões de pessoas, ou 14,7% da força de trabalho. No trimestre móvel terminado em abril esses números seriam mantidos, embora o governo insistisse em falar numa forte recuperação econômica.

Distante das preocupações com a realidade social brasileira, o presidente continuou concentrado em seus objetivos pessoais e familiares – garantir a reeleição, evitar qualquer tentativa de impeachment e proteger seus filhos de toda investigação perigosa. A defesa do voto impresso se manteve como um dos temas centrais de sua permanente busca da reeleição.

Embora tenha prometido muitas vezes, Bolsonaro nunca provou a ocorrência de fraudes em 2014 e em 2018, nem mostrou como se poderia violar a urna eletrônica. Ao repetir essa acusação, pôs em dúvida, inevitavelmente, a competência ou a honestidade da Justiça Eleitoral. Mas, além de insistir nessa fantasia, conseguiu a adesão do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto. Ao cair nesse erro, o ministro foi além dos cuidados com a segurança nacional e com a gestão das Forças Armadas, órgãos de Estado, e virou personagem do noticiário político.

A intromissão do general na política foi noticiada pelo Estadão. Segundo o jornal, o ministro repetiu a fala golpista do presidente, condicionando a realização de eleições em 2022 ao uso do voto impresso. A ameaça, de acordo com a notícia, foi passada por uma terceira pessoa ao presidente da Câmara, deputado Arthur Lira. Numa primeira entrevista, o deputado negou esse fato, mas depois, em postagem eletrônica, limitou-se a garantir a realização das eleições, sem desmentir a notícia. O general tentou desmenti-la, inutilmente, e gastou a maior parte da declaração falando sobre voto impresso.

Ministros do Judiciário, presidentes da Câmara e do Senado e outros políticos logo reagiram ao ministro da Defesa. Defenderam as eleições em 2022, condenaram ameaças golpistas e repeliram as manifestações de autoritarismo.

Quando o general Braga Netto cometeu a tolice de sair de seu cercadinho, o presidente já estava, mais uma vez, politicamente acuado. O avanço da CPI da Covid, os sinais de corrupção no Ministério da Saúde, a pandemia prolongada, o desemprego elevado e a insistência dos defensores do impeachment assombravam Bolsonaro e seu círculo mais próximo. Seu passo seguinte, “em busca de uma melhor interlocução com o Parlamento”, foi sujeitar-se mais claramente ao Centrão, nomeando para a chefia da Casa Civil uma das principais figuras do bloco, o senador Ciro Nogueira. Como em janeiro de 2019, Bolsonaro continua sem plano de governo. Seu objetivo evidente, agora, é evitar riscos e sobreviver na Presidência. Falta verificar se o novo diálogo com o Congresso reduzirá – e por quanto tempo – seu ímpeto golpista.

Rolf Kuntz, o autor deste artigo, é Jornalista. Publicado originalmente n'O Estado de S.Paulo, em 25 de julho de 2021 | 03h00

‘Eu sou do Centrão’

Ao anunciar o contubérnio com o mesmo Centrão que ele tanto demonizou, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu: “As coisas mudam”. E como

Não faz muito tempo, mas parece uma eternidade. Na convenção em que o PSL confirmou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência, em 22 de julho de 2018, o general da reserva Augusto Heleno, hoje ministro e um dos principais conselheiros do presidente, trocou a palavra “ladrão” por “Centrão” numa música que cantarolou, para delírio dos bolsonaristas. E, para que não restasse dúvida sobre sua escrachada insinuação, Heleno emendou: “O Centrão é a materialização da impunidade”.

Exatos três anos depois, Bolsonaro informou que pretende dar a Casa Civil, que comanda o funcionamento do governo, para um dos principais líderes do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Não se tem notícia de que o ministro Augusto Heleno tenha feito algum comentário, debochado ou sério, a respeito desse anúncio.

Mas o vice-presidente Hamilton Mourão fez. Disse, com razão, que alguns eleitores de Bolsonaro “podem se sentir um pouco confundidos” depois que viram o presidente, o mesmo que elegeram com a retumbante promessa de enterrar o toma lá dá cá, franquear o coração do governo ao grupo político conhecido exatamente por mercadejar seus votos.

“É dando que se recebe”, parte da Oração de São Francisco, tornou-se em 1988 a máxima do Centrão, na desavergonhada tirada de um de seus fundadores, o deputado Roberto Cardoso Alves (1927-1996), o Robertão. Na época, o Centrão, que ainda engatinhava, vendia seus serviços ao presidente José Sarney, que precisava de votos para emplacar o mandato presidencial de cinco anos. Sarney conseguiu o que queria, ao preço de cargos em todos os escalões para apadrinhados de parlamentares de baixíssima extração. O próprio Robertão virou ministro. “Cargo dá voto para diabo”, comentaria mais tarde o patriarca do Centrão, com sua cândida sinceridade.

É esse o espírito da coisa. Bolsonaro e os donatários de seu governo certamente vão tentar dourar a pílula, alardeando que o arranjo permitirá aprovar com mais facilidade os projetos de interesse do País, mas a verdade é que o único projeto que interessa ao presidente é manter-se no cargo, enquanto o único projeto que interessa ao Centrão é expandir sua capacidade de parasitar o Estado. Nasceram um para o outro.

“Eu sou do Centrão. Eu nasci de lá”, disse Bolsonaro, confessando o que somente os eleitores incautos não sabiam. No início do mandato, o presidente até parecia interessado em cumprir a promessa de que escolheria para seu Ministério apenas os mais capacitados, sem trocar cargos por apoio político. No entanto, desprovido de qualquer qualificação para presidir o País e vocacionado somente para a baderna, Bolsonaro rapidamente perdeu o capital político amealhado na eleição e se tornou refém dos políticos que farejam oportunidades em governos fracos.

Na mesma ocasião em que se declarou um rebento do Centrão, Bolsonaro argumentou que “não tem como governar” sem aquele bloco político. Disso sabem bem todos os antecessores de Bolsonaro, que tiveram de negociar o apoio do Centrão em variadas escalas – e muitas vezes por meio de corrupção deslavada, como no mensalão e no petrolão, durante o mandarinato lulopetista. Mas nem mesmo nos governos do PT o Centrão havia conseguido fincar sua bandeira na poderosa Casa Civil, como deve acontecer agora. Portanto, o gesto de Bolsonaro, embora ele diga que visa à governabilidade, é, na verdade, uma capitulação.

Quando ainda era candidato, em 2017, Bolsonaro prometeu governar “sem o toma lá dá cá” e, caso isso não fosse possível, então “eu tô fora”. Já como presidente, em março de 2019, declarou que a corrupção nos governos anteriores foi provocada pelos “acordos políticos em nome da governabilidade”. Em abril de 2020, anunciou, aos berros: “Não queremos negociar nada. Acabou a época da patifaria, agora é o povo no poder”.

Bastou um ano para que Bolsonaro afinal se rendesse às evidências de que não pode mais contar com o “povo” para sobreviver no cargo. Assim, ao anunciar o contubérnio com o mesmo Centrão que ele tanto demonizou, o presidente reconheceu: “As coisas mudam”. E como.
      
Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
25 de julho de 2021 | 03h00

Partidos ampliam repasse de verba para fundações, que têm menos transparência

 São cada vez maiores as parcelas do Fundo Partidário destinadas a fundações que são controladas pelas próprias legendas; desde 2019, repasses chegam a R$ 414 milhões

       

Instituto Indigo / Brasília. Edifício onde fica sala do Instituto Índigo, do PSL; R$ 23,9 mi à fundação em 2020 Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Ao mesmo tempo em que passaram a receber montantes bilionários de recursos públicos para financiar suas operações e campanhas, os partidos políticos estão destinando parcelas cada vez maiores da verba do Fundo Partidário para as fundações mantidas pelas próprias legendas. Os gastos dessas fundações não são divulgados pelo Sistema de Prestação de Contas Anual do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Deste modo, enquanto as receitas dos partidos estão em alta, a destinação das despesas está cada vez menos transparente. 

As fundações são instituições obrigatórias – por lei, todas as legendas precisam ter uma e destinar a elas ao menos 20% de recursos do Fundo Partidário. A ideia da legislação é manter, dentro das siglas, órgãos de caráter educativo que capacitem seus integrantes para propor políticas públicas consistentes. Um histórico de suspeitas, no entanto, ronda essas instituições. Nos últimos anos, gastos sem relação com funções educativas foram alvo de investigações. 


EM MILHÕES DE REAIS

TRANSFERÊNCIA PARA FUNDAÇÕES

PROPORÇÃO

DOS GASTOS

DESPESAS

TOTAIS*

ANO

2019

2020

2021**

22%

28%

39%

177,7

781,2

662,5

120,4

188,8

47,2

* Não inclui verbas do fundo eleitoral; ** Dados parciais até maio
Fonte
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

Em 2019, em média, 22% das despesas dos partidos foram para as fundações. No ano passado, foram 28%. Neste ano, em dados parciais, esse porcentual médio chega a 39%, segundo informações do TSE. Esses números consideram a soma das despesas de todas as siglas. Há partidos que chegam a mandar para as fundações mais da metade de suas despesas – como PSC, PP (partido do presidente da Câmara, Arthur Lira) e PSL. 

Desde 2019, as fundações receberam cerca de R$ 414 milhões dos partidos – um dinheiro que financiaria por dois anos, por exemplo, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, que abriga o Departamento de Ciências Políticas da universidade. 

O Fundo Partidário e o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (o chamado fundo eleitoral) são as duas principais fontes de financiamento das legendas nacionais. O financiamento público passou a ganhar espaço como receita a partir de 2015, quando a minirreforma política foi aprovada – na esteira da Lava Jato – e baniu o financiamento empresarial de campanhas. 

Desde então, políticos têm feito pressão para incrementar esses fundos. Recentemente, o Congresso ampliou para R$ 5,7 bilhões a previsão do fundo eleitoral para o ano que vem (em 2020, o valor havia sido de R$ 2 bilhões e, em 2018, de R$ 1,7 bilhão). 


A responsabilidade pela fiscalização das contas das fundações passou por um vai e vem entre Ministério Público e Justiça Eleitoral, que se alternavam na função entre 2018 e 2020, graças a dois entendimentos diferentes sobre o tema no TSE. Atualmente, essas despesas são analisadas de forma manual pelo tribunal, que não tem um sistema para publicar como esse dinheiro é gasto. “O TSE está se estruturando para a análise das contas das fundações”, disse o órgão, em nota, ao informar que elaborou proposta para desenvolvimento de um novo sistema de prestação de contas que vai contemplar “elaboração, exame e divulgação da prestação de contas das fundações”. Não foi informado o prazo para a efetivação do novo sistema. 

Blogueiros e dívidas

Dentre as suspeitas já levantadas sobre usos fora da legislação para as verbas das fundações há a transferência de recursos da Fundação Índigo, do PSL, para blogueiros ligados ao chamado “gabinete do ódio” do governo Jair Bolsonaro. Em 2017, o MP vetou uma tentativa do MDB de usar R$ 5 milhões em recursos da fundação do partido, a Ulysses Guimarães, para bancar dívidas de campanha. 

Além disso, sem a divulgação dos dados, fica impossível que entidades externas e a sociedade civil verifiquem se as fundações gastam os recursos públicos com empresas pertencentes aos próprios dirigentes partidários ou a doadores de campanha. Essa prática foi apontada pelo Movimento Transparência Partidária há três anos, quando a entidade, em parceria com o TSE, cruzou despesas do Fundo Partidário com os CPFs dos filiados nos partidos. As transferências dessa natureza superaram R$ 10 milhões. 

“Tem ainda a questão do uso eficiente dos recursos públicos. É adequado que seja pago um aluguel de uma mansão no Lago Sul (de Brasília) para ser a sede de um partido? É legítimo questionar isso”, disse Marcelo Issa, do Movimento Transparência Partidária. “Falta muita transparência nas fundações. Você consegue visualizar no sistema o porcentual transferido para a fundação. Dali para a frente, como a fundação utilizou, você não consegue. A
fundação não precisa alimentar o sistema.” 

Despesas partidárias em 2020

Transferência de cada legenda para suas fundações de formação política

Partido Nome da fundação Repasses à fundação Gasto total do fundo partidário Proporção em relação ao total

PSC Fundação da Liberdade Econômica R$ 13.172.082 R$ 22.320.732
59%59%

PROGRESSISTAS Fundação Milton Campos R$ 10.517.709 R$ 18.915.945
56%56%

PSL Fundação Instituto de Inovação & Governança R$ 23.952.689 R$ 44.729.961
54%54%

PATRIOTA Fundação Ecológica Nacional R$ 4.786.489 R$ 9.662.429
50%50%

PRTB Fundação de Estudos e Formação Política Presidente Jânio Quadros R$ 120.575 R$ 244.485
49%49%

PSD Espaço Democrático R$ 11.011.223 R$ 22.642.976
49%49%

DEM Instituto Tancredo Neves de Pesquisas e Estudos Políticos e Econômicos R$ 8.855.523 R$ 18.397.143
48%48%

MDB Fundação Ulysses Guimarães Nacional R$ 10.820.947 R$ 23.759.695
46%46%

REPUBLICANOS Fundação Republicana Brasileira R$ 9.615.717 R$ 21.836.947
44%44%

PSOL Fundação Lauro Campos R$ 5.838.055 R$ 14.899.348
39%39%

PSDB Instituto Teotônio Vilela R$ 11.746.696 R$ 33.605.716
35%35%

SOLIDARIEDADE Fundacao Primeiro de Maio R$ 3.963.730 R$ 11.635.399
34%34%

PDT Fundação Alberto Pasqualini R$ 9.612.000 R$ 30.198.722
32%32%

Cidadania Fundação Partidária Astrojildo Pereira R$ 3.456.231 R$ 12.037.215
29%29%

PTB Fundação Ivete Vargas R$ 4.732.945 R$ 18.083.881
26%26%

AVANTE Fundação Barão e Visconde de Mauá R$ 4.102.104 R$ 15.893.184
26%26%

PV Fundação Verde Herbert Daniel R$ 3.339.427 R$ 13.930.730
24%24%

PCdoB Fundação Maurício Grabois R$ 4.368.116 R$ 18.696.612
23%23%

PSB Fundação João Mangabeira R$ 10.367.689 R$ 44.494.905
23%23%

PT Fundação Perseu Abramo R$ 18.878.379 R$ 96.439.702
20%20%

*Os partidos PCB, PCO, PMB, PMN, Podemos, PTC e UP não informaram gastos com fundações à Justiça Eleitoral em 2020

Tabela: Estadão  Fonte: Tribunal Superior Eleitoral  Obter dados  Criado com Datawrapper

Uma das ideias que circulam nas discussões sobre a nova reforma política no Congresso é a de repassar mais uma vez ao MP a responsabilidade sobre a fiscalização das contas dos partidos. 

“Infelizmente, os partidos não querem transparência e contam com a colaboração, a meu ver, do TSE. Em plena era digital, se vê o tribunal julgando contas de cinco, seis anos atrás”, afirmou o secretário-geral da organização Contas Abertas, Gil Castelo Branco. “As fundações são veículos para a falta de transparência. Acabam convergindo recursos cada vez maiores e as prestações de contas são opacas e defasadas.” 

Sem um sistema de divulgação das contas partidárias, o Estadão questionou as fundações como gastaram sua cota dos recursos públicos do Fundo Partidário. As entidades afirmaram que enviam a prestação de contas ao TSE e ao Ministério Público e que os gastos são com cursos de formação (presencial e, desde o ano passado, online), realização de simpósios e eventos e com a edição de publicações de natureza partidária. 

Duas das mais conhecidas fundações, a Perseu Abramo (do PT) e o Instituto Teotônio Vilela (do PSDB) enviaram uma relação de atividades realizadas nos últimos dois anos com os recursos do fundo, em áreas que vão do desenvolvimento sustentável a propostas de enfrentamento da pandemia. 

O Instituto Liberdade e Cidadania (Instituto Tancredo Neves), do DEM, disse que o instituto devolve ao partido os recursos não usados do Fundo Partidário. No ano passado, dos R$ 8,8 milhões recebidos, R$ 5,4 milhões retornaram à sigla, segundo nota enviada à reportagem. 

O Instituto Índigo, do PSL, declarou que envia a prestação de contas ao MP do Distrito Federal e ao TSE, e que seria possível acompanhar tais gastos. A Fundação Ulysses Guimarães, do MDB, afirmou que todas as suas contas até 2019 foram aprovadas e que, no ano passado, realizou simpósios e cursos de educação a distância. A Fundação Milton Campos, do Progressistas, disse que não aumentou a proporção de gastos do fundo, diferentemente do que mostra o sistema do TSE. Afirmou que investiu os recursos em cursos online e material de divulgação digital. 

A reportagem não conseguiu contato com nenhum representante da Fundação da Liberdade Econômica, do PSC, que, proporcionalmente, recebeu a maior parcela da cota do Fundo Partidário. 

Verba do instituto do PSL cresce 1.228% em 4 anos

Em 2017, quando ainda era um partido nanico, o PSL havia destinado à então Fundação Abraham Lincoln um total de R$ 1,8 milhão, 22% de sua cota do Fundo Partidário. No ano passado, após virar a segunda maior bancada do Congresso, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, os repasses do partido à fundação, agora Índigo (Instituto Inovação e Governança), saltaram para R$ 23,9 milhões – um aumento de 1.228% em quatro anos. 

O Índigo ocupa uma sala no quinto andar de um prédio comercial próximo da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. É o mesmo edifício que abriga a sede do PSL. Não há placas na porta da fundação e seu site tem inscrições abertas para três cursos a distância voltados às eleições de 2020: “Liberdade Econômica”, “Curso Básico para Prefeitos” e “Formação Intensiva de Vereadores”. Na área de publicações, o site mantém uma descrição da página com a frase “Lorem ipsum”, um texto usado por diagramadores que não quer dizer nada, escrito para depois ser preenchido com frases reais.

Ao ser questionada sobre quais atividades realizou de 2019 para cá, o Índigo enviou uma nota com a seguinte informação, sem mais detalhes: “Especificamente em relação a esta Fundação Índigo, nos anos de 2019 e 2020 foram realizados investimentos na sua área-fim com o desenvolvimento de projetos, especialmente aqueles voltados à área de transferência de conhecimentos”. 

Bruno Ribeiro, / COLABOROU DIDA SAMPAIO, O Estado de S.Paulo
25 de julho de 2021 | 05h00

Adotado em Portugal e França, semipresidencialismo é solução para o Brasil?

São cada vez maiores as parcelas do Fundo Partidário destinadas a fundações que são controladas pelas próprias legendas; desde 2019, repasses chegam a R$ 414 milhões
       

Instituto Indigo / Brasília. Edifício onde fica sala do Instituto Índigo, do PSL; R$ 23,9 mi à fundação em 2020 Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Ao mesmo tempo em que passaram a receber montantes bilionários de recursos públicos para financiar suas operações e campanhas, os partidos políticos estão destinando parcelas cada vez maiores da verba do Fundo Partidário para as fundações mantidas pelas próprias legendas. Os gastos dessas fundações não são divulgados pelo Sistema de Prestação de Contas Anual do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Deste modo, enquanto as receitas dos partidos estão em alta, a destinação das despesas está cada vez menos transparente. 

As fundações são instituições obrigatórias – por lei, todas as legendas precisam ter uma e destinar a elas ao menos 20% de recursos do Fundo Partidário. A ideia da legislação é manter, dentro das siglas, órgãos de caráter educativo que capacitem seus integrantes para propor políticas públicas consistentes. Um histórico de suspeitas, no entanto, ronda essas instituições. Nos últimos anos, gastos sem relação com funções educativas foram alvo de investigações. 


EM MILHÕES DE REAIS

TRANSFERÊNCIA PARA FUNDAÇÕES

PROPORÇÃO

DOS GASTOS

DESPESAS

TOTAIS*

ANO

2019

2020

2021**

22%

28%

39%

177,7

781,2

662,5

120,4

188,8

47,2

* Não inclui verbas do fundo eleitoral; ** Dados parciais até maio
Fonte
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral

Em 2019, em média, 22% das despesas dos partidos foram para as fundações. No ano passado, foram 28%. Neste ano, em dados parciais, esse porcentual médio chega a 39%, segundo informações do TSE. Esses números consideram a soma das despesas de todas as siglas. Há partidos que chegam a mandar para as fundações mais da metade de suas despesas – como PSC, PP (partido do presidente da Câmara, Arthur Lira) e PSL. 

Desde 2019, as fundações receberam cerca de R$ 414 milhões dos partidos – um dinheiro que financiaria por dois anos, por exemplo, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, que abriga o Departamento de Ciências Políticas da universidade. 

O Fundo Partidário e o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (o chamado fundo eleitoral) são as duas principais fontes de financiamento das legendas nacionais. O financiamento público passou a ganhar espaço como receita a partir de 2015, quando a minirreforma política foi aprovada – na esteira da Lava Jato – e baniu o financiamento empresarial de campanhas. 

Desde então, políticos têm feito pressão para incrementar esses fundos. Recentemente, o Congresso ampliou para R$ 5,7 bilhões a previsão do fundo eleitoral para o ano que vem (em 2020, o valor havia sido de R$ 2 bilhões e, em 2018, de R$ 1,7 bilhão). 


A responsabilidade pela fiscalização das contas das fundações passou por um vai e vem entre Ministério Público e Justiça Eleitoral, que se alternavam na função entre 2018 e 2020, graças a dois entendimentos diferentes sobre o tema no TSE. Atualmente, essas despesas são analisadas de forma manual pelo tribunal, que não tem um sistema para publicar como esse dinheiro é gasto. “O TSE está se estruturando para a análise das contas das fundações”, disse o órgão, em nota, ao informar que elaborou proposta para desenvolvimento de um novo sistema de prestação de contas que vai contemplar “elaboração, exame e divulgação da prestação de contas das fundações”. Não foi informado o prazo para a efetivação do novo sistema. 

Blogueiros e dívidas

Dentre as suspeitas já levantadas sobre usos fora da legislação para as verbas das fundações há a transferência de recursos da Fundação Índigo, do PSL, para blogueiros ligados ao chamado “gabinete do ódio” do governo Jair Bolsonaro. Em 2017, o MP vetou uma tentativa do MDB de usar R$ 5 milhões em recursos da fundação do partido, a Ulysses Guimarães, para bancar dívidas de campanha. 

Além disso, sem a divulgação dos dados, fica impossível que entidades externas e a sociedade civil verifiquem se as fundações gastam os recursos públicos com empresas pertencentes aos próprios dirigentes partidários ou a doadores de campanha. Essa prática foi apontada pelo Movimento Transparência Partidária há três anos, quando a entidade, em parceria com o TSE, cruzou despesas do Fundo Partidário com os CPFs dos filiados nos partidos. As transferências dessa natureza superaram R$ 10 milhões. 

“Tem ainda a questão do uso eficiente dos recursos públicos. É adequado que seja pago um aluguel de uma mansão no Lago Sul (de Brasília) para ser a sede de um partido? É legítimo questionar isso”, disse Marcelo Issa, do Movimento Transparência Partidária. “Falta muita transparência nas fundações. Você consegue visualizar no sistema o porcentual transferido para a fundação. Dali para a frente, como a fundação utilizou, você não consegue. A
fundação não precisa alimentar o sistema.” 

Despesas partidárias em 2020

Transferência de cada legenda para suas fundações de formação política

Partido Nome da fundação Repasses à fundação Gasto total do fundo partidário Proporção em relação ao total

PSC Fundação da Liberdade Econômica R$ 13.172.082 R$ 22.320.732
59%59%

PROGRESSISTAS Fundação Milton Campos R$ 10.517.709 R$ 18.915.945
56%56%

PSL Fundação Instituto de Inovação & Governança R$ 23.952.689 R$ 44.729.961
54%54%

PATRIOTA Fundação Ecológica Nacional R$ 4.786.489 R$ 9.662.429
50%50%

PRTB Fundação de Estudos e Formação Política Presidente Jânio Quadros R$ 120.575 R$ 244.485
49%49%

PSD Espaço Democrático R$ 11.011.223 R$ 22.642.976
49%49%

DEM Instituto Tancredo Neves de Pesquisas e Estudos Políticos e Econômicos R$ 8.855.523 R$ 18.397.143
48%48%

MDB Fundação Ulysses Guimarães Nacional R$ 10.820.947 R$ 23.759.695
46%46%

REPUBLICANOS Fundação Republicana Brasileira R$ 9.615.717 R$ 21.836.947
44%44%

PSOL Fundação Lauro Campos R$ 5.838.055 R$ 14.899.348
39%39%

PSDB Instituto Teotônio Vilela R$ 11.746.696 R$ 33.605.716
35%35%

SOLIDARIEDADE Fundacao Primeiro de Maio R$ 3.963.730 R$ 11.635.399
34%34%

PDT Fundação Alberto Pasqualini R$ 9.612.000 R$ 30.198.722
32%32%

Cidadania Fundação Partidária Astrojildo Pereira R$ 3.456.231 R$ 12.037.215
29%29%

PTB Fundação Ivete Vargas R$ 4.732.945 R$ 18.083.881
26%26%

AVANTE Fundação Barão e Visconde de Mauá R$ 4.102.104 R$ 15.893.184
26%26%

PV Fundação Verde Herbert Daniel R$ 3.339.427 R$ 13.930.730
24%24%

PCdoB Fundação Maurício Grabois R$ 4.368.116 R$ 18.696.612
23%23%

PSB Fundação João Mangabeira R$ 10.367.689 R$ 44.494.905
23%23%

PT Fundação Perseu Abramo R$ 18.878.379 R$ 96.439.702
20%20%

*Os partidos PCB, PCO, PMB, PMN, Podemos, PTC e UP não informaram gastos com fundações à Justiça Eleitoral em 2020

Tabela: Estadão  Fonte: Tribunal Superior Eleitoral  Obter dados  Criado com Datawrapper

Uma das ideias que circulam nas discussões sobre a nova reforma política no Congresso é a de repassar mais uma vez ao MP a responsabilidade sobre a fiscalização das contas dos partidos. 

“Infelizmente, os partidos não querem transparência e contam com a colaboração, a meu ver, do TSE. Em plena era digital, se vê o tribunal julgando contas de cinco, seis anos atrás”, afirmou o secretário-geral da organização Contas Abertas, Gil Castelo Branco. “As fundações são veículos para a falta de transparência. Acabam convergindo recursos cada vez maiores e as prestações de contas são opacas e defasadas.” 

Sem um sistema de divulgação das contas partidárias, o Estadão questionou as fundações como gastaram sua cota dos recursos públicos do Fundo Partidário. As entidades afirmaram que enviam a prestação de contas ao TSE e ao Ministério Público e que os gastos são com cursos de formação (presencial e, desde o ano passado, online), realização de simpósios e eventos e com a edição de publicações de natureza partidária. 

Duas das mais conhecidas fundações, a Perseu Abramo (do PT) e o Instituto Teotônio Vilela (do PSDB) enviaram uma relação de atividades realizadas nos últimos dois anos com os recursos do fundo, em áreas que vão do desenvolvimento sustentável a propostas de enfrentamento da pandemia. 

O Instituto Liberdade e Cidadania (Instituto Tancredo Neves), do DEM, disse que o instituto devolve ao partido os recursos não usados do Fundo Partidário. No ano passado, dos R$ 8,8 milhões recebidos, R$ 5,4 milhões retornaram à sigla, segundo nota enviada à reportagem. 

O Instituto Índigo, do PSL, declarou que envia a prestação de contas ao MP do Distrito Federal e ao TSE, e que seria possível acompanhar tais gastos. A Fundação Ulysses Guimarães, do MDB, afirmou que todas as suas contas até 2019 foram aprovadas e que, no ano passado, realizou simpósios e cursos de educação a distância. A Fundação Milton Campos, do Progressistas, disse que não aumentou a proporção de gastos do fundo, diferentemente do que mostra o sistema do TSE. Afirmou que investiu os recursos em cursos online e material de divulgação digital. 

A reportagem não conseguiu contato com nenhum representante da Fundação da Liberdade Econômica, do PSC, que, proporcionalmente, recebeu a maior parcela da cota do Fundo Partidário. 

Verba do instituto do PSL cresce 1.228% em 4 anos

Em 2017, quando ainda era um partido nanico, o PSL havia destinado à então Fundação Abraham Lincoln um total de R$ 1,8 milhão, 22% de sua cota do Fundo Partidário. No ano passado, após virar a segunda maior bancada do Congresso, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, os repasses do partido à fundação, agora Índigo (Instituto Inovação e Governança), saltaram para R$ 23,9 milhões – um aumento de 1.228% em quatro anos. 

O Índigo ocupa uma sala no quinto andar de um prédio comercial próximo da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. É o mesmo edifício que abriga a sede do PSL. Não há placas na porta da fundação e seu site tem inscrições abertas para três cursos a distância voltados às eleições de 2020: “Liberdade Econômica”, “Curso Básico para Prefeitos” e “Formação Intensiva de Vereadores”. Na área de publicações, o site mantém uma descrição da página com a frase “Lorem ipsum”, um texto usado por diagramadores que não quer dizer nada, escrito para depois ser preenchido com frases reais.

Ao ser questionada sobre quais atividades realizou de 2019 para cá, o Índigo enviou uma nota com a seguinte informação, sem mais detalhes: “Especificamente em relação a esta Fundação Índigo, nos anos de 2019 e 2020 foram realizados investimentos na sua área-fim com o desenvolvimento de projetos, especialmente aqueles voltados à área de transferência de conhecimentos”. 

Bruno Ribeiro, / COLABOROU DIDA SAMPAIO, O Estado de S.Paulo
25 de julho de 2021 | 05h00

sábado, 24 de julho de 2021

PF não encontra dados de fraude em urnas eletrônicas

Único inquérito identificado pela Corregedoria da corporação até agora apurou que estelionatário prometeu a prefeito ‘vender’ votos


Brasil adotou a urna eletrônica em 1996; segundo a Justiça Eleitoral, não há registro de fraudes comprovadas  Foto: (ISAAC FONTANA / FRAMEPHOTO - 9/11/2020)

A Polícia Federal não encontrou até o momento registros de investigações sobre fraudes envolvendo a urna eletrônica desde que o método de votação foi adotado, em 1996. Em meados de junho, o comando da corporação pediu às superintendências do órgão nos Estados, por meio da Corregedoria, que encaminhassem todas as denúncias de fraudes recebidas ou apuradas desde 1996. Até agora uma única investigação foi localizada. O caso é de 2012, mas a PF concluiu que se tratava de tentativa de estelionato, não de fraude que tenha comprometido a eleição.

A reportagem do Estadão solicitou à Polícia Federal, por meio da Lei de Acesso à Informação, as respostas enviadas pelas 27 superintendências regionais da corporação nos Estados e no Distrito Federal. O órgão, no entanto, negou o pedido. Posteriormente, fontes na corporação informaram ao jornal que o levantamento foi feito pela Corregedoria, que encontrou até o momento apenas um inquérito sobre este tema nas últimas duas décadas.

Em live, Bolsonaro se esquiva de pergunta sobre pressão de Braga Netto por voto impresso

O único inquérito localizado pela Corregedoria diz respeito a uma tentativa de estelionato, e não de fraude real nas eleições. Um criminoso tentou obter dinheiro de um candidato a prefeito em Vila Velha (ES) prometendo "vender" votos, mas sem nenhuma prova de que conseguiria concretizar a fraude.

Ao pedir as informações para as unidades nos Estados, o comando da PF argumentou que a Câmara dos Deputados tinha acabado de instalar a comissão especial do voto impresso. Diante disso, era preciso "consolidar, no âmbito deste Serviço de Repressão a Crimes Eleitorais, todos os dados referentes a denúncias de fraudes eleitorais desde a implantação da urna eletrônica em 1996". O caso foi revelado pela colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.

O pedido do comando da PF à Corregedoria do órgão foi enviado depois de o presidente Jair Bolsonaro voltar a dizer que houve fraude nas eleições em 2018. No dia 9 de junho, o chefe do Executivo disse, durante um culto evangélico em Anápolis (GO), que tinha "provas materiais" de que foi eleito no primeiro turno. Ele, no entanto, não apresentou qualquer comprovação desta alegação até hoje.

A insistência de Bolsonaro na adoção do voto impresso teria a missão de evitar as supostas falhas que ele diz existir. Como revelou o Estadão anteontem, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, enviou um interlocutor ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com a ameaça de que não haveria eleições no ano que vem, caso não se aprovasse a proposta do voto impresso para 2022.

Em nota, após a publicação da reportagem, o general disse que "a discussão sobre o voto eletrônico auditável é legítima, defendida pelo governo federal" e que "acredita que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias".

Dentro da PF, o pedido foi visto como uma tentativa de obter informações que pudessem justificar as afirmações do presidente - o atual diretor, Paulo Maiurino, é considerado alinhado a Bolsonaro. Oficialmente, a PF diz que o levantamento foi feito a pedido da comissão da Câmara que discute o assunto.

Em transmissão ao vivo nas redes sociais anteontem, o presidente voltou a dizer que houve fraudes e "interferências" nas eleições de 2014 e 2018. E disse que apresentará as "fragilidades" da urna até a próxima quinta-feira. "Vou mostrar inclusive imagens da (TV) Globo. O pessoal da TV Globo dizendo que acabou (a eleição no primeiro turno)", disse Bolsonaro.

Confiança

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não há registro de fraude comprovada envolvendo a urna eletrônica desde que ela foi adotada, nas eleições municipais de 1996. A PF tem um inquérito aberto para apurar ataque hacker ao sistema da Corte nas eleições de 2020, sem qualquer relação com a urna.

Ao comemorar os 25 anos da urna eletrônica, em maio, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, reafirmou a confiança no método adotado no País. "Nesses 25 anos, nunca se documentou uma fraude sequer", afirmou ele.      

André Shalders, O Estado de S.Paulo, em 23 de julho de 2021 | 10h58, Atualizado 24 de julho de 2021 | 04h45